NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

ERROS E INCOMPREENSÕES COMUNS ACERCA DO BUDISMO

Julgo oportuno este trabalho, a fim de que ele restabeleça o verdadeiro sentido da mensagem budista, como os budistas ensinam, e não como partidários de outras religiões o vêem.
Este trabalho surgiu devido às palavras de um defensor da Igreja Católica e de um pastor da Igreja “Universal”; contra as outras religiões eles estão unidos nas mesmas calúnias e incompreensões. Nos seminários teológicos, aprendem a justificar e glorificar seus dogmas às custas do rebaixamento e visão deturpada das outras religiões.
O autor destas linhas uma vez entrou numa livraria, pegou um livro da prateleira com uma bonita capa, mostrando cenas orientais com monges e templos, e o abriu para ver do que se tratava. Qual surpresa, quando viu que cada uma das religiões antigas e atuais ali era sumariamente atacada e caluniada. No fim do livro surge o cristianismo imaculado. ... Pelo menos o cristianismo deles, é claro! 
Presumivelmente, os cristãos devem deter as únicas chaves do Céu e devem pensar que “quem não está do meu lado está contra mim”. Entretanto, será desnecessário dizer que todo tipo de incompreensão se deve ao fato de nos agarrarmos às palavras, e as palavras são limitadas; e que um sistema de pensamento transplantado de sua origem não pode ser entendido como se entende aqui o cristianismo, por exemplo, de forma não-experimental e teo-alógica?

Incompreensão nº 1:
O Budismo é doutrina essencialmente negativa, ateísta, aniquilacionista, que procura o nada ou o vazio como suprema realização, etc.
 
O Budismo ensina:   “Todas as coisas são impermanentes
   Todas as coisas são interdependentes
   Toda existência implica sofrimento
   Nirvana é Paz.”
Estes versos dão a impressão, para aquele que só sabe olhar a superfície ou aparências, que o Budismo é algo “negativo”. Dizem que a Doutrina é algo semelhante aquele estilo de literatura chamado Realismo, por mostrar demais detalhadamente os aspectos negativos dos fenômenos e da existência terrena.
Mas isto é uma estratégia didática. É mais coerente começar estudando os aspectos desta vida e do mundo para, somente depois, passar-se ao estudo - ou a prática dos aspectos transcendentais da vida espiritual e da Realidade. Semelhante a Yoga, que começa primeiramente com exercícios físicos e, depois de dominado o físico, refina-se cada vez mais a prática, passando para os níveis mais altos até chegar ao espiritual, o Buddha expôs inicialmente as 3 características básicas das coisas MANIFESTADAS, para depois, NA PRÁTICA, passar a corroborar o transcendente.
Veja as pessoas vivendo cada dia na ignorância e inconsciência delas mesmas. Todas sentem a transitoriedade das coisas e a insatisfatoriedade da vida terrena, mas é uma consciência fraca a esse respeito. Se realmente estivéssemos de fato conscientes destas coisas, não sofreríamos!
O Buddha relembra-nos estas coisas para que estejamos conscientes delas, com o intuito de não nos envolvermos em sofrimento. É fato que aquela pessoa que já se acostumou ao sofrimento da vida e tem relativa segurança, não procurará uma vida espiritual, transcendente. Quando muito, ela ficará satisfeita com uma religião que promete a salvação através de cânticos e crença em seus dogmas, mas não terá nenhuma vida espiritual interna verdadeira; nenhum conhecimento de si. Portanto, quem não está consciente do transitório está satisfeito e/ou acostumado com ele. Daí não pensará nunca em procurar evidenciar suas potencialidades, sua Divina Essência ou Natureza búdica latente.
O Budismo inicia enfatizando a transitoriedade e insatisfatoriedade do mundano para nos incitar à busca do eterno e do satisfatório. Começa mostrando-nos claramente o que não é satisfatório, e sugere aquilo que é (o Nirvana), enfatizando entretanto não uma especulação a respeito, mas uma prática voltada para descobrir o satisfatório e o eterno. O Buddha foi um Instrutor prático.
Mais uma vez, a ênfase dada ao lado “negativo” da existência não tem um fim em si mesma, mas está dirigida de modo a nos levar, pelo esforço próprio e mérito, a descobrir o que há de positivo em nós mesmos. E, por extensão, no universo; pois o homem é um microcosmo e o Universo é um macrocosmo.
Se o Budismo enfatiza o lado negativo das coisas é porque:
  1. quer mostrar que elas não são dignas de apego ou de serem consideradas a Realidade Última;
  2. quer mostrar que não somos essencialmente esta manifestação efêmera de corpo e personalidade, e considerar o contrário é chamado “ilusão”;
  3. quer mostrar que, iludidos pelo erro de julgamento, estamos procurando a felicidade naquilo que não pode nô-la dar: a manifestação terrena.
Muita confusão existe sobre o Budismo por causa, principalmente, do desconhecimento da estrutura do ser humano. O Budismo é também conhecido como a doutrina do “Não-eu”, e muita gente acha que ele ensina com isso a aniquilação do Ser. Mas não é nada disso, e o Buddha não era dado a especulações. Existem dois “Eus”: o divino, que na falta de uma nomenclatura melhor chamam de “Eu” Superior, o qual não é nenhuma personalidade; e o “eu”, a personalidade que todos temos. A confusão é justamente nós confundirmos os 2, achando que a personalidade é eterna e o verdadeiro Ser; quando na realidade, o ego é uma consciência-reação aos estímulos externos, direcionada pelas tendências internas - em outras palavras, o eu é algoo moldável, que nasce e morre. Se temos estas distinções em mente, fica mais fácil saber quando o Senhor Buddha se refere a um ou ao outro nos seus sermões. Só saber isto já dissipa muitas incompreensões sobre a Doutrina.
“Ensino somente duas coisas: a dor e a libertação da dor”, disse o Buddha. Os ensinamentos de Gautama não são pessimistas. Gautama nunca disse que tudo ocasiona dor, nem disse que a existência é sofrimento. Ele realmente declarou que tudo encerra a POSSIBILIDADE de sofrimento. É claro, portanto, que todas as coisas e incidentes da vida podem produzir dor, desconforto ou desarmonia. PODEM, mas em parte alguma se diz que tudo forçosamente ocasione a dor. A CHAVE DE TODO SOFRIMENTO OU FELICIDADE É A MENTE, por isto a autocultura é uma necessidade. Daí o Budismo desenvolver técnicas para o cultivo do espírito e auto-conhecimento, que já contam com uma tradição de quase 3 milênios de experiência. O Budismo não pode ser chamado de pessimista, por que é em face do reconhecimento da existência do sofrimento que existem tantas religiões e seitas dentro delas! No Budismo, o propósito de enfatizar as dificuldades da vida é para chamar a atenção e preparar o terreno para a mensagem de que há uma saída. Quem viu somente “que toda existência é sofrimento” e não vê que “Nirvana é Paz” torna-se pessimista. “Toda existência é (implica em) sofrimento” é meramente o portão de entrada do Budismo; ele não é essencialmente negativo, mas inicialmente negativo.
Não há mais sofrimento para aquele que libertou-se dos apegos.
Abandona a cólera, renuncia ao orgulho, quebra todos os grilhões. Nenhum sofrimento atinge aquele que não se apega ao nome-e-forma da existência fenomenal e que nada considera como seu.”
O homem agitado pela dúvida, subjugado pelas paixões, atento somente ao prazer, forja para si pesadas cadeias.” 
-  versos de Dhammapada
Quando o Buddha afirma que todas as coisas são transitórias, impermanentes; e, portanto, ensina que nada há neste mundo manifestado digno de confiança como sede suprema de segurança, Ele quer dizer que devemos procurar alhures as coisas permanentes (jo), que asseguram a bem-aventurança (raku), autônomas (ga), e absolutamente livres de conspurcação (jo). De acordo com o Nirvana Sutra, estas são as 4 indicações do Nirvana - jo-raku-ga-jo, em japonês.
Será que devemos dar crédito ao que o “sábio” cristão diz, a saber: “o budista deve aniquilar em si todo desejo para existir... chegando desse modo ao estado de vazio chamado nirvana...?” Parece-me fantástico que, por volta de um bilhão de pessoas no mundo procurem o nada, e admiro-me que um sábio avente tal teoria!
Tem-se dito aqui no Ocidente que o Nirvana é o aniquilamento do Ser; atingi-lo seria como virar um espantalho empalhado ou coisa do gênero. Mas logo após Gautama Siddhartha ter-se Iluminado, Ele chegou para Seus antigos companheiros ascetas e disse: “Ó monges, a imortalidade foi alcançada!” . O Buddha não tornou-se o “nada” - ao que me consta,  e quem terá a mentalidade para saber de que nível de consciência Ele estava falando? O Nirvana é a Plenitude da Consciência, é o amadurecimento espiritual supremo. Não há nada aniquilado, mas a consciência pequenina do ego está subjugada - não destruída. Não é a Iluminação que termina com a existência relativa do ego, mas o que se chama de morte. O Nirvana é a plenitude do Ser.
O Nirvana é alcançado quando o espírito está liberado de sua sede (tanha) dos anseios (asava) e da condicionalidade (sankhara); embora afirmem ser o Nirvana uma idéia negativista, os budistas tem dele uma idéia totalmente diferente. De fato incluem a “autonomia” como uma das indicações do Nirvana, e autonomia é algo bem positivo, não? 
No Mahavibhasa Shastra está escrito: Nirvana: NIR, em sânscrito, significa “não”. Quando a raiz VA é vista como “soprar” ou “mover”, “andar”, Nirvana é a negação, isto é, “nenhuma aparição das paixões”, “desaparecimento da forma”, “liberação dos maus caminhos ou tendências”. Se virmos o sufixo da palavra como VANA, temos como significado “floresta”, e Nirvana é “sair da floresta dos agregados da existência”. Quando VANA é tomado como tendo derivado da raiz VE, “embaraçar” ou “entrelaçar”, Nirvana é o “desembaraçar do pano da vida-e-morte”. Quando o homem atinge o estágio de auto-identidade, Identidade, livra-se do mau Karma e não mais tece ligações através dos apegos e da ilusão. Quando VANA significa “nascimento”, Nirvana é “não-nascimento”. Quando VANA é derivado da raiz VR, “cobrir”, “obstruir”, Nirvana é a “não-obstrução”, “emancipação”, “libertação”. 
Não é à toa que o Buddha absteve-se de definir os termos consagrados, porque a língua sânscrita é muito complexa, e dependendo de como se veja uma palavra, a significação muda muito. A única coisa negativa em Nirvana é o Nir, “não”, uma negação - o termo não pode ser entendido literalmente. Em outras línguas de países budistas, o termo equivalente ao estado de Nirvana não é uma palavra tão complicada em formação; é algo positiva.
O Nirvana não significa a cessação da experiência, nem da vida. O Budismo não advoga a destruição dos desejos e experiências. O que se prega é a compreensão, através da prática meditativa, da natureza e causa dos desejos e apego, e por esta compreensão utilizar esta energia, antes desperdiçada, em direção da espiritualidade. O Bem-Aventurado ensinou a transformação, ou transmutação, dos desejos.
Diz-nos o Sublime: “Naquele que é caridoso, a virtude crescerá. Naquele que se domina, nenhuma cólera poderá aparecer. O homem justo rejeita toda maldade. Pela extirpação da concupiscência, do ódio e de toda ilusão, tu atingirás o Nirvana”.
Mas ainda há gente que insiste em dizer que Nirvana é o aniquilamento do Ser. Não vêem que se assim fosse, a doutrina do renascimento não poderia sustentar-se. Se tudo se dissolve, o que resta para renascer? O Budismo ensina que é a “Natureza Búdica”, a Verdadeira Essência que renasce, e não o ego-personalidade atual, pois cada encarnação forma uma nova personalidade. É verdade que a consciência do ego é um fluxo constante de sentimentos, sensações e percepções, na maioria das vezes na forma de pensamentos. Logo, sendo um fluxo, ele cessa com a morte. Então não pode ser a consciência-ego que passa a outra vida! Mas existem tantas formas quanto níveis de consciência, e é unicamente a Consciência Suprema da Natureza Búdica que subsiste às encarnações e recolhe o Karma.
Enquanto sentirmos apego ou aversão a alguma coisa, a Consciência Superior será trazida à vida de novo. Então é esse apego que deve ser subjugado.
Como se vê, o Budismo não sustenta a eternidade do ego, e talvez seja por isso que dizem que somos aniquilacionistas. Mas a culpa da confusão é de quem confunde o Ser com a personalidade. O Budismo não substitui o que é pelo que passa; não os confunde. Não adianta especular sobre o Ser, porque ouvir falar não vai dar idéia alguma do gosto da sopa. Paradoxalmente, vivemos no vir-a-ser, no “Não-ser”, num mundo de transformações, e estamos inconscientes da transitoriedade das coisas! Inconscientes de que todas as coisas mudam, queremos, no entanto, constância e permanência delas. Jogamos nossas âncoras, que são arrastadas no torvelinho - e com isso nós sofremos. Sem quue tenhamos conhecimento antes do vir-a-ser, de que adianta entupir o intelecto com conceitos sobre o Ser? O Budismo dá a conhecer primeiro “uma sucessão de formações instáveis” porque estamos cegos para o fato e suas conseqüências. O Budismo não ensina nada novo; tudo que diz é absolutamente velho e óbvio. Fato.
Talvez surpreenda minha teoria de que são os cristãos os verdadeiros aniquilacionistas? Um amigo meu, citando uma passagem da Bíblia, sustenta que aquele que não crê nos dogmas da Igreja não será ressuscitado no Dia do Juízo; de modo que, após a morte, tudo é um nada, até que no Dia somente os crentes serão reavivados. O resto permanecerá aniquilado.
O que constitui Realidade e Ilusão no Budismo? Observemos o mundo manifestado. Todo objeto, ou entidade, aparenta ser existente por si mesmo. Tudo que percebemos aparenta ser independente de outros fatores ou causas para ter sua existência. O Budismo diz que isto é um engano da nossa percepção, pois tudo, além de ser composto, com partes interdependentes, tudo está mudando constantemente. Ora, aquilo que muda constantemente não é sempre a mesma coisa. Por Realidade o filósofo budista entende aquilo que não muda, eterno. O oposto é considerado Ilusão (Maya). De fato não vemos a mudança das coisas porque os fenômenos e suas partes constituintes movem-se em grande velocidade - um fluxo, como o rio de Heráclito. Portanto, todas as coisas que percebemos têm somente uma existência relativa. Se nada está parado, logo não há um objeto que seja sempre o mesmo, de forma que possa ser considerado como uma unidade permanente, que exista sempre da mesma forma que foi. Quando o Buddha diz que todos os fenômenos são vazios, Ele quer dizer que o mundo da manifestação não tem uma existência auto-suficiente, mas é interdependente, ou relativa. Tudo é relativo! O Absoluto é outra dimensão. É baseando-se nestas premissas acima, que o filósofo budista declara que nada existe, e que a Única Realidade é a do Absoluto. Tudo mais assemelha-se a uma miragem, que dura enquanto as causas durarem. Estritamente falando, se uma coisa existe (permanentemente) ela pode ser encontrada da mesma maneira sempre que a procurarmos. Mas o que neste mundo é assim? Nossa própria personalidade já não é bem a de alguns anos atrás... É por isso que o Budismo diz que o ego não existe, na Realidade. Mas tudo isto é filosofia, uma percepção mais apurada das coisas. Para a mentalidade comum, a personalidade é um problema, uma carga, e o Budismo trata de pacificar-nos não pelo desprezo, achando que tudo é “ilusão”, mas pela confrontação prática com o que chamamos de ego, através da meditação ou autocultura.
A Divindade Suprema não pode ser conhecida pelo intelecto. Somente neste sentido o budista é agnóstico. Pois a Divindade transcende o intelecto. Porém, o esoterismo budista afirma que há no homem um princípio capaz de conhecer, pela experiência, a unidade da Divindade e dos seres. Não nos dizem que o “homem é  a imagem de Deus”? Essa “imagem” significa que o ser humano tem natureza ou essência divina, e portanto potencialidades latentes. Não devemos tomar “imagem” literalmente. O homem não é o Deus Supremo, mas é um pequeno deus, com uma potencialidade divina a ser evidenciada. Os budistas chamam de Natureza Búdica esse campo de potencialidades latentes.
Para o budista, a Divindade não tem atributos, forma, cor ou sexo. Quando se dá atributos à “Ela”, está-se falando em verdade da Sua primeira manifestação no universo, (como) a Consciência Cósmica e Energia Original. Tem gente que olha a forma externa do Budismo e não consegue decidir se o budista é ateu ou não. Depende de como se entenda a palavra “ateu”. Não cremos num Varão Gigante, triste e ímpia cópia do homem; nem que a Perfeição tenha criado este mundo imperfeito. Alguns perguntam: “Que religião é essa que não fala de Deus?” Nós temos que fazer vista grossa à ignorância. “Deus” é uma palavra de origem grega, theos, que - diga-se de passagem - era aplicada na Grécia para dessignar um deus, e não ao Supremo. Acontece que a língua budista é o páli ou o sânscrito, e decerto o Budismo tem seus próprios termos para a Divindade. O Budismo não entende como um Deus Sublime se afete com zelos, favoritismos, amor-e-ódio, vaidade ou ira. Não consegue acreditar num Deus Perfeito, dotado com (as piores) qualidades humanas; um deus que, seja descrito por qualquer missionário, não alcança sequer o nível de um bom homem comum... seja o Jeová bíblico das guerras sangrentas e das pragas, ciumento, ou o trovejante Zeus.
O Budismo admite a transcendência e imanência da Divindade quanto ao Universo. Transcende porque está além da manifestação; é imanente porque nada pode existir fora Dela e tudo é por Ela interpenetrado. Admitir somente a transcendência é para os “monoteístas”, que personificam Deus e O põe num céu cravejado de esmeraldas. Admitir somente a imanência e, portanto, a identificação com o fenômeno, é para os “panteístas”. O Absoluto, por ser transcendente e ao mesmo tempo imanente “conhece o coração humano” (é uno com o homem divino) e está fora das limitações do universo fenomenal. Se fosse só transcendente, não poderia dar existência aos seres, e se fosse só imanente estaria também envolvido nos mesmos problemas do mundo.
Em verdade o Budismo nunca negou a existência da Divindade; só diz que teorizar sobre “Ela” não ajuda nada a resolver nossos problemas. Que ajuda traz crer que a Divindade seja quadrada, e não redonda, ou se chama XPTZ, ao invés Xlotiman? O nosso problema, que é o sofrimento e a ignorância, continuam! Se temos de crer, como dizem, que Deus sé o criador de todas as coisas, então é o autor do mal e de todo sofrimento. Portanto cabe a nós trabalharmos nossa própria salvação. O Budismo difere das religiões ocidentais, porque nelas seus pregadores falam tanto de Deus sem ter Dele uma experiência concreta - é tudo somente de boca. O método budista é diferente, e longe de se preocupar com pedidos egoístas, a ênfase é na autocultura, dirigida ao auto-conhecimento. Quando lemos casos de iluminação no Zen e no Hinduísmo, por exemplo, fica patente que as pessoas descobrem, na Natureza Essencial de suas próprias Mentes, algo de divino, que participa da Paz, Felicidade e do Ser. É como descobrir um Tesouro trancafiado pelos grilhões da mente ignorante e iludida pelas paixões. Então, a abordagem budista é um encontro pessoal e intransferível com o divino, e não meras arengas verbais. Se Deus é realmente onipresente, vive também no homem. Então como podemos falar em Deus fora, quando ainda não O vemos bem dentro? Existe um campo imenso de Consciência no Universo, e atingir o estado do Buddha é estar ciente da unidade de nosso ser com essa Consciência Universal; qual gota no oceano, isto não é o aniquilamento do ser, mas agora a gota move-se em seu próprio meio natural, liberta e descondicionada. 

Incompreensão nº 2:
Os budistas são idólatras... a moral budista tem por origem e regra suprema não Deus, só o homem; prescreve a benevolência universal, não por amor ao próximo, mas para aliviar sua carga, e não contrair mais faltas, ou pecados... O Budismo é uma doutrina herética em relação ao bramanismo, e um flagelo intelectual para a humanidade, porque provém da dissolução da razão...
Encontramos em qualquer templo budista imagens dos Buddhas e divindades. Mas será que só por isso é que somos idólatras? Primeiro, não se adora imagens, mas a idéia que elas transmitem. Se o budista se inclina devotamente ante uma imagem representando o Buddha, ele não está adorando o pedaço de gesso ou bronze modelado, mas prestando homenagem àquele que tomou como Mestre. O ocidental tende a escrutinizar tudo, procurando sempre justificar as coisas e os atos. Então os mais cultos dentre nós acha que “essas coisas” são para os ignorantes, e não para inteligentes como eles. Para o treinamento interior, no Budismo, o que importa é com que consciência, nível  ou estado mental você realiza um ato. Obviamente isto se estende a qualquer ato na vida, mas para a mentalidade comum talvez as atividades religiosas, como por exemplo a devoção dentro de um templo, seja a única oportunidade de uma pessoa dar trégua à sua mente perturbada pelo cotidiano...Ao prestarmos convencionalmente uma homenagem ao Buddha, à Doutrina (Dhamma) e à Comunidade (Sangha), com a mente livre de desejos e pensamentos egoístas, estamos não somente reforçando em nós as boas qualidades da Doutrina, do Buddha e daqueles que colhem os frutos de Seus Ensinamentos, como desenvolvendo e reafirmando internamente o amor, e toda as boas coisas, sem pensar a respeito, sem raciocínios. Além do mais, a devoção pura é uma coisa que, sem pedir favores, dá paz e contentamento. É uma foram de meditação. Pelas práticas devocionais se desenvolve o amor e os bons estados mentais. Aquele que é altamente intelectualizado despreza isto; entretanto, o ser completo, no conceito budista, é aquele que uniu e desenvolveu as qualidades do coração e da mente. Um sem o outro é incompleto, como o intelectual rígido e seco, ou o insensato de bom coração. Todo ritual visa ao treinamento das massas, e induzem na mente a formação de bons pensamentos e tendências mentais; e já que nossas ações são resultados de nossa mente, elas refletirão o interior. Então, quando se inclina ante uma imagem do Buddha, de espírito vazio, estamos somente e especialmente reforçando na mente as qualidades do Buddha, como Sua Compaixão, Sabedoria e Equanimidade, etc. Estamos desenvolvendo humildade - necessária para o recebimento de qualquer ensinamento espiritual. O intelectual, assoberbado, não consegue inclinar-se diante de uma simples imagem, porque não tem humildade.
Nos primeiros séculos, o Buddha nunca foi representado em forma humana. Isto só começou quando o Império greco-macedônico chegou até as fronteiras da Índia, havendo então grande intercâmbio cultural. Os gregos são os responsáveis pela influência antropomórfica da arte budista.
As imagens dos Buddhas e divindades são simbólicas. Ninguém realmente sabe como eram as feições do Buddha, de forma que toda imagem é estilizada. As divindades são sempre representadas com aparatos e objetos que seguram nas mãos, etc, onde tudo tem um significado. Isto é uma tradição que veio dos hinduístas. Imagem é um símbolo tridimensional. Sem palavras, elas transmitem muitas idéias.
Budismo é um caminho de liberação por excelência, e não pode ser confundido com idolatria. O idólatra crê que a imagem não só é um retrato fiel, como também está vivificada ou imbuída pelo objeto de adoração... Diz-se normalmente, “oh, uma imagem do Buddha”, mas  “Buddha” é o estado de Iluminação, algo abstrato para a mente entender. A Iluminação é representada na imagem do Buddha, porque Gautama Siddharta, um homem, atingiu-a. Então estas imagens são um lembrete de que um homem atingiu o Fruto Supremo e está ao nosso alcance também esta possibilidade.
Quem pega o Budismo pela sua forma externa, ritualística, está se fixando no menos significativo, entretanto. Está se enganando. Budismo é o Caminho do Meio, do discernimento. E que mal há na arte religiosa? Sem idolatrias, consideramos as imagens o que elas são realmente: representação e lembrete da Doutrina e, às vezes, valiosos objetos de arte.
A moral budista é de fato a ciência dos costumes e psicologia. O código ético visa muito mais que pacificar e proteger o indivíduo, mas proteger a harmonia e bem-estar da sociedade. E a ética budista apela para a compreensão do indivíduo, e não para a força ou coação, de forma alguma. No Budismo, as propostas éticas são significantes. Não pode haver um código ético sem um conceito de responsabilidade moral. Porém, não pode haver responsabilidade moral a menos que nossas ações sejam livres e não constrangidas nem por (um) Deus ou autoridade alguma; que se tenha conhecimento de que ações boas e más trazem conseqüências agradáveis e desagradáveis, respectivamente; e que se tenha conhecimento de que a Consciência sobreviva à morte para fazer justiça às ações.
Diz o Venerável H. Saddhatissa: “A moral budista é, de fato, uma moral natural; ela é baseada na compreensão do indivíduo, através da experiência dos resultados de suas ações e na própria escolha consciente e esclarecida de seguir este caminho em vez de um outro. Não existem leis, no sentido em que entendemos a palavra - um “dever”.  O budista é convidado a tomar para si certas regras de treinamento. O fundamento moral em que se baseia o ensinamento do Buddha é formulado em 5 preceitos básicos:
  1. Comprometo-me às regras de treinamento para abster-me de causar dano às coisas viventes;
  2. Comprometo-me às regras de treinamento para abster-me de desejar possuir o que não me é dado;
  3. Comprometo-me às regras de treinamento para abster-me do uso incorreto dos sentidos;
  4. Comprometo-me às regra de treinamento para abster-me das falas indevidas;
  5. Comprometo-me às regras de treinamento para abster-me de tomar drogas e bebidas que anuviem a mente.
A moral budista não tem por regra suprema ou base o homem, mas a Lei de Karma, ação e reação. A ética tem no homem unicamente um campo de ação; nem Deus algum impõe regras. É inegável que o Buddha foi o 1º Instrutor a apresentar publicamente uma ética de amor e igualdade, sem “revelações” divinas.
O budista não está interdito de fazer isto ou aquilo. No entanto o Budismo deixa em nossas mãos a responsabilidade pelos nossos atos. A semeadura é livre. Mas a colheita é obrigatória! Cada um recebe da vida aquilo que dá à Vida. Neste sentido, a Doutrina é taxativa: cada um constrói seu destino; tem livre arbítrio para agir. Sofrerá depois os resultados dos atos praticados. Assim é que o Budismo nos mostra que certas ações tranqüilamente praticadas são sementes de alegrias ou tristezas futuras. A moral budista não é imposta por ninguém, mas baseia-se na aceitação consciente, da compreensão dos resultados dos atos, como indica o pronome oblíquo “me” dos 5 preceitos.
É uma asneira dizer que o budista pratica a benevolência e a caridade, não por amor ao próximo, mas sim porque teme “piorar o seu Karma”, caso não pratique! Deixo a Doutrina e a vida do Buddha responderem a isto, citando o que está nas escrituras, e a Verdade falará por si.
A compaixão do Buddha estendia-se igualmente a todos os seres. Relatam-nos alhures nas escrituras: “Certa vez o Sublime observava um rebanho de carneiros que avançava lentamente, conduzido pelos pastores. Chamou-lhe a atenção uma ovelha com dois cordeirinhos, sendo que um deles, ferido, caminhava penosamente. Buddha tomou-o nos braços e exclamou: “Pobre mãe, tranqüiliza-te. Para onde fores levarei teu querido filhote. É preferível impedir que sofra um animal, a permanecer sentado nas cavernas contemplando os males do universo”.
Sabendo pelos pastores que o rebanho seria levado à noite para o sacrifício e imolado em honra aos deuses por ordem do rei, o Buddha resolveu acompanhar o rebanho. E os seguiu pacientemente. Chegando à sala dos holocaustos, observou brâmanes fazendo orações e preparando o fogo crepitante do altar. Um dos sacerdotes, apoiando a faca no pescoço estirado de uma cabra, exclamou: “Eis aí, ó deuses, o princípio dos holocaustos oferecidos pelo rei Bimbisara. Regozijai-vos vendo correr o sangue e gozai com a fumaça da carne tostada nas chamas ardentes; fazei com que os pecados do rei sejam transferidos a esta cabra e que o fogo consuma-os ao queimá-la; vou dar o golpe final...”
Aproximando-se, o Buddha disse docemente: “Não a deixeis ferir, ó grande rei!”, ao mesmo tempo que desatava os laços da vítima, sem que ninguém o detivesse, tão imponente era Seu aspecto. Depois de haver pedido permissão, falou da vida que todas as criaturas amam e pela qual lutam; da vida que todos podem tirar, mas ninguém pode dar; a vida, esse dom precioso para todas as criaturas, maravilhoso e caro a todos, mesmo aos mais humildes e ínfimos, um dom precioso para todas as criaturas que sentem piedade, porque a piedade faz o homem doce para com os débeis e nobre para com os fortes. O Sublime emprestou às mudas criaturas do rebanho palavras enternecedoras para defendê-las; demonstrou que o homem que implora clemência aos deuses não tem misericórdia; ele, que é como um deus para os animais, fez ver que tudo o que tem vida está unido por um laço de parentesco; que os animais que matamos nos deram o doce tributo de seu leite e sua lã e depositaram sua confiança nas mãos de quem os degolam. 
E concluiu: “Ninguém pode purificar com sangue sua mente; se os deuses são bons, não se comprazem com o sangue derramado, e se são maus, não podem lançar sobre um animal o peso de um fio de cabelo, sequer, dos pecados e erros pelos quais se devem responder pessoalmente. Cada um deve se dar conta de si mesmo, segundo esta aritmética do universo, dando a cada um sua medida segundo seus atos, palavras e pensamentos, lei exata, que vigia eternamente e faz com que o futuro seja fruto do passado...” Falou com tal misericórdia e dignidade, inspirado pela compaixão e justiça, que os sacerdotes lavaram suas mãos de sangue e despojaram suas facas. O rei Bimbisara torna-se discípulo.
O Buddha foi o primeiro reformador histórico, que proclamou um evangelho tanto de compaixão, como de sabedoria. Em nenhuma outra alma houve uma combinação tão perfeita de coração e mente, sabedoria e compaixão. Pelos Seus atos e doutrina, isto transparece bem, enquanto que, sem desfeita por outros Instrutores, a tônica ou é só na sabedoria ou só na compaixão. Os méritos do Buddha são ainda maiores quando lembramos que Ele não foi um deus que veio “prontinho” dos Céus, mas conquistou Sua Vitória por Si. É por isso que o Buddha é chamado “Jina”, o Vitorioso. É por isso que Gautama auto-intitulou-se de “Tathagata”, “Aquele que assim foi”, isto é, aquele que assim percorreu os caminhos para a Vitória.
Fica patente que o episódio acima transpira em amor e justiça. A piedade não é a identificação com o sofrimento alheio, de forma a despertar o amor e o desejo de aliviar a dor? Foi por isto que o Buddha não pregou somente o Amor, Ele é Amor.
Disse o Sublime: “Se um homem incessantemente me faz mal, eu o pago com a proteção de meu desinteressado amor. Quanto mais mal vir dele, mais bondade sairá de mim”.
Em outra ocasião, disse: “Em ocasião alguma o ódio combate o ódio; o ódio somente pode ser vencido pelo amor. Que o homem combata o ódio de seu semelhante com o amor e supere o mal do próximo com seu próprio bem”.
Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o fere” - o Buddha.
Em oposição à Roda da Vida, o Buddha apresentou a Roda da Lei, simbolizada numa roda de carruagem (ou timão de barco) com 8 raios. Cada raio significa um dos ítens do Nobre Caminho Óctuplo ou Senda Óctupla, ensinada por Buddha. A Nobre Senda Óctupla são oito fatores de nossa vida que devem ser aperfeiçoados para termos nosso progresso espiritual. E é exatamente o segundo fator, “Pensamento Correto”, que fala que devemos alimentar pensamentos de amor, caridade, renúncia, desapego, não violência, estendendo-se a todos os seres, e procurando evitar pensamentos egoístas, de apego, má vontade, crueldade, violência, etc.
Nas religiões orientais, a prática meditativa assume formas diversas. Mas a forma de meditação que elas ensinam é do tipo que somente dá tranqüilidade. O Budismo não rejeita, e até incorpora práticas meditativas que levam à tranqüilidade. Porém, o Buddha desenvolveu a prática meditativa; e  o Budismo tem como tônica a meditação da Plena Atenção que leva ao autoconhecimento. Pode-se falar muito deste tipo de prática, mas para conhecê-la, somente praticando. Entretanto quero aqui mostrar que existe um tipo de meditação que pertence ao grupo da tranqüilização, chamada Meditação do Amor. Nesta meditação, visualizamos nossos parentes, amigos, conhecidos, colegas, nossa cidade e vizinhos, e assim por diante, passando pelos doentes, presidiários, países... até englobarmos o mundo. Depois disso mentalizamos os seres invisíveis... Ao mesmo tempo que visualizamos, de preferência, uma pessoa de cada vez quando possível, estendemos nossos pensamentos de amor e compreensão a todos os seres, até que estejamos vibrando em amor. Esta prática destina-se a desenvolver em nós o amor universal.
Existem várias práticas budistas para desenvolver o METTA (amor). Diz-se que os seguidores do Buddha deveriam empenhar-se em sentir por todos os parentes, amigos, inimigos e estranhos, o mesmo que uma mãe sente por um filho. É uma tarefa difícil devido ao ego, mas desejável antes de qualquer progresso no reino espiritual.
Os sectários estão tão presos aos conceitos, que só podem ver nas outras religiões o que querem ver nelas. Se o Buddha não houvesse pregado o Amor, além da Sabedoria, e não tivesse dado Ele mesmo o exemplo disto, não haveria como, hoje, milhões de pessoas venerá-lo. Pois, das qualidades que mais chamam a atenção das mentes simples, é o Amor irrestrito que mais toca o coração.
Dizem que o forte do ensinamento budista é a “sabedoria”. Porém, mesmo através da Sabedoria, o Buddha pregou o Amor. Pois uma não nasce sem a outra na pessoa realizada! O Buddha denunciava a tendência da mente a apegar-se, a ser egoísta. Por isto Ele nos ensinou práticas de controle e subjugação do ego. Ego e apego, um é conseqüência do outro. Onde há apego, não pode haver caridade, muito menos amor verdadeiro, mas só paixão. Só damos uma coisa a outro quando não estamos apegados a ela, caso contrário, não a daríamos. Desapego significa que a barreira do egoísmo, que tudo separa, está quebrada. Amor significa a não-separação entre eu e o outro. Portanto, o amor e o desapego estão de mãos dadas.
Das Dez Paramitas (“Virtudes”) ensinadas pelo Budismo, Dana a chave da caridade, e amor imortal, é a primeira. Para quem quiser saber das 9 restantes, elas são, a saber:
Shila, a chave harmonia, moralidade
Kshânti, a doce paciência a que nada pode alterar, tolerância
Viraga, a superação da Ilusão; equanimidade
Virya, a intrepidez enérgica que abre caminhos para a verdade
Dhyana, a porta da contemplação que, aberta, conduz ao Ser
Prajna, a sabedoria interior, a intuição desenvolvida
Emprego dos meios justos, ciência e votos religiosos (essas 3 últimas mais para sacerdotes e monges. Aos leigos espera-se que também as sigam, mas não da forma como se pede aos monges).
Todos que desejam seguir o Caminho do Buddha devem tomar o voto do Bodhisatva: “Estou trabalhando para estabelecimento da incomparável esfera do saber entre todos os seres. Eu não estou somente cuidando da minha salvação. Todos os seres devem ser salvos por mim do oceano da Ilusão...” (Vajradhavaja Sutra, Siksásamuccaya, de Santideva). Em outras palavras, nossa meta é não somente atingir o Budato, como ajudar todos os seres a atingi-lo também, por Amor.
O Budismo não é mera reação à decadência da casta e religião bramânica. O Budismo desposa a largueza, é uma “religião” universal, atravessando fronteiras e raças, pregando a salvação universal e igual destino para todos os seres; a fraternidade universal e democracia, o verdadeiro socialismo, num sistema ético bem profundo e extenso, aprimorado. Considerando todos os seres irmãos, unidos pela mesma Essência, o Buddha trouxe para as massas sofredoras uma filosofia de amor e igualdade. Foi contra o sistema de castas, pregou contra sacrifícios sangrentos, foi amigo da Natureza.
O Buddha não ensinou um modo negativo simples de evitar o sofrimento, senão Ele teria ensinado a autoanulação e passividade intelectuais, que não levam a lugar nenhum a não ser ao sofrimento. O Budismo não é um caminho que leva à fuga do mundo, mas a superá-lo pelo crescimento no conhecimento (Prajna), através do amor ativo (Maitri) para com os outros, por meio da participação nas alegrias e tristezas de nosso semelhantes (Karuna Mudita) e pela equanimidade (Upeksa) em relação aos nossos próprios dissabores, agindo, “fazendo por onde” melhorar nosso ambiente e condições próprias, assim como as dos outros.
São muitos os pontos em que o Budismo difere do Hinduísmo e Bramanismo. Porém são pontos sutis e mais profundos. Pela Sua Iluminação, o Buddha foi além dos Vedas e Upanishads e, ao invés de tornar o Budismo mais uma seita do Hinduísmo, cresceu numa religião universal. O Budismo é o verdadeiro Bramanismo. É a filosofia mais consistente e lógica, ao mesmo tempo transcendente, que existe - é o ensinamento essencial de toda religião, o Zen que o diga. E o Senhor Buddha não Se proclamava um mensageiro de alguma nova doutrina, mas o Anunciador de antigas Verdades, perdidas para o mundo. Quem quiser que o estude verá que o Budismo é o retorno ao verdadeiro Hinduísmo, não sua deturpação. Após o advento do Budismo, o Hinduísmo teve de reformar-se para assegurar sua existência, e nessa reforma é que temos a forma atual geral de escolas hinduístas e movimentos novos, influenciados pelo Budismo. O Bramanismo dos tempos do sublime não existe mais. 
Alguns não vêem no Budismo não mais que uma filosofia da razão. Isto não é totalmente correto. A lógica não constitui o fundamental no Budismo, porque até certo ponto ela é aceitável. Mas a partir de então, ela fraqueja, e deve ceder lugar à intuição ou visão interior. Saibam que a lógica não é final, e se levada até as últimas conseqüências cria paradoxos, e dualismos sem-fim. Dois budistas, Dignana e Dharmakirti, aprimoraram o sistema lógico budista, a ponto de eruditos considerarem-no o mais completo e abrangente. Então vemos que o Budismo não “dissolve” a razão, mas faz bom uso dela até onde for possível. Se você tentar explicar o transcendente por meio de palavras, vai acabar com um amontoado de palavras que são negações ... É este o caso da filosofia do santo Nagarjuna. Entretanto, é a característica racional da Lei do Buddha que a torna tão científica. Não vi ainda religião de massa mais científica e de acordo com os fatos e descobertas científicas que o Budismo, em todas as categorias de conhecimento humano, especialmente no ramo psicologia, o qual não existia como ciência no mundo, mas como ensinamento budista nas escrituras. Cientistas, pesquisadores e gente de todos os caminhos da vida não se cansaram de beber e se maravilhar com a Doutrina. Gente como Alan Watts, Karen Hornen, Carl Jung, Jaspers, Albert Einstein ... O Budismo é um caminho seguro, como 2 + 2 = 4 na base 10, em direção da Verdade Eterna. Pois o Buddha ensinou a Lei Eterna, que não mudará jamais, enquanto durar o universo.
A religião do futuro será cósmica e transcenderá (a concepção de) um Deus pessoal (antropomórfico), evitando os dogmas e a teologia. Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será baseada num sentido religioso procedente da EXPERIÊNCIA de todas as coisas, naturais ou espirituais, como uma unidade expressiva ou como expressão da Unidade. O Budismo corresponde a essa descrição.”   
-  cientista Albert Einstein