Já passava das duas da manhã. Eu estava sentada na varanda de casa. Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu não me preocupava em enxugá-las, pois sabia q assim q o fizesse outras se encarregariam de molhá-lo novamente. O céu estava repleto de estrelas e o silêncio daquela noite era preenchido pelos ruídos dos pequenos insetos q povoavam os jardins da vizinhança. Até q um diferente som quebrou essa harmonia.

Um carro passou correndo pela rua. Eu conhecia muito bem o motor daquele carro. Era Zachary e seu Porshe. Zac e eu costumávamos ser grandes amigos. Nossos pais trabalhavam na mesma companhia e nós éramos vizinhos. Nos conhecíamos desde pequenos, tínhamos a mesma idade. É claro q brigávamos de vez em quando. Quem não briga? Mas nunca durava muito. Meia hora depois era como se nada tivesse acontecido. Bem, isso foi há muito tempo atrás... Não quero pensar no passado... Não quero pensar em nada...

O mundo não é perfeito. Se eu não queria pensar no passado, parece q o passado resolveu lembrar de mim.

-Hey... - Zac sussurrou se aproximando.

-Hey... - eu murmurei em resposta.

-Ainda acordada?

Q tipo de pergunta era aquela? Sem saber o q responder, apenas fiz q sim com a cabeça.

-Posso me sentar? - Zac perguntou novamente.

Fiz novamente q sim com a cabeça, mas desta fez sabendo pq o fiz. Pela primeira vez na noite, limpei minha face das lágrimas.

-Qual o problema, linda?

Zac tentou acariciar meus cabelos, mas eu desviei. Linda não era meu nome. Não sei pq ele me chamou daquela maneira. Linda, eu não era.

Eu respirei fundo e não respondi nada.

-Vc não vai me contar pq está chorando?

Deus, ele era insistente. Como eu poderia contar aquilo pra ele? Ele não ia entender. Eu não entendia.

-Eu não posso... - disse as únicas palavras q encontrei.

Não eram as mais adequadas ou as mais apropriadas, mas foi o q disse.

-Não pode ou não quer?

-Não consigo...

Sim. Essas eram mais apropriadas. Eu não conseguia dizer o q sentia. E o q eu sentia? Eu realmente sentia alguma coisa?

-Seus pais estão em casa? - ele perguntou.

Eu indiquei q sim.

-Eles sabem q vc está aqui?

Eu fiz q não.

-Vc quer q eles saibam?

Eu fiz q não novamente.

-Tem alguma coisa q eu possa fazer pra te ajudar?

Eu olhei nos olhos de Zac pela primeira vez naquela noite. Eu esperava encontrar algum vestígio daquele Zac q era meu grande amigo. Eu sempre li em romances q embora as pessoas mudem, se vc olhar bem dentro dos olhos dessa pessoa, vc vai enxergar algo q te lembre como ela era antes. Eu olhei nos olhos de Zac... mas não encontrei o q procurava... Então abaixei a cabeça novamente e fiz q não.

Meu cabelo caía sobre meu rosto, cobrindo-lhe. Zac foi tirá-lo, mas mais uma vez eu desviei do toque dele.

-Por que isso, Sam? Por que nem te tocar mais vc deixa?

-Porque me machuca...

-Eu mexer no seu cabelo te machuca? Como isso?

- ... Não sei ...

Eu não ia explicar pra ele q a dor não era física.

Zac deu uma risadinha suave e disse:

-Você está cada dia mais estranha.

-O mesmo eu digo de vc.

Não sei como aquelas palavras saíram da minha boca. Era exatamente aquilo q eu achara em relação ao Zac, mas eu nunca tinha tido coragem de admitir isso pra mim mesma, q dirá dizer isso a ele.

-Eu? - ele se surpreendeu tanto quanto eu com as minhas palavras. - Eu continuo o mesmo Zac Hanson de sempre.

-Eu gostaria q isso fosse verdade.

-Do q vc tá falando, Sam?

-De nós, Zac.

-O q tem nós?

-Pensa bem... Nós costumávamos ser tão próximos... E olha como estamos agora... Há qto tempo vc não me liga, Zac?... Há qto tempo nós não nadamos na cachoeira? ... Há qto tempo vc não dorme em casa ou eu durmo na sua? ... Vc nem sabe se eu to indo bem ou mal na escola... E nem eu sei mais nada sobre vc...

A cada frase q eu dizia, uma lágrima a mais escorria em minha face.

-Sam.... eu sei q a gente anda meio afastado, mas...

-Meio afastados??? Q gentiliza!! Zac, faz 3 meses q vc não me liga!!! Isso é o q vc chama de "meio afastados"! Deus, eu nem te vejo mais. Nem parece q nós somos vizinhos!

-Então pq vc não me liga??

-Pra q? Pra vc zoar da minha cara como fez o ano passado todo?

-Eu não zoei com a cara de ninguém!

-Não? E como vc chama as brincadeiras q vc e seus novos amigos fizeram comigo na escola o ano passado inteirinho???

-Era exatamente isso q vc disse: brincadeira.

-Pra vc devia ser. Pra mim, não era.

-Pq vc leva as coisas muito a sério.

-Vc diz isso pq não era vc q era chamado de "Sam- anta", "amiguinha sonsa do Zac", "a feinha q anda com o Zac", "aquela lá daquela aula", sem contar o dia q vc e a Grace decidiram pregar aquela peça em mim, me doparam numa festa e me deixaram pelada no meio da sala.

-Vc não vai esquecer isso nunca?

-E como poderia?

-Eu estava bebado, ok? Não sabia o q tava fazendo.

-Bela desculpa.

-É verdade.

-E durante as aulas, vc tb estava bêbado? Qdo seus amigos faziam piada sobre mim, vc estava bêbado? Qdo aquelas patricinhas da escola tiravam sarro do jeito q eu me vestia, vc estava bêbado tb?

-Sam...

-Não precisa se explicar, Zac. Eu não to te cobrando nada. Vc q apareceu aqui.

-Pq eu ainda me preocupo com vc.

-Jura? Não parece.

-A gente se afastou pq vc mudou de escola.

-Não, Zac. É exatamente o oposto: eu mudei de escola pq a gente se afastou. Qdo a gente decidiu deixar de estudar em casa pra estudar em uma escola pública, a gente decidiu fazer isso junto pq seria mais divertido. Nós iríamos zuar pra caramba. Íamos agitar o colégio! Esses eram os nossos planos! Mas não foi isso q aconteceu. Nós chegamos lá e as pessoas nos classificaram de formas diferentes. Vc era O ZAC HANSON. Um cara inteligente, bonito, rico q em uma semana já era popular e tinha um bando de garotas no pé dele. Eu era a "amiguinha do Zac", a vizinha feinha dele q naum desgrudava do pé dele.

-Eu nunca q tratei assim.

-Vc pode nunca ter dito isso na minha cara, mas vc sabia q as pessoas falavam isso e não fez nada. Pelo contrário. Vc se deixou levar por essas pessoas. Começou a sair com elas, se vestir como elas, falar como elas e se comportar como elas.

-Me desculpe por vc naum ser minha única amiga. - Zac disse sarcasticamente.

-Não se faça de idiota pra mim, Zac. Vc sabe q não é disso q eu to falando.

-Então é o q?

-Vc se fechou pra mim, Zac! - eu disse soluçando de tanto chorar - Vc mudou muito e esse novo Zac não deixou nenhum espaço pra velha Samantha.

-Isso não é verdade...

-Por favor Zac, não torne as coisas mais difíceis do q elas já são. Vamos deixar as coisas como estão. Vc com seus novos amigos e eu ... e eu sem amigo algum.

-Mas eu não quero q fique assim.

-Nem eu, mas é como as coisas são.

-Nós podemos mudá-las. Se elas mudaram uma vez, elas podem mudar de novo.

-As coisas nunca voltam a ser o q era antes.

-Mas podem mudar pra algo ainda melhor.

-E quais a chances de isso acontecer?

-Não sei, ... mas nós nunca vamos saber se não tentarmos...

Eu olhei nos olhos de Zac novamente. Por um instante achei ter visto um pouco do velho Zac Hanson. Mas foi tão rápido...

-Sam... Me desculpa... Eu não sabia q vc se sentia assim...

-É por isso q as coisas mudaram entre a gente, Zac... Nós não nos sentimos mais... Nós podemos ficar do lado um do outro, podemos dizer o q sentimos um para o outro, podemos rir juntos, chorar juntos, dormir juntos... mas nós não sentimos um ao outro mais... Eu não te sinto mais Zac... Mas eu ainda sinto tanto a sua falta...

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