NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !


BUDISMO: O QUE É???

Não é uma crença. Não é dogmático. Não é mais um sistema de cultos exóticos. O que hoje conhecemos como “Budismo” é a nossa própria vida colocada no lado mais positivo e desenvolvido . Budismo é autocultura, busca interior daquilo que é verdadeiro. Assim, o homem é colocado como o pivot  sobre o qual tudo reage; põe a responsabilidade nas mãos do homem, já que somos ensinados que assim como semeamos e cuidamos do semeado, colheremos.  Somos aquilo que pensamos ser; fazemos a nossa própria “salvação” ou “condenação”  (estas palavras estão entre aspas porque, estritamente falando, são conceitos alheios ao Budismo e a qualquer caminho espiritual oriental), conforme nossos atos e pensamentos. 

Por isto, para quem quer um caminho de ação , e não de fé cega baseada em dogmas criados pelo homem; de iniciativa altruísta ao invés de espera pelo “Deus dará”; para quem quer realmente conhecer-se e dissipar em sua mente as sementes da ignorância, apego, anseios e dores; para quem quer triunfar sobre suas próprias imperfeições, a purificação em autocultura é o Caminho. Chamamos Caminho, porque a liberdade da mente é uma conquista trabalhada com esforço e disciplina. É um Caminho por que nós devemos fazer a nossa parte!!! Por isto mesmo talvez, por exigir esforço, não agrade às massas. O torpor, caracterizado pelos Ensinamentos budistas como um dos venenos ou impedimentos, é comum a todos os seres humanos. 

Oração, como expressão devocional ou como forma de agradecimento é uma coisa natural e desejável. Mas, a oração, como forma de petição, promessas feitas a “santos” - tudo isto são instrumentos de magia negra, isto é, procedimentos ocultos utilizados para a obtenção de favores ou vantagens pessoais. Desta forma, a oração não difere das macumbas, ebós e feitiçarias que muitos condenam, mas repetem inconscientemente. Realmente as pessoas que oram para obter algum benefício podem obtê-lo , porque através do procedimento da oração reforçam sua intenção por determinada coisa ou objeto; e como todos os budistas sabem, intenção também é Karma, isto é, ação com sua respectiva e infalível resposta. Toda ação gera uma reação, e a humanidade, desconhecendo este princípio universal, atribui os seus “milagres” aos seus santos ou deuses fabricados. O ser humano tem uma natureza mágica e divina que desconhece. Assim, não confia na sua própria capacidade e atribui seus feitos a outrém. Além disto, a oração do “dá-me isto” só serve para reforçar nosso egoísmo feroz. 

 O que isto tudo tem a ver com o sofrimento humano?  Podeis rogar a vida inteira a algum Supremo, deuses ou santos, que obterão pequenas migalhas, mas não obterão a liberdade, nem a Paz de suas mentes. Podeis rogar, que milagre algum dará fim ao sofrimento. As pessoas podem ser curadas de doenças, receber dádivas materiais, voltarem a ver depois de cegas... Como elas administram seus sofrimentos depois disto? Pararam de sofrer? Não morrerão mais? A resposta é não!  Raciocinemos conforme os dogmas estabelecidos pelas outras religiões: se existe um Poder Supremo e Perfeito, que é capaz de tudo e que, dizem, é benevolente e amoroso, como pôde criar seres imperfeitos, colocar um aqui e outro acolá desigualmente, sem critério algum de merecimento (já que todos nascem iguais pela primeira vez), e ainda por cima exige destas criaturas imperfeitas o melhor, porque senão serão  torturadas eternamente?!! Acima de tudo, conhecido como “pai” amoroso, cria um mundo cheio sofrimentos, jogando seus “filhos amados” de qualquer jeito nele. Se o Poder Supremo consente em que soframos, que oração poderá reverter o jogo? Será que este “Deus” é orgulhoso, e quer ter só o gostinho de ver as pessoas desesperadas implorando a seus pés para aí pensar em fazer alguma coisa??? A vaidade e orgulho é o nome desse Deus!!! A tudo isto os budistas são ensinados que são teorias contraditórias, sem fundamento real; histórias fantásticas que são fruto da ignorância humana. Mesmo assim, são mais fáceis de se acreditar, porque não exigem o esforço da pessoa para combater suas tendências mentais negativas - o que é realmente um trabalho árduo. 

Em qualquer religião encontramos abundantes referências aos “milagres”, desde a mais primitiva até a mais sofisticada. Mas não podemos fiar nossas vidas em milagres. Vá a uma igreja que venda milagres e constatará pessoas que não foram atendidas, que não voltam a andar ou a ver, em número maior do que as que dizem receber alguma “graça”. Isto acontece devido ao Karma individual e coletivo. 

Obviamente, o Budismo também tem suas histórias de feitos milagrosos. Só que não dá muita ênfase a isto. Quando alguém demonstra possuir poderes teúrgicos, as pessoas logo esquecem dos Ensinamentos e passam a venerar o fantástico, a venerar a personalidade. Cultos que enfatizam o caráter “divino” de tais mestres se perdem nisto. O Buddha também podia levitar, estar em dois lugares ao mesmo tempo; conhecia o íntimo das pessoas e ensinava para elas de acordo.  Mas Ele evitou ao máximo dar demonstrações milagrosas, porque sabia que as pessoas se agarrariam não a Seus Ensinamentos, mas à Sua Personalidade!!! Muitos discípulos do Buddha obtiveram as “siddhis”, ou “poderes” e realizaram “milagres”, como Angulimalla, um assassino convertido à vida santa pelo Buddha. Referências fantásticas abundam nos templos dos budistas tibetanos, onde imagens da Bodhisattva Kwanyin choram de vez em quando...Vários missionários cristãos e aventureiros do século passado testemunharam estas coisas. Mas não é isto que interessa! Milagre algum nos livra do sofrer. Não é Buddha, nem Cristo, nem Divindade que nos tirará da dor. Santos podem levitar, videntes profetizarem, a água virar vinho ou suco de laranja. Que proveito a humanidade tirou destas coisas até hoje?  Pouquíssimo mesmo. 

Obviamente, o Budismo tem diversos termos para designar o Princípio Universal  - não O nega, nem nega diversos seres divinos e não-humanos, que, em algumas circunstâncias, dão alguma ajuda à humanidade. Mas a ênfase budista é na libertação, e não na ilusão de truques, ainda que fantásticos. Devemos fazer a nossa parte.

Podemos dizer que o sofrimento é nossa própria obra. Daí estar em nossas próprias mãos sublimá-los. Porque o sofrimento é uma doença que tem como pano de fundo a ignorância acerca do que somos e da realidade das coisas. O sofrimento pode ser de três tipos, a saber: sofrimento físico, que é aquele gerado pelas doenças, processo de envelhecimento e morte; sofrimento psicológico, que é aquele gerado pelo apego às coisas transitórias; e sofrimento - aspecto filosófico, que é aquele gerado pela condicionalidade ou natureza limitada de todas as coisas. Sofremos devido a tudo isto. E, com exceção do primeiro tipo mencionado, o sofrimento tem causas puramente mentais. Então é na mente que devemos começar qualquer trabalho. Veja! Em você está o Caminho! Dentro, e não fora! É conhecendo quem somos que alarga consciência e compreensão intuitivas. Tudo o que fazemos e pensamos está baseado na nossa compreensão atual das coisas. Uma melhor compreensão ou visão mais clara das coisas significa menor envolvimento com o sofrimento. Quimeras? Utopia? Só quem não vê o óbvio achará isto!  Que o sofrimento seja visto como “natural”, significa isto que devamos nos entregar a ele, ou procurá-lo deliberadamente? Não acho. Alguns consideram a naturalidade do sofrimento como parte integrante da vida e que é impossível erradicá-lo. Tudo bem, é uma verdade relativa. Enquanto tivermos um corpo físico, limitado, estaremos sujeitos aos seus sofrimentos. Mas as duas outras classes de sofrimentos mentais são perfeitamente contornáveis. O Buddha identificou as causas mentais do sofrimento, e podemos encontrar referências a isto em diversos sutras. 

Entretanto, devido à interdependência de corpo e da mente, uma mente tranqüila e pacífica imbuirá o corpo com suas vibrações benéficas, prevenindo diversas   enfermidades. Assim, até o sofrimento físico é atenuado. De forma análoga, uma mente cheia de raiva, tensão, etc, só faz acumular doenças no corpo. 

O Budismo é um meio salutar de limpar a mente, ensinando como podemos aliviar a dor. Baseando se na moralidade, concentração e na Sabedoria interior, unidas ao Amor, à Compaixão e ao serviço, o Budismo é ferramenta por excelência para o Bem. Se no mundo houve uma tremenda  força pacificadora de povos, uma mensagem de Paz histórica, esta força e mensagem foram, são ainda , e será a Mensagem de Buddha

 Mas tudo isto é uma conquista. Com uma bagagem de dispersão mental nas costas, ninguém pode esperar tornar-se um Buddha da noite para o dia. Mas vale a pena tentarmos a meditação e tudo aquilo que leve ao nosso Autoconhecimento. ao nosso Caminho do Meio, ao  Nirvana. 

Disciplina é liberdade,
 Compaixão é fortaleza,
 Ter bondade é ter coragem

Carlos Lessa