Igreja
Paroquial de Nossa Senhora dos Remédios
A igreja de
Nossa Senhora dos Remédios, da Quinta Grande resultou de sucessivas
transformações ocorridas na capela com a mesma invocação, fundada em
data anterior a 1592. Apesar da sua fundação ser tida como tendo
ocorrido em 1601, a verdade é que ela já era referida em documentos
com datas anteriores, nomeadamente nos livros de Visitações da
freguesia do Campanário, não se sabendo, no entanto, ao certo quem
terá sido o seu fundador. Tendo em conta a fragilidade das construções
da época, a capela de Nossa Senhora dos Remédios, terá sido,
provavelmente, ao longo dos anos alvo de obras de restauro, pelo que a
inscrição de 1601 gravada numa pedra existente na actual igreja poderá
corresponder a um desses restauros. Outra hipótese é a pedra pertencer
a uma outra capela que chegou a existir nas proximidades, a capela de
Nossa Senhora da Porta e que segundo David Ferreira de Gouveia terá
sido construída em 1601, pelos jesuítas.
Segundo o
Padre Manuel de Nóbrega, que durante vários anos foi pároco da Quinta
Grande, num seu artigo publicado sob o título Anais da Quinta Grande,
no 3º número da revista Girão, a capela com a invocação de Nossa
Senhora dos Remédios já existia no ano de 1592. Com efeito, num
Provimento do Bispo D. Luís de Figueiredo datado de 1592 e inserto no
1º Livro de Provimentos do Campanário página 26 desse ano, dizia-se
que: Na Ermida de Nossa Senhora dos Remédios não há missa da
confraria, senão a que se diz pelo seu dia, em cada ano, sendo contudo
costume havê-la, nas mais confrarias, ao menos de mês a mês, e porque
é mais necessário havê-la nesta, por morarem alguns homens velhos e
doentes junto dela, que não podem ir aos domingos e Santos à freguesia
ordenamos e mandamos que daqui em diante, os mordomos de Nossa Senhora
dos Remédios, mandem em cada mês, dizer sua missa de confraria e o
vigário dirá o dia em que há-de dizê-la para que os vizinhos e
enfermos possam ouvir.
Para o
Padre Manuel de Nóbrega, a devoção a Nossa Senhora dos Remédios na
Quinta Grande, poderá estar estreitamente relacionada com Manuel de
Noronha da Câmara, natural do Funchal, filho de Simão Gonçalves da
Câmara, 3º donatário do Funchal e de sua primeira mulher D. Joana
Valente. Este Manuel de Noronha foi camareiro secreto do papa Leão X e
depois, entre 1549 e 23 de Setembro de 1569, altura em que faleceu,
foi bispo de Lamego, tendo sido também o fundador da devoção e da
confraria de Nossa Senhora dos Remédios no Santuário de Lamego, tendo
trazido, ele próprio, de Roma, a respectiva imagem. Ora, sendo este
bispo, Manuel de Noronha, neto do 2º donatário João Gonçalves da
Câmara e por consequência sobrinho de seu filho também chamado de
Manuel de Noronha, a quem pertenciam desde 25 de Março de 1501, as
terras da Quinta do Cabo Girão, é natural supor que o grau de
parentesco entre o proprietário da quinta do Cabo Girão e o fundador
da devoção a Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, tenha condicionado
o aparecimento desta devoção na Madeira e particularmente na Quinta
Grande.
A
corroborar toda esta familiaridade na implantação desta devoção está
ainda o facto de Luís de Noronha, filho de Manuel de Noronha, ter sido
agraciado por seu primo, o bispo de Lamego, com a comenda de São
Cristovão de Nogueira e a semelhança nos moldes em que a devoção a
Nossa Senhora dos Remédios foi instalada.
Desconhece-se contudo se o instituidor desta capela na Quinta Grande
foi o Manuel de Noronha ou seu filho Luís de Noronha, uma vez que,
apesar de Henrique Henriques de Noronha, na sua obra Memórias
Seculares e Eclesiásticas, referir o ano de 1525 e no Nobiliário o ano
de 1535, como tendo sido a data da morte de Manuel de Noronha, há quem
admita, como João de Sousa que ela possa ter ocorrido mais tarde,
ainda que nunca depois de 1558, altura em que as suas propriedades já
estavam na posse de sua 2ª mulher D. Maria de Ataíde, propriedades
essas que depois passariam a seu filho primogénito Luís de Noronha e,
dele para seu filho Fernão Gonçalves da Câmara, que em 1595 haveria de
as vender aos jesuítas.
Desde cedo
a devoção a Nossa Senhora dos Remédios ganhou muitos adeptos e a sua
ermida passou a ser alvo de importantes peregrinações, havendo por
esse facto necessidade de a dotar de uma casa para que os romeiros
pudessem pernoitar.
Numa
Visitação feita em 1613 ao Campanário, paróquia a que a ermida de
Nossa Senhora dos Remédios pertencia, o visitador Dr. Gonçalo Deão dá
conta de que a devoção a Nossa Senhora dos Remédios era muito grande,
tendo os romeiros muitas novenas, situação que levava a que tivessem
de dormir muitas noites na ermida e no adro, em virtude da casa dos
romeiros ser muito pequena. Por esse facto mandava que lhe fosse feito
um sobrado.
Em 1631,
numa outra Visitação, o visitador, Cónego Francisco Aguiar refere que
as casas dos romeiros da ermida de Nossa Senhora dos Remédios
encontravam-se descobertas e se não fossem reparadas antes do inverno
começar, as despesas seriam
maiores.
Elevada a 8
de Fevereiro de 1820 à categoria de Curato
[1], passou esta capela a ficar dotada de Cura
permanente e a 24 de Julho de 1848 com a criação da
paróquia da Quinta Grande, passou a sede da nova paróquia, dada a sua
localização mais central relativamente ao seus habitantes, ainda que
só a 28 de Setembro de 1848 fosse erecta canonicamente.
De acordo
com o Livro primeiro do tombo da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios,
datado de 2 de Outubro de 1850, um ano depois da sua erecção canónica,
a igreja da Quinta Grande continuava sem sacrário e, por consequência
sem o Santíssimo Sacramento, o que causava algum descontentamento
entre os seus fieis e levou a hierarquia da Igreja a tomar as
necessárias providências.
Tão
reconhecida necessidade foi tomada em ponderação pelo Exmo. e Revmo.
Sr. Cónego Governador logo que foi informado, mandando passar com data
de Outubro do ano próximo passado, para que o sacrário que servira na
igreja de Nossa Senhora do Livramento do Curral das Freiras, passasse
a servir nesta paróquia. Com efeito, veio este sacrário, mas em tal
estado que estava todo incapaz e insusceptível de concerto.
Imediatamente o Ilustríssimo e Revmo. Sr. Vigário Geral do Bispado
mandou passar nova ordem para que me fosse entregue o sacrário que era
do extinto Hospício da Ribeira Brava. Foi cumprida esta determinação.
Embora se tratasse de uma rica peça, achava-se tão danificada que não
podia servir sem ser retocada. Não se podendo de pronto fazer despesas
necessárias em razão da extrema pobreza assim da igreja como da
freguesia, conseguiu-se reparar o sacrário em parte apenas porque o
altar não tinha capacidade, concertando apenas a primeira parte, tendo
gasto neste concerto vinte e um mil reis, tendo o povo concorrido com
dezasseis mil reis e a caixa de Nossa Senhora dos Remédios com outros
cinco mil.
Depois
foi escolhido o dia para colocar de modo permanente, o Santíssimo na
Igreja. Tendo sido escolhido o dia 30 de Dezembro de 1849, para
assinalar o acontecimento tomaram parte no acto os padres do Estreito
de Câmara de Lobos e o da vila de Câmara de Lobos, tendo sido
assinalado o acto com girândolas e arcabuz. Em memória este
acontecimento, durante muito tempo este acto foi celebrado como
verdadeiro aniversário
[...].
Ao longo
dos anos a capela de Nossa Senhora dos Remédios viria a ser sede de
várias reparações, não sendo de excluir que, sendo a sua construção
datada do século XVI, a referência de 1601, atestada aliás numa pedra
religiosamente guardada na actual igreja, possa ser uma dessas
reparações ou reconstruções, ainda que também não seja de excluir que
essa pedra tivesse tido origem numa outra capela localizada nas
proximidades com a invocação de Nossa Senhora da Porta ou da Virgem
Senhora e que segundo David Ferreira Gouveia, teria sido construída em
1601, pelos jesuítas, à entrada da sua quinta.
Em 1756, a
Ermida de Nossa Senhora dos Remédios foi reedificada, sendo, de 17 de
Dezembro de 1756 a data da Provisão autorizando a sua bênção e, de 21
de Dezembro de 1756 a data da sua bênção.
Em 1900, a
capela de Nossa Senhora dos Remédios entretanto transformada desde
1848 em igreja matriz da Quinta Grande sofre importantes obras,
nomeadamente de ampliação. De acordo com o Diário de Notícias de 22 de
Maio de 1900, a igreja da Quinta Grande iria por essa altura a ser
alvo de importantes reparações, anunciando-se que deveria ser
alargado e aumentado tanto o corpo da igreja como respectivo adro e
estrada adjunta, tendo as obras ficado concluídas no decurso de 1901.
Com efeito, a "Quinzena Religiosa", na sua edição de 1 de Janeiro de
1902, dava conta de que o padre António Dinis Henriques acabava de
realizar uma obra de grande alcance e de grande merecimento, a
restauração da sua igreja paroquial.
Posteriormente, em 1913, de acordo com o Diário da Madeira de 19 de
Outubro, a igreja da Quinta Grande estava, por essa altura, a ser alvo
de importantes melhoramentos e em 2 de Julho de 1914, o Diário de
Notícias refere que o entalhador Manuel Inocêncio de Sousa havia
construído o seu altar-mor. A 7 de Julho desse ano, o Diário da
Madeira volta a falar das obras para referir que, nessa semana, haviam
começado os trabalhos de pintura decorativa do altar-mor e tecto da
igreja da Quinta Grande, a cargo do pintor José Zeferino Nunes (Cirilo),
obras que em Setembro de 1914, segundo o Diário de Notícias do dia 16,
ainda continuavam.
Ainda que
em 1900 a imprensa anunciasse que juntamente com a igreja, iria ter
lugar a ampliação do adro, tal poderá não se ter verificado, pelo
menos com a dimensão pretendida, uma vez que de acordo com o Diário da
Madeira de 26 de Agosto de 1927, o então Administrador do Concelho de
Câmara de Lobos havia solicitado à Junta Geral, o alargamento do adro
da igreja paroquial em consequência dos inúmeros pedidos a si
dirigidos por parte da população.
Passados
cerca de 50 anos desde que importantes obras de ampliação do templo
havia sido levadas a efeito, pelo Padre António Rodrigues Dinis
Henriques, novas obras voltam a ter lugar.
De acordo
com o Diário de Notícias de 14 de Setembro de 1950, quando, em 1947, o
padre António Rodrigues Ferreira chegara à freguesia da Quinta Grande,
constatou que não existia casa paroquial; que o templo era pequeno
para conter os seus paroquianos; que os paramentos e alfaias estavam
muito danificados e que a capela da Vera Cruz estava, pelo tempo, num
estado deplorável. Por esse facto reuniu os paroquianos e falou-lhes
nas necessidades que encontrou e na sua vontade de as ver resolvidas,
ao que o povo acedeu a colaborar, escrevendo também para seus
familiares emigrados e desta forma a casa paroquial foi construída
junto ao templo sagrado, a igreja foi aumentada, o adro foi
beneficiado, foram compradas alfaias novas e a capela da Vera Cruz foi
reparada.
Relativamente à casa paroquial, a sua falta de condições de
habitabilidade em outras ocasiões se terá colocado, nomeadamente em
1912. Com efeito, segundo o Jornal da Madeira de 18 de Fevereiro de
1925, o Pe. Eugénio Teixeira que paroquiou a Quinta Grande durante 5
anos, entre Julho de 1912 e Maio de 1917, quando chegou à freguesia da
Quinta Grande, para substituir o Padre António Rodrigues Dinis
Henriques, a residência paroquial não tinha condições, chovendo
dentro, o que o levou a recorrer aos favores de Francisco Anacleto,
que lhe emprestou a sua casa de Verão, conhecida por quinta Leopoldina
e onde haveria de permaneceu durante o tempo em que esteve na Quinta
Grande.
Em 1947, o
Eco do Funchal na sua edição de 11 de Setembro, ao anunciar a festa de
Nossa Senhora dos Remédios dá conta da realização de romagens de todos
os sítios cujo produto se destinaria às obras da Igreja, já em curso,
nomeadamente da construção da casa paroquial e ampliação da respectiva
igreja. Aliás, romagens e sorteios foram duas das formulas de
angariação de fundos a que o Padre António Rodrigues Ferreira recorreu
para poder realizar a sua obra.
O Jornal da
Madeira, na sua edição de 6 de Janeiro de 1949, anunciava que em Março
desse ano iriam começar os trabalhos de ampliação da igreja paroquial
da Quinta Grande. Antes, a 16 de Dezembro de 1947, já havia sido (re)construída
a casa paroquial e ampliada a sacristia da Igreja, conforme se pode
concluir através da informação veiculada pelo Jornal de 3 de Dezembro
de 1947, e segundo a qual, no dia 16 de Dezembro de 1947 seria
inaugurada a nova residência paroquial e sacristia da igreja paroquial
da Quinta Grande.
As obras de
ampliação da igreja envolveriam a construção de um arco, um cruzeiro
com uma capela-mor, dois altares laterais, ficando a igreja com
tamanho para comportar maior número de pessoas
.
Em
consequência das obras, os serviços de culto na Quinta Grande passaram
a ser feitos na capela da Vera Cruz. Contudo, de acordo com o Jornal
da Madeira de 20 de Agosto de 1950 o culto religioso, voltaria a
partir desse dia à igreja paroquial, cujas obras seriam solenemente
inauguradas por ocasião da festividade em honra de Nossa Senhora dos
Remédios, nos dias 9, 10 e 11 de Setembro
.
Em Setembro
de 1951, o Jornal da Madeira do dia 8, dá conta de que, por esta
altura estavam a terminar os trabalhos de pintura da igreja.
De acordo
com o Jornal da Madeira de 24 de Novembro de 1951 António de Gouveia
estaria, por essa altura a executar os quadros da via sacra para a
paróquia da Quinta Grande, tendo sido, no dia 20 de Dezembro de 1951
também instalados na igreja dois quadros do mesmo pintor, um
reproduzindo a figura de Santo António e outro representando a
aparição de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos.
Posteriormente, mas ainda na década de 60 seria a torre da igreja
ampliada e aí colocado um relógio, satisfazendo uma grande aspiração
da população, expressa pelo Padre António Rodrigues Ferreira na edição
de 6 de Setembro de 1953, do Jornal da Madeira.
A 14 de
Dezembro de 1958, por ocasião da inauguração da corrente eléctrica, na
Quinta Grande, foi também inaugurada um carrilhão electrónico - voz
campanil, ou seja um conjunto de sinos afinados com que se podiam
tocar peças musicais.
Em 1995, a
freguesia da Quinta Grande fica dotada de uma outra importante
infra-estrutura, composta por várias salas destinadas a ministrar
catequese, inauguradas a 15 de Março e por um salão paroquial
inaugurado a 17 de Dezembro, tendo a obra sido conduzida pelo seu
actual pároco, o padre José Anastácio de Gouveia Alves.
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