"O" "Baco" de dez palmos, segura um vaso na mão direita e, na mão esquerda,
uma pele de tigre e um cacho de uvas que um pequeno sátiro procura desenhar.
Vê-se nesta estátua uma fusão maravilhosa por associar à elegância do jovem
homem formas femininas curvas e carnudas.É uma obra admirável, demonstrando
uma superioridade de estatuário sobre todos os escultores modernos até ele.
É impressionante ver, durante sua estada romana, a maneira impressionante
que ele acumulou muito do saber profissional que desenvolvia, usando grandes
e um estilo elaborado. A facilidade com a qual ele produzia impressionava não
só aqueles que nunca haviam visto nada do gênero, mas também os conhecedores
de obras de qualidade, pois tudo que fosse visto parecia nulo em comparação
às suas obras."
Giorgio Vasari, "A vida dos melhores arquitetos, pintores e escultores",
primeira edição 1550, segunda edição, 1558.
Encomendados em 1497 para o banqueiro Jacopo Galli e executados em sua casa,
segundo Condivi, não puderam ser terminados antes de 1499. O "Baco" e a "Sátira"
foram esculpidas em um só bloco. Vasari foi o primeiro a ressaltar a expressão
hermafrodita do personagem:"surpreendete mistura de dois sexos, docilidade
flexível de adolescente e plenitude de formas da mulher."
A expressão patológica do personagem freqüentemente é chocante. Brickmann a
vê "como o que temos de mais perverso de Michelangelo";
Mackowsky declarou que "o vício no sujeito de radiante juventude é uma falta
contra a estética".
Stendhal afirma: "Michelangeki adivinha o antigo pela expressão da força; mas
o rosto é rude e sem encanto." Todos os críticos são unânimes em reconhecer a
perfeição artística da escultura e o que há de mais cristão neste projeto pagão.
Dez anos mais tarde, Michelangelo retomou o mesmo tema, mas de forma mais clara
ao tratar a embriaguez de Noé nos afrescos da Sistina.
Essa última obra mostra igualmente a ação do pecado e da mesma forma que em "Baco":
aliada à beleza, dando uma impressão perturbadora de tragédia.