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AS ESPIGAS ASSASSINAS |
Esta história da vida passou-se há muito tempo atrás com parte da minha família. Venho de uma família de circenses: pai, mãe, avós, bisavós - eu não segui a profissão, pois quando nasci meus pais já haviam abandonado a carreira e saído do Paraná para vir morar em São Paulo. Mas mesmo assim cresci sabendo tudo sobre circo, inclusive muitas histórias interessantes. E hoje contarei uma que servirá de alerta a muitas pessoas que vão assistir espetáculos circenses, especialmente as que vão em busca das apresentações de mágica, hipnose, magnetismo e ilusionismo. Mamãe sempre falava que os mágicos estudavam muito e muitos deles possuíam uma força mental apurada.Mas para o ilusionismo não há um estudo específico - e nem a força da mente faz juz a tal fato; ilusionismo para a minha família sempre foi uma coisa muito negativa, que dependia até mesmo do público presente...
E mamãe contava como exemplo um caso que aconteceu em uma cidadezinha próximo a Londrina, Paraná, há muitos anos atrás...
Um ilusionista, depois de apresentar muitos números como: aparecer um lago com patinhos nadando no picadeiro, balão descendo entre os trapézios; ele começou a trabalhar com o público fazendo desaparecer objetos e como ele era um tanto brincalhão, chegou até mesmo a fazer sumir a peruca de um senhor, o qual não achou nem um bocadinho de graça. Mas entusiasmado com o tamanho sucesso, ele pediu aos espectadores uma criança para o último número da noite. De imediato ninguém quis ceder suas crianças - mas um casal corajoso, confiante e levado a brincadeiras emprestou o seu filho de três anos para o ilusionista cortar ao meio. A empolgação do ilusionista foi tanta que ele resolveu partir a criança em três partes: cabeça, tronco e membros inferiores...e separou as partes numa distância de cinco dedos entre as caixas, sem sinal de sangue, mostrou-a para o público...
Depois disse que ia juntar o corpo da criança e entregar nos braços dos pais...
Concentrou-se - e o público em silêncio aguardava...e gritava as palavras de ordem: - Zambelês - Zambelês - Junte esses pedaços duma vez !
E nada do corpo da criança ficar inteiro, nenhuma das partes cortadas queriam se juntar...
E o ilusionista tentou várias vezes:
- Zambelelês - junte esses pedaços de uma vez por todas !!!
O público ficou em alvoroço...e o ilusionista num ataque de histerismo batia sua cabeça nas caixas para ver se juntava os pedaços da criança, que já começava a sangrar...
Os pais subiram no picadeiro desesperados e pegaram o ilusionista pelo pescoço; e ele, por sua vez, ainda aos gritos tentou se explicar:
- Sabe o que é? É que tem alguém na platéia a me atrapalhar! E pôs as duas mãos na cabeça e começou a se concentrar para identificar a pessoa...é um homem, e ele está trajando calça marron, camisa marron, cueca marron, meias marron e chapéu marron e ele é de cor marron!...por favor senhor, retire-se daqui!
Mas a pessoa não se retirava...
- Por favor senhor, vá embora, o senhor está atrapalhando o meu trabalho e chega de rezar o terço!
É que o homem todo de marron, por ter achado muito estranho o número resolveu rezar o terço para que desse tudo certo, só o que ele não sabia é que o ilusionista tinha um pacto com o mal, e qualquer tipo de reza fazia com que desse tudo errado...atrapalhava totalmente o seu trabalho...
- E pela última vez eu peço para esse senhor aí, todo de marron para se retirar, dar o pira !
E o senhor continuou a rezar o terço, num ato de desafio e desespero...
Até que o ilusionista sacudiu a sua capa e imediatamente caíram várias espigas de milho - e num gesto rápido ele jogou quantas espigas que podia para o alto e apontou numa determinada direção...
Nesse momento tudo escureceu, como tivessem cortado a conta da luz - o circo todo ficou às escuras...
A multidão começou a gritar - muitas pessoas correram e se pisotearam...Depois de uns cinco minutos as luzes se acendiam e para um pior desfecho sumiram do picadeiro o ilusionista, a mesa com as caixas e a criança - no lugar continuaram os pais da criança e uma poça de sangue...Mas como o bem sempre vence o mal, aquele homem que estava todo de marron no meio da platéia rezando o terço apareceu com a criança em seus braços e o mágico deitado ao seu lado coberto de espigas de milho e morto pelo peso delas, o peso de sua consciência e crueldade!
Todos saíram dali com um misto de euforia e revolta e para comemorar, no dia seguinte atearam fogo no circo...que foi denominado como o circo do terror!
Essa história, apesar de antiga, traumatizou bastante os artistas e os habitantes daquela cidade.
Depois desse acontecimento fatídico, meus pais criaram um circo só com palhaços, trapezistas e malabaristas e magia só se for com muito bom humor, e disso os palhaços se encarregavam. Quando mamãe engravidou de mim, papai recebeu uma ótima proposta de emprego de um industrial de São Paulo, o destino quis assim e posso dizer que apesar da saudade que sentem da vida circense eles se orgulham por poderem ter reservado um outro tipo de vida para mim, com residência fixa e estudos. Essa foi a história que mais impressionou a minha família, mas para mim ela é bem atual, pois nunca ouvi falar de um fato semelhante em qualquer lugar do planeta.