NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

UMA CURIOSA ATITUDE
Uma curiosa atitude foi estabelecida em nossa busca da felicidade. Nós presumimos que, a fim de sentir a vida profundamente satisfatória, temos de encontrar as coisas – filmes, relações, comidas, bebidas, férias, sexo, livros, meditação – que nos concederão esta satisfação profunda. A conclusão que tiramos disto é que quanto mais experiências gratificantes pudermos ter em um menor espaço de tempo, mais felizes seremos. De fato, estamos até preparados para passar por dificuldades – mesmo misérias – para alcançar o máximo de coisas boas na vida [o autor afirma que procuramos a felicidade a todo custo, externamente].

Mas se olharmos um pouco mais de perto nossos prazeres, eles consistem naquelas atividades – chamemo-las de trabalho ou lazer -, às quais não oferecemos qualquer resistência. Uma pessoa completamente absorvida em assistir a um filme, ao por os pratos na mesa, ou ao escalar uma montanha, está feliz por não experimentar qualquer conflito. A pessoa não se sente entediada, nem sente ressentimento, nem vergonha, ansiedade ou desejo. A mente não está em qualquer outro lugar a não ser na atividade que está realizando [o autor nos faz entender que nas atividades em que estamos por inteiro, atentos e tranqüilos, estamos felizes, e normalmente não sabemos disso].

A meditação é aplicação prática de uma idéia simples : a satisfação, a felicidade e a absorção não são subproduto de alguma experiência gratificante, mas uma maneira de se acercar das coisas. A felicidade é uma coisa que temos de trazer para a vida, e não algo que a vida nos concede [gratuitamente, como o ar]. Isto pode soar como uma idéia interessante, mas é profundamente estranha a todos. Esta idéia sugere que podemos desenvolver este estado de absorção que chamamos de felicidade, encontremo-nos ou não em circunstâncias felizes. E é aqui que a meditação entra. Podemos descobrir a felicidade como uma fonte para o serviço da vida ao nosso redor, ao invés de somente devotar-nos à vã busca da felicidade instantânea, livre de problemas.

O propósito da meditação é a retomada das rédeas da experiência do coração em sua solitária intervenção no mundo. Ela nos ajuda a habitar o mundo “real”, ao invés de habitarmos em semiconsciência nosso próprio mundo interior, dentro do mundo exterior, e misturarmos os dois. Somente em plena presença do mundo interior poderá o mundo exterior ser plenamente presente para nós.

A experiência de nos sentirmos desconectados de outras pessoas, dos objetos, desconectados de uma profunda apreciação do mundo ao nosso redor é realmente um sintoma de um self desconectado. Quanto mais rapidamente nossas mentes voarem de uma experiência para outra – procurando por alguma coisa que consiga prender a atenção – mais as experiências tornam-se fragmentárias e superficiais.

A desgastante busca de nutrição [mental, física e espiritual] a partir da vida ao nosso redor [como faz um vampiro] é essencialmente inconsciente. Nos filmes de Drácula, o sinistro Conde é reconhecido como um vampiro por não ser refletido num espelho; sua natureza é tal que ele nunca se vê. Ele também é imortal – ele se recusou o presente da impermanência –, porém seu medo da perda e da separação [da vida] de fato o desconecta da vida e da luz. E somente duas coisas podem reduzi-lo a pó: a exposição à luz do dia ou trespassar uma estaca através de seu coração. Para colocar isto de forma menos dramatizada, a vida destituída de significado que Drácula simboliza é vulnerável à luz da consciência e à abertura do coração.

As duas práticas meditativas budistas mais fundamentais lidam com o cultivo da consciência e a abertura do coração [Amor Universal, Compaixão]. Ambas são exercícios diretos e simples para a nossa vida cotidiana. Contudo, lembrei aqui a imagem e vida do Conde Drácula, em sua luta de vida e morte, contra seu velho adversário, o Dr. Van Helsing, para enfatizar que a meditação representa algo menos perigoso, uma radical mudança de direção para a psique. Ao mesmo tempo, esta profunda mudança envolve uma paciente aceitação, uma abertura, um grande cuidado amoroso para com nossos estados mentais, à medida que eles começam a revelar-se para nós em meditação.

Em termos budistas tradicionais, a sabedoria vem com uma igualmente protetora compaixão, a qual não exclui ninguém, nem a nós mesmos. Não há ninguém experimentando nossos estados mentais a partir de fora deles. Nós somos eles. Se quisermos experimentar diferentes estados mentais, temos de nos tornar eles. E este processo começa no momento em que criamos uma intenção de meditar.

A meditação é uma prática e não uma performance, ou desempenho. Você precisa por de lado todas as coisas que causem preocupação e sentar-se quieto, relaxado, suavemente, desperto, olhos gentilmente semicerrados. Então, começar a apreciar os momentos vazios. Estes momentos não são de ninguém. Nem eles são um investimento para pagamento futuro. Nem você precisa dar seu máximo para tê-los. Saboreie-os tranqüilamente. Observe os [pensamentos] pipocarem na sua mente...observe a quantidade de reações que você produz ...agora, veja se você é suficientemente paciente para liberar a qualidade [de consciência] brilhante, segura e espaçosa que pode surgir nestes momentos.

Este artigo foi extraído do livro “Meditating” ( “Meditando” ), de Jinananda publicado pela Windhorse em 2.000 e na Revista Dharmalife da FWBO, de Inverno de 2.000, página 66. Comentários: Carlos Lessa.
 

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