Bilheteiro
Aquele que vende bilhetes.
Tanto no concelho de Câmara de Lobos, como noutros concelhos da
Madeira, o termo "bilheteiro" era sobretudo utilizado para designar
o cobrador dos transportes públicos de passageiros.
Com efeito, até o
advento da cobrança, automática ou pelo motorista, de bilhetes nos
transportes públicos, em cada automóvel, para além do motorista,
viajava o bilheteiro, que tinha não só tinha por função a cobrança
do valor estipulado aos passageiros, como de colocar e retirar da
caixa e do tejadilho do automóvel a bagagem, habitualmente, produtos
de mercearia etc. que o passageiro levasse consigo e não coubesse
junto de si.
Uma outra função
do bilheteiro era a de, quando o automóvel parava para carregar ou
descarregar passageiros, dar ordem de partida, sendo famosa a frase
"siga Freitas". Era a ele também, a quem incumbia manter a
disciplina dentro do automóvel.
Não era fácil a
sua tarefa, não só porque no decurso da cobrança tinha de inventar
trocos para quem pagava com notas que religiosamente ia colocando
dobradas ao comprido e por montante, entre os dedos, o que
facilitava a sua tarefa, uma vez era mais fácil encontrá-las quando
tivesse de as dar como troco, como também muitas vezes era árduo o
trabalho que tinha com o manuseamento da bagagem.
Na ausência da
proliferação de automóveis hoje existente, e pelo facto de se
concentrarem no Funchal os estabelecimentos comerciais, não era raro
que as pessoas se deslocassem ao Funchal para efectuarem compras ou
que, tendo de aí se deslocar aproveitassem para fazerem comprar,
compras essas que transportavam consigo nos transportes públicos.
Quando eram
volumosas ou em grande quantidade iam para a caixa ou para o
tejadilho do automóvel, cabendo a sua carga e descarga ao bilheteiro.
Ao longo da viagem várias eram as vezes que o bilheteiro tinha de
"ir à caixa" ou tinha de subir e descer as escadas de acesso ao
tejadilho do carro, situadas na parte de trás da viatura e dotadas
de um sistema de articulação que permitiam levantá-las e fixá-las a
um nível mais alto por forma a evitar que durante a viagem as
crianças tivessem acesso e agarrados a elas viajassem.
Naturalmente que
até ao fim do terceiro quartel do século XX, a maior parte dos
automóveis de passageiros estavam dotados de tejadilho acessível,
para transporte de carga.
Como curiosidade
refira-se que a quando da construção dos primeiros hotéis situados
na estrada monumental, em consequência disso muitos trabalhadores da
freguesia do Estreito viriam a ser contratados para essas obras,
apanhando de manhã os transportes públicos e regressado à noite
também neles. Enquanto que uns levavam numa cesta de vimes o seu
almoço, outros faziam-no transportar mais tarde no transporte
público. constituía este transporte uma espécie de bagagem que
tinha direito por ter pago o seu bilhete. É assim que diariamente,
no largo do Patim, na freguesia do Estreito, por volta das onze e
trinta, se assistia a uma grande azáfama. Mulheres e crianças
transportando cestas com a refeição do seu marido, pai ou irmão,
aguardam a passagem ou partida do horário, para fazerem transportar
a cesta com o comer, que para além da sua identificação, é arrumada
por zonas de descarga, no tejadilho do automóvel.
Ao chegar ao seu
destino, o bilheteiro sobe apressadamente a escadaria de acesso ao
tejadilho do carro e começa a atirar as cestas para o chão onde
alguém, profissionalmente, as apanha sem deixar cair ou entornar.
Para além das
cestas distribuídas ao longo do trajecto, outras acompanhavam o
automóvel em todo o seu percurso ficando depositadas no fim da
carreira, na garagem da empresa, onde depois o seu dono as ia
levantar ou até aproveitava as próprias instalações para aí abri-las
e comer
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