Com relação ao período da XIII dinastia, que se estendeu aproximadamente de 1783 a 1640 a.C., os arqueólogos conseguiram localizar três pirâmides. Uma delas situa-se em Dahshur. Seu proprietário foi o 11º rei da dinastia,
de nome Amenyqemau, que significa Ameny, o Asiático. Cada lado da base do monumento, que ficou inacabado, media cerca de 50 metros. Na câmara funerária foi localizado o sarcófago vazio e os vasos canopos. As duas outras pirâmides situam-se em Saqqara. A mais recente das duas, que provavelmente não foi concluída, não teve seu proprietário identificado. Ela foi construída em grande parte com tijolos e encontrada demasiadamente danificada para que se pudesse deduzir suas medidas exatas. Atualmente tem apenas três metros de altura. Sua câmara funerária, monolítica,
pesava 150 toneladas. O sarcófago e o estojo canopo faziam parte integrante do piso do
enorme bloco de pedra. As tampas dos dois recipientes eram peças separadas. A terceira pirâmide
foi mandada construir pelo faraó Khendjer.
A Pirâmide de Khendjer
O faraó Khendjer foi o 17.º da XIII dinastia. Sua pirâmide, que atingia a altura de 37 metros, foi
construída internamente com tijolos e o revestimento era de pedra calcária, com espessura de cerca de quatro metros e 60 centímetros, do qual quase nada sobrou. A entrada para os subterrâneos do monumento ficava por baixo da última camada de revestimento na face oeste. Para proporcionar espaço suficiente às manobras com o sarcófago, foi feito um poço retangular (1), com paredes de tijolos, bem defronte à entrada. Após o enterro, o poço foi entulhado de cascalho e pavimentado com lajes de calcário, tornando impossível distinguir que naquele ponto existia uma entrada para a pirâmide. No interior do monumento, a partir da entrada, uma rampa (2), escalonada em quatorze níveis baixos, desce até uma curta passagem horizontal que termina numa parede cega. Nesse ponto existe uma grande porta corrediça retangular de quartzito (3) que deveria bloquear tal passagem, mas que foi encontrada aberta pelos escavadores, alojada em um recesso existente no lado sul da passagem. Ao que tudo indica, embora o piso do recesso fosse inclinado na direção da passagem, tal ângulo de declividade foi insuficiente
para permitir a movimentação do pesado bloco de quartzito. Uma abertura feita na parede
leste da passagem horizontal, situada a um metro e meio acima do solo e que a porta corrediça
deveria ocultar, dá acesso a uma nova rampa (4). Essa última
tem 39 níveis descendentes, segue na mesma direção da primeira rampa e no seu
término existe uma porta de madeira com duas folhas que, quando abertas, encaixam-se em recessos
das paredes laterais. Passado o umbral, há outra porta corrediça (5),
idêntica à primeira, que também foi encontrada aberta. Depois o corredor continua
na mesma direção da rampa, mas em nível mais elevado do que o dela e quase sem
declividade, até desembocar num fosso retangular (6), que foi
totalmente bloqueado e dissimulado após o funeral, e que dali parte na direção
norte até emergir no piso da extremidade oriental de uma ampla antecâmara (7),
situada ao norte da câmara funerária (8).
É preciso que se entenda que todo o conjunto subterrâneo
teve que ser construído antes que a primeira camada da estrutura da pirâmide tenha
sido assentada. Para colocar a câmara funerária em seu lugar, os egípcios cavaram
uma enorme cova retangular, com 11 metros de profundidade, tendo sua maior parte situada a sudeste
do centro da àrea sobre a qual o monumento deveria ser erguido. A câmara funerária,
formada por um único bloco de quartzito, pesando cerca de 70 toneladas, foi então baixada através de um fosso com uma rampa temporária que penetrava na cova em seu canto sudoeste. A câmara funerária — esclarece o arqueólogo I.E.S.Edwards — ocupava apenas uma pequena parte de toda a área da cova e tão logo foi colocada em posição, iniciou-se, dentro da cova, o trabalho de construção da antecâmara e das passagens, cada uma em seu nível adequado. Enquanto esse trabalho progredia, a rampa temporária foi
desmontada e substituída pelas duas rampas escalonadas. Finalmente, as portas corrediças
foram baixadas para os seus recessos e os entulhamentos necessários para prover um nivelamento
da superfície destinado à base da pirâmide foram depositados na cova e no fosso das
rampas escalonadas, não entretanto diretamente nos tetos planos das várias construções,
mas em abóbadas de tijolos que foram construidas sobre eles. Apenas sobre a câmara
funerária foi colocado um teto em ponta, composto de dois blocos de pedra calcária,
entre a abóbada de tijolos e o teto plano.
O teto plano da câmara funerária era formado por dois
pesados blocos de
quartzito e nela penetrar seria impossível com tais massas em seus lugares. Assim, o bloco mais próximo da antecâmara foi suspenso no vão
existente entre o teto plano e o teto em ponta, deixando um espaço acima da parede setentrional,
o qual podia ser acessado através de um fosso e de um pequeno corredor que partiam do centro
da antecâmara. Para suspender e baixar o bloco de quartzito (9) foi
usado um engenhoso sistema que I.E.S.Edwards nos descreve da seguinte maneira: Dois esteios de
granito suportavam o bloco que se projetava, de ambos os lados, cerca de 45 centímetros
além das paredes da câmara. Os esteios, entretanto, não se apoiavam no solo da
cova, mas em fundas camadas de areia encerradas em poços verticais feitos de pedra, sendo que
cada poço atingia a altura das paredes e sua parte superior servia como uma espécie
de base para seu respectivo esteio. Depois que o ataúde, o estojo canopo, e alguns dos objetos pessoais do rei foram colocados na câmara, uma pedra da base de cada
poço foi removida e a areia escoou, sem dúvida gradualmente, até que os esteios
repousassem no piso e o bloco nas paredes. Para permitir que essa operação se realizasse,
corredores que levavam aos poços foram construídos na cova, um (10)
a partir de um fosso na passagem leste e o outro (11) a partir de um fosso na extremidade
oeste da antecâmara. Quando o bloco do teto, que media cerca de um metro e 50 centímetros
de espessura, foi baixado, a abertura no fim do corredor de aproximação para a
câmara funerária ficou completamente fechada. Não obstante, como medida
de proteção adicional, o fosso que conectava esse corredor com a antecâmara e os
dois fossos dos corredores que levavam aos poços de areia foram preenchidos com alvenaria e
pavimentados. Toda essa precaução de pouco valeu. Através de um buraco feito
abaixo do teto da câmara funerária, do tamanho suficiente apenas para a passagem de uma
criança, salteadores de túmulos retiraram absolutamente tudo o que lá poderia
ter sido armazenado.
A nordeste do monumento de Khendjer foi edificada uma pirâmide subsidiária que, curiosamente, tinha duas câmaras funerárias, ambas de quartzito. Suas dimensões eram menores do que as da câmara do faraó. Aqui também havia blocos de pedra mantendo suspensas pedras do teto, as quais eram mais leves que as da pirâmide principal e seus esteios poderiam ter sido retirados, sem o uso de qualquer artifício, se as pedras do teto fossem erguidas com alavancas. Entretanto, elas permaneceram suspensas. Ao que parece,
algum imprevisto impediu o sepultamento de duas rainhas nesse monumento.
As Pirâmides da XVII Dinastia
Com relação a pirâmides construídas
no decorrer da XVII dinastia, entre 1640 e 1550 a.C. aproximadamente, existem apenas referências
em papiros e escassas evidências materiais. Teriam sido erguidas na região da necrópole de Tebas, feitas de tijolo cru, de dimensões pequenas, mas com acentuado ângulo de inclinação, o que lhes dava a aparência de serem mais altas e delgadas. No
ápice havia uma pedra, em alguns casos calcária, gravada com o nome e títulos
do rei. As câmaras funerárias foram cavadas nas rochas que serviam de fundação
para as capelas de oferendas.
A Pirâmide de Amósis
Talvez Amósis, o primeiro faraó da XVIII dinastia,
tenha sido o último rei
egípcio a construir uma pirâmide. Ele reinou aproximadamente entre 1550 e 1525 a.C., construiu seu túmulo em Tebas, mas ergueu um cenotáfio em Abido com forma piramidal, o qual hoje não passa de um monte de entulhos com cerca de 11 metros de altura, como se pode ver na figura acima. Próximo ao monumento foi encontrada uma série de sepulcros nos quais podem ter sido enterrados artesãos, sacerdotes ou habitantes da comunidade. A pirâmide tinha o núcleo construído com areia e pedras britadas soltas e, depois de ter perdido a maioria de seu revestimento externo, ruiu. Estimou-se, a partir dos restos de duas camadas intactas de pedras do revestimento que sobraram na base oriental da pirâmide, que seu declive era de aproximadamente 60 graus. Nenhuma escavação revelou a existência de qualquer sub estrutura ou câmara interna no corpo do monumento. Além da pirâmide, com cerca de 70 metros quadrados, junto a ela havia um templo mortuário e outro situado na extremidade do vale do Nilo, próximo à margem do rio. Nesse complexo a decoração apresentava algumas cenas de batalha da guerra contra os hicsos. Nelas estão algumas das mais antigas representações de cavalos da arte egípcia.
O templo mortuário situa-se um pouco ao norte da pirâmide. A estrutura que foi desenterrada pelos arqueólogos parece ser a seção mais externa do templo. Ela é formada por uma grossa parede com uma entrada central que conduz a um átrio. Nesse uma outra entrada leva a um pátio quadrado. As pedras do alicerce da parte posterior da construção poderiam ter suportado os pilares de uma colunata. Entretanto, entre essa seção do templo e a própria pirâmide existe o que provavelmente restou de um pátio interno no qual muito pouco foi encontrado, exceto pedaços do pavimento e quatro silos circulares ao longo da parede traseira. Ainda foram descobertos restos de uma estrutura semi-circular de tijolos de barro que tanto pode ter sido uma rampa como o santuário interno do templo.
No canto sudeste da pirâmide também foi descoberto um segundo templo menor, que provavelmente foi dedicado a Amósis-Nofretari, irmã e esposa do faraó. Na mesma localidade Amósis mandou edificar uma tumba falsa para sua avó, Tetisheri, cujo túmulo verdadeiro, como o dele, situava-se também em Tebas. Essa estrutura de Abido é uma construção volumosa num formato semelhante ao de uma mastaba. Um corredor que passa pelo centro do edifício leva até sua parte posterior onde se encontra uma notável estela que Amósis mandou erigir. Ela inclui duas imagens de Tetisheri e um texto em hieróglifos falando da intenção do rei de construir uma pirâmide em memória da avó. Mais ao sul da área as escavações revelaram também uma tumba esculpida no leito da rocha com acabamento precário, sendo talvez apenas um símbolo do mundo subterrâneo de Osíris. A entrada é uma cova de tamanho relativamente pequeno que conduz a uma passagem horizontal inicial. Existem salas em ambos os lados do corredor que foram escavadas grosseiramente e deixadas inacabadas. Em seu final esse corredor abre para um salão com um total de 18 colunas.
Finalmente, próximo das margens do Nilo existe um conjunto de terraços construídos ao pé dos altos precipícios da montanha que bordeia o rio. O terraço inferior é feito de tijolos e mede 91 metros de comprimento, com um segundo terraço de pedra bruta em um segundo nível. É provável que tais terraços tivessem a finalidade de suportar um templo, talvez precursor daquele construído por Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.) em Deir el-Bahari, mas ao que parece ele nunca foi edificado. Existia um esconderijo de vasos de cerâmica votivos, moldes de vasos em pedra e barcos com remos perto da extremidade sul. Embora se acredite que a tumba verdadeira do rei esteja em Tebas, ela ainda não foi encontrada. Tendo em vista a extensão das ruínas em Abido, os arqueólogos modernos especulam que é possível que Amósis tenha sido originalmente enterrado ali. Os demais faraós da XVIII dinastia e seus sucessores não mais ergueram monumentos funerários sob a forma de pirâmide.
A Pirâmide de Piye
Haviam-se passado 800 anos desde os tempos de Amósis, quando
um rei de origem núbia, o segundo da XXV dinastia egípcia, de nome Piye, que reinou
entre 750 e 712 a.C. aproximadamente, talvez impressionado com a grandiosidade das pirâmides
de Gizé, mandou construir a sua em Kurru, localidade cerca de oito quilômetros ao sul
de Napata, capital da Alta Núbia. O monumento foi erguido no meio de um grande e antigo
cemitério onde já repousavam os ancestrais do faraó. Pouquíssimo restou
da pirâmide, mas sabe-se que era de pequenas dimensões. No subsolo havia uma cova
recoberta com um teto abobadado e que servia de câmara funerária. Para que fosse
possível nela penetrar por ocasião do funeral, foi construída uma escada ao ar
livre a partir de um ponto localizado a leste da pirâmide e que alcançava uma porta na
parede oriental da câmara. Após o enterro a escada foi entulhada e uma capela de oferendas,
formada por um único aposento decorado com relevos, foi construída sobre a área.
No cemitério de Kurru também foi encontrada uma fileira
de cinco pirâmides construídas para as rainhas. Achou-se ainda quatro sepulturas para os
cavalos do faraó. Os animais estavam ricamente ornamentados com arreios de prata e cordões
de pérolas. Os estudiosos asseguram que os cavalos foram sacrificados por ocasião da
morte do rei, para que pudessem acompanhá-lo no além-túmulo. Aliás existem
documentos que comprovam a paixão que o faraó Piye tinha por cavalos.
A Pirâmide de Shabaka
O sucessor de Piye, Shabaka, reinou de 712 a 698 a.C., aproximadamente.
Também mandou erguer sua pirâmide em Kurru e usou projeto semelhante ao do seu antecessor
para erigi-la. Entretanto, acrescentou um pequeno túnel no final da escada
e mandou cavar a câmara funerária na própria rocha. A capela de oferendas foi
construída contra a parede leste do monumento, diretamente sobre o túnel. Com isso a
escada, que também foi entulhada após o enterro, terminava antes de atingir a parede
da pirâmide e a capela foi erguida sobre o solo rochoso e terminada enquanto o faraó
ainda estava vivo. Apreciador de cavalos como Piye, enterrou oito de suas montarias, todas paramentadas,
junto ao seu monumento funerário.
A Pirâmide de Taharqa
Taharqa, quinto faraó da XXV dinastia, reinou aproximadamente
entre 690 e 664 a.C. e construiu sua pirâmide em Nuri, localidade situada ao norte de Napata, capital
da Alta Núbia. Ele seguiu projeto semelhante ao de Shabaka, mas transformou o tunel de acesso à
câmara funerária em uma pequena antecâmara, enquanto que a primeira foi ampliada
para formar um vestíbulo dividido por pilares de rocha em três naves. Além disso,
acrescentou um corredor que rodeava tanto a antecâmara quanto a câmara funerária
e dava acesso ao lado ocidental do vestíbulo por meio de uma escada.
As Pirâmides de Particulares
Desde o período que ficou conhecido como Império
Médio, iniciado em 2040 a.C., até a época romana, alguns túmulos de
forma piramidal ou que incorporavam uma pirâmide em seu projeto foram mandados construir por
pessoas não pertencentes à família real. Os mais antigos que se conhecem localizam-se
em Abido. Trata-se de pequenas pirâmides de tijolos postas sobre bases retangulares, sendo que
tanto estas quanto aquelas são revestidas de massa feita com lama e caiadas. Dentro das pirâmides
há uma câmara funerária de formato cônico. Às vezes existe na base
uma segunda câmara fazendo o papel de serdab. A maioria desses túmulos não
apresenta capelas externas, mas alguns têm capelas laterais com dois andares. Cada pavimento
é formado por uma única câmara, a superior contendo um nicho para a estela e a
inferior sendo o único meio de acesso ao serdab.
Durante o Império Novo (c. de 1550 a 1070 a.C.) os túmulos
particulares tornaram-se mais elaborados e espalharam-se por todo o país. Junto ao Vale das
Rainhas, na localidade de Deir el-Medina, os arqueólogos encontraram alguns dos mais representativos
desses monumentos, de propriedade de escribas, artistas e artesãos que trabalharam na construção das tumbas reais da XVIII, da XIX e da XX dinastias. I.E.S.Edwards assim os descreve: Acima do solo havia um pátio cercado de uma parede de tijolos ou pedras por
três lados. No quarto lado do pátio ficava uma capela, geralmente encoberta por uma
colunata. Internamente, a capela consistia de um único aposento decorado com cenas pintadas e
tendo uma estela embutida na parede dos fundos. Montada sobre o teto havia uma pirâmide oca
de tijolos, encimada por um bloco de pedra calcária. Imagens do proprietário adorando
o deus-Sol, junto com inscrições curtas, estavam esculpidas nas quatro faces dessa pedra
que formava o ápice da pirâmide. Um nicho no lado da pirâmide voltado para o
pátio continha uma estatueta do proprietário, que era, às vezes, representado
ajoelhado e segurando uma estela em miniatura. A câmara funerária, cavada a grande profundidade
na rocha, era um aposento com teto abobadado de tijolos ligado com o pátio ou com a capela
através de um poço e de uma escada subterrânea. Na XVIII dinastia apenas o proprietário
e sua esposa eram enterrados na câmara. Na XIX e na XX dinastias, entretanto, várias
gerações da mesma família partilhavam regularmente a mesma tumba e câmaras
adicionais eram construídas quando necessário. As paredes das câmaras, após
a XVIII dinastia, eram usualmente decoradas com cenas religiosas e inscrições.