Cristianismo e Espiritismo (Parte IV)
 

D E U S - PERDÃO - SALVAÇÃO

A PALAVRA DO ESPIRITISMO:

Corroborando as idéias do seu contemporâneo Charles Taze Russel (1852-19l6), fundador da seita "Testemunhas de Jeová", Allan Kardec, ao negar a divindade de Jesus, nega, em conseqüência, a existência da Trindade, isto é, de um Deus trino, subsistente em três pessoas: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, como ensinam o cristianismo e a Bíblia Sagrada. O espiritismo nega, também, a existência de um Deus pessoal, capaz de perdoar totalmente os pecados dos que a Ele se chegam com arrependimento. Vejamos:

"Ab-rogamos a idéia de um Deus pessoal"(The Physical Phenomena in Spiritualism Revealed).
"Deve-se entender que existem tantos deuses quantas são as mentes que necessitam de um deus para adorar; não apenas um, dois, ou três, mas muitos" (The Banner of Light, 03.02.1866).
"Deus é, pois, a inteligência suprema, é único, eterno, imutável, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições, e não pode ser diverso disso"(A Gênese, Allan Kardec, p. 60).
"Deus é infinito e não pode ser individualizado, isto é, separado do mundo, nem subsistir à parte" (Depois da Morte, de León Denis, p. 114). Esta declaração não está em sintonia com o pensamento kardecista. Nas questões de números 14, 15 e 16, do Livro dos Espíritos, é dito que "as obras de Deus não são o próprio Deus", ou seja, Deus é um ser distinto de Sua criação.

Tudo indica que o pensamento dominante, na doutrina espírita, é o que considera Deus o Criador de todas as coisas, mas não envolvido pessoalmente com o mundo. O mundo estaria sujeito e controlado pelas leis físicas, pelas leis de causa e efeito, pelas leis naturais por Ele criadas. Daí o interesse de muitos espíritas pelo estudo dessas leis. Estas leis também estariam regulando o aperfeiçoamento dos espíritos desencarnados. Vejamos o pensamento espírita sobre salvação, perdão e arrependimento.

"Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno à senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação do mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento. Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe faculta esperá-la. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito... Assim, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo (o realce é nosso): a lei de Deus estabelece a condição em que se lhe torna possível fazê-lo. O que mais das vezes lhe falta é a vontade, a força, a coragem" (E.S.E., cap. XXVII, item 21).

Vamos tentar decodificar o hieróglifo. O espírito que praticou o mal, em um corpo humano ou não, pode clamar a Deus por misericórdia. Deus ouve o clamor, concede misericórdia ao espírito arrependido, permitindo-lhe receber esta misericórdia quando quiser ("lhe faculta esperá-la"). Mesmo tendo recebido de Deus misericórdia, o arrependido espírito deve, para reparar sua culpa, praticar o bem ou através dos médiuns ou em vidas corpóreas, isto é, voltar à Terra em corpo humano (reencarnações). Mas tudo isso se o espírito julgar conveniente fazê-lo. Tudo depende dele. Deus não exige nada. Aqui aparece a figura do Deus pessoal, que ouve e deseja atender. Mas depois se afirma que as "leis estabelecem condições". Meditemos: se o espírito não acreditar em Deus; não aceitar dar duro na Terra, passar fome, ser aposentado ou lavrador no sertão de Pernambuco; enfim, se o espírito mau for ateu e rebelde, então ele continuará fazendo suas maldades, infernizando a vida dos parceiros, xingando os bons espíritos e atanazando os terráqueos. E Deus ficará esperando eternamente por sua boa vontade, e pela lei do Carma. Sobre a graça de Deus, assim se expressou Allan Kardec:

..."aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa-vontade para se expungir do mal e praticar o bem"(E.S.E., introdução, XVII).

Cristianismo e espiritismo não falam uma mesma linguagem. Graça é graça, é favor imerecido. "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3.23-24). Isoladamente, o sofrimento e as boas obras não justificam os homens perante Deus: "Todos nós somos como o imundo, e todos os nossos atos de justiça como trapo da imundícia..." (Isaías 64.6).
A doutrina espírita ignora a obra expiatória do Senhor Jesus; despreza, com desdém, o Seu sacrifício na cruz; nega haver remissão de pecados para os que O aceitam como Senhor e Salvador; nega a eficácia da graça e da fé ao admitir que o pecador salva-se a si mesmo. Vejamos o que escreveu Léon Denis: "A missão do Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. Nada de exterior a nós poderia fazê-lo. É o que os espíritos, ao milhares afirmam em todos os pontos do mundo". Aqui o espiritismo é explícito em afirmar que o homem não depende de Deus. Para que os desencarnados clamam a Deus por misericórdia e, em suas preces, os espíritas lhe pedem para enviar os bons espíritos?

A PALAVRA DO CRISTIANISMO:


De Gênesis a Apocalipse, na Bíblia Sagrada, Deus é apresentado como um Deus pessoal, que ouve, atende, perdoa, fala, corrige, disciplina, nomeia, orienta. O espiritismo ao mesmo tempo em que diz ser Deus "infinito em suas perfeições", declara que Deus fez os espíritos rudes e ignorantes. Ao mesmo tempo em que diz que Deus é onipotente, pode todas as coisas, não admite que Ele possa perdoar totalmente os pecados dos que se arrependem.
Deus fala: "E disse Deus: Haja luz; e houve luz (Gênesis). "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho" (Hebreus 1.1 e 2). Deus ouve, perdoa, responde: "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra" (2 Crônicas 7.14). Deus tem vontade própria: "Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou (Salmos 115.3). Deus tem sentimentos de misericórdia e de profundo amor: "Compassivo e piedoso é o Senhor, lento para a cólera, e abundante em amor"(Salmos 103.80).
O Deus do cristianismo é onipotente, onipresente, onisciente, imutável e eterno. É Deus trino, Deus em trindade, porque nele subsistem três pessoas distintas: o Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito Santo é Deus. Sobre salvação, vejamos o que ensina a Bíblia:
"Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé - e isto não vem de vós, é dom de Deus - não das obras, para que ninguém se glorie"(Efésios 2.8-9).
Quando o cristianismo fala em fé, fala em arrependimento; em obediência, dedicação pessoal e fidelidade a Jesus Cristo. Quando fala em graça, fala na infinita misericórdia imerecida (não por nossas obras) de Deus derramada sobre os homens. A fé salvífica - fé em Jesus Cristo - "é a única condição prévia que Deus requer do homem para a salvação". A fé, como colocada no versículo supra, funciona como o leito de um rio. É preciso que haja um leito (fé) para que as águas (graça) deslizem e formem o rio.

"Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Romanos 8.1).

"Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João 8.44).

"Na cidade de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor"(Lucas 2.11).

Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa" (Atos 16.31).
"Em nenhum outro há salvação, pois também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4.12).

Quem morre em Cristo não fica por aí perambulando, entrando em fila para reencarnar; procurando um médium para fazer o bem, a fim de pagar seus pecados. Os de Cristo vão direto para Cristo. Vejam:

"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Palavras de Jesus, na cruz, ao ladrão arrependido, Lucas 23.43). Embora o ladrão tivesse muitos pecados, Jesus não acenou com a hipótese de serem necessárias várias reencarnações para que ele alcançasse a perfeição. Espíritas há argumentando que essa passagem é do seguinte modo em outras traduções: "Digo-te hoje: estarás comigo no paraíso". Esta é uma tradução burra ou tendenciosa. Ou as duas coisas. O espiritismo se perde tanto nos remendos e interpretações que faz da palavra de Deus, para associar sua doutrina ao cristianismo, que vez por outra chega a ser hilariante. Jesus, por acaso, poderia ter dito: Digo-te ontem, ou digo-te amanhã? E mais:

"Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo..." (Filipenses 1.23).


"Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1.7, 9).
Quando Deus perdoa não o faz pela metade. Quando Ele salva não salva pela metade. Todo o sacrifício necessário à nossa salvação foi feito na cruz do calvário por Jesus. O povo de Deus não ficará errante no mundo espiritual, esperando a vez para ser purificado, pulando de galho em galho à procura de "mundos ditosos" onde estão os espíritos puros, como quer o espiritismo. O sacrifício do Filho de Deus foi completo, perfeito, eficaz e suficiente. O que nele crê será salvo; O que não crê já está condenado. Nele somos justificados. Portanto, o "cristianismo" que Allan Kardec apresenta não tem origem nas palavras de Jesus. Contrapondo-se à lei do Carma, à lei do "salva-se a si mesmo", da negação do perdão, da salvação somente pela caridade, o Senhor Jesus responde: "Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa"(Mateus 9.6). Bem, quem falou isso foi Aquele que veio do céu "ensinar a justiça de Deus aos homens".

Sobre a salvação só pela caridade, como ensina o espiritismo, necessário algumas explicações. Ninguém de sã consciência desaprova a caridade, o fazer o bem, o amar o próximo, o ajudar os necessitados. Agora, bom lembrar que somos salvos PARA as boas obras. Não somos salvos PELAS boas obras. O homem não pode comprar sua própria salvação, com obras. Vejamos: "Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé - e isto não vem de vós, é dom de Deus - não das obras, para que ninguém se glorie, pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2.8-10). O homem salvo, ou seja, que crê no Senhor Jesus, na Sua morte expiatória e ressurreição, e na remissão dos pecados, este, por ser nova criatura, faz boas obras. São boas obras - em pensamentos, palavras e atos - decorrentes da fé no Senhor Jesus. A fé a que o cristianismo se refere não é a fé na fé. É a fé no Senhor Jesus. "Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça" (Romanos 11.6). A fé no Senhor Jesus é evidenciada por nossas obras: "Mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras". "Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta"(Tiago 2.26). As obras distanciadas da fé, não decorrentes da fé no Senhor Jesus, não servem para a salvação. Se a caridade por si só salvasse, o homem pecador poderia alcançar os "mundos ditosos" sem depender de Deus, e de nenhuma espécie de fé. O cristianismo ensina que a fé salvífica é a fé no Senhor Jesus Cristo.

 

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