| Elie Faure fala de "sua luta extenuante contra o material rebelde aos caprichos violentos que ele não pode lhe impor" e faz a seguinte pergunta:"Como não se percebeu que ele estava muito mais perto da escultura quando cobria as muralhas de afrescos do que quando se dedicava as paredes?" Para a Sistina, "preso por quatro anos, sozinho perante Deus.A broxa e o pincel, obedecendo à vertigem do espírito, seguros de seus mármores, mais difícil de trabalhar, estava sempre sem atraso. Quando ele havia feito a metade de um colosso, este já estava atingido por outros tormentos, outras vitórias e outros fracassos reivindicavam a sua vez. |
1506-1512 1000 m2 |
Ele quase nunca terminava suas estátuas, nem seus conjuntos
monumentais. Teminou a Sistina, o mais vasto conjunto decorativo do mundo.
É um grande pintor; aí a ciência lhe serve. Ele pode fazer sair das paredes
os volumes que quizer e ali cravar outros; pode maravilhar pela audácia e força
dos estreitamentos, conservar, à sua maneira, a obscuridade e a luz. A tempestade
de seu sonho rende-se ao jugo de uma excessiva vontade. Quando seus andaimes caem,
há, na imensa abóbada, 100 corpos hercúleos que fazem tremer o templo e parecem
criar a tempestade que acontece na nave, levando seus clamores ao vôo das nuvens
e ao turbilhão dos sóis." Elie Faure,"História da Arte", volume IV:"A Arte Renascendo, 1909-1921"(Nova edição: Livraria Geral francesa, 1983). |
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Dedicando-se a essa nova empreitada que era recobrir os 520 metros quadrados da abóbada, sua imaginação trabalhou sob a ótica de escultor e arquiteto. Com os teólogos, foi decidido elaborar um projeto anterior ao ciclo de Moisés e representar ao mundo ante legem, do primeiro dia da criação até a queda do homem no pecado que tornou necessárias a Lei e a Salvação. A isto deveria ser acrescentados os profetas e as profetisas, que levam a palavra aos judeus e aos gentis, assim como quatro exemplos da intervenção divina para a salvação dos judeus, ou seja, a salvação da Lei e da casa de Davi, na qual nasceu finalmente o Salvador. Michelangelo tinha idéia de utilizar os oito tímpanos pesados e triangulares, dos quais os cumes se elevavam ao terço da abóbada, e os quatro grandes tímpanos das extremidades. Os doze adornos pendentes, situados entre os cumes e os tímpanos, ele reservaria aos Profetas e às Profetisas, sentados cada um em um grande trono de Mámore. Ligando estes tronos, uma cornija com aspectos de mámore faria a volta completa na capela; esta imponente cornija serviria de moldura interior às nove cenas centrais. De cada lado dos tronos, ele colocaria os Putti e, embaixo deles, se elevaria a juventude gloriosa do mundo. Vinte nus que desviariam dos painéis gigantes para olhar em direção aos pequenos. Michelangelo, em sua febre criativa, desenhou seu magnífico projeto aquitetual e apresentou aos teólogos. |