Eu sou branco. Você é vermelho. Quando estamos juntos somos rosa. Antes de eu te conhecer, eu não sabia o que era ser rosa. Até que eu vivia bem sozinho : comia o que e na hora que eu queria; saía na hora e quando bem entendia para ir ao lugar que tinha vontade de ir, numa liberdade, independência e auto-suficiência.

Quando vi você, fiquei vermelho de paixão e nem me incomodei com os meus brancos até perceber que eu já não era mais o branco. Foi quando o vermelho começou a me sufocar e então, brancamente eu me protegi. Mas, às vezes eu me irritava e brigava com você. No fundo, era porque você era vermelho e não branco igualzinho a mim.

Percebi-me em alguns variados momentos querendo mudar a sua cor. Ainda bem que você soube permanecer vermelho, ter suas próprias emoções, sentimentos, comportamentos e pontos de vista. Caso contrário, você seria também branco. Mas tive minhas reticências, pois estava acostumado ao meu ritmo e modo de vida branco. Temi perder a minha individualidade. Mas aos poucos fui descobrindo que o branco para se transformar em rosa não é se perder, desestruturar-se e desaparecer, mas é completar-se com o vermelho. O rosa aterrorizou-se, mas hoje vejo quanto é gostoso conviver, relacionar-se, amar e ser amado. Dá mais trabalho porque nem tudo pode e deve ser feito brancamente, mas sem dúvida tudo pode ser gostoso e rico com o vermelho. Freqüentemente um bom lanche branco não é tão agradável quanto um singelo jantar rosa.

Içami Tiba