Um certo monge Zen, um homem de grande habilidade desde sua adolescência
e fluente na língua inglesa, uma vez conduziu um curso de Zen para
um grupo de americanos. Embora ele tenha usado seu excelente Inglês
da melhor maneira, ele não ficou completamente satisfeito com a
resposta de sua audiência. Após refletir sobre o assunto,
e tentar várias aproximações, ele decidiu abandonar
as palestras e empregar a meditação sentada - ZAZEN -, por
fim. Vivendo com os estudantes, ele mesmo sentou-se com eles em meditação.
No silêncio das sessões de meditação, os americanos
alcançaram um grau de compreensão e vieram a apreciar o apelo
distinto do Zen. Isto mostra o significado atual da prática em conexão
com a religião. |
No Sutra da Grande Morte, é dito que mesmo pessoas que tem ouvido
a Lei ostensivamente não diferem daqueles que nunca a escutaram,
se eles não praticam o que eles aprenderam. O Sutra compara tais
pessoas àquelas que, a despeito de longos discursos e explicações
sobre comida, permanecem com fome. Entretanto, não somente limitada
a assuntos de religião a natureza da prática estende-se a
todos os aspectos da vida. |
Por exemplo, fazendo uma comparação: não importa
quantas vezes um treinador de baseball explique a maneira de rebater uma
bola "curva", nenhum batedor poderá dominar as técnicas com
base em ouvir somente. A bola voa rapidamente, e não há tempo
para refletir em como ela será rebatida. O batedor deve reagir à
bola inconsciente e instantaneamente, de forma que ele deve praticar dia
após dia rebater bolas até que seus músculos estejam
condicionados e a mente treinada a reagirem naturalmente da maneira correta. |
A mesma coisa podemos dizer de estudos acadêmicos. Uma pessoa
pode ser ensinada a resolver problemas algébricos e pensar que entende,
mas o entendimento abstrato não é suficiente. O estudante
deve resolver diversos problemas, até que sinta que os princípios
utilizados foram absorvidos pela mente. |
Assuntos profundos necessitam de uma abordagem cuidadosa. Uma simples
e única leitura de uma escritura religiosa não é suficiente
para permitir que o conteúdo penetre profundamente. Por esta razão,
muitas pessoas gostam de sublinhar passagens ou fazer anotações
nos livros para ajudar. |
O filósofo-educador japonês Yoshida Shoin (1830-1859)
afirmava que metade da energia de um leitor deveria ser gasta em fazer
anotações. "Memorizar é uma maneira de "socar" informações
para dentro do cérebro. Mas o método usual de sublinhar e
repetir oralmente não é muito eficiente. Embora demande tempo
e esforço, fazer notas é uma ajuda muito melhor à
memorização. ...Porque fazer notas transmite material para
o cérebro, tanto por contato visual quanto pelo movimento da mão,
envolvida numa atividade intelectual. ...Fazer anotações
deixa fortes impressões na memória". |
Isto é verdade, porque escrever e copiar é prática
atual. Uma das cinco práticas para expositores da Lei é justamente
copiar sutras. Antigamente, quando não existia imprensa ou não
era disponível, os budistas tinham na cópia dos sutras a
mão uma prática considerada altamente meritória. |
Na sua totalidade, as 5 Práticas para expositores, que são:
aceitar e praticar os Ensinamentos, lê-los (estudá-los), recitá-los,
expô-los e copiá-los, constitui um maravilhoso curso de disciplina
de uma forma consoante com a psicologia humana. Todo o ser é envolvido
nesta tarefa. Aceitar e praticar os Ensinamentos significa manter
e colher seus frutos. Estas são as condições básicas
para o surgimento da fé, baseada na visão e na prática. |
A leitura - neste caso, geralmente silenciosa - dos sutras estimula
o crescimento da fé. Seus méritos estão na maneira
como leituras silenciosas repetitivas implantam na mente o arcabouço
geral daquilo que será comprovado pela experiência própria. |
Cantando os sutras, de memória ou com a ajuda de um texto, reforça
as impressões adquiridas na leitura silenciosa e aprofunda a introspeção. |
Expor os Ensinamentos ajudam outras pessoas entenderem o Caminho e
suas vidas. Ao contrário das outras quatro práticas, que
beneficiam à própria pessoa, a prática da exposição
do Dharma beneficia a ambos os lados e deve ser altruísta
por natureza. |
Numa audiência para a qual os Ensinamentos são explicados,
o entendimento de cada um varia. O expositor deve saber variar sua aproximação
e seu método para acomodar às necessidades de sua audiência. |
Tudo no universo está em constante atividade. Seres humanos
harmonizam-se mais intimamente com o resto do universo quando eles também
estão ativos, especialmente ativos de forma criativa. |
Atividades em nome da felicidade dos outros e da paz são consistentes
com a grande lei universal, e consequentemente o tipo mais valioso de atividade
possível. Por esta razão, o Budismo denomina pessoas envolvidas
em tais atividades de "Bodhisattvas" e as classifica como supremas entre
seres humanos. |
A despeito do background cultural, ocupação, ou status
social, todas as pessoas que conhecem o valor de liderar outros para o
Caminho do Buddha, por exemplo, são Bodhisattvas.
Pois não se procura tornar as pessoas budistas só para aumentar
o número de budistas no mundo, mas para mostrá-las uma maneira
de aliviar seu fardo de ignorância e sofrimentos, levando-as à
Felicidade. |
Obviamente o expositor da Lei, nem mesmo um bodhisattva, são
o Buddha, despertos, e por isto devem agir com sinceridade
e compaixão para melhor servir. Devem procurar aprofundar mais e
mais suas práticas e tornarem-se verdadeiros amigos no Caminho (Kalyanamitta). |
Quando o campo de atividade é muito vasto, os esforços
empregados podem se dissolvidos e perdidos. Para contornar isto, os expositores
devem dedicar-se a uma audiência limitada. A Associação
de budistas leigos Rissho Kosei-kai tem um lema: para cada pessoa, uma
atenção personificada. Quando o ator de teatro Kabuki Kikugoro
Onoe V foi inquirido como fazia para que as pessoas na audiência
chorassem, ele explicou: "Quando subo ao palco, corro os olhos pela platéia
e seleciono uma pessoa para quem eu represento da melhor maneira possível
até o fim. Quando aquela pessoa começa a chorar, o resto
da platéia segue o exemplo”. Este é um exemplo excelente
da concentração dos esforços num grupo limitado. |
Sempre se diz que o ponto de motivador da fé é um "encontro
pessoal com o Buddha". Ele era capaz de ensinar para cada
um no seu nível de compreensão, e, para aqueles que O conheceram,
Sua aparência e Seus gestos diziam mais do que Suas palavras. O expositor
da Lei deveria ser a Lei, como o foi Buddha, que poderia
ensinar mesmo com simples gestos. |
Nós budistas contatamos pessoas diariamente nas quais esperaríamos
que o desejo por Iluminação e liberação aparecesse.
Porém, não devemos impor nada a ninguém; só
podemos expor e mostrar da melhor maneira que somos capazes. Mas devemos
lembrar que ações ensinam melhor do que palavras. Para qualquer
pessoa, o que mais chama a atenção sobre os outros são
suas ações. No caso de um instrutor o cuidado deve
ser total, pois seus atos serão, corretamente ou não, identificados
aos Ensinamentos do Buddha. Por isto todo instrutor genuíno deve
se empenhar na autocultura e autoconhecimento, para que isto reflita em
nossos atos diários. Modesta e despretensiosa, uma liderança
deste tipo sempre produz bons resultados para todos. |