NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !


TRÊS PRÁTICAS BÁSICAS DE CONCENTRAÇÃO COMO
PREPARAÇÃO À “MEDITAÇÃO DA PLENA ATENÇÃO” OU VIPÁSSANA.


PREPARAÇÃO:
Mesmo que nossos objetivos não sejam agora a Iluminação Final, estas práticas todas nos trarão acuidade mental, capacidade de concentração reforçada, paz, tranqüilidade, saúde física e mental, enfim, pois serão eliminadas ansiedade, stress e preocupações.  Entretanto, estas práticas não são um fim em si mesmas, mas meios de se preparar o terreno mental para o cultivo mais profundo da Plena Atenção, conhecida no Budismo como treinamento mental em Vipássana, quando temos a visão de primeira mão do que somos (autoconhecimento), e das 3 características de todos os fenômenos (transitoriedade / interdependência, insatisfatoriedade e impessoalidade ).

REQUISITOS:
Estas práticas devem ser feitas diariamente, de preferência, no mesmo horário, pois isto condicionará a mente a entrar na prática sem muito esforço adicional. A intenção não é isolar ninguém do mundo, mas fortalecer a pessoa para que possa viver no caos do dia-a-dia. Porém o iniciante se beneficiará se procurar os lugares ou horas mais tranqüilas e menos barulhentos, para que não se distraia ou se irrite. 
Qualquer prática espiritual necessita de perseverança para que amadureça na pessoa e dê frutos.  Qualidades como paciência e perseverança serão indispensáveis. Para que tenhamos estas qualidades mais facilmente evidenciadas durante a prática, precisamos ter na mente a intenção correta antes de começar a praticar. A intenção correta para a prática é a altruísta, que no Budismo é conhecida como “Bodhicitta” - a mente compassiva. Nossa prática será mais fácil se a dedicarmos ao bem de  todos os seres; se a dedicarmos a alguém em particular. Tente e verá como é. Não sentamos e meditamos por nós somente. Mas por todos os seres.  A mente posta nesta direção é capaz de tudo. No Budismo as práticas espirituais são sempre dedicadas a alguém - a Buddha, aos parentes, aos doentes, aos Devas, enfim, a quem nos lembrarmos no momento.
O praticante deverá usar roupas folgadas e condizentes com a temperatura da estação do ano, para que não sinta frio ou calor. Deverá procurar sempre o relaxamento físico e mental.  Sentar ou deitar - estas posturas não são o mais importante, desde que a pessoa esteja com a coluna ereta (reta) e a atenção seja focalizada. Ensinam-se posturas diversas porque elas tem realmente um papel disciplinante sobre o corpo; dinamizando energias bloqueadas. Mas a postura não deve se tornar um estorvo para a meditação. Muitas pessoas não conseguem praticar determinada postura, pois então que tentem outra ! 

Um toque: O Budismo ensina a interdependência do corpo e da mente, daí que se um está calmo, o outro também estará pacificado; se um está agitado, o outro estará também. 

CAMINHO DO MEIO: 
Nenhuma prática budista é uma coisa rígida, ascética. Devemos seguir nosso bom senso e trilhar o Caminho do Meio, longe de todos os extremismos.  Não se exige do praticante que ele seja um atleta espiritual, mas também que ele não caia na indulgência. Cada um deverá aplicar o esforço correto para obter o melhor de sua prática, e isto cada um deve descobrir por si mesmo - qual é seu próprio Caminho do Meio, qual é seu esforço correto. 

Primeira Prática: Relaxamento / Harmonização com o ambiente:
busca da sabedoria interior: samadhi/ pañña

Relaxar  deitado(a) de costas e barriga para cima, no chão ou sobre cama dura. Não usar travesseiro ou almofadas. Pode-se utilizar tapetes no chão. Ambiente em penumbra, de preferência.  Deixar o corpo cair imóvel , como se fosse um boneco de pano e na posição que cair, ficar. Olhos fechados. Observar o corpo à procura de pontos de  tensão, para que, caso existam, possam ser aliviados trocando-se a posição como caíram.  Após estar confortavelmente deitado no chão, braços caídos bem para os lados, ou mãos entrelaçadas sobre a barriga, procurar manter a posição do corpo imóvel, sem tensões. Não se tratando de ascetismo - o praticante poderá mudar a posição do corpo sempre que estiver dolorido, ou com cãibras -, mas deve saber que a mudança constante de posição (inquietação) prejudicará sua prática consideravelmente. Por isto é melhor procurar a melhor posição naturalmente imobilizada antes de prosseguirmos.

Ouvir. Uma vez relaxados, procuramos somente ouvir os sons que nos chegam aos ouvidos. Sem querer guardá-los, sem querer repelí-los, sem querer atraí-los ou repetí-los mentalmente para nós. Vamos somente ouvir. Ficamos neste estado, e a tranqüilidade virá, primeiramente com o adormecimento do corpo. Você verá que o corpo dorme, sua respiração se torna lenta, mas sua mente estará em vigília. Você estará acordado. Não adormeça. Esta prática não é para dormir. Se cochilar, comece tudo de novo. Sua tarefa agora única e exclusivamente será ouvir os sons. Com a prática, você verá que ouve sons internos do seu corpo nunca antes percebidos, mas não se assuste ou se prenda. Continue praticando somente o ouvir sem apegos ou aversão.

Benefícios: esta prática trará primeiramente muita tranqüilidade ao corpo e à mente. Você verá como sua mente se tornará mais atenta. No seu dia a dia, as pessoas estarão falando ao seu redor, a cacofonia da cidade grande se fará presente, o mundo pode desabar. Você não se abalará. Longe de se tornar insensível ao que está acontecendo ao seu redor, você estará plenamente ciente delas acontecendo, e poderá agora agir livremente, já que agora os sons não lhe afetam mais como antes. Você os ouve e os conhece no momento em que acontecem e poderá reconhecer a todos como são. Os samurais do Japão antigo buscaram este estado, que eles definiam como deixar a mente inabalável como a base de uma montanha. Estamos fundamentando nossas mentes em bases mais estáveis. Outro benefício é a regularização das funções fisiológicas

Segunda Prática: Abrindo o Coração / Devoção 
a um modelo espiritual: karuna muditar

Uma vez praticado o relaxamento, teremos um altar pessoal em casa, com imagem ou foto ou pintura de nosso objeto de devoção particular, que no caso dos budistas, é o Senhor Buddha, ou seus discípulos realizados, ou um Deva em particular. O que importa é o que estes seres representam, pois o ato de devoção traz para nós as qualidades de Amor, Compaixão, Retidão, Altruísmo, Força Espiritual.  Esta prática nós chamamos de Puja ou Oferecimento devocional.  A devoção no Budismo também é meditativa, pois procuramos visualizar em nossas mentes as imagens dos Buddhas e Bodhisattvas, mentalizá-los agindo como seres viventes. Visualizar Buddhas, Discípulos, Bodhisattvas, Devas e Oferendas ocupa nossas mentes com o que é mais importante para nós, de uma maneira visual e pessoal, e não meramente com palavras.  Assim relembramos mais vivamente as boas qualidades do Buddha, mais do que se o fizéssemos só por meio de palavras. Entretanto, as palavras também são utilizadas, e temos o Puja cantado. Cantar sutras, acender velas e incensos, arrumar um altar, colocar o ponto focal da devoção (imagem ou pintura) em nossa frente, etc, são aparatos externos para trazer de dentro o que mais interessa: as boas qualidades, a gratidão, e a devoção pura mesmo, sem segundas intenções.  Sobre isto tudo o Budismo tem diversas práticas diferentes, que podem ser pesquisadas mais detalhadamente por cada um em particular.

Uma prática inserida neste contexto meditativo é a Meditação do Amor Universal, complementada pelo Sermão do Amor Universal. Vale a pena conhecê-los. 

Terceira Prática: Revendo as atividades do dia / vida ética: sila

Ao deitarmos no fim do dia, antes de adormecermos, e com os olhos fechados, bem relaxados, procuraremos rever todos os nossos atos visualmente, procurando nos lembrar com o máximo de detalhes, só que de trás para frente, do fim para o início!  A  idéia não é castigar-se ou premiar-se por algo realizado durante o dia, mas avaliar a possibilidade de termos feito uma tarefa qualquer de uma forma diferente, talvez melhor, por que não tentar da próxima vez?  Este é um exercício de tomada de consciência. Da próxima vez em que estivermos em situação semelhante o conhecimento de que há outra saída para uma mesma situação nos virá em auxílio.

Praticar, praticar e praticar.  Budismo é prática. É religião viva porque fala de nossas condições internas e como podemos melhorá-las em nossas vidas diárias. Ajude-se e ajude assim a todos os seres! Tudo de bom!