Buddha, Dharma e Sangha são objeto de veneração, e constituem também os chamados Três Refúgios. "Refúgios" não no sentido de "esconderijo", mas sim no sentido de "apoio". Algo em que podemos nos apoiar nas horas mais críticas. Nas vertentes budistas tradicionais as fórmulas devocionais referem-se a uma "tomada de refúgio". Mas não se trata de uma coisa "bebível", que basta tomar e deixar o estômago cuidar do resto. Não é uma coisa passiva. O movimento budista moderno FWBO da Inglaterra refere-se a esta questão como central no Caminho budista, como sendo uma "ida", um movimento total e completo de nossos seres em direção dessas Três Jóias. É uma aproximação totalmente ativa e compromissada. Assim, vamos de encontro ao refúgio no Buddha, no Dharma e na Sangha como apoios e suportes de nossa realização.

Mas o que é o Buddha ? Literalmente, a palavra deriva da raiz sânscrita "buddhi", que denota "Completa Compreensão" ou "Iluminação". Um ser humano, após muitos esforços e vidas de trabalho sobre si mesmo, é verdade, atingiu esta condição há 2.600 anos atrás, na pessoa de Siddhartha Gautama - um homem de descendência real e casta guerreira da Índia antiga. Morria Gautama e nascia o Buddha Shakyamuni. Mas o Buddha alertou-nos para o fato de que o Tathagata (Ele mesmo) não era para ser visto como uma pessoa, ou como forma, mas sim como o estado de Iluminação, ou Consciência Cósmica. Quem vê uma imagem e acredita que está vendo um retrato fiel do Buddha está completamente equivocado. O Buddha não tem forma, é Pura Consciência. Imagens são somente lembretes de que um homem atingiu este estado e o caminho está aberto também para nós. Somos Budas em potencial.

Assim, ir ao refúgio no Buddha significa que nos refugiamos nessa nossa natureza iluminada, ainda latente. A Iluminação é o único Refúgio. Tudo mais não passa de apoio temporário e limitado. Em termos devocionais, significa que prestamos uma homenagem de gratidão para com Ele, pois nos deixou um maravilhoso caminho de vida e iluminação. Por ter combinado as qualidades da Compaixão e da Sabedoria tão incrivelmente bem, o Buddha recebe hoje a devida reverência de um bilhão de pessoas.

E o que é o Dharma ? Literalmente, significa "aquilo que sustenta". O Dharma do Buddha sustenta nosso desenvolvimento espiritual. Em termos budistas, Dharma são os Ensinamentos do Buddha. Nos cânticos em língua páli, diz-se que o Buddha Dharma foi bem proclamado (ensinado) pelo Sublime; que é visível aqui e agora; que é atemporal; um convite à investigação (experimentação) que conduz ao Nirvana, e que é aberto a todos os seres dotados de visão. Por aqui tem-se indicações do quanto os Ensinamentos budistas não se apoiam em dogmas, mas sim na experimentação pessoal e intransferível da Verdade; que tem uma aproximação científica da realidade.

Os ensinamentos do Buddha são referidos normalmente como "Budismo", mas Eles não definem nenhum "ismo". Buddha não ensinou "Budismo", mas um Caminho de liberação universalmente aplicável a todos, independente de época histórica, cultura, sexo, idade ou ideologia. Estes ensinamentos constituem uma religião, uma filosofia ou uma psicologia? Nesta questão debruçou-se Peter Della Santina, em seu livro "An Introduction To Buddhist Higher Teachings" (The Buddhist Union, Singapura, 1985) onde diz que uma compreensão melhor dos Ensinamentos do Buddha vem quando compreendemos que eles refletem o aspecto fenomenológico da filosofia e o aspecto terapêutico da psicologia. E um caminho de prática.

Assim, ir ao refúgio no Dharma significa que buscamos apoio nos Ensinamentos do Sublime, vendo neles o Caminho bem explicado para atingirmos a felicidade. Refletindo nas qualidades do Dharma, temos em mente o que é mais importante para nós - ser feliz.

E o que é Sangha ? É o conjunto daqueles que provam e provaram os Ensinamentos. A Sangha ideal é constituída por todos aqueles que atingiram a Iluminação. Mas Sangha também são todos aqueles que estão procurando praticar os Ensinamentos do Buddha, como leigos ou monges, e sua importância reside no fato de que é onde encontramos nossos amigos espirituais. Uma vez Ananda declarou que a amizade é meio caminho andado na trilha espiritual, e o Buddha corrigiu-o dizendo que a amizade espiritual é todo o caminho. O suporte dos amigos não tem preço, bem como as valiosas orientações do guia espiritual.

Portanto, buscar refúgio na Sangha significa que nos lembramos daqueles que obtiveram o fruto supremo da prática, bem como consideramos os amigos espirituais como apoio no Caminho. Num nível mais amplo, refugiar-se na Sangha ou Comunidade significa que os budistas, ao invés de fugirem do mundo, estão trabalhando ativamente na construção compassiva de um mundo melhor, tomando-se os seres humanos como elementos dessa Sangha.

Aquele que possui estas jóias reluzentes passa além da morte ou do renascimento; descobre-se vivendo na imortalidade e libertação. Porém, esta jóia não pode ser encontrada em nenhum lugar, exceto no desenvolvimento do lótus (padma) de seu próprio coração.