Psicóticos Diletantes

 

Não.

 

Chega da ditadura hipócrita dos dicionários.

 

Estamos aqui como idiotas que brincam de ser gênios que brincam de

ser idiotas. Basta de lacinhos & sorrisos falsos & da mania de querer

fazer/ser algo pretensamente útil. Não há ambição: já somos o que um

dia quisemos ser — e já é demais.

 

Estamos aqui como um pelotão de fuzilamento que não tem munição e

como o condenado que prefere não ver seu último desejo atendido.

Somos pela nossa verdade contra a sua, pela ilusão sintética contra a

realidade artificial, pela ociosidade criativa contra o esforço estéril, pela

incerteza contra a segurança, pela doença venérea contra o ataque

cardíaco, pela bobagem contra a coerência, contra a ganância pela

mendicância, e assim por diante, porque isto já está cansando.

 

Estamos aqui porque somos feios. Não admitimos controle. Danem-se

os vizinhos, gostamos de escutar música bem alta, de madrugada,

sapateando na janela. Dane-se Freud, queremos garotinhas

impúberes em camas forradas com linho, sangue e ferrugem. Dane-se

Lombroso, não queremos ninguém analisando nossos crânios cheios

de imperfeições. Danem-se Deus e o Diabo, queremos sodomizar

anjos assexuados enquanto Dante nos mostra o terceiro círculo. Dane-

se a tradição, a família e a propriedade: queremos a ruptura, a tribo e o

comunal. Dane-se quem nos sorri, queremos fazer caretas. Danem-se

os carros, estamos indo a pé.

 

Estamos aqui porque não poderíamos estar em algum outro lugar, por

mais que queiramos. Queremos sexo & poesia & álcool & anarquia &

literatura & drogas & música & caos & teatro & morte & olhos & magia

& acasos & vinho & Arte, seja lá o que isso queira dizer. Não queremos

casamento & discursos & trabalho & autoridade & hierarquia & esporte

& convenções & rotina & religião & sisos & planos & salário & gravata

& respeito & Amélia que era mulher de verdade.

 

Estamos aqui porque temos pernas que terminam em pés de unhas

compridas. A caridade pode ser mesquinha, o assassinato pode ser

uma obra de arte. A virgindade pode ser uma maldição, o estupro

pode ser providencial. A magreza pode ser doença, a gordura pode ser

virtude. A saúde mental pode ser um par de algemas, a loucura pode

ser a redenção. O superego pode ser padrasto cruel, o id pode ser

amante voluptuosa. O politicamente correto pode ser imoral, o

estupidamente sincero pode ser amável. Encham de sangue nossa

taça de abominações, ou o faremos sozinhos.

 

Estamos aqui para encher o saco, e ponto final.