Pietà


1498-1499 Basílica de São Pedro Vaticano Mármore altura de 174 cm

"É uma obra à qual nenhum escultor, nenhum artista excepcional poderia acrescentar nada, devido a graça do desenho, nem tentar igualar a sutileza e o polimento ou talhar o mármore com tanta arte como Michelangelo: ele apoderou-se de toda a grandeza, todas as fontes de arte. Dentre suas belezas, além dos seus maravilhosos ornamentos, se destaca o corpo de cristo morto: não se pode imaginar um nu tão bem estudado nos músculos, veias e nervos que preenchem a ossatura, nem um morto mais parecido com um morto. A expressão doce do rosto, a harmonia entre os ligamentos e as articulações dos braços e das pernas com as do resto do corpo, o trabalho das veias no punho... É realmente impressionante saber que a mão do artista tenha realizado tal obra em tão pouco tempo e com tamanha precisão. É um prodígio que, de um bloco grosseiro, seja tirada tanta perfeição que a natureza se encarrega de produzir na carne. Michelangelo foi tão apaixonado por esse trabalho que gravou seu nome - algo que ele jamais fez em nenhuma de suas obras - no cinto que envolveu o peito da Madona-."


Giorgio Vassari, "A Vida dos melhores arquitetos, pintores e escultores", primeira edição 1550, segunda edição, 1558.

A descida da cruz é um tema religioso largamente explorado, mas de maneira diferente no norte e no sul da Europa. Ante de 1300, a Alemanha tratou do assunto e os primitivos alemães, em suas descidas da cruz, tinha a idéia de reduzir o corpo de Cristo, tal como a criança que foi embalada pela mãe.
Michelangelo retomou essa idéia na Pietà, a única obra assinada pelo artista. Encontra-se esta imagem do corpo abandonado repousando no braços da Virgem. Ele escolheu imortalizar a morte de Cristo não num momento doloroso e dramático como se apresenta habitualmente, mas, ao contrário, em um instante grandioso de quietude, no qual a Virgem contempla, recolhida, seu filho morto repousando em seus braços. Essa interpretação de Michelangelo foi mal recebida na Itália, influenciada pelo pensamento luterano.Todavia, a pintura flamenga e as miniaturas dos livros eram conhecidos na Itália. Essas pinturas abordavam também o tema da descida da cruz . Michelangelo foi o primeiro a renovar o gênero no sul da Europa.

Obra-mestra do artista é reconhecida unicamente como uma obra-prima da escultura e continua a inspirar comentários e interpretações de todos os gêneros. Podemos consultar o brilhante estudo de "A História da pintura na Itália",de Stendhal.

A "Pietà de São Pedro": a única obra autenticamente assinada por Michelangelo. Obra prima da juventude de Michelangelo foi estudada da forma mais brilhante por Stedhal em seu "História da pintura na Itália". A maneira pela qual o assunto foi tratado era totalmente nova para a Itália e foi até visto como herética pelos contemporâneos de Michelangelo: um ortodoxo de 1549 viu nela uma "inspiração luterana". Frida Schottmüller nota em sua edição de Vassari:"A descida da cruz é um tema que temos visto desde antes do ano 1300, no período místico alemão, e que a França conheceu no século XV; não é por acaso que a primeira execução feita na Itália central foi encomendada por um homem do norte. "A idéia de diminuir o tamanho do corpo de Cristo morto, de tal modo que ele parecesse repousar como uma criança indefesa nos braços da mãe de Deus, já era encontrada nas descidas da cruz dos primitivos alemães. Na Itália esse tema era conhecido no fim do século XV pelos quadros de flamengos, como Roger van der Weyden e pelas miniaturas dos livros de orações. Jacob Burckardt escreveu em seu "Cicerone": As cabeças são de uma beleza pura que Michelangelo jamais reencontrou depois."

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