19 outubro 2000 Estado de São Paulo

A Amazônia é problema nosso
 

Os termos da entrevista que o secretário da Defesa dos Estados Unidos, William Cohen, concedeu ao nosso correspondente Paulo Sotero, a bordo do avião que os conduzia de Washington a Manaus, não poderiam ser mais tranqüilizadores para os países amazônicos. Reiteradas vezes, o secretário da Defesa, que participou em Manaus da 4ª Conferência dos Ministros da Defesa das Américas, afirmou que aos Estados Unidos não interessa envolver-se militarmente na América do Sul. "É a última coisa que queremos.
E, como não temos a intenção de fazê-lo, isso não acontecerá." Em outro trecho da entrevista,assegurou que "os EUA não têm nenhum plano, nenhuma intenção e nenhum papel na Amazônia".
Desde que o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda no valor de US$ 1,3 bilhão para a Colômbia, bem como o envio para aquele país de 800 assessores militares e civis para, além de outras missões de natureza civil, treinar três batalhões especializados em operações contra o narcotráfico, Brasil, Equador, Paramá, Peru e Venezuela passaram a se preocupar com a possibilidade de que os narcotraficantes e a guerrilha colombianos passem a operar em seus territórios. Preocuparam-se, também, com a possibilidade de que, com a intensificação do conflito civil colombiano, os Estados Unidos se vissem levados a ampliar sua presença militar na região.
Havia ainda o receio de que os Estados Unidos pressionassem os países amazônicos para que apoiassem o esforço colombiano de combate ao narcotráfico com forças policiais e militares, o que equivaleria à internacionalização do conflito. Quanto a isso, as declarações do secretário William Cohen não deixam margem a dúvidas. Não apenas os Estados Unidos respeitarão a decisão soberana da Colômbia de não admitir combatentes estrangeiros em seu território, como os países vizinhos decidirão por si mesmos, sem a interferência de Washington, se cooperarão com Bogotá e, em caso afirmativo, que tipo de ajuda fornecerão. "Não cabe aos EUA ditar a resposta de cada país", garantiu o secretário da Defesa.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, definiu com grande clareza a posição brasileira, no discurso de abertura da Conferência de Ministros da Defesa. Reconfirmou a política de não permitir o envolvimento direto das Forças Armadas no combate ao narcotráfico; manifestou o apoio do Brasil ao plano de paz do presidente Andrés Pastrana, observando que entre os países amazônicos sempre houve solidariedade - "solidariedade que sempre soube combinar cooperação e respeito à soberania"; e anunciou o estreitamento da cooperação com a Colômbia, para o combate ao narcotráfico, no campo da inteligência e das operações policiais, na repressão ao tráfico de precursores químicos, no controle do tráfico de armas e no combate à lavagem de dinheiro.
Também ofereceu aos países vizinhos a possibilidade de compartilhar as informações colhidas pelo Projeto Sivam/Sipam, tanto para o controle do tráfego aéreo - atividade ligada à segurança de vôo, mas também à repressão do crime organizado - como para o desenvolvimento de políticas ambientais.
Além disso, declarou que o governo está aumentando os recursos destinados ao programa Calha Norte, fazendo a ressalva de que seu objetivo principal não é o de reforçar militarmente a região, mas o de levar a presença do Estado aos pontos mais remotos da fronteira amazônica e criando melhores e mais seguras condições de vida para a população local.

Em suma, o Brasil apóia tanto o plano de paz do presidente Pastrana como a ação desencadeada na Colômbia para reprimir o narcotráfico, mas não interferirá diretamente no que considera ser um assunto interno daquele país. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro está tomando todas as medidas a seu alcance para evitar que nem o conflito entre as Farc e as Forças Armadas colombianas, nem os cartéis criminosos se transfiram para o território brasileiro.

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