NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

ENSINAR E APRENDER
Dana: Carlos Lessa
Um certo monge Zen, um homem de grande habilidade desde sua adolescência e fluente na língua inglesa, uma vez conduziu um curso de Zen para um grupo de americanos. Embora ele tenha usado seu excelente Inglês da melhor maneira, ele não ficou completamente satisfeito com a resposta de sua audiência. Após refletir sobre o assunto, e tentar várias aproximações, ele decidiu abandonar as palestras e empregar a meditação sentada - ZAZEN -, por fim. Vivendo com os estudantes, ele mesmo sentou-se com eles em meditação.  No silêncio das sessões de meditação, os americanos alcançaram um grau de compreensão e vieram a apreciar o apelo distinto do Zen. Isto mostra o significado atual da prática em conexão com a religião. 
No Sutra da Grande Morte, é dito que mesmo pessoas que tem ouvido a Lei ostensivamente não diferem daqueles que nunca a escutaram, se eles não praticam o que eles aprenderam. O Sutra compara tais pessoas àquelas que, a despeito de longos discursos e explicações sobre comida, permanecem com fome. Entretanto, não somente limitada a assuntos de religião a natureza da prática estende-se a todos os aspectos da vida.
Por exemplo, fazendo uma comparação: não importa quantas vezes um treinador de baseball explique a maneira de rebater uma bola "curva", nenhum batedor poderá dominar as técnicas com base em ouvir somente. A bola voa rapidamente, e não há tempo para refletir em como ela será rebatida. O batedor deve reagir à bola inconsciente e instantaneamente, de forma que ele deve praticar dia após dia rebater bolas até que seus músculos estejam condicionados e a mente treinada a reagirem naturalmente da maneira correta.
A mesma coisa podemos dizer de estudos acadêmicos. Uma pessoa pode ser ensinada a resolver problemas algébricos e pensar que entende, mas o entendimento abstrato não é suficiente. O estudante deve resolver diversos problemas, até que sinta que os princípios utilizados foram absorvidos pela mente. 
Assuntos profundos necessitam de uma abordagem cuidadosa. Uma simples e única leitura de uma escritura religiosa não é suficiente para permitir que o conteúdo penetre profundamente. Por esta razão, muitas pessoas gostam de sublinhar passagens ou fazer anotações nos livros para ajudar.
O filósofo-educador japonês Yoshida Shoin (1830-1859) afirmava que metade da energia de um leitor deveria ser gasta em fazer anotações. "Memorizar é uma maneira de "socar" informações para dentro do cérebro. Mas o método usual de sublinhar e repetir oralmente não é muito eficiente. Embora demande tempo e esforço, fazer notas é uma ajuda muito melhor à memorização. ...Porque fazer notas transmite material para o cérebro, tanto por contato visual quanto pelo movimento da mão, envolvida numa atividade intelectual. ...Fazer anotações deixa fortes impressões na memória".
 Isto é verdade, porque escrever e copiar é prática atual. Uma das cinco práticas para expositores da Lei é justamente copiar sutras. Antigamente, quando não existia imprensa ou não era disponível, os budistas tinham na cópia dos sutras a mão uma prática considerada altamente meritória.
Na sua totalidade, as 5 Práticas para expositores, que são: aceitar e praticar os Ensinamentos, lê-los (estudá-los), recitá-los, expô-los e copiá-los, constitui um maravilhoso curso de disciplina de uma forma consoante com a psicologia humana. Todo o ser é envolvido nesta tarefa. Aceitar e praticar os Ensinamentos significa manter   e colher seus frutos. Estas são as condições básicas para o surgimento da fé, baseada na visão e na prática.
A leitura - neste caso, geralmente silenciosa - dos sutras estimula o crescimento da fé. Seus méritos estão na maneira como leituras silenciosas repetitivas implantam na mente o arcabouço geral daquilo que será comprovado pela experiência própria.
Cantando os sutras, de memória ou com a ajuda de um texto, reforça as impressões adquiridas na leitura silenciosa e aprofunda a introspeção.
Expor os Ensinamentos ajudam outras pessoas entenderem o Caminho e suas vidas. Ao contrário das outras quatro práticas, que beneficiam à própria pessoa, a prática da exposição do Dharma beneficia a ambos os lados e deve ser altruísta por natureza.
Numa audiência para a qual os Ensinamentos são explicados, o entendimento de cada um varia. O expositor deve saber variar sua aproximação e seu método para acomodar às necessidades de sua audiência.
Tudo no universo está em constante atividade. Seres humanos harmonizam-se mais intimamente com o resto do universo quando eles também estão ativos, especialmente ativos de forma criativa.
Atividades em nome da felicidade dos outros e da paz são consistentes com a grande lei universal, e consequentemente o tipo mais valioso de atividade possível. Por esta razão, o Budismo denomina pessoas envolvidas em tais atividades de "Bodhisattvas" e as classifica como supremas entre seres humanos.
A despeito do background cultural, ocupação, ou status social, todas as pessoas que conhecem o valor de liderar outros para o Caminho do Buddha, por exemplo, são Bodhisattvas. Pois não se procura tornar as pessoas budistas só para aumentar o número de budistas no mundo, mas para mostrá-las uma maneira de aliviar seu fardo de ignorância e sofrimentos, levando-as à Felicidade.
Obviamente o expositor da Lei, nem mesmo um bodhisattva, são o Buddha, despertos, e por isto devem agir com sinceridade e compaixão para melhor servir. Devem procurar aprofundar mais e mais suas práticas e tornarem-se verdadeiros amigos no Caminho (Kalyanamitta).
Quando o campo de atividade é muito vasto, os esforços empregados podem se dissolvidos e perdidos. Para contornar isto, os expositores devem dedicar-se a uma audiência limitada. A Associação de budistas leigos Rissho Kosei-kai tem um lema: para cada pessoa, uma atenção personificada. Quando o ator de teatro Kabuki Kikugoro Onoe V foi inquirido como fazia para que as pessoas na audiência chorassem, ele explicou: "Quando subo ao palco, corro os olhos pela platéia e seleciono uma pessoa para quem eu represento da melhor maneira possível até o fim. Quando aquela pessoa começa a chorar, o resto da platéia segue o exemplo”. Este é um exemplo excelente da concentração dos esforços num grupo limitado.
Sempre se diz que o ponto de motivador da fé é um "encontro pessoal com o Buddha". Ele era capaz de ensinar para cada um no seu nível de compreensão, e, para aqueles que O conheceram, Sua aparência e Seus gestos diziam mais do que Suas palavras. O expositor da Lei deveria ser a Lei, como o foi Buddha, que poderia ensinar mesmo com simples gestos.
Nós budistas contatamos pessoas diariamente nas quais esperaríamos que o desejo por Iluminação e liberação aparecesse. Porém, não devemos impor nada a ninguém; só podemos expor e mostrar da melhor maneira que somos capazes. Mas devemos lembrar que ações ensinam melhor do que palavras. Para qualquer pessoa, o que mais chama a atenção sobre os outros são suas ações.  No caso de um instrutor o cuidado deve ser total, pois seus atos serão, corretamente ou não, identificados aos Ensinamentos do Buddha. Por isto todo instrutor genuíno deve se empenhar na autocultura e autoconhecimento, para que isto reflita em nossos atos diários. Modesta e despretensiosa, uma liderança deste tipo sempre produz bons resultados para todos.  


AÇÕES ENSINAM MELHOR DO QUE PALAVRAS
Houve antigamente no Tibet um monge chamado Drom. Um dia, Drom viu um homem perambulando num relicário. "Perambular no relicário é bom. A prática ainda é melhor", falou para aquele homem. Então o homem refletiu: “Ler um livro sagrado deve ser melhor". Drom cruzou com este homem outra vez e disse-lhe: “Ler um livro sagrado é bom, a prática ainda é melhor". O homem refletiu: “Isto ainda não é suficiente. Se eu fizer meditação, esta será certamente a prática". Drom o viu em meditação e disse-lhe: "A meditação é boa; a prática, ainda melhor". O homem ficou espantado e perguntou: “Como é que se pratica?". Drom respondeu: “Não estar vinculado a esta vida; isto faz com que sua mente converta-se à prática". Drom disse isto porque toda prática deve ser despojada do apego.