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- "Eu juro que estava aqui. Eu coloquei o diafragma aqui logo depois que comprei voltando da Dra. Jaqueline, amor. Essa empregada mexe em tudo! E agora, Meu Deus! Calma Godô, meu bem! Tô procurando!" Diz Maria Dolores, esposa jovem e amantíssima de Godofredo, jovem tenente da Marinha, que havia chegado naquela mesma tarde de uma viagem de navio de seis meses, ao redor do mundo. Magrinho, branquela, coitado. Não conseguiu comer direito todo esse tempo, saudades do feijão com arroz com paio e carne seca que só a sua amada Dô sabia fazer.
Godofredo é jovem, apaixonado por Maria Dolores, a moça mais bonita de Nilópolis, apelidada "Tiazinha" pelos seus antigos amigos e frequentadores do boteco da esquina. Maria Dolores deixa todo mundo doido até hoje, quando passa de manhã cedo, voltando da padaria, cheirando à lavanda, segurando o saquinho de leite e o pão para o café. Godofredo se sentiu o homem mais feliz do mundo quando Maria Dolores aceitou namorar com ele, e logo logo se casaram, pois Godofredo foi convocado para essa viagem, longa viagem mas, antes, queria Maria Dolores. E a moça, como era de família, queria casar virgem, de véu e grinalda brancos, na igreja do bairro, com festa no salão da igreja. A lua de mel, em Friburgo, foi fantástica, ela era a mulher de sua vida. Mas três meses depois Godofredo teve que embarcar de coração partido. Escrevia todos os dias, contando tudo que acontecia no navio, descrevendo os lugares que visitava. Só dormia depois que beijava muitas vezes o retrato de sua amada e saudosa esposa.
Maria Dolores ficou sozinha cuidando da casa. Godofredo provou ser um bom marido, mesmo longe não deixava faltar nada, todo seu salário era mandado para ela, e até a fez parar de trabalhar no consultório do Dr. Alfilon, o dentista do bairro. Mas o tempo foi passando, e a solidão aumentando ...
As noites eram longas, quentes. Maria Dolores rolava na cama, lembrando do marido de uniforme de gala branco. Todas as vezes que tinha cerimônia no batalhão e Godô voltava com o uniforme, Dô não resistia e o agarrava ali mesmo, na cozinha, onde fosse. Uma vez, ela não conseguia esquecer, eles quebraram a pia do banheiro, quando ele a colocou sentada em cima. Obra do BNH dá nisso! E o quepe então? Ai Meu Deus!!! Dô se contorcia só de lembrar o marido transando com ela só de quepe. Como era bom! Mas agora, sozinha ...
E, de repente, Maria Dolores se lembra!!! Ela tinha usado o diafragma no dia anterior, com o amante!!! Um morenão, um bigode que fazia cócegas nas horas certas e nos lugares mais certos ainda. Zeca, o jornaleiro do bairro. "Bem que falei pro Zeca que sem camisinha eu não transava, mas ele disse que tinha alergia...e ele é tão gostoooooooooooooooso!!!" Pensa Maria Dolores, virando os olhinhos só de lembrar.
Godô, já sem paciência, deitado ali na cama, olhando sua jovem e linda esposa naquela camisolinha longa pêssego, a mesma que ela usou na noite de núpcias, caída no ombro...aqueles seios aparecendo pelo tecido transparente, aquelas coxas... ele não aguenta mais, e fala:
- Vem Dô ... vem ...
- Calma Godô! Você sabe que sem o diafragma eu não posso, e esquecemos de comprar camisinha. Você mesmo não disse para só termos filhos daqui a três anos quando você for promovido a Capitão-tenente? Você viajando o tempo todo, minha mãe na Bahia ajudando minha irmã que teve nenen agora, como vou ter um filho sozinha? Espera mais um pouco que estou procurando, deixei aqui...tenho certeza. A Zelinda (a empregada), deve ter pego para usar com o Juvenal, namorado novo, lá do açougue do seu Tonico. E depois Godô, antes você prometeu me levar a Miami, porque a Gigi foi e trouxe coisas lindas de lá. Eu também quero ir e comprar uma bolsa igual à dela, toda de bolinhas, com etiqueta CK em plástico dourado.
E o pobre do Godofredo gemendo na cama, mal se aguentando de tanto tesão. Ele sugere então, timidamente:
-Vem cá, Dô, vamos fazer de outro jeito então...num guento mais.
Maria Dolores fica indecisa. Ela nunca tinha aceitado nada de diferente com o marido, afinal, tinha que manter as aparências. Senão, o que ele iria pensar dela depois? Como ela mesma dizia sempre para seu idolatrado esposo, o Pastor vivia falando, nas preleções de domingo na igreja do bairro, que isso é coisa de Satanás. Mas com o Zeca era diferente!! Quantas vezes aquela banca de jornal estremeceu, com os dois lá dentro fazendo coisas que até Deus duvida ...
Nervosa, sem saber o que dizer, Maria Dolores deixa a caixa cair ao chão, esparramando brincos, anéis, o breve de proteção, santinho da primeira comunhão do sobrinho e afilhado, pãozinho de Santo Antonio, ..... Ela se abaixa para catar tudo, inclusive uma pulseira que, rebelde, tinha rolado para debaixo da cama.
Godô, suando frio, olha para sua esposa, agachada, com a bunda empinada sob aquele tecido transparente, e pensa: "Será que hoje, finalmente, ela deixa?".
Malandra e Tequinha - 11/06/99
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