Desafio Literário I


A última que morre


"Me falta uma companheira, Zeus!"
Reclamou o homem ao Pai do Olimpo.
"Uma mulher te darei. Senhora da vida,
suave no corpo e nos gestos, arguta,
astuta, maleável, perfumada, poderosa,
mãe, amiga, irmã, esposa e curiosa."

Veio Pandora, primeira entre muitas,
deusas de nossas masculinas existências.
Do monte divino trazia entre as mãos
uma caixa que lhe afligia, incomodava,
perturbava, pela missão de a guardar
eternamente, sem seu lacre violar.

Suave Pandora, no corpo e nos gestos,
Arguta inteligência, astuta mulher! E curiosa.
Abriu a caixa e, para seu pavor, descobriu
que Zeus, Senhor de toda a sabedoria
e ironia, dera-lhe um fardo para carregar
que seus ombros jamais poderiam suportar.

Saíram da caixa a Inveja, a Guerra, a Covardia;
céleres vieram o Desespero, a Traição, a Cobiça;
rápidas saltaram todas as desgraças do dia-a-dia.

Atônita, apavorada, já ia Pandora chorando fechar,
lacrar o depósito de tanta maldade acumulada.
Mas deteve-se ao reconhecer a última a chegar.

Era o bálsamo para os males liberados,
era a benção para toda a humanidade.
Era a Esperança, mãe dos desalentados.


Armagedon - 26/06/99