Estado de São Paulo13 de junho de 2000
CRONOLOGIA
Esta é a seqüência dos acontecimentos sobre a suposta internacionalização da Amazônia: Março/abril - O site brasil.iwarp.com publica, em sua seção "Curtas", a seguinte nota: "Foi levantado, recentemente, por brasileiros que observaram o sistema de ensino médio e primário dos Estados Unidos, um dado no mínimo surpreendente: em algumas importantes escolas americanas, no mapa-múndi do material de geografia em uso, o Brasil aparece dividido. No mapa em questão, o Brasil seria o território abaixo da região amazônica e Pantanal, e o restante aparece como `área de controle internacional'. Em outras escolas, professoras pregam o apoio dos alunos a uma intervenção e, se preciso, guerra, para tirar a região amazônica dos `destruidores da natureza (brasileiros)'. É apenas mais uma prova de que a idéia estrangeira de intervir na Amazônia já evoluiu para a fase operativa." A nota começa a ser espalhada pela Internet. Logo, as mensagens são acompanhadas de cópias de mapas do Brasil dividido, mapas que também integram o website brasil.iwarp.com e aparentemente foram criados pelos autores do site. 11 de maio - A professora Simone de Freitas, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, recebe uma das mensagens apócrifas e a transcreve em uma carta ao jornal Ciência Hoje Eletrônico (CHE), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O CHE publica online a carta de Simone, sem verificar a origem da informação, e dissemina ainda mais a "notícia", dando-lhe credibilidade. No mesmo dia, o ministro-conselheiro Paulo Roberto de Almeida, da embaixada brasileira em Washington, escreve ao CHE, pedindo que se contate a leitora Simone de Freitas para obter esclarecimentos. De posse de informações precisas, a embaixada poderia investigar o assunto.Também no início de maio, a pesquisadora Michelle Zweede, do Brazil Center da Universidade do Texas em Austin, recebe um telefonema da senadora Marina Silva (PT-AC), que havia recebido as tais mensagens e pedia sua ajuda na investigação. Zweede envia, então, uma mensagem eletrônica ao endereço contatos@brasil.iwarp.com, indicado no website apócrifo, e pede dados mais precisos: quais escolas americanas estariam usando os mapas? Quem são os `brasileiros que observaram' o fenômeno? Zweede nunca recebeu uma resposta do site, mas, três dias depois de enviada sua mensagem, obteve uma resposta da Universidade da Flórida que lhe faz exatamente as mesmas perguntas que fizera ao site autor do mito. Para sua surpresa, a mensagem da Flórida reproduzia a nota do brasil.iwarp.com, mas dessa vez assinada por ela, Michelle Zweede, e pelo Brazil Center da Universidade do Texas, reforçando ainda mais a credibilidade da informação inventada. 16 de maio - O CHE publica carta de Simone de Freitas pedindo desculpas por ter divulgado informação possivelmente incorreta. 17 ou 18 de maio - O site brasil.iwarp.com publica uma suposta retratação. "A fonte da notícia não encontra-se (sic) mais em nosso poder, por problemas computacionais", alega. "Perdemos o disco rígido onde se encontrava." O autores do site admitem que, "após muito pesquisar, não foi possível localizar a origem" da notícia, nem "tampouco encontrá-la na rede" ou entre seus colaboradores. "Apesar de haver um certo consenso em nossa equipe a respeito do autor da afirmação (a fonte), por não dispormos de provas em mãos, julgamos ser leviano manter a denúncia na página e a estamos retirando", concluía a nota, para acrescentar: "Esperamos fazê-lo apenas temporariamente, pois vamos continuar no empenho de sanar o problema." 23 de maio - Tendo recebido o e-mail falso assinado por Zweede, uma fonte confiável, o colunista social do Estado, César Giobbi, é induzido a erro e publica uma nota que, mais uma vez, reproduz o exato teor da mensagem original. Uma cópia da nota de Giobbi, sem especificar a seção em que foi publicada no jornal, passa a ser divulgada pela Internet. 8 de junho - Como o CHE publicou a carta subscrita pelo ministro-conselheiro Paulo Roberto de Almeida, este passa a ser inundado por mensagens agressivas de brasileiros exigindo providências. No dia 8, o próprio embaixador Rubens Barbosa envia nova carta ao CHE, explicando não haver evidência da existência dos tais mapas nos EUA. 9 de junho - A Universidade do Texas inicia uma investigação sobre o uso indevido de seu nome. 11 de junho - Em cerimônia em Brasília, militares não falam de outra coisa, e o discurso do comandante da Marinha, almirante Sérgio Chagasteles, é interpretado como uma advertência sobre a iminência da internacionalização da Amazônia.
15 de junho - O embaixador americano no Brasil deve abordar o assunto na abertura de seu primeiro discurso oficial no País.