Escultor: 1730(?)-1814
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1730: Data provável
do nascimento de António Maria Francisco em Vila Rica, Minas Gerais,
Brasil. - 1766: Inicio da construção da Igreja de S. Francisco,
Vila Rica (Ouro Preto) - 1767: Morte de seu pai - 1772: Admitido na confraria
de S. José dos Pardos - 1774: Construção da Igreja
de S. João de El-Rei (Tiradentes) - 1777: Manifestação
acentuada da doença; casamento do seu filho - 1784: Presidente da
Confraria de
S. José -
1796: Morre o seu escravo Agostinho; é contratado para a execução
das esculturas de Congonhas do Campo - 1796/1799: Executa
grande parte das
estátuas de Congonhas do Campo -1814: Morre e é sepultado
em Vila Rica (Ouro Preto).
AI, QUE TANTA ARROBA DE OURO...
Ai, que tanta arroba
de Ouro
Deixa os sertões
extenuados...
Ai, que tudo é
muito longe,
Ai, que a Providência
fala
Pelos homens desgraçados...
*
Nos princípios de setecentos Lisboa começa a ver chegar os carregamentos de ouro do Brasil. É uma riqueza que se sente.
Uma certa sociedade sabe ostentar os seus bens. Os mais pobres, artesãos e camponeses, não ficam alheios aos sonhos que uma melhor vida pode tornar reais. Os marinheiros que arribam contam histórias das terras distantes donde vem o ouro.
As construções são um reflexo de um pais rico. Em Mafra inicia-se a construção de um grande convento, que servirá de escola a muitos artistas. Alguns partirão depois para outras terras levando conhecimentos e práticas que ali adquiriram.
De Odivelas parte Manuel Francisco Lisboa. Também ele pensa numa vida melhor. No Brasil já o espera o seu irmão António Francisco Pombal. Certamente ali será mais fácil passar de artista a mestre, trabalho é o que não falta numa região que tanto se desenvolve.
Em Ouro Preto, Minas Gerais, a exploração mineira que se iniciara em 1698 é agora uma realidade. Durante muitos anos não há-de parar e em 1728 vão aparecer também os diamantes. Nem tudo o que se extrai é enviado para Portugal, que tolos não são eles... Há que mudar de nome, Ouro Preto já não é. Em 1711 passará a chamar-se Vila Rica. Boa terra para Manuel Francisco se instalar.
Em 1724 obtém
a carta de carpinteiro. É das melhores, pois abrange ofícios
vários - entre eles o de desenhar plantas. Em 1730 é já
mestre de
obras. A Casa da
Câmara e a Cadeia de Vila Rica, a capela-mor de Igreja de Castas
Altas, são algumas das obras a que está ligado.
É já um homem com alguma importância, tem a sua oficina, os seus operários e os seus escravos. Entre estes Isabel, de origem africana, que terá um filho do seu senhor. O dia em que ele nasce é incerto, o do baptismo também, ou não seja a criança um bastardo, um mulato. No entanto o pai dá-lhe o seu nome: António Francisco Lisboa.
Em 1736 Manuel Francisco
casa-se com Antónia Maria, do Funchal. Têm 4 filhos, um deles
será padre. Quanto ao António Francisco, cresce como
qualquer menino
da sua condição. Cedo aprende que terá de se fazer
à vida, a bens de herança não terá direito.
A oficina do pai é o local onde vai passando o tempo. Vai aprendendo
o que por lá se faz - desenho, arquitectura, ornamentos. A escultura
e o entalhe parecem atraí-lo mais - assim se ocupa, e um ofício
sempre lhe poderá servir para alguma coisa. Conhece também
João Gomes Batista, que estudara desenho e gravação
de metais em Lisboa, e que trabalha agora na Casa de Fundição
de Vila Rica.
Quanto ao resto,
aprende com os frades de Vila Rica apenas o essencial: música, latim
e, claro! religião.
QUAIS OS QUE SOBEM PURIFICADOS?
Quais os que tombam,
Em crime exaustos,
Quais os que sobem
purificados? *
No Sec. XVIII a influência
da Inquisição é ainda muito forte. Aqueles que chegam
de Portugal têm-na bem presente - por isso cada qual trata de
publicamente exibir
o seu rosário...
Em Vila Rica o número
de padres não pára de crescer - em 1750 são cerca
de 80. É necessário controlar os sítios onde a riqueza
é grande, pois sempre se pode tirar proveito da fortuna alheia.
Os abusos, os crimes,
os pecados, podem ser quase todos redimidos com oferendas generosas. Tudo,
ou quase tudo se poderá perdoar com as dádivas a Deus. A
Igreja é o centro do mundo.
Organizam-se confrarias
e irmandades que zelam pelos interesse dos seus membros, ao mesmo tempo
que lhes oferecem protecção. Mas também nelas existe
selecção. Na maioria delas, não é admissível
a entrada de homem que não seja branco. E branco puro, sem mistura
de judeu, mouro ou mulato. Para estes existe a Arquiconfraria dos Mínimos
do Cordão de S. Francisco, que não deixará de ser
perseguida só pelo facto de admitir homens "pardos".
São estas
confrarias que passam as cartas de habilitação para um oficio.
Apesar da sua condição,
António Francisco Lisboa obtém a carta de carpinteiro. Sempre
lhe vale para alguma coisa trabalhar na oficina do pai.
Já pode executar
vários trabalhos, e isso é coisa que nunca lhe faltará.
Duas das confrarias de Vila Rica dão oportunidade para se revelarem as capacidades de António Francisco. A Ordem Terceira do Carmo encomenda o projecto da Igreja a Manuel Francisco, a Ordem Terceira de S. Francisco fará encomenda idêntica ao seu filho.
As duas obras serão elogiadas e, na de S. Francisco, quer na fachada lateral, quer no púlpito, são já visíveis as marcas de um autor. Os trabalhos irão suceder-se.
O Barroco, tão
em voga na Europa do Sec. XVII, só agora começa a chegar
ao Brasil, sobretudo pela mão dos que vêm de Portugal. Mas
aqui nos trópicos vai-se diferenciando do europeu, sobretudo em
Minas Gerais, onde tanto ouro há.
António Francisco
dá às suas obras um estilo próprio, quer no desenho
das plantas, quer na talha e na escultura. É a imagem de uma região
feita pelas mãos de um artista. As fachadas são enriquecidas,
os interiores cobrem-se de talha. É aproximação do
rococó, com um cunho mineiro.
Em 1767 morre Manuel
Francisco Lisboa. Dois anos mais tarde o filho já não tem
mãos a medir. As encomendas sucedem-se. O seu trabalho é
disputado entre
as várias confrarias - já pode fazer aquilo de que mais gosta
- esculpir. Trabalha agora em pedra-sabão. Faz púlpitos,
imagens,
portas. Por tudo
isto lhe vão pagando, e ele bem sabe como gastar o dinheiro...
Não é
figura que atraia mulher para casamento - baixo, gordo e mulato - mas tem
um filho natural.
Da mãe pouco
se sabe, apenas que se chama Narcisa, e que o faz andar em tribunais. António
Francisco reconhece o filho como seu. Dá-lhe o nome de seu pai.
Há tempo para
tudo, para o trabalho mas também para o prazer. A vida boémia
diverte-o, gosta de viver. Talvez venha a pagar os desvairos que
comete. Não
perde uma oportunidade para se divertir como no dia em faz uma imagem de
S. Jorge, que é réplica da figura do ajudante do Governador
que a encomendara. O resultado é o riso da povo de Vila Rica que
logo transforma o episódio numa quadra:
"O S. Jorge que ali
vai,
Com ares de Santarrão,
Não é
São Jorge nem nada,
É o Coronel
Zé
Romão".
Esse é o preço
que pagou o ajudante por um dia lhe ter chamado feio.
PENAR TANTO E NÃO TER NADA...
O Aleijadinho adapta-se à doença. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Deus do céu, como é possível Penar tanto e não Ter nada! *
Em 1777 António Francisco Lisboa sente já os males da sua doença. De que sofre? Ninguém parece saber ao certo... mas que é grave, isso sente ele. São várias as hipóteses que se põem: escorbuto, sífilis, zamparina... Todas parecem ter origem num facto: a vida de excessos que tem levado. Há mesmo quem diga que tudo se deve à cardina** que terá ingerido para melhorar os seus dotes artísticos.
Certo é que, nesse ano, já não consegue deslocar-se sozinho. Que o diga a Confraria de Nossa Senhora das Mercês e Perdões que já suportou um pagamento aos negros que o transportaram quando foi vistoriar as obras.
A doença irá
agravar-se com os anos. De forma lenta e dolorosa, como se dum calvário
se tratasse.
Apesar de tudo António
Lisboa é bem aceite. Tem obra feita, é respeitado. E não
é homem de se expor.
Com o agravamento
da doença vê o seu corpo a ficar cada vez mais deformado.
Primeiro os pés, mais tarde as mãos. Momentos há em
que não suporta as dores.
O desespero é
tal que chega a mutilar alguns dedos. Mas as mãos, também
defeituosas, são o seu instrumento de trabalho. Males piores virão.
À sua fealdade
junta-se agora a deficiência física. E há sempre alguns
que a acham medonha. António Lisboa tem disso consciência,
bem se lembra do dia em que um escravo, acabado de comprar, tenta suicidar-se
ao ver o seu novo patrão. A amizade entre ambos nascerá depois.
António Lisboa
decide não impor a sua presença.
Evita sair durante
o dia. Sempre que tem de o fazer, aproveita a madrugada. E para que não
vejam as suas mazelas veste roupas que lhe tapem os membros, e chapéu
que lhe cubra a cabeça. Dispensa de bom
grado que assistam
ao seu trabalho. Aos elogios que lhe fazem, responde por vezes com aspereza.
É a doença que dói por dentro.
Os bons momentos, vive-os com os seus escravos - Januário, Agostinho e Maurício. Os dois últimos aprenderão as suas artes ao mesmo tempo que o amparam na doença. António Lisboa paga-lhes, transforma-os em seus operários. Januário será sobretudo o seu meio de transporte.
No mesmo ano em que
adoece, casa-se o único filho natural que se lhe conhece. Da sua
vida pouco se sabe, da nora se falará mais tarde.
Um homem a quem
a natureza nada deu, que luta contra a sua doença, trabalhando;
que transmite nas suas obras a devoção religiosa e que, de
forma lenta, vai ficando estropiado... é uma figura digna de piedade.
Quem o diz é o sentimento, ou o sentimentalismo lusitano a vir à
tona, caridade. Já não lhe chamam António, mas sim
o "aleijadinho" - assim
ficará conhecido.
Quanto ao seu verdadeiro nome, muitos o esquecerão. É o preço
da caridade, é o nascimento de uma lenda.
Mas António
Lisboa é lá homem de viver de piedades... Continua a trabalhar,
adapta-se à doença. Alguns dedos das mãos já
não existem, as pernas já não andam. Desloca-se de
burro quando vai longe, às costas de Januário quando vai
perto. E cada vez é menos visto. Com o auxilio dos seus operários
arranja forma de poder trabalhar. Amarra os instrumentos às mãos,
sacrifícios. E o seu mérito de artista é cada vez
mais reconhecido. Muitos o afirmam, e disso é prova a deliberação
da Ordem Terceira de Sabará em 25 de Novembro de 1781:
"O melhor meio para que estes trabalhos se façam com perfeição e sem alteração segundo os desenhos, é contratar o Mestre e os operários mais capazes de os executar da referida forma, e por esta razão o Reverendíssimo Comissário Superior e os irmãos membros da comissão estão de acordo e em unanimidade que apenas o Mestre António Francisco Lisboa e os operários poderão cumprir com toda a satisfação desejável..."
Mas António
Lisboa não se limitará a ficar por aqui. Uma obra maior está
à sua espera.
MELHOR QUE A DESGRAÇA É A MORTE...
Melhor que a desgraça
é a morte...
Melhor que o opaco
futuro,
E entre a vida e
a morte,
apenas
Um salto, - da terra
de
ouro
Ao grande céu,
puro e
obscuro. *
Em meados de setecentos
havia chegado de Matosinhos (perto da cidade do Porto) Feliciano Mendes.
Durante tempos andou, como outros, na
procura de riqueza.
Como tantos outros que partiram do Norte de Portugal, levou consigo as
suas devoções. Tinha deixado na sua terra uma bonita Igreja
- o Nosso Senhor do Bom Jesus de Matosinhos e as suas capelas dos Passos.
Também em Braga, no Minho, se construía um grande santuário dedicado ao Bom Jesus. Começavam as grandes romarias em Portugal... Feliciano Mendes sobe um dia ao morro do Maranhão, junto a Congonhas do Campo. Lá no alto, o homem está mais perto de Deus. Quer construir aí um Igreja em devoção do Senhor do Bom Jesus de Matosinhos. Para isso doa toda sua fortuna. Quando morre, em 1761, a Capela está quase pronta. O culto já está divulgado, e os romeiros não param de deixar as suas esmolas. Há que aplicar o dinheiro. A confraria decide construir um santuário imponente. Também ali haverá os Passos. E um adro. E um grande artista a fazê-lo.
Em 1796 António
Lisboa é contratado para fazer a execução das estátuas
do santuário, cerca de 60, obra grande. Nem todas poderá
esculpir. Mas pelo menos orienta os trabalhos. São precisos muitos
operários. Melhor é instalar uma oficina em Congonhas. Para
muitos será uma escola, afinal
está ali
um mestre. As obras irão durar alguns anos.
Em frente à igreja, um adro, o Largo dos Profetas (serão doze). Destes se encarrega António Francisco. Não são figuras estáticas. Distribuem-se em volta do largo como se de uma assembleia se tratasse. É deles que brotam as palavras, são eles os grandes oradores. António Francisco dá-lhes expressão, os gestos, as formas, as particularidades também. Os pés são grandes (para alguns, sinónimo de firmeza). As mãos mostram os ossos que vincam a pele e... um polegar "estranho", defeituoso até (é o reflexo dos seus males, pensarão outros mais tarde quando, ao olharem um Profeta, nele virem um auto-retrato de António Francisco).
O Mestre trabalha ainda nas Capelas dos Passos. Exprime o sofrimento de um Cristo. Também ele sofre com a morte de Agostinho Angola, era mais do que um escravo - era um amigo.
Talhada em cedro, mostra o realismo da Última Ceia. Mas tão real, que alguns dos passantes cumprimentam, julgando tratar-se de pessoas vivas...
Enalteceu a fé,
mostrou mérito mas, quando regressa de Congonhas do Campo, António
Francisco vê o seu sofrimento agravar-se. Vai ainda trabalhar no
altar mor da Capela da Ordem Terceira de Sarabá. Mas já lhe
chamam o "Aleijadinho" quando comentam as contas do trabalho apresentado.
António Francisco Lisboa já não é. Esquecem
o mestre, comentam os dinheiros...
Em 1810 trabalha
ainda na talha da Igreja de Vila Rica (Ouro Preto). Desta vez é
o seu ex-aluno Justino que firma o contrato. Eis o mestre a trabalhar para
o aluno... As deslocações são já tão
difíceis que se instala junto da Igreja. Será talvez a sua
última obra ... e ainda por cima mal paga.
Um noite, Justino
decide ir visitar a família. Não será visita breve.
Quanto ao "Aleijadinho", nada lhe diz, que fique só, que se arranje.
António Lisboa vê-se obrigado a regressar. Já não
é homem de viver sozinho. Joana Araújo Correia, a nora, leva-o
consigo. É parteira. Quem ampara gente que chega ao mundo, também
há-de saber amparar na partida.
Durante dois anos
António Lisboa não pode sequer levantar-se. Trabalhar, muito
menos. Já não vê. Fala consigo. Dos tempos bons, dos
outros que o não
foram. E sobretudo da traição de Justino que nunca mais lhe
apareceu para acertar contas. São coisas que não se perdoam
a quem tanto se deu. Resta-lhe a fé e as tábuas onde está
deitado.
Joana jamais o abandonará. Mas a dedicação da nora não lhe basta para aliviar tão grande sofrimento.
Morre no dia 18 de Novembro de 1814. António Francisco Lisboa é sepultado na Igreja de Nossa Senhora de Conceição. Aos seus nada deixa, ao mundo deixou muito.
Notas:
* versos extraídos
do "Romanceiro da Inconfidência" de Cecília Meireles
** infusão
preparada à base de plantas tropicais
O Aleijadinho
Antônio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho, nasceu por volta de 1738 (não existe documento
comprovando esta data). Filho do arquiteto português Manoel Francisco
Lisboa e de uma negra, escrava de sua propriedade, chamada Isabel. De personalidade
forte e perseverante, teve noçðes de
música e
latim, aprendeu a ler, escrever, estudou desenho e arquitetura com os mestres
da época. Em 1812 ficou totalmente paralítico e morreu pobre
em 1814. Seu corpo está enterrado no interior da Igreja Matriz Nossa
Senhora da Conceição. Antônio Francisco Lisboa herdou
o apelido de Aleijadinho devido a uma doença misteriosa, popularmente
conhecida na época como zamparina, que atacou seus membros, atrofiando-os.
A
mutilação
não abalou suas forças; seus escravos prendiam os instrumentos
em suas mãos.
A doença
é implacável. Cada vez mais arredio, ele se esconde com a
ajuda de seus leais escravos Maurício, Agostinho e Januário.
Executa belas obras em Sabará e Congonhas do Campo, consagrando-se
como o maior artista brasileiro do período colonial. Quando uma
obra isolada do
mestre escultor
está diante de nossos olhos, ficamos com a impressão de que
nela existe vida.
Por volta de 1766
é contratado pela Ordem Franciscana de Assis para construir a Igreja
de São Francisco de Assis, sua obra-prima, na qual consagra seu
estilo rococó. Seu nome e sua fama correm entre os aristocratas
portugueses e de todos os lugares das Minas Gerais chegam convites para
o mestre.
Principais Obras
Igreja de São
Francisco de Assis
Obra-prima do Aleijadinho, com pinturas de Manuel da Costa Ataíde.
Todo o conjunto é harmonioso, simples e belo. A portada da Igreja,
em pedra-sabão, é magnífica, e nos altares o toque
do gênio. Esculturas nos tambores dos púlpitos, em pedra-sabão,
representando episódios bíblicos (1772); barrete da capela-mor
(1773-1774); projeto da atual portada (1774-1775); risco da tribuna do
altar-mor (1778-1779), retábulo da capela-mor (1790-1794) executados
com a colaboração dos entalhadores Henrique Gomes de Brito,
Luís Ferreira da Silva Correia; projeto de dois altares colaterais,
consagrados a São Lúcio e Santa Bona (executados com alteraçðes
por Vicente Alves da Costa, 1829).
Igreja Nossa senhora
do Carmo
Modificaçðes do projeto original (1770); altares laterais de
Nossa Senhora da Piedade (1807) e de São João Batista (1809);
acréscimos dos camarins e guarda-pós dos altares de Santa
Quitéria eSanta Luzia.
Igreja de São
José
Projeto do retábulo da Capela-mor (1773); modificaçðes
no risco da fachada (1772).
Matriz Nossa Senhora
do Pilar
Feitura de 4 cabeças de anjos, em madeira, para o andor da Irmandade
de Santo Antônio (1810), posteriormente adaptadas ao oratório
da sacristia (1865).
Chafariz do Pissarrão
Situado no Alto da Cruz (antiga Rua Larga), nas proximidades da Igreja
de Santa Ifigênia
(1761).
Palácio dos
Governadores
Risco em "sanguínea" do chafariz interno (1752).
Museu da Inconfidência
"Sala Aleijadinho":
algumas esculturas e desenhos de projetos da Igreja de S. Francisco de
Assis de Ouro Preto e São João Del Rey.
O Aleijadinho em Congonhas do Campo
"O Barroco
Mineiro é um fenômeno excepcional no qual uma arte grandiosa,
teatral, alcançou seu apogeu em Congonhas do Campo"
Num percurso de apenas duzentos metros em linha reta, na modesta cidade
de Congonhas do Campo, entre as montanhas de Minas Gerais, a milhares de
quilômetros dos grandes centros mundiais da civilização
ocidental, acham-se concentradas 78 esculturas que compõem o mais
esplêndido
conjunto de arte barroca do mundo: são as 66 imagens no cedro dos
Passos da Paixão e os 12 Profetas na pedra-sabão. Entre elas
contam-se, no mínimo, 40 peças consideradas obras-primas.
Esse conjunto, executado no espaço de apenas dez anos, de 1796 a
1805, por um só escultor, o Aleijadinho, e alguns oficiais de seu
atelier, faz parte de um conjunto barroco mais amplo, que abrange algumas
cidades da mesma região, tendo-se desenvolvidoe florescido durante
o curto período do século 18, e envolvendo alguns poucos
arquitetos e escultores. Este é um fato único na História
moderna da arte, tendo como precedente nas culturas ocidentais somente
na arte da Grécia Antiga.
O texto acima é
um excerto de um artigo de autoria do Prof. Moacyr Vasconcellos, publicado
em "A Cidade dos Profetas", um informativo da
Fundação
Municipal de Cultura e Turismo de Congonhas.
Os Passos da Paixão
Em 1790 as obras arquitetônicas do Santuário do Senhor Bom
Jesus de Matosinhos e do adro estavam concluídas. Em 1796 são
contratadas as obras dos Passos da Paixão e a execução
dos Profetas, obras essas que constituem o mais esplêndido conjunto
da arte barroca mundial.
Apesar do adro estar concluído, é pelos Passos da Paixão
que Aleijadinho inicia seu trabalho, o qual se estende de agosto de 1796
a dezembro de 1799. Nesse período são talhadas as 66 figuras
em madeira, que seriam posteriormente dispostas em seis capelas: Ceia,
Horto, Prisão, Flagelação/Coroação de
Espinhos. Cruz-às-Costas e Crucificação..
Os trabalhos de policromia se iniciaram em 1808, sendo executados por Francisco
Manuel Carneiro e Manoel da Costa Athayde.
Caso deseje visitar os Passos da Paixão, faça sua escolha abaixo.
Os textos que acompanhas as fotos foram adaptados a partir do jornal "Cidade dos Profetas", uma publicação da Fundação Municipal de Cultura e Turismo de Congonhas.
Ceia
Horto
Prisão
Flagelação
Coroação
Cruz-às-Costas
Crucificação
Os Profetas
Terminada e execução das imagens dos Passos da Paixão,
Aleijadinho e seu "atelier" iniciam as obras no adro do Santuário
do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. O magnífico conjunto estatuário
foi totalmente executado em menos de cinco anos. Mesmo muito debilitado
pela doença que o consumia e utilizando largamente o trabalho do
seu "atelier", Aleijadinho deixou em Congonhas, nas imagens dos Profetas,
a marca do seu gênio. Esta marca se percebe antes mesmo de uma análise
mais detalhada dos 12 profetas. Ela é visível na magnífica
integração das estátuas ao suporte arquitetônico
constítuido pelo adro, com suas escadarias em terraços e
imponentes muros de arrimo. Os blocos verticais de pedra parecem brotar
espontaneamente dos parapeitos que
arrematam a parte
superior dos muros, contrapondo a linha horizontal dominente, modulações
rítmicas de poderosa força expressiva.
As atitudes e os gestos individuais de cada uma das estátuas são
simetricamente ordenados com relação ao eixo da composição.
As correspondências não se fazem de forma geométrica,
mas por oposicões e compensações de acordo com a lei
rítmica do barroco. Um gesto de aparência aleatória,
quando visto isoladamente como ampla flexão do braço direito
do profeta Ezequiel, adquire extraordinária força expressiva
quando relacionado com seu prolongamemto natural, constituído pelo
braço esquerdo de Habacuc.
Se desejar ver as imagens desses profetas, faça sua seleção abaixo.
Os textos que acompanham as fotos foram adaptados a partir do jornal "Cidade dos Profetas", uma publicação da Fundação Municipal de Cultura e Turismo de Congonhas.
Isaías
Jeremias
Baruc
Ezequiel
Daniel
Oséias
Joel
Abdias
Amós
Jonas
Habacuc
Naun
SOBRE O ALEIJADINHO
Trechos extraídos do livro CONFIDÊNCIAS DE UM INCONFIDENTE, "romance mediúnico escrito por Marilusa Moreira Vasconcellos, ditado pelo Espírito de Tomás Antonio Gonzaga":
Chamado a compor imagens para a Igreja Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, Mestre Lisboa (Aleijadinho) pensou:
_ .... Permite-me,
Senhor, viver ainda para poder deixar nas Minas Gerais, imortalizados,
os queridos amigos da Conjura Mineira. Inspira-me! Envia-me forças!
Começa
com a feitura da Ceia dos Passos.
Sessenta
e seis figuras comporão as capelas.
Trinta e
três de cada lado. Trinta e três! O número de graus
da maçonaria. Sete serão as capelas. Novamente o número
simbólico, e estarão, ao final, dispostas por tal forma,
que para se as visitar, terá o passante que seguir em ziquezaque,
exatamente o modo de andar enviezado dos maçons, com o qual se dão
a conhecer uns aos outros. Mas fazem apenas seis capelas.
... À
figura dos legionários romanos coloca o nariz grande e adunco, como
uma máscara de teatro. Com isto, qualquer que os olhe ficará
com raiva e também representa a farsa do julgamento do Senhor, bem
cmo a farsa do julgamento da Conjuração Mineira. Judas tem
as mãos por tal forma, que é um símbolo do aperto
de mãos dos Maçons. Não fora Silvério também
um deles? Agora, o que diria aquele pernicioso homem ao ver-se assim retratado?
..._ D.Francisca
(Eulina, na literatura) também deve ficar eternizada. A companheira
do Dr. Cláudio(Cláudio Manoel da Costa). Pobre mulher! Pois
eu a porei de joelhos, mãos com as palmas estendidas em súplica.
... Lembra-se
de Marília (de Dirceu), de sua renúncia quanto ao filho,
de toda sua dor e seu imenso sofrimento:
_ Não
posso restituir à senhora seu filho, D.Marília, mas eu a
farei unida a ele, com ele nos braços, na procissão da Paixão!
Ficarão juntos, nem que seja em estátua!
... _ Eu os
trarei de volta um a um na rocha e na madeira. Os poderosos hão
de render-lhes homenagens!
Depois de
muitos anos, mais ou menos no ano de 1.800, vem-lhe a encomenda dos profetas
do Adro.
_ Doze profetas.
Doze apóstolos, doze principais da Irmandade Maçônica!
Representarei o Grão-Mestre, o Venerável, o Companheiro,
os doutores, os militares. Todos. Pena não serem mais! Terei que
escolher.
Isaías
- Tiradentes
... Isaías
é o principal profeta. Veio para anunciar a vinda do Cristo. ....
Segundo a própria palavra de Isaías ao Senhor, quando perguntara:
"E quem nos irá lá? Havia respondido Isaías:
Aqui me tens a mim! Envia-me!"Também assim fora o Tiradentes quem
se oferecera para seguir pelo caminho como voz do levante. ..._ Serás
Isaías! O primeiro a abrir o ádro da Igreja, o primeiro de
todos!
Jeremias -
Cláudio Manoel da Costa
Ao lado de
Isaías, seguindo a própria seqüência bíblica
viria Jeremias. Jeremias faz sua lamentações, tais como o
Dr. Cláudio Manoel as fazia ao confessor na prisão. E o fez
com o manto dos doutores, a toga da sabedoria e o barrete frígio
de Mitra.
Os detalhes
quanto à sua posição na Maçonaria viriam das
posições ocupadas, dos gestos que fariam.
Apôs
ao profeta a cartela, símbolo dos bastões maçônicos
com os dizeres bíblicos: "Eu choro a derrota da Judéia e
a ruína de Jerusalém. E peço que queiram voltar ao
meu Senhor".
...Vinham
padres ver seus trabalhos. Havia quem os louvava, outros que procuravam
ridicularizar tudo:
_ Mestre
Lisboa, os pés estão trocados! Os pés das botas!
_... São
cegos. Os pés estão certos! Era aquela mais uma simbologia
maçônica, só visível aos iniciados.
Baruc - Tomás
Antonio Gonzaga
Baruc era
discípulo e secretário de Jeremias, esperava a glória
de Israel, e sua principal Oração é a Oração
dos Exilados.
..._ Baruc!
O primeiro dos exilados, aquele a quem tiraram a voz do esposo. Bem...
Dr. Tomás Antonio Gonzaga! Eu o vestirei com o manto dos magistrados,
a toga da sabedoria, o olhar de regojizo, pois sei que tu tiveste a tua
esposa. Tu a tiveste. ... Eu te porei no pilar da entrada, a olhar a cidade
aos teus pés, querido e bom Mestre!
A cartela
de Baruc dizia: "Eu predigo a vinda de Cristo na carne e os últimos
tempos do mundo e advirto os pios".
Ezequiel -
Inácio Alvarenga Peixoto
Alvarenga
seria Ezequiel, sendo sóbrio, dando mensagens aos cativos, homem
de raciocínio, que procurava sempre convencer mais do que arrastar.
Ezequiel se juntava aos cativos do Rio Cobar, Alvarenga aos cativos do
Rio das Mortes. Só Alvarenga poderia ficar lado a lado de Tomás
Antonio Gonzaga, mas Mestre Lisboa o faria por tal forma a Ter o gesto
significativo do Companheiro maçom: a mão esquerda levantada
entre o peito e o queixo.
Na cartela
de Alvarenga deixava gravado: "Eu descrevo os quatro animais no meio das
chamas. E as horríveis rodas e o trono etéreo".
Daniel - Maciel
Daniel era
um profeta especial, um dos exilados da Babilônia. Predisse sonhos
e foi colocado na cva dos leões. Também Maciel não
estivera na cova dos leões da casa do vsiconde de Barbacena? E não
saíra são e salvo para as terras da Àfrica, depois
de condenado à morte? Bem gostaria Mestre Lisboa dois semblantes
num só. O do jovem Maciel e do jovem Resende Costa Filho, que fora
corajoso como ninquém. Além do barrete frígio, lhe
daria o símbolo de seu grau maçônico. A coroação
com folhas de louro tinha tanto a ver com a simbologia, quanto a roupa
de Mitra colocada em Baruc, porque Dr. Tomás Antonio Gonzaga, como
superior que era da Ordem, era o "pai" de todos, "um pai no amor", como
a si mesmo chamava nos versos.
A cartela
de Daniel traz a insrição eterna: " A mandado do rei encerrado
na cova dos leões, são e salvo escapou pelo auxílio
de Deus".
Oséias -
Dr. Domingos Vidal Barbosa
Frente ao
profeta Daniel ficará Oséias. Sobre ele lê Aleijadinho
as explicações: "Foi enviado ao reino do norte, para anunciar
o cativeiro iminente. Houve um casamento simbólico de Oséias
com uma decaída". Não fora também Vidal Barbosa enviado
ao reino do norte (América do Norte), junto com Joaquim da Maia,
para conseguir a ajuda de Jefferson (presidente americano)? Tal ajuda não
viera; mas haviam tentado. Também podia fazer dali sair o Pe. Rolim,
também loiro, jovem, e unido a uma mulher de má reputação.
Ambos em um ?
Por fim decidiu:
Deixarei
os padres de fora, não porque não mereçam. Eles ficarão
para sempre como lembranças no lavabo dos sacristãos da Igreja
Francisco de Assis. O frade, com os olhos vendados, encimado pelo medalhão
de São Francisco; dois anjos, com os símbolos da sala de
reflexão da maçonaria; a ampulheta e a caveira, e os dizeres
" este é o caminho que conduz as ovelhas". O frade tem os olhos
vendados, como o aprendiz maçom; os girassóis, as rosas,
o triângulo em anjos, o compasso voltado para baixo, tudo testemunha
por aqueles cinco mártires da Conjura, embora há tantos
anos pronto, como profecia ! Agora era a vez dos doutores e militares
!
Joel - Dr.
Salvador Amaral Gurgel
Joel era
um "mestre da Justiça" e do reino do sul. Quem mais poderia vir-lhes
do sul, que tivesse conhecimento das coisas ? Quem haveria sempre
procurado dissuadir o Tiradentes, achando que o projeto era ainda imaturo?
O Dr. Salvador Amaral Gurgel, carioca, seria o próximo. Lembrava-se
que vivia ele a discutir com o capitão Rego Fortes, a quem apresentara
o Tiradentes. Pois os colocaria de costas um para o outro, e Rego
Fortes seria Jonas.
Gurgel, como
doutor, traria a pluma na mão e a inscrição na cartela:
" Eu explico à Judéia que mal trarão à Terra
a lagarta, o gafanhoto, o bruco e a alforra".
Jonas - Rego
Fortes
Jonas fora
engolido pelo peixe, isto é, pela cidade do Rio de Janeiro, cujo
escudo tinha um golfinho e fora salvo por Deus, pelo único modo
possível, pela morte. Jonas foi engolido pelo monstro e ficou escondido
tres noite e tres dias ( os anos na prisão do Rio de Janeiro )
no ventre do peixe.
Amós
- Aleijadinho
... eu serei
Amós e que Deus me perdoe por isto. Eu sou tal como ele pobre, com
uma vida rigorosa, como num deserto. Também como Amós admoestei
os ímpios e maus, os perversos e as suntuosidades dos templos, gravando
a advertência: " Onde estiver vosso tesouro, aí estará
o vosso coração". Não me colocarei nenhum manto de
doutor, nem toga mas terei para mim a roupa simples do artesão,
do escultor, do pedreiro livre e estarei sorrindo para quem me vir, diante
do profeta Naum, como ele a me dizer as últimas palavras do seu
livro: "A tua destruição não está oculta, a
tua chaga é muito maligna; todos os que ouviram a tua fama bateram
as palmas sobre ti; porque sobre quem não passou sempre a tua malícia
? "
Minha cartela
dirá simplesmente: "Foi feito primeiro pastor e em seguida profeta",
pois profetizo que todos vós tornareis um dia a esta terra, como
heróis, e vos reconhecerão nestas pedras !
Naum - Domingos
Abreu Vieira
Na cartela
de Naum ficou escrito: "Exponho qual castigo espera Nínive, depois
da recaída, digo que a Assíria deve ser destruída
toda!"
Abdias - Tte.
Cel. Francisco de Paula Freire de Andrade
Faltavam
dois profetas que ficariam sempre em movimento, como em voz de comando
para o ataque, ou profetizando e arguindo os covardes e traidores. Abdias
havia dito: "Nem te postarás nas saídas e não encerrarás
aos restos dos seus habitantes no dia da sua tribulação..."
Também Paula Freire não se postou na saída nem prendeu
os covardes. Uniu-se a eles.
Habacuc -
Oliveira Lopes
Na cartela
de Habacuc se gravará: " A ti, Babilônia, te ergo a ti, tirano
caldeu, mas a vós eu canto, Deus grande, em salmos". Era bem a atitude
de Oliveira Lopes, aquelas lamentações e queixas, que começavam
por dizer " não há mais Justiça, reclamando contra
os portugueses e os americanos e os franceses que não os tinham
ajudado".
Também
Freire de Andrade, com o braço erquido aos céus, apontava
a defecção do povo da América do Norte, que falhara,
quando o odeal de todos era a república e irmandade em todos os
cantos do mundo, para uma só pátria, baseada na fraternidade,
igualdade e liberdade !