Desafio Literário I


A Caixinha de Segredos

Era uma vez uma menina que possuía uma caixinha de descobertas. Sempre que a menina queria saber alguma coisa, descobrir como fazer outra coisa, ou mesmo que rumo tomar, ela abria a caixinha de descobertas.

Ali existiam todas as respostas.

Ali estavam as soluções para suas dúvidas, os remédios para suas doenças e também o refúgio nos dias de medo.

Um dia, disseram a ela que o sol havia se apagado. Logo depois, o céu escureceu trazendo uma noite que duraria muitos e muitos anos. Então a menina teve medo. Um grande medo. Um medo que era diferente de todos os outros medos que ela havia sentido.

Havia o medo do escuro.

Havia o medo da solidão, pela falta do sol.

Como sempre fazia, ela correu para um lugar que só ela conhecia e abriu sua caixinha. E então, a menina conheceu a dor. Uma grande dor. Uma dor que era diferente de todas as outras dores que ela havia sentido.

Havia a dor da alma.

Havia a dor do coração.

E a menina trancou e escondeu a caixinha, para que nunca mais sentisse aquela dor.

Os anos passavam, às vezes lentos como a brisa sopra para as crianças. As vezes rápidos como os ventos fortes sopram para os velhos.

...E ela conheceu o Tempo.

Andando pelo escuro, encontrou troncos podres e quebrados que não sabiam ficar de pé, mas que a fizeram tropeçar, cair e se machucar.

...E ela conheceu a Raiva.

Chegando a um lugar calmo, ela se sentou para curar as feridas e se lembrou de como tudo era antes. Sentia melancolia por não ser mais aquilo que queria ser. Sentia melancolia por viver no escuro.

....E ela conheceu a Tristeza.

Ela vivia aqui e ali, às vezes usando fósforos que a ajudavam a enxergar na escuridão, os quais lhe eram emprestados por outros que passavam por ela.

...E ela conheceu a Amizade.

Numa floresta fechada, um urso muito bravo chegou perto, curioso. Ela se sentia tão só e triste que se esqueceu do medo que tinha dos ursos e ficou ali sentada, até que ele perguntasse porque ela havia escolhido o escuro. Ela respondeu que não havia escolhido. Tinham dito a ela que o sol havia se apagado, que agora só havia a noite. E ele lhe explicou que só ficamos no escuro quando acreditamos que o sol pode morrer. Então, o urso lhe disse que a Luz existia sempre, mas que era preciso ter coragem para se viver na Luz. As vezes, o urso lhe dava um pouco de sua Luz, para que ela se lembrasse de como era o dia.

...E ela conheceu o Amor.

O urso lhe ofereceu sua companhia e eles passaram a viajar juntos. Pouco depois encontraram um grupo de lobos. Os lobos mostraram que, apesar de serem diferentes, eles poderiam viver em bando, sempre juntos, dividindo tudo aquilo que tivessem.

...E ela conheceu a Alegria.

Numa das curvas, a menina conheceu um mágico. Ele lhe ensinou o que era sentir e lhe disse que só quando abrisse novamente a caixinha de descobertas ela encontraria sua própria Luz.

...E ela conheceu a Magia.

Em uma curva grande, a menina e o urso foram arrastados por um rio forte que carregou todo o bando para longe, bem longe do caminho onde estavam. Enquanto se secavam e se aqueciam para espantar o frio, ela foi se lembrando de todas as coisas que haviam acontecido pelo caminho. E quando acabou de se lembrar, se sentiu aquecida. Ao olhar pára o lado, encontrou a caixinha bem perto e percebeu que nunca havia se separado dela.

Devagar, com muito cuidado, foi retirando a tampa e aos poucos reencontrou a Dor, o Medo, o Tempo, a Raiva, a Tristeza, a Amizade, o Amor, a Alegria e a Magia. Não da forma como havia encontrado antes, mas com a coragem da alma e com os olhos do coração. Quando a menina percebeu, a caixinha estava novamente aberta.

...E ela conheceu a si mesma.

Era uma vez uma mulher........


Luluh - 27/06/99