Anjo-Homem

Mãos que me levam
Na suavidade dos teus tons
Bálsamo a transbordar em sussurros
Afagando-me em pétalas de beijos

Com as liras do teu coração, veste-me
Anjo, volteando-me em notas de carícias
Murmura-me teus alentos em acordes
Na partitura sonolenta dos meus olhos

Teu corpo me enlaça, em rodopios suaves
Passos que me levam em delírio ao éter
Cósmico bailado, em ritmos celestes
Alçam em rufos esperanças azuis

Esculpe em meus surdos ouvidos
Escalas musicais, gorjeios cintilantes
Mostra-me os salões da vida, ribalta
Onde minhas pernas trôpegas vacilam

Acorda meus pensamentos torpes
Envoltos em vinhedos nebulosos
Anestésicas trilhas, embriagadas paixões
Onde deitei distraidamente meu coração...

© Nandinha Guimarães
Em 06.08.00

 


Anjo-Poeta

Talvez seja tão doce o teu sorriso
Quanto puro e límpido o casto desejo
Qual me envolve o manto dos teus versos
Pudera eu beber das tuas reticências
E deixar-te reger-me a cada estrofe
Lendo e guardando-te, suspiros, em mim...
Na candura do teu olhar, terno horizonte,
Minhas orações seriam infames confissões
E tu, insano, zelarias pelos meus segredos
Colocando-te em prova às minhas rezas,
Imaculada a tua alma perante a cruz...
Porventura um toque aveludado, entrelinhas,
E estarias entregue aos meus alvos delírios
Singrarias louvando, inebriado em pétalas,
Compaixão aos acordes do meu corpo...
Silenciarias, imerso, compondo-me ais
E, rendida, presa ao leito do amor,
Divindade célebre do poder da graça,
Suplicaria para estar em teus lábios
Perdida em beijos, rimas de sonhos...

© Mandinha
Em 05.12.00



 

Anjo-Demônio


Noite arrasta-me entre brumas
Ou lençóis cintilantes
Entre os pequenos e grandes lábios sedentos
e pensamentos insanos
Silencio na ânsia de rogar-te presente
Profecias o ritual da separação de espíritos
Olvidas corpos
Miro-te salamandras, glorifica-te asas
Saboreio o castigo, abençoas meus beijos
Ofereço-te meu sangue, não das promessas.
Mas das entranhas
Imagem tua sacra, líbida miro-te todo.
Mãos  alçam vôo ao encontro
Do teu altar de anjo caído
Lépido, foges de meus poderes maléficos.
Transpões mares, ares, muros
Só não ultrapassas as cortinas da minha tenda
Tu que te queres anjo
Eu que te quero demônio


Delíci@
Em 14/12/2000