Nas palavras de Richard Bach, autor de “Fernão Capelo Gaivota”, o “desespero é desperdiçar as oportunidades”.
Habitualmente nós nos atemos a somente um dos aspectos de um dado fenômeno ou acontecimento, o qual é dual por natureza (nossa realidade é sempre feita de pares de opostos), porque escolhemos fixar nossa atenção num único ponto, em detrimento da totalidade.
Quando não estamos bem conscientes, aqui e agora, deixamos nossa mente interpretar a realidade dos fatos, ao invés de conhecê-los como realmente são. Focalizamos nossa mente, nosso ar, nossa energia em um aspecto da realidade (logo o entendimento daí decorrente é parcial).
Em tempos de crise, seja a nossa crise brasileira, a crise moral ou espiritual, os valores todos são confundidos, as opiniões são diversas, e o certo é tomado pelo errado. Tudo é confusão. Essa confusão, aliada à percepção unilateral dos fenômenos, gera mais ignorância e confusão - isto é - mais crise.
A única forma de amenizar ou terminar com a crise é através da constante atenção sobre nossa mente, que irá trazer o conhecimento de nossas potencialidades e obstáculos. Em última instância, o polimento da visão mental e a clareza da compreensão são as únicas chaves para transformar uma situação desfavorável em favorável. O meio de se atingir isto começa em nós mesmos, pela auto-cultura. Já que tudo é interdependente, o ambiente ao nosso redor tende a se elevar junto com a gente quando nós mesmos também melhoramos a qualidade de nossa percepção e ações . A vigilância é fator primordial, porque só estaremos aptos a concretizar a mudança para melhor se estivermos atentos às oportunidades, no aqui e agora. Na nossa desatenção habitual, as oportunidades estão passando e nós as desperdiçando...
Os tempos de crise podem ser ruins, mas aqueles que possuem o discernimento correto, que nada mais é do que uma visão clara das coisas advinda de um mental tranqüilo e treinado na atenção e concentração (meditação), são obviamente os mais aptos a tomarem os riscos e aproveitarem as oportunidades. Para o ignorante, a crise é motivo de lamentação, desespero e procura de meios mágicos para a resolução da crise que ele mesmo deve resolver. O homem deve resolver o seu próprio enigma...
Para alguns outros, a crise fornece o necessário desafio para mudar a situação do momento. Se ele não está satisfeito, desejará mudar, e parando para pensar, verá que deve começar um trabalho em si próprio, paralelo a qualquer trabalho externo. Então as oportunidades deixarão de ser despercebidas, e ações e resoluções serão tomadas. Mesmo para aquele que tem um mínimo de visão consegue sair vitorioso de uma crise. O discernimento pode ser aplicado a qualquer aspecto da vida, material ou espiritual, e quanto mais serenidade e autoconfiança tivermos, mais poderemos realizar. Tempos de crise são épocas excelentes para o crescimento, seja em termos materiais ou espirituais. Mas tudo só depende de nós, de fazermos o esforço devido, da disposição inicial de querer mudar. Sim, porque existem muitos satisfeitos com o que está aí. Não querem mudança, mas empurrarem a existência com a barriga, sem questionamento ou investimento neles próprios. É mais fácil...
O senhor Buddha ensinou um caminho completo, no qual a vigilância pode ser aplicada a qualquer coisa. Com o treinamento meditativo em plena atenção , a serenidade, a autoconfiança, a clareza da mente e todos os outros benefícios serão nossos. Mas nada vem facilmente, e devemos ter determinação e tolerância para com nossos hábitos arraigados.
De fato, crise é a chave do crescimento, pois no beneplácito ninguém move uma palha. Tempos de crise são promissores para aquele que sabe, que vê, que trabalha e espera pacientemente. Assim, crise é sinal de esperança.
Desesperados aqueles que não se conhecem. Que ninguém deixe de ter em vista o seu objetivo. E qual é o objetivo do ser humano? O homem age para ser feliz. Mas ele se arrisca sob o crivo da ignorância, e gera para si e outros mais sofrimentos.
Devemos levar a vida de forma inteligente, pois na realidade somos os únicos responsáveis pelo nosso destino, conforme o construímos hoje na luz da sabedoria ou na plena escuridão da ignorância.