Cristianismo e Espiritismo (Parte VI)

RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO

A PALAVRA DO ESPIRITISMO:

A espinha dorsal do kardecismo é a crença na reencarnação, isto é, na possibilidade de as almas, preexistentes, voltarem à vida corpórea para purificação, quantas vezes seja necessário. Preexistência da alma e pluralidade das existências são termos chaves no ensino reencarnacionista. Ressurreição é o retorno, à vida, de um corpo morto, com a mesma alma.

"A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome ressurreição... Designavam pelo termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com efeito, a ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. A palavra ressurreição podia assim aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas. Não há, pois duvidar de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo" (O Evangelho Segundo Espiritismo, cap. IV, itens 4 e 16). Note-se que Allan Kardec declara ser cientificamente impossível a ressurreição, mas aprova a de Lázaro.

"Com efeito, demonstra a Ciência a impossibilidade da ressurreição conforme o dogma vulgar. Se os despojos do corpo humano ficassem homogêneos, mesmo que dispersos e reduzidos a pó, ainda poderia compreender-se sua reunião num dado momento... Sendo a matéria em quantidade definida e, por outro lado, sendo as suas transformações indefinidas, como é que cada um dos corpos poderia ser reconstruído com os mesmos elementos? Eis aí uma impossibilidade material. Racionalmente é, pois, inadmissível a ressurreição da carne, a não ser como uma figura, simbolizando o fenômeno da reencarnação, e, assim, nada que choque a razão, nada em contradição com os dados da ciência"(Livro dos Espíritos, questão 1011).

A PALAVRA DO CRISTIANISMO:

"E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo..." (Hebreus 9.27). O homem não precisa morrer várias vezes para alcançar a suprema glória de morar no céu e estar com Cristo. A doutrina da reencarnação nega o poder de Deus de perdoar totalmente nossos pecados, e despreza o sacrifício de Jesus na cruz. Ora, perdão é perdão. Havendo sincero arrependimento e desejo de não mais pecar, o perdão de Deus será incondicional. Prova inequívoca disto é a afirmação de Jesus que disse o seguinte ao ladrão arrependido, crucificado ao seu lado: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas 23.43). Com esta afirmação Jesus confirmou que os salvos - arrependidos, perdoados e crentes em Jesus -, após a morte, seguirão imediatamente para o céu ou paraíso. Aquele ladrão, segundo a doutrina da reencarnação, teria que passar por uma ou várias vidas corpóreas, ou seja, sua alma voltaria à vida humana para expurgar toda nódoa do mal.

Paulo, "servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus", declarou em Filipenses 1.23: "...tenho desejo de partir e estar com Cristo...". Paulo tinha a certeza de que não ficaria vagando no espaço à espera de uma oportunidade para voltar à vida corpórea.
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"(João 3.16). "Perecer" aí significa morte eterna, que significa eterna separação de Deus. "Vida eterna" não é uma existência espiritual cheia de pesar, de sentimentos de culpa, de dores, de necessidade de retornar à Terra por uma, duas ou mais vezes para expiação. Para o kardecismo, vida eterna significa a eternidade espiritual. Então Jesus teria dito uma bobagem, porque crendo ou não crendo todos nós iremos viver nessa eternidade. E Jesus arremata: "Quem nele crê (no Filho de Deus) não é condenado, mas quem não crê já está condenado" (João 3.18); "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora"(João 15.6). Jesus definiu claramente, em termos objetivos, a essência do plano de salvação de Deus para a Humanidade, e quais as condições estabelecidas. Quem acredita que verdadeiramente Ele é o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne; quem crê na Sua morte substitutiva; na Sua morte e ressurreição; na remissão de pecados que há no Seu sangue; quem O aceita como Senhor e Salvador pessoal, não é condenado. Não será condenado a voltar várias vezes à Terra para cumprir pena. Não será condenado a trabalhos forçados. Lembremo-nos de que depois da morte vem o juízo (Hebreus 9.27).

"Se permanecerdes no meu ensino, verdadeiramente sereis meus discípulos. "Então conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8.31, 32, 36). Ora, o espírito que necessita voltar em carne para sofrer, não está verdadeiramente livre. Não se livrou de suas culpas, de seus pecados, do peso de suas transgressões. Carrega-os consigo. E quem poderá livrá-lo de uma vez por todas desse peso? Jesus.
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem de obras, para que ninguém se glorie"(Efésios 2.8). "Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3.23-24).

Ressurreição e Milagres

"A ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível..." (E.S.E., Allan Kardec, cap. IV, item 4). Dito isto, o espiritismo não acredita na ressurreição de Jesus.

A Bíblia registra duas formas de ressurreição:

1) ressurreição do corpo que estava morto, ou restauração da vida, mas que voltará a morrer. São sete os casos:

  1. o filho da viúva de Serepta (1 Reis 17.19-22);
  2. o filho da sunamita (2 Reis 4.32-35);
  3. o defunto na cova de Eliseu (2 Reis 13.21);
  4. a filha de Jairo (Marcos 5.21-23, 35-43);
  5. o filho da viúva de Naim (Lucas 7.11-17);
  6. Lázaro (João 11.1-46);
  7. Dorcas (Atos 9.36-43).

2) ressurreição plena, real, para não mais morrer. Exemplo único: a ressurreição de Jesus (Mateus 28.1-10; Marcos 16.1-8; Lucas 24.1.12; João 20.1-10; 1 Coríntios 15.4, 20-23). Haverá, ainda, uma ressurreição coletiva: a dos justos, na segunda vinda de Jesus (1 Tessalonicenses 4.16-17); e a dos ímpios, para condenação (Apocalipse 20.5). A Bíblia registra, ainda, uma ressurreição coletiva ocorrida logo após a morte de Jesus (Mateus 27.52). Sobre a ressurreição de Jesus, Paulo assim se expressou:

"Pois primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos Doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos, e por último de todos apareceu também a mim, como a um abortivo" (1 Coríntios 15.3-8). Da mesma forma como Jesus ressuscitou num corpo celestial e glorioso, os que dormem em Cristo ressuscitarão quando do Seu retorno à Terra, e os que estiverem vivos nessa ocasião serão arrebatados: "Pois o mesmo Senhor descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor" (1 Tessalonicenses 4.16-17).
Jesus foi o primeiro a ressuscitar dentre os mortos (Atos 26.23). "Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem" (1 Coríntios 15.20). "Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos... os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós [os que estiverem vivos por ocasião da vinda de Jesus] seremos transformados" (1 Coríntios 15.51).

 

Como não é possível explicar cientificamente ou racionalmente o milagre da ressurreição, o espiritismo tropeça e não ensina com segurança. Vejam o que Allan Kardec diz na conclusão do Livro dos Espíritos, item II: "Que são os milagres? Não são fatos maravilhosos e sobrenaturais por excelência, uma vez que, conforme o sentido litúrgico, são derrogações das leis da natureza? Não cabe ao Espiritismo examinar se há ou não há milagres; isto é, se, em certos casos, pode Deus derrogar as leis eternas, que regem o universo. A tal respeito ele (o Espiritismo) deixa inteira liberdade de crença". Ó céus! Se Allan Kardec afirma que o Espiritismo é a Terceira e última Revelação de Deus; que Deus só se comunica com os homens através dos Bons Espíritos; que o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus para ensinar aos homens todas as coisas; que o Espiritismo veio dar luz às coisas obscuras, esclarecer o que foi dito através de alegorias, etc. , como é que o Espiritismo não possui os meios necessários para explicar a ocorrência de milagres?
Entretanto, no capítulo XIX, item 12, do E.S.E., Kardec expõe com maior nitidez seu pensamento sobre milagres: "Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis? O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres... prodígios que não passam de um desenvolvimento das faculdades humanas".


Em suma, o espiritismo de Kardec nega a operação de milagres mediante manifestação sobrenatural do poder de Deus. Seriam efeitos naturais, produto das leis naturais. Diz que quem cura é o Magnetismo, que atua através de nossa fé, e que qualquer um pode operar milagres desde que desenvolva suas faculdades humanas. Como teria funcionado o Magnetismo na ressurreição de Lázaro, há quatro dias sepultado? E a de Jesus, ressuscitado depois de três dias? No caso de Lázaro, poder-se-ia alegar que o Magnetismo operou através da fé de Jesus. No caso de Jesus o Magnetismo teria funcionado sozinho?! Então, para o espiritismo, Jesus foi um grande magnetizador, pois deu vista aos cegos, levantou paralíticos, curou surdos, mudos, leprosos e outros enfermos, aos milhares.


A ressurreição de Jesus foi o evento mais importante e extraordinário de toda a história da humanidade. Nesse milagre, como nos demais, Deus simplesmente ignorou as leis da natureza; passou por cima de todas elas, porque Ele é superior à Ciência. Deus está acima das leis por Ele criadas. As leis existem, mas Deus pode a qualquer momento mudar-lhes o curso para a satisfação de seus desígnios. O próprio Jesus predisse sua ressurreição:


"Vamos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado. No terceiro dia ele ressurgirá" (Mateus 20.18-19). "Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia"(Mateus 26.32).


O corpo de Lázaro já cheirava mal, pois estava sepultado já havia quatro dias. Os elementos físicos estavam em fase de decomposição, mas Jesus bradou para que todos ouvissem: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá" (João 11.25-26). E apenas disse: "Lázaro, vem para fora!". E o morto saiu, tendo as mãos e os pés enfaixados, e o rosto envolto num lenço.


O próprio Deus responde aos incrédulos: "Operando eu, quem impedirá?" (Isaías 43.13). Deus não está sujeito à Física, à Ciência, às leis da natureza. Ele é soberano, Todo-Poderoso. Se Ele pode dar vida a um corpo que morreu há quatro dias, também pode ressuscitar corpos que dormem há mil anos. Ou alguém há que acredite num Deus limitado? O que é mais fácil: dar vida a um corpo morto há 500 anos, ou criar o universo com milhões de galáxias, com bilhões de estrelas? Olhemos só para o nosso Sistema Solar: sol, lua, estrelas, marés alta e baixa; noite e dia; verão, primavera, outono, inverno, tudo funcionando mais perfeito do que qualquer relógio suíço. Pois bem, todos ressuscitarão. Uns, para a vida eterna com Cristo. Outros, para a morte eterna. Não há explicações científicas para as diversas manifestações do poder de Deus. Como explicar as pragas no Egito, para permitir a saída do povo de Deus? A abertura do Mar Vermelho? O livramento dos três companheiros de Daniel, jogados numa fornalha? A ressurreição de Lázaro? A ressurreição de Jesus? As demais ressurreições? Centenas de outras manifestações sobrenaturais, como explicar de forma racional? Na verdade, o ensino do espiritismo no particular é igual ao do movimento Nova Era: você é Deus; você pode salvar-se a si mesmo; você pode operar prodígios com sua mente.

 

Reencarnação - Aspectos particulares


"A reencarnação é a volta da alma, ou espírito, à vida corporal, mas em outro corpo novamente formado para ele que nada tem de comum com o antigo"(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. IV, item 4). Reencarnar é, literalmente, encarnar de novo. Segundo o kardecismo, as almas já existem no espaço entre o céu e a terra; Deus as teria produzido em grande quantidade. Há um estoque de almas "simples e ignorantes" esperando a vez de encarnarem. Daí o termo "preexistência das almas".
A volta da alma a um corpo humano para sofrer e, com isso, livrar-se das faltas cometidas em vidas passadas, seria uma injustiça. Deus seria injusto se castigasse um ser humano por faltas cometidas por outro em outra(s) existência(s); e, além disso, sem o punido ter consciência do mal praticado. Se assim fosse, evitaríamos até de mitigar o sofrimento de uma pessoa para não interromper ou retardar o processo de seu aperfeiçoamento. O ensino reencarnacionista desqualifica o sacrifício de Jesus, que morreu em nosso lugar para que, nele crendo, tivéssemos salvação.

João Batista e Elias


O kardecismo afirma que João Batista era a reencarnação de Elias, e baseia-se na seguinte declaração de Jesus: "E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem, então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista (Mateus 17.10-13). Em outra oportunidade Jesus falou: "E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir" (Mateus 11.14). Este é o prato predileto dos que defendem a reencarnação. O incongruente é que o Evangelho é verdadeiro nos casos em que há possibilidade de confirmar a doutrina espírita. Caso não confirme, é mentiroso. Ou seja: em alguns casos Jesus fala a verdade; noutros, é um mentiroso, ou fala falsamente, ou leva a coisa na brincadeira. Refutamos a idéia de que João Batista era Elias reencarnado, pelos seguintes motivos:

  1. A Bíblia interpreta-se a si mesma. Será que João Batista, um homem de Deus, escolhido por Deus mesmo antes de nascer, não teria conhecimento de que no seu corpo estava o espírito de Elias? Se a crença da reencarnação fosse assim tão difundida e aceita; se Jesus fosse um médium, como diz o espiritismo; se vivessem os apóstolos nesse clima de experiências espirituais, é claro que algum espírito já teria revelado tal coisa a João Batista ou ele teria feito uma regressão. Exemplo disso é o do francês Léon Hippolyte Rivail que sabia ser ele a reencarnação dum poeta celta com o nome Allan Kardec. Mas, quando perguntaram a João Batista se ele era Elias reencarnado ou não, a resposta foi: "Não sou" (João 1.21).
  2. O profeta Elias não passou pela morte física. Seu corpo foi transformado num corpo glorioso, celestial e arrebatado, levado para o céu: "Indo eles andando e falando, de repente um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho" (2 Reis 2.11). A reencarnação, segundo o kardecismo, tem por objetivo livrar as almas do peso das culpas, pelo sofrimento, e proporcionar melhor purificação. Não teria nenhum sentido o retorno daquele profeta para sofrer como sofreu João Batista, e ainda ser decapitado. Elias foi arrebatado vivo, e o espiritismo não admite a possibilidade de pessoas vivas reencarnarem. Seria insensatez admitir a existência do corpo de Elias no corpo de João Batista.
  3. os judeus julgavam que João Batista fosse Elias ressuscitado, e não reencarnado. (Lucas 9.7,8 ). Em certa ocasião admitiram acreditar que Cristo era a ressurreição de Elias (Lucas 9.7, 9).
  4. Em Malaquias 4.5 lê-se que o profeta Elias ressurgirá para cumprimento de um ministério especial "antes que venha o dia grande e terrível do Senhor". Tal acontecimento escatológico diz respeito à plenitude dos tempos, certamente na Grande Tribulação ou pouco antes. Ora, o tempo de João Batista e de Cristo de maneira nenhuma pode ser assim considerado.
  5. A profecia que Zacarias ouviu acerca de seu filho João Batista revelou que "Ele irá adiante dele [de Jesus] no espírito e poder de Elias" (Lucas 17). Quando Jesus falou "eis aí o Elias tão esperado", referindo-se a João Batista, estava, em suma, dizendo que Elias não ressuscitara como todos esperavam, mas que João Batista iria desempenhar o papel de precursor do Messias, com a mesma coragem e espírito de Elias. Expressão análoga vamos encontrar em 1 Reis 2.15: "O espírito de Elias repousa sobre Eliseu". Eliseu, momentos antes de Elias ser arrebatado, disse-lhe: "Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim" (2 Reis 2.9). Isto não significaria que o espírito de Elias iria encarnar em Eliseu. Na verdade, este pedira a Deus que lhe permitisse ser um digno sucessor de Elias, em todos os aspectos.
  6. Por ocasião da transfiguração de Jesus no monte, quando apareceram Moisés e Elias, João Baptista já havia morrido, pois fora decapitado por ordem de Herodes. Quem deveria aparecer ali seria João Baptista, e não Elias. Segundo a doutrina reencarnacionista, apareceria a reencarnação mais recente. Na questão 150 do Livro dos Espíritos lê-se que a alma "tem um fluído que lhe é próprio, colhido na atmosfera de seu planeta, e que representa a aparência de sua última encarnação"

Nascer de novo


O espiritismo admite que as expressões "nascer de novo" e "nascer da água e do Espírito", ditas por Jesus a Nicodemos (João 3.1-21), confirmam a doutrina da reencarnação. Não é verdade. "Nascer do Espírito" é semelhante a "nascer de Deus", ser nova criatura. Exemplo: "Todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber: aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1.12-13), e "Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo (2 Coríntios 5.17). Portanto, nascer de novo nada tem a ver com a volta de um espírito desencarnado a um corpo.

Jó 1.21


"Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá".

A palavra ventre tem o significado, também, de "interior da terra". Analisemos: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21). Este versículo também é usado pelos espíritas para afirmar que a doutrina da reencarnação é bíblica, ou seja, "nu voltarei" significaria que Jó, após sua morte, voltaria à vida corpórea. Essa interpretação não é verdadeira. Se ele reencarnasse iria para o ventre de outra mãe. O sentido correto é que Jó não trouxe nada quando veio ao mundo, e voltaria sem levar nada. Vejamos: Em Gênesis 3.19 lemos: "...porquanto és pó e em pó te tornarás". Paulo escreveu: "Porque nada temos trazido para o mundo nem coisa alguma podemos levar dele"(1 Timóteo 6.7). "Como saiu do ventre da sua mãe, assim nu voltará, indo como veio. Nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão" (Eclesiastes 5.15) ..."quando morrer, nada levará consigo, nem a sua glória o acompanhará" (Salmo 49.17). Então, Jó voltaria nu ao interior da terra, da mesma forma como saiu, nu, do ventre da sua mãe. Portanto, nada há nessas passagens que possa justificar ou legitimar o ensino da preexistência das almas ou da reencarnação.

 

Salmo 126.5-6


"Os que semeiam com lágrimas, segarão com cânticos de alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará com cânticos de alegria, trazendo consigo os seus molhos".

A mensagem do referido Salmo está longe de significar qualquer coisa relacionada com reencarnação. A sua abordagem não é espiritual; é material. O Salmo é uma manifestação de alegria pelo fim do cativeiro babilônico, e retorno à terra natal. Mas a alegria é mesclada de tristeza e de lágrimas por ver a terra desolada, a atividade rural quase sem perspectiva. No verso 4 a oração de confiança no Senhor: "Restaura a nossa sorte, ó Senhor, como as correntes do Neguebe [ou as correntes do sul]", isto é, os riachos temporários da região árida do sul da Judéia, conhecida como Neguebe. Aquela gente estava disposta a recomeçar a atividade rural. Com tristeza ou não, o povo de Deus estava disposto a semear para mais tarde colher com alegria os frutos.
Se o entendimento se relacionar com a semeadura de boas obras, também não encontramos qualquer relação com reencarnação das almas. Vejamos:



Em Gálatas 6.8 lê-se: "O que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna". Em Mateus 13.37-43, Jesus diz: "O que semeia a boa semente é o Filho do homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do maligno, e o inimigo que o semeou é o diabo. A ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa pecado, e todos os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai". Gálatas 6.9: "E não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos". 2 Coríntios 5.10: "Pois todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito [semeado] por meio do corpo, ou bem, ou mal".

 

O espiritismo acredita que haverá várias semeaduras e várias colheitas. A alma, através do corpo, plantaria na primeira, na segunda e em outras tantas encarnações, e a cada uma delas colheria os frutos do que semeou. Assim continuaria até alcançar o estado de espírito puro. Essa doutrina é antibíblica. Se semearmos na carne, isto é, se trabalharmos apenas para satisfazer as paixões do corpo, sofreremos na própria vida os danos dessa decisão: prostituição, impureza, idolatria, feitiçarias, orgias, bebedices, invejas, etc. Mas se semearmos no Espírito, isto é, andarmos guiados pelo Espírito Santo, a Ele submisso, colheremos o que a Bíblia chama de "fruto do Espírito": amor, paz, bondade, mansidão, domínio próprio. (Gálatas 5.16-24). Portanto, o que semeia no Espírito ganhará a vida eterna. A Bíblia fala da grande colheita, no final dos tempos, na volta de Jesus, quando a igreja será arrebatada e os mortos, salvos, ressuscitarão. Jesus disse que a ceifa é o fim do mundo (Mateus 13.37-43). Todos comparecerão diante do Justo Juiz para colherem conforme o que semearam.

 

Ezequiel 37.1 ss


"...me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos... profetizei como ele me ordenara, então o espírito entrou neles e viveram. Então ele me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel".

Nenhuma conotação de reencarnação da alma. De acordo com os propósitos de Deus, Ezequiel foi arrebatado em espírito e teve uma visão: ele viu um vale de ossos secos; e depois de profetizar sobre eles, ouviu do Senhor a promessa de dar vida a esses ossos. O próprio Senhor, no verso 11, esclarece o significado real da visão: "Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel".
"Os ossos representam "toda a casa de Israel", isto é, tanto Israel como Judá, no exílio, cuja esperança pereceu na dispersão entre pagãos. Deus mandou Ezequiel profetizar para os ossos. Os ossos então reviveram em duas etapas: (1) uma restauração nacional, ligada à terra (vv.7,8), e (2) uma restauração espiritual, ligada a fé (vv.9,10). Esta visão objetivou garantir aos exilados a sua restauração pelo poder de Deus e o restabelecimento como nação na terra prometida, apesar das circunstâncias críticas de então (vv. 11-14). Essa restauração teve início no tempo de Ciro (Esdras 1), mas só terá pleno cumprimento quando Deus congregar os israelitas na sua terra, nos tempos do fim, numa ocasião de grande despertamenrto espiritual. Muitos judeus crerão em Jesus Cristo e o aceitarão como seu Messias antes de Ele voltar para estabelecer o seu Reino".

João 9.1-5
"Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus. Devemos fazer as obras daquele que me enviou enquanto é dia. A noite vem, quando ninguém pode trabalhar".

Espíritas há que vêem nesses versículos conotação reencarnacionista, talvez não explícita, pelo menos velada. Nenhuma coisa nem outra. Pelo contrário. Jesus afirma que as nossas boas obras devem ser feitas enquanto temos vida ("enquanto é dia"), porque depois da morte ("a noite vem") ninguém pode trabalhar. E não haverá outra oportunidade. Os judeus estavam errados em acreditar que toda enfermidade era resultado de um pecado cometido pelo enfermo ou por seus ascendentes. Esta enfermidade, como a de Jó, foi permitida, dentro dos propósito divino, para manifestação do poder, do amor e da glória de Deus. Mas há doenças que têm como causa direta o pecado. A AIDS é um exemplo. A maioria dos aidéticos cometeu o pecado do adultério, do sexo fora do casamento ou do homossexualismo: "E, semelhantemente, também, os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homem com homem, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro" (Romanos 1.27). Tal assertiva foi confirmada por Jesus, quando disse a um inválido por ele curado: "Olha, agora estás curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa pior" (João 5.14). Veja-se: aquela enfermidade de oito anos foi decorrente de pecados cometidos pelo próprio enfermo, e não por existências anteriores. Não podemos pagar pelos erros dos outros. Todavia, os filhos, por má influência, podem continuar cometendo os mesmos pecados dos pais, por várias gerações, como veremos a seguir.

 

Êxodo 20.5


"...visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos".

O espiritismo vê nessa mensagem uma alusão à pluralidade de existências, em que os pecadores de uma geração pagariam pelos descaminhos de gerações anteriores. Como texto fala "dos pais nos filhos", teriam os espíritas de admitir que os filhos seriam necessariamente reencarnações dos pais, o que é contrário ao ensino kardecista. Ora, em Êxodo 34.6-7, Deus se revela "tardio em iras e grande em beneficência"; que "perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado"; "que ao culpado não tem por inocente". E, é lógico, ao inocente não tem por culpado. Deus castigará "aqueles que me odeiam", como está no texto. Ademais, a geração posterior será culpada e castigada se continuar no pecado; se os filhos, por mau exemplo familiar, seguirem os passos dos pais, adotando seus hábitos e procedimentos pecaminosos, sofrerão as conseqüências. Ainda hoje se vê não uma família apenas, mas nações inteiras na prática da idolatria e do ocultismo. Não porque estejam pagando pelos erros dos outros, mas porque seguiram a mesma tradição, os mesmos hábitos e costumes dos antepassados. Por isso, o Evangelho da salvação do nosso Senhor Jesus Cristo deve ser pregado a toda criatura. Deus oferece a fórmula para uma reconciliação: "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra"(2 Crônicas 7.14). O filho não carregará a culpa do pai, salvo se seguir-lhe o mesmo caminho pecaminoso.

 

Ezequiel 18.1 ss


"A alma que pecar, essa morrerá. Sendo um homem justo, e fazendo juízo e justiça... o tal justo certamente viverá, diz o Senhor Deus. Se ele gerar um filho ladrão, derramador de sangue... não viverá [o filho] porque fez todas estas abominações. Mas se gerar um filho que veja todos os pecados que seu pai fez e, vendo-os, não cometer coisas semelhantes... o tal não morrerá pela maldade de seu pai; certamente viverá. Seu pai, porque praticou extorsão, roubou os bens do próximo e fez o que não era bom... morrerá pela sua própria maldade. Por que não levará o filho a maldade do pai? Porque o filho fez juízo e justiça, guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá. O filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer juízo e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele. Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos e viva? Eu vos julgarei, a cada um conforme os seus caminhos. Arrependei-vos e vivei". (v. Jeremias 31.30).



A Palavra acima é o corolário de tudo quanto foi dito antes, neste trabalho, sobre arrependimento, perdão, julgamento, salvação e morte eterna. "Certamente morrerá/viverá" significa viver a alma eternamente separada de Deus, ou eternamente com Deus. E esse julgamento será na plenitude dos tempos. Não sei onde os espiritistas encontraram nesses versículos algo que possa confirmar a transferência de culpas de pai para filho ou de qualquer pessoa para outra. Aquele que pecar, pagará pelos seus pecados. Não existe maldição hereditária. A salvação é pessoal. O julgamento é individual. Os versículos sob análise dão maior clareza ao que está em Êxodo 20.5 ("visito a maldade dos pais nos filhos"),já comentado, e enfatizam que cada um presta conta de seus próprios pecados. Outras passagens confirmam o que acabamos de ler. Vejamos:

 

Deus perdoa totalmente: "Ainda que vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve" (Isaías 1.18); "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro"(Isaías 43.25); "Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados"(Jeremias 31.34); "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados..." (Atos 3.19). A prestação de contas é individual, e haverá o Dia do Juízo: "...todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. De modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (Romanos 14.11-12); "Cada um morrerá pela sua iniqüidade..."(Jeremias 31.30); "De toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar contas no dia do juízo"(Mateus 12.36); "Mas hão de dar conta àquele que está preparado para julgar os vivos e os mortos" (1 Pedro 4.5).

 

  

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