Levada de
Braz Gil de Faria, levada do Salão, levada da Castanheira, levada de
Álvaro Figueira, levada de Fontal Figueira, levada da Fonte Serrão,
levada da Serra, levada do Moinho, levada da Rocha, levada da
Achada, Levadinha, levada do Estreito, levada Nova de Câmara de
Lobos, levada da velha, levada da Quinta Grande, levada da fonte
Gordinho, levada do Rochão, levada da Serra, levada da Velha, etc.
são denominações que servem ou serviram para designar levadas
existentes no concelho de Câmara de Lobos, e construídas para
transportarem água, desde as suas nascentes ou suas ribeiras até aos
terrenos, cujo solo se prestava à agricultura.
Algumas
destas denominações perderam-se no tempo e caíram em desuso, outras,
resistiram à erosão dos anos e continuam a serem utilizadas, outras
ainda, não passam de formas diferentes para designar a mesma levada.
Contudo, todas elas, fazem parte da história do povo madeirense, em
geral e, da população camaralobense, em particular, no seu esforço
de tornar produtivos terrenos desprovidos de água, tendo para isso
de vencer a adversidade da sua orografia.
Ainda
que hoje a agricultura já não seja a mais importante actividade da
população do concelho de Câmara de Lobos, tempos houve em que tal
não era assim e chegou, mesmo a constituir, praticamente, o seu
único meio de subsistência, excepção feita naturalmente à comunidade
piscatória da freguesia de Câmara de Lobos, em que a pesca assumia a
primazia na sua fonte de rendimentos.
A necessidade
das levadas
Contudo, para
que a actividade agrícola fosse possível, houve necessidade de,
desde os primórdios do povoamento da Madeira, dotar os terrenos da
água necessária, uma vez que as nascentes ou os cursos de água
existentes, situavam-se, na maior parte das vezes, fora das zonas
agrícolas, obrigando por isso à construção de um número quase que
infinito de levadas, tarefa que, na maior parte das vezes não era
fácil de concretizar.
As
dificuldades na sua construção
Com efeito,
devido à adversidade das características orográficas dos terrenos
madeirenses e às distâncias das nascentes ou fontes de abastecimento
de água, relativamente aos solos a irrigar, a sua construção, para
além de muitas vezes levantar problemas técnicos de difícil
resolução para a época, revestia-se de elevados custos.
Apesar de
algumas das levadas madeirenses terem sido construídas pelo Estado
ou com apoio estatal, na sua maioria essa construção partia da
iniciativa particular e era levada a cabo, pelos proprietários ou
colonos dos terrenos a irrigar, quer de forma individual, quer
reunidos em associações de heréus por forma a mais facilmente, não
só poderem suportar os elevados custos da sua construção, como
também, da sua manutenção.
Assegurado o
direito às águas e construída a levada, era então a água
distribuída, em giros, pelos seus proprietários, numa quantidade e
frequência dependentes de vários factores, onde se incluíam o caudal
de água disponível, o número de proprietários ou heréus, a área
agrícola a irrigar, etc.. Ocasionalmente, a água excedentária era
vendida tanto aos heréus que dela ainda necessitassem, para além da
quota a que tinham direito nos giros, como a outros agricultores.
Com base
nesta metodologia, construíram-se importantes levadas privadas que
se mantiveram ao longo dos tempos em actividade, tendo no entanto
algumas delas, nos últimos anos, perdido a sua importância ou até
sido abandonadas, não só em virtude da utilização dos terrenos para
a construção habitacional, como devido à entrada em funcionamento da
levada do Norte e à integração na sua rede de produção e
distribuição, das nascentes e condutas pertencentes às antigas
levadas.
O
desaparecimento de levadas centenárias
Com efeito,
com a inauguração da levada do Norte, ocorrida a 1 de Junho de 1952,
não só muitos dos direitos das águas que abasteciam estas levadas,
como as suas condutas, passaram para a posse dos Serviços de
Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira. Como contrapartida, os
antigos heréus viriam a beneficiar do acesso à água da levada do
norte em condições privilegiadas e sem terem de se confrontar com os
problemas de gestão existentes no interior das associações ou
comissões a que pertenciam e que, desta forma, acabariam por se
extinguirem, arrastando consigo também o fim das levadas, como
associações, e a perda de um historial e património centenário.
Ao que
supomos saber, das antigas associações de heréus existentes nas
freguesias de Câmara de Lobos, Estreito de Câmara de Lobos e Quinta
Grande, só uma, a da levada do Estreito é que ainda não se extinguiu
completamente, não por necessidade de gerir a levada, mas unicamente
por questões de património ainda não solucionado.
As levadas e
os moinhos
Como
curiosidade, refira-se que muitas das levadas construídas com o
objectivo de irrigar os terrenos agrícolas, também acabariam por ser
utilizadas para mover moinhos.
Com efeito,
vários moinhos viriam a ser instalados, no percurso de muitas das
levadas do concelho e não raras vezes, encontramos fiadas de dois,
três e quatro moinhos pertencente a um mesmo proprietário, dispostos
em linha recta, no trajecto da levada e implantados sucessivamente
em níveis inferiores, aproveitando-se na maior parte dos casos o
declive dos terrenos. Depois da sua passagem pelos moinhos e da
utilização da força motriz por ela produzida para os mover, a água
retomava novamente a levada.
As levadas e
os lavadouros
O facto de
não existir distribuição de água canalizada ao domicílio, obrigava a
que, nos meios rurais, a população para lavar a roupa tivesse de
recorrer aos cursos de água então existentes, nomeadamente às
ribeiras, às levadas ou até a alguns poços que serviam de
armazenamento de águas de nascentes, para posterior utilização na
rega. Por esse facto, tal como acontecia com os moinhos, ao longo do
trajecto das levadas era frequente encontrarem-se rudimentares
estruturas, que serviam de lavadouros onde a população lavava a sua
roupa. A água entrava nessas pequenas infra-estruturas, era
utilizada na lavagem da roupa e depois voltava novamente à levada.
O sindicato
agrícola de Câmara de Lobos
Relativamente
à construção da levada do Norte, nunca será de mais recordar que o
Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos foi o seu mais importante
pioneiro e impulsionador.
Fundado a 23
de Setembro de 1927, o Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos
propunha-se estudar e promover
melhoramentos agrícolas, defender os interesses dos seus associados
e especialmente pedir ao Governo, nos termos do Decreto com força de
Lei, nº 5887 de 10 de Maio de 1919, a concessão de aproveitamento de
águas públicas que se encontrassem abandonadas no interior da ilha
da Madeira e pudessem ser canalizadas e utilizadas na rega de
terrenos compreendidos na área do concelho de Câmara de Lobos e das
freguesias limítrofes.
Em 1928, o
sindicato é autorizado a proceder aos estudos necessários à
elaboração do projecto definitivo do aproveitamento das águas das
ribeiras do Seixal, fontes da Hortelã, do Inferno, Malhada e
Partilha, condição imprescindível à concessão definitiva dessas
águas. Contudo, apesar de ter sido elaborado o projecto da levada
que iria trazer água da parte norte para a parte sul da ilha da
Madeira, nomeadamente às freguesias da Ribeira Brava, Campanário,
Quinta Grande, Câmara de Lobos e Estreito de Câmara de Lobos e de
ter sido dado pelo Estado, em 1932, parecer favorável tanto para a
construção da levada como para a concessão do apoio estatal a esta
obra, a iniciativa do Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos, só
viria a ser concretizada em 1951, não pelo sindicato, mas pelo
Estado, através da Comissão dos Aproveitamentos Hidráulicos da
Madeira.
As levadas do
concelho em 1863
De acordo com um relatório,
elaborado, a pedido do Governador Civil, no ano de 1863, por António
Francisco de Cairos Rego, administrador do concelho, sobre as
levadas do concelho de Câmara de Lobos
,
existiam, nessa altura, a Levada Nova de Câmara de Lobos, que
teria sido construída, segundo a tradição, pelo Estado, pouco tempo
depois da dos Piornais e tendo, por essa altura, cerca de 200 anos;
a levada de Braz Gil [de Faria], que tradicionalmente era
tida como a mais antiga do concelho, sendo na altura também
conhecida por levada das Preces, denominações hoje caídas em desuso,
em detrimento da de levada do Salão; a
levada da Castanheira,
que apesar de actualmente ser mais conhecida por levada dos
Quintais, foi também denominada de levada de Álvaro Figueira e de
Fontal Figueira; a levada dos Terços; a
levada do Estreito;
a levada da Serra e a
Levadinha, havendo também
algumas levadas na freguesia do Curral das Freitas, todas tomando
água na ribeira dos Socorridos e em nascentes nessa freguesia
existente, sem no entanto fazer referência às suas denominações.
Ainda que
hoje já não pertencendo ao concelho de Câmara de Lobos, o relatório
fazia ainda referência às levadas do Tranqual, da
Corujeira e da Roda, todas na freguesia do Campanário,
estando, no entanto, omitida qualquer referência à existência de
levadas na freguesia da Quinta Grande.
Outras
levadas e poços
Para além
destas, o concelho de Câmara de Lobos teve outras importantes
levadas.
Por outro
lado, um pouco por todo o concelho, encontramos poços destinados ao
armazenamento de água proveniente de pequenas nascentes e que depois
era utilizada na irrigação de terrenos situados habitualmente nas
suas proximidades ou não muito distantes, utilizando para o efeito
pequenas redes de levadas.
É de supor
que, na sua maior parte, tenham sido construídos para irrigar uma
única propriedade, não sendo, no entanto, de excluir que noutras
situações, muito mais raras, a construção desses poços e respectiva
rede de levadas tivessem resultado da conjugação de esforços de
vários agricultores. Posteriormente, em consequência da fragmentação
dos terrenos, motivada pelas sucessivas transmissões de propriedade,
quer em consequência de partilhas entre herdeiros, quer por venda a
terceiros, os direitos às suas águas também foram alvo da mesma
segmentação, uma vez que estavam adstritos à terra. Por esse facto é
que, nas escrituras correspondentes à compra e venda de terrenos
agrícolas, frequentemente encontramos referências aos direitos sobre
a água desta ou daquela levada, deste ou daquele poço.
Apesar de
terem uma diminuta dimensão, estes pequenos poços, geram ainda hoje,
principalmente em áreas não abrangidas pela levada do Norte, água
para um número significativo de proprietários ou heréus, que na
maior parte dos casos, apesar de não estarem organizados, encontram
formas consensuais para limpar ou reparar as levadas e disporem das
águas a que têm legalmente direito.
Levadas da
freguesia de Câmara de Lobos
Na freguesia de Câmara de Lobos,
para além da Levada Nova de Câmara de Lobos, da levada de Braz Gil
de Faria também conhecida como das Preces ou do Salão; da levada da
Castanheira, também conhecida por levada de Álvaro Figueira (),
de Fontal Figueira (),
ou dos Quintais e da levada dos Terços, que apesar de se constituir
na freguesia do Estreito, na Ribeira Fernanda, irriga sobretudo
terrenos de Câmara de Lobos, outras existiram destacando-se entre
elas a levada da Fonte Serrão (,).
Levadas da
freguesia do Estreito
Na freguesia do Estreito de
Câmara de Lobos
,
para além da levada do Estreito, da Levadinha e da levada da Serra,
referenciadas em 1863, existiram várias outras como a levada do
Poço do Moinho (),
com origem no sítio da Quinta de Santo António e irrigando os
terrenos agrícolas deste sítio; a levada do Jardim da Serra,
que tinha como ponto de partida um poço existente na quinta do
Jardim da Serra; a levada dos poços da Rocha (),
situados no Foro, a levada dos poços dos Meninos de Belém,
situados no lugar da Pedreirinha e a levada do poço do Dantas,
situado no Cabo do Podão.
Para além
destas, será de referir, entre outros, ainda poços como o das
Chaves, dos Ganchos, da Cal, etc. hoje ainda
existentes e que apesar de não se regerem por estatutos, servem de
reservatórios a águas utilizadas, na agricultura, por heréus.
O Elucidário
Madeirense refere, ainda a levada dos Tis, cuja data de
construção e percurso se desconhece.
Levadas da
freguesia do Curral das Freiras
Na freguesia do Curral das
Freiras, ainda que o Elucidário Madeirense ()
refira a existência unicamente das levadas da Achada (),
da Fonte Gordinho e do Rochão, outras existem como a
levada do poço do Aviso, a levada do poço da Capela, a
levada da Fajã Escura, a levada do Pico Furão, a
levada da Fajã dos Cardos e a levada da Ribeira Gumeira,
todas de heréus.
Nesta
freguesia mas sem interesse em termos de irrigação, uma vez que
parece que nunca chegou a funcionar, mas com interesse lendário e
histórico não poderemos deixar de invocar a chamada levada da
velha que foi cavada nas rochas do Curral das Freiras, na
encosta do Estreito e pretendia ao que se supõe saber, conduzir água
desde o Curral das Freiras até à Quinta Grande e Campanário.
Levadas da
freguesia da Quinta Grande
Na freguesia da Quinta Grande,
existem duas importantes levadas, uma denominada de levada da
freguesia da Quinta Grande (),
também conhecida por levada da Ribeira e outra de levada
do Pomar.