29/07/95

Banda que criou o punk lança "Adios Amigos" e anuncia que vai parar; última turnê deve passar pelo Brasil

Especial para a Folha
O álbum ``Adios Amigos" é a despedida dos Ramones. Depois de 21 anos de rock'n'roll, a banda resolveu parar.
O último show pode ser no Brasil, revelou o guitarrista Johnny Ramone, em entrevista por telefone à Folha, de sua casa em Nova York. A turnê de despedida vai durar um ano.
Uma das bandas mais influentes do rock, Ramones inventou o estilo punk, que finalmente faz sucesso, com o Green Day, 20 anos depois do clássico LP ``Ramones".
Johnny conta o que fez a banda parar e compara sua geração com os punks dos anos 90.

Folha - Uma das músicas de ``Adios Amigos" chama-se ``I Don't Want to Grow Up" (eu não quero crescer). Terminar os Ramones é uma forma de fugir ao envelhecimento?
Johnny - É melhor terminar antes de ficar como os Rolling Stones. Eu olho para eles e não entendo porque continuam. São velhos que tentam imitar adolescentes, mas já esqueceram até como tocavam suas músicas.
Vai ser difícil parar. Está partindo meu coração. Mas vai chegar uma hora em que não vai dar para manter o pique. Não quero que os fãs pensem que os Ramones só eram bons nos velhos tempos.
Folha - Não é irônico que este seja o CD mais rápido, mais ``jovem" dos Ramones na década?
Johnny - Concordo. É o álbum que eu mais gosto desde ``Too Tough to Die" (1984).
Folha - Dentre os poucos parceiros que a banda teve, você sente falta de Johnny Thunders?
Johnny - Johnny Thunders (ex-Heartbreakers, que compôs ``Chinese Rock" com os Ramones e morreu de overdose em 91) sempre teve problemas com drogas. Nunca foi fácil se comunicar com ele, porque vivia chapado.
Folha - No início, vocês também falavam em se drogar, como na canção ``Now I Wanna Sniff Some Glue".
Johnny - Sim, mas isso era a nossa adolescência. A gente falava de coisas que vivia e não sobre causas. Não tínhamos uma causa.
Folha - O que passou na sua cabeça quando as bandas com quem você tocava no CBGB (clube da cena de 75) começaram a ser contratadas?
Johnny - Fomos a segunda banda com contrato, logo depois de Patti Smith. E em seguida embarcamos para uma turnê na Inglaterra, onde conhecemos o Clash e os Sex Pistols.
Vendo o punk rock surgir em outro país nos deu a impressão de que estávamos no meio de algo importante, de uma nova forma de música que ia causar impacto. Mas isso nunca aconteceu. Escreveu-se mais sobre punk do que discos foram vendidos. A não ser agora.
Agora, o punk rock é o sucesso que imaginávamos que podia ser.
Folha - O que fez o punk virar sucesso nos anos 90?
Johnny - Nirvana, sem dúvida. Eles inspiraram muitas bandas a voltar a tocar simples, o que é sempre bom para o rock.
Folha - Os Ramones foram inspirados em bandas de desenho animado. O que achou de participar nos ``Simpsons" e no ``talk show" animado do ``Space Ghost" (programa do canal de TV a cabo Cartoon Network)?
Johnny - Achei engraçado. A gente acabou de gravar outro episódio do ``Space Ghost", em que ele quis saber se tínhamos desenvolvido algum superpoder desde nosso último encontro.

Adeus traz marca de Johnny

29/07/95

Autor: MARCEL PLASSE
Origem do texto: Especial para a Folha
Editoria: ILUSTRADA Página: 5-7
Edição: Nacional JUL 29, 1995
Observações: SUB-RETRANCA
Vinheta/Chapéu: DISCOS/LANÇAMENTOS
Assuntos Principais: MÚSICA; ROCK; RAMONES /CONJUNTO MUSICAL/; ADIOS AMIGOS /DISCO/; CRÍTICA


Adeus traz marca de Johnny
Especial para a Folha
``Adios Amigos" é o melhor disco dos Ramones em dez anos, diz Johnny Ramone. É rápido, pesado, sujo, sim, punk. Johnny tem razão.
Um dos mitos do rock é que todos os discos do Ramones são iguais e bons por causa disso. Não, como prova a dificuldade de as músicas mais recentes permanecerem na lembrança dos fãs.
O novo álbum é moderno sem deixar de ser clássico. Significa: guitarras quase encobrindo a voz, bateria com som de garagem, a melodia assobiável que a banda sempre teve e o pique acelerado de moleques se divertindo.
O punk clássico é um formato bem aberto. A faixa mais ``podre" do disco, ``I Love You", parece Rolling Stones gravado em mono, em 64, com uma mixagem microfonada que ficaria bem no barulhento álbum ``Psychocandy", do Jesus & Mary Chain.
Por outro lado, ``The Crusher" e ``I Got a Lot to Say" chegam a ser hardcore com o sotaque da última geração da gravadora Epitaph (Offspring, Pennywise, Rancid). Muito melhor que Green Day.
Outra influência recente é Nirvana. Não tem como ouvir ``Scattergun" sem lembrar das guitarras e melodias de Kurt Cobain. E não só dele. ``God Save the Queen", dos Sex Pistols, assombra o arranjo sônico.
Joey, claro, ainda está lá, cantando ``oh-oh, yeah" pela 90ª vez. Mas o disco é de Johnny. Faça o teste em casa. Ponha a tocar sua coleção de Ramones. ``Adios Amigos" tem as guitarras mais altas.
Não se diz adeus desse jeito, Johnny.
(MP)