Primitivamente pertencente
à freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, com a com a criação,
em 1996, da freguesia do Jardim da Serra, a Furneira acabaria por ficar
repartido por estas duas freguesias.
A sua denominação
tem a ver com a existência de várias furnas na localidade,
algumas das quais, segundo a tradição, teriam servido de
habitação a mouros, que para ali se vieram fixar, sendo outras
utilizadas para a recolha de animais, apresentando as destinadas a habitação
características diferentes das destinadas a animais.
Relativamente aos mouros,
apesar de não existirem documentos que comprovem a sua presença
na localidade, a verdade é que as pessoas mais idosos, com base
em informações que lhe foram transmitidas oralmente por seus
pais e avós, que por sua vez, as haviam recebido da mesma forma,
afirmam peremptoriamente, a sua presença chegando até ao
pormenor de identificar alguns dos habitantes deste e de sítios
limítrofes, como seus descendentes.
Para além de, nalguns
casos, apresentarem alguns discretos traços fisionómicos
similares aos habitantes do Norte de África, a estas famílias
encontram-se associadas comportamentos reveladores de alguma agressividade
e que, são suficientes para que a generalidade da população,
que os conhece, mantenha alguns cuidados no seu relacionamento com eles
e, só à boca pequena, se atrevam a tecer comentários
sobre as suas origens.
Ainda que não se
saiba ao certo a origem da comunidade tida como moura e acreditando-se
como certa, desde tempos remotos, a sua presença, nesta localidade,
é possível admitir que ela se tivesse constituído
a partir de escravos que foragidos do povoado, ali se refugiaram.
A presença, junto
das furnas, de infra-estruturas destinadas à conservação
de alguns produtos utilizados na sua alimentação é
outra das provas de que estas terão em tempos sido utilizadas como
habitação.
Aliás, a presença
de mouros nesta região é ainda atestada pela toponímia,
que chamou de banda de Mouro a um lugar, próximo da Furneira, no
sítio do Pomar Novo e onde, uma lenda diz ali existir uma mina de
ouro e estar acorrentada e encantada uma moura, cujo desencanto constitui
a chave para a acessibilidade ao tesouro.
Este lugar é referenciado
pela existência de uma um talude de cor amarelo ouro, donde brota
água proveniente de uma nascente ai localizada.
Segundo a lenda, para
desencantar a moura e ter acesso ao tesouro, que ela guarda, é necessário
cumprir escrupulosamente um ritual que consiste em lá ir um dia
à meia-noite, provido de um gato ou galinha preta, de uma garrafa
de aguardente, ler uma determinada passagem do livro de São Cipriano
e cavar 7 palmos ou 7 passos distante da nascente, em direcção
a poente.
Contudo, apesar de já
várias tentativas terem sido efectuadas, para desencantar a moura,
tal ainda hoje não aconteceu, talvez porque o tesouro e a moura
encantada não passem mesmo de uma lenda, ou porque o ritual não
foi escrupulosamente cumprido .