NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

UMA INTRODUÇÃO AO BUDISMO

O BUDDHA

1.
Que é Budismo?
R:. É um conjunto de Ensinamentos emitidos por um grande homem conhecido por Buddha.
2.
Budismo é o melhor nome para esse ensinamento?
R:. Não; este é apenas o termo ocidental aplicado aos Ensinamentos de Buddha. O melhor nome é Buddha Dharma.
3.
Qualquer pessoa nascida em um país budista é budista? 
R:. Não. Um budista é aquele que não apenas crê em Buddha como o mais nobre Instrutor, na sua Doutrina e em seus discípulos realizados (Arahants), mas também pratica os Ensinamentos na vida diária.
4.
Os adeptos engajados budistas são chamados por algum nome especial? 
R:. Os homens são chamados de "upasakas" , e as mulheres de "upasikas".
5.
De quando data o primeiro sermão de Buddha?
R:. Foi no ano 2513 do atual Kali Yuga, ou seja, 589 anos da era cristã.
6.
Que datas e lugares são consideradas importantes no Budismo?
R:. O Senhor Buddha nasceu no mês de Wesak (por volta de Maio), num período de Lua Cheia, 623 anos a.C. no Jardim de Lumbini, hoje território do Nepal, mas naquele tempo parte da Grande Índia. Aos 35 anos iluminou-se sob a árvore bodhi ou figueira, em Gaya, hoje conhecida por Bodh Gaya, Índia, e logo após isto pregou seu primeiro Sermão no Parque das Gazelas em Isipatana, e após muitas pregações e andanças, com 80 anos, falece em Kusinagara. 
7.
Buddha era Deus? 
R:. Não. O Buddha não se dizia encarnação divina, nem representante de qualquer divindade hindu. Foi um homem, porém o mais sábio e santo dos seres de nossa humanidade, tendo-se aprimorado no curso de incontáveis existências, muito acima de todos os outros indivíduos e deuses, fazendo evidenciar Sua natureza divina e búdica latente - que todos temos. Buddha não foi simplesmente um "sábio" nem um homem "amoroso", mas a mais perfeita combinação do Amor-Compaixão com a Sabedoria. 
8.
Buddha era o seu nome? 
R:. Não. É o nome de uma condição ou estado de pleno desenvolvimento espiritual - a Iluminação. Significa "O Desperto" . 
9.
Em linhas gerais, descreva a vida de Buddha antes de sua Iluminação e logo após iluminar-se.
R:. Siddhartha era seu nome real e Gautama seu nome de família. Nasceu na família nobre Okkaka, filho do rei Suddhodana e da rainha Maya. Seu povo era a tribo dos Sakyas, tribo ariana de Kshatryias ou de casta guerreira. A capital do reino Sakya era Kapilavastu, às margens do rio Rohini, aos pés dos Himalayas nepaleses. Ao nascer, o eremita Asita visita o recém nascido e prediz que ele se tornaria no futuro um grande sábio que libertaria a humanidade de suas dores. A vida de Siddhartha foi rodeada de todo luxo e conforto. Conta-se que o rei mandara construir três palácios, um para a estação quente, outro para a estação chuvosa e um para o inverno. O velho rei, Suddhodana, tentava por todos os meios, esconder e proteger seu filho de todo e qualquer sofrimento, tentando evitar que a profecia de Asita se cumprisse, pois o rei desejava que o príncipe também se tornasse um rei guerreiro e levasse a glória do clã dos Sakyas para além das fronteiras. Assim, o rei fez o que pôde para  impedir que o coração sensível de Siddhartha fosse tocado pelas tristes realidades do mundo. Siddhartha era um prisioneiro dentro de seus palácios, jardins e jogos eternos. Somente  jovens dele se aproximavam. Quando desejava ir à cidade de Kapilavastu, o rei mandava pintar as casas e embelezar as ruas por onde o séquito iria passar. Ordenava ao povo que usasse roupas novas e afastava os velhos e doentes. Certa vez, iludindo a vigilância real, sai disfarçado de mercador com seu fiel escudeiro Channa, para ir até a cidade. É clássica a descrição deste passeio e o choque que este lhe trouxe. No seu trajeto, encontra um velho alquebrado, um doente cheio de pústulas, um cadáver e um sanyasin (asceta errante) de hábito amarelo.  É tomado do mais profundo sentimento de Compaixão pelos seres e de uma grande inquietação para descobrir uma resposta às vicissitudes da vida. Retorna ao castelo transtornado, e nenhuma distração ou conforto material consegue tirar-lhe o desejo cada vez mais ardente de fazer alguma coisa por si e pelos outros. 

A esta altura, Siddhartha já estava casado com uma princesa de família real vizinha, de nome Yasodhara, a qual teve um filho chamado Rahula. Sabendo do nascimento de seu filho, Siddhartha sentiu que seria mais um envolvimento que O impediria de descobrir as respostas que desejava encontrar. Resolve então fugir à noite e consegue fazer isto com a ajuda de seu fiel escudeiro, Channa e de seu cavalo predileto, Kanthaka. 

Nas florestas, e após ter abandonado as vestes reais, Siddhartha vai de encontro aos maiores Mestres da Yoga e do Hinduísmo. Com eles aprendeu tudo que tinham a ensinar, tornando-se até um discípulo querido deles. Mas Siddhartha não havia ainda conseguido encontrar com isto uma resposta para a dor. Siddhartha ficou seis anos entre yogas e mortificações da carne, tornando-se esquelético e quase morto. Um dia, farto de tudo isto, vendo que não estava nem um pouco mais esclarecido com tanta prática ascética, resolve voltar a alimentar-se e a banhar-se, antes de sair por conta própria para reiniciar sua busca de uma nova maneira.  Ao fazer isto, cinco de seus companheiros de ascetismo acharam que ele estava fraquejando e O deserdaram como indigno. 

Seguindo um impulso interior, cultivado por vidas sucessivas de autoaperfeiçoamento, Siddhartha estava agora pronto para fazê-lo expandir. Sentou-se sob a sombra de uma figueira, com a firme resolução de que não levantaria dali sem ter alcançado seu intento. E a Iluminação se deu, numa noite de lua cheia do mês de Maio ou Wesak, para o bem de todos os seres. 

Siddhartha havia morrido e nascia agora o Buddha, o Iluminado.  Buddha permaneceu ainda muitos dias em meditação, absorto  na nova consciência que acabara de se Lhe abrir. Resolve então sair ao mundo para ensinar as Boas Novas, e decide contar Sua descoberta para justamente aqueles cinco ascetas que haviam abandonado ele em Gaya. Em Sua Visão clarividente, sabia que os ascetas se encontravam num parque em Benares, chamado Parque das Gazelas, e se dirige para lá.  No caminho, Buddha faz alguns convertidos, os primeiros discípulos de Sua Lei. Quando os cinco ascetas avistaram o Buddha caminhando na direção deles, eles resolveram ignorá-Lo. Mas à medida que Buddha  se aproximava, Sua aura ou Seu andar eram tão diferentes que os ascetas caíram naturalmente aos pés do Mestre. Buddha saúda cada um deles, relata o que havia se passado com ele, e profere Seu primeiro famoso Sermão, conhecido na literatura budista como ?Pondo a Roda da Lei em Movimento?. Neste discurso, Buddha coloca em linhas gerais o Ensinamento que iria desenvolver até o Seu Passamento. Quando terminou de falar, o asceta Kondañño havia experimentado o Despertar, atingindo o primeiro estágio de santidade. Todos os cinco ascetas tornam-se discípulos. A partir de então, Buddha faz cada vez mais discípulos, entre gente simples e gente rica, mercadores, servos, escravos, prostitutas, filósofos e yogues. Ensinou a cada um de acordo com sua capacidade, com Amor e Compaixão pela pessoa. Foi uma vida vivida por todos os seres. Buddha viveu por nós.
 

10.
Qual o conteúdo geral do Primeiro Sermão de Buddha?
R:. Neste sermão, o Buddha apresenta As Quatro Nobres Verdades, esboça o Caminho Óctuplo (que é a quarta nobre verdade); fala que o esforço correto é o do equilíbrio  eqüidistante de todos os extremos - o Caminho do Meio.
11. Como Siddhartha adquiriu amor sem limites por todos os seres?
R:. Em incontáveis vidas anteriores, vividas em milhões de anos , ele cultivava constante amor com a firme determinação de um dia tornar-se Buddha. Portanto, quando fugiu dos palácios para as selvas, não foi por egoísmo que Siddhartha o fez, mas sim para descobrir a causa dos sofrimentos e o meio de escapar dele. Siddhartha sacrificou seu conforto, suas riquezas, seu reino e realeza em prol de um bem maior e muito mais universal. Neste período atual da humanidade nenhum outro sacrificou tanto por ela. Mas acreditamos que sua maior abnegação e seu amor manifestaram-se sobretudo quando,  na época do Buddha Dipankara, há muitos éons atrás, Siddhartha (que naquela época chamava-se Sumedho) já estava pronto para a Iluminação e entrar no descanso do Nirvana, tivesse ele amado mais a si mesmo do que à humanidade. Assim, ele renunciou à felicidade do Nirvana, fez votos de tornar-se o Buddha em épocas futuras, suportando as misérias terrestres, com o único propósito de demonstrar o caminho para a libertação e dar repouso ao mundo. Demonstrou assim que um Buddha não nasce da noite para o dia, mas é fruto de esforços puramente humanos, realizados com determinação vida após vida.
12. O Buddha recebeu notícias de sua família após tê-la deixado?
R:. Sim, sete anos depois, achando-se ele em Rajagriha, seu pai, o rei Suddhodana, enviou-lhe uma mensagem pedindo que retornasse a Kapilavastu para vê-lo ainda uma vez antes de morrer. O Buddha foi e seu pai recebeu-o com grande júbilo, com todos os seus parentes e ministros. 
13. O Buddha foi instado a reassumir sua antiga posição real? 
R:. Sim, mas ele não aceitou. Explicou muito ternamente ao pai que o Príncipe Siddhartha deixara de existir como tal, e que ele agora estava na condição de um Buddha. Falou que sua linhagem não era a casa solar dos Okkaka, mas a linhagem dos Buddhas, sem começo nem fim, e que se perdia nas brumas dos tempos. 
14. Ele reencontrou sua esposa e filho?
R:. Sim. Sua esposa Yasodhara, que lhe tomara o luto com o mais profundo amor, chorou amargamente. Mandou, por isso, que seu filho Rahula pedisse ao pai sua herança, na qualidade de sucessor ao trono real. Mas tudo o que Buddha fez foi dar-lhe a iniciação na Comunidade budista, tornando Rahula um  monge. Buddha a todos pregou o Dharma como remédio para todos os males. Seu pai, seu filho, sua esposa, Ananda (seu primo-irmão), Devadatta, (seu primo e cunhado), e diversos outros foram convertidos e tornaram-se seus discípulos. Suddhodana deplorou bastante e queixou-se junto ao Buddha que quase toda a família real estava entrando para a Ordem. Pediu para que no futuro nenhum menor fosse então admitido na Ordem sem o consentimento dos pais ou tutores. 
15. As mulheres também aderiram à Lei do Buddha?
R:. Sim, entre elas Prajapati, tia e ama-de-leite do Príncipe Siddhartha; Yasodhara, e diversas outras damas da corte foram admitidas na Ordem monástica como bikkhunis, ou monjas. 
16. Que veio a ser Devadatta? 
R:. Foi homem de grande inteligência, progrediu rapidamente no conhecimento do Dharma mas, como também era muito ambicioso, veio a invejar e a odiar cada vez mais o Buddha, tendo arquitetado planos para matá-lo, sem sucesso. Devadatta também convenceu Ajatashatru a matar seu pai, o rei Bimbisara, só porque o rei reconhecia o Buddha como Mestre, e não a Devadatta. A força dos atos caíram sobre a cabeça de Devadatta, que  teve afinal morte horrível. 
17. Durante quantos anos o Buddha ensinou?
R:. Quarenta e cinco anos, durante os quais pregou muitas vezes ao povo, a reis, discípulos monges e leigos, mercadores, prostitutas e ladrões, etc. Buddha tinha o costume de viajar a pé com seus discípulos pela Índia durante os oito meses de estação seca. Quando começava a estação chuvosa - o período das monções conhecido como "Was" -; ele se recolhia com seus discípulos nos viharas e pansalas (templos-mosteiros e abrigos), que diversos reis e outros convertidos opulentos haviam mandado construir para eles. Era impossível viajar pelas florestas e estradas da Índia daquela época nas estações chuvosas, de forma que Buddha aproveitava este período para instruir seus discípulos na Lei e na Meditação. Esta tradição é seguida até hoje pelos monges Theravada, que observam este período de retiro e prática meditativa mais intensamente nesta época do ano, estejam onde estiverem no mundo. 
18. Que templos ficaram famosos? 
R:. Jetavanarama, no Bosque de Jeta; Veluvanarama; Pubarama; Nigrodarama e Isipatanarama. 
19. Que tipo de pessoas se converteram?
R:. Pessoas de todas as canadas sociais, de todas as nações indianas e de todas as castas: rajás (reis), párias (servos), ricos e pobres, poderosos e humildes, eruditos e iletrados. Sua Doutrina servia a todos. 
20. Que títulos respeitosos se aplicaram ao Buddha?
R:. Sakyamuni ou Shakyamuni, o sábio do clã dos Sákyas;  Sakyasimha ou o Leão dos Sákyas; Sugata, o Bem-Aventurado;  Jina, o Grande Vencedor; Bhagavat, o Senhor;  Lokanatta, o Senhor do Mundo; Sarvajna, o Onisciente; Dharmaraja, o Rei da Verdade; e Tathagata, o Grande Ser, etc. 

O DHARMA - Budismo básico

1.  A Respeito do Budismo:
O Budismo é uma filosofia de vida exposta e vivida pelo Buddha ( O Iluminado), que viveu e ensinou por todo o norte e nordeste da Índia, pelo sexto século a.C. o Buddha não se dizia encarnação divina, caído pronto dos céus, e a filosofia do Budismo não implica em qualquer visão teísta do mundo. Os ensinamentos do Buddha se direcionaram principal e quase exclusivamente à liberação de todos os seres sencientes de seus sofrimentos. 

O Buddha ensinou as Quatro Nobres Verdades de que (1) existe sofrimento; (2) o sofrimento tem causas; (3) o sofrimento tem um fim e (4) existe um caminho para finalizar o sofrimento.  A liberação do ?eu? liberta nossos corações da avidez, do ódio e da ilusão, abrindo a mente para a Sabedoria e o coração à bondade e à Compaixão. 

2. As Quatro Nobres Verdades:
2.1. A Primeira Nobre Verdade - A Realidade da Existência do Sofrimento - "dukkha"
A palavra páli "dukkha", usada por Buddha, em seu uso comum, significa "sofrimento", "dor", "tristeza", ou "miséria". Mas no contexto da Primeira Nobre Verdade, também significa "imperfeição", "impermanência", "vacuidade", "insubstancialidade".  Em português claro, o mais próximo em nossa língua seria "insatisfatoriedade". A Primeira Nobre Verdade nos lembra da roda viva de sofrimentos e renascimentos sem fim, que os budistas chamam da Roda da Vida ou Samsara
Existem três tipos de sofrimento: 
  1. sofrimento comum 
  2. ofrimento produzido pela mudança das coisas, devido à  impermanência
  3. sofrimento como efeito de estados condicionados da mente e do corpo
Analisemos um pouco estes três tipos: 

Sofrimento Comum
Existe todo tipo de sofrimento na vida: nascimento, idade avançada, doença, morte, associação com pessoas e condições indesejáveis, separação dos entes queridos e das condições agradáveis, não conseguir o que se deseja, tristezas, lamentações e tensões -- todas são formas de sofrimento físico e mental. 

Sofrimento Produzido pela Mudança
Sentimentos ou condições agradáveis  na vida não são permanentes. Cedo ou tarde eles mudam ou cessam. Quando mudam, podem produzir dor, sofrimento, infelicidade e desapontamentos. Estas vicissitudes são consideradas sofrimentos produzidos pela mudança.

Sofrimento Como Estado Condicionado
Um "indivíduo", um "eu" ou um "ego" é uma combinação de forças mentais e físicas sempre mutantes, as quais podem ser agrupadas grosso modo em cinco grupos (ou "agregados", como são chamados na filosofia budista), a saber:

  1. matéria (materialidade, corporalidade)
  2. sensações
  3. percepções
  4. formações ou tendências mentais
  5. consciência.
O sofrimento como resultado de estado condicionado é produzido pelo apego ao que estes cinco agregados nos proporcionam dia a dia. Não vemos o quanto nos identificamos com eles, tomado-os em conjunto ilusoriamente como uma entidade estática, separada e auto-suficiente. Não existe uma entidade que sobreviva eternamente, nem que seja imutável, e isto o Buddha chamava de "impessoalidade", "não-eu" ou "insubstancialidade" de um ego eterno. Tudo aquilo que é composto, agrega-se e desagrega-se algum dia. Para a filosofia budista, só existe uma alma enquanto estes agregados estiverem coesos, seja aqui na terra ou no post-mortem. Assim que desagregam-se deixa de existir a entidade como tal. É uma grande ilusão da mente o artifício do ego. 

Vale lembrar: Buddha nunca disse que tudo é sofrimento, mas que tudo encerra uma possibilidade de causar sofrimento. Em seus sermões lembrou diversos acontecimentos corriqueiros de nossas vidas, que para nós são sofrimento, na medida que não estamos conscientes de como as coisas atuam e não somos senhores de nós mesmos, parte devido a tanto condicionamentos automatizados, parte à ignorância intrínseca que todos temos. Buddha não foi pessimista nem otimista, mas antes um realista. Em outros sermões reconhece diversas situações de felicidade. Somente quis chamar nossa atenção para a verdade da existência dos sofrimentos, porque não estamos conscientes deles,  porque estamos devaneando, achando que tudo está bem, quando estamos na verdade sofrendo, e muito. Achamos que este sofrimento é ?da vida?, ?natural?, e nada pode ser feito. Engano. Buddha justamente vem e nos ?sacode? do torpor mental dizendo:  ?Isto é sofrimento ! Acorde e aja, agora !?.  Somente após estarmos conscientes do que se passa conosco é que estaremos motivados a fazer alguma coisa. As pessoas perguntam como se chega a um determinado lugar, e quem responde deve saber onde aquela pessoa se encontra naquele momento.  Dependendo de onde ela esteja, ela pode dar as direções corretas para chegar ao objetivo, se é para o norte ou para o sul, etc.  Da  mesma  forma,  se nossas  existências são  dolorosas e desejamos mudar, devemos antes saber onde estamos. Somente quando as coisas são vistas sob um prisma realista, imparcial e objetivamente é que a libertação será possível. A Primeira Nobre Verdade é esta constatação imparcial. Eqüivale a uma tomada de consciência.  Ela é somente a porta de entrada para a mensagem de que há uma saída para nossos problemas. 

Em resumo, a Primeira Nobre Verdade é a constatação da dor. 

2.2. A Segunda Nobre Verdade - A Causa do Sofrimento - ?samudaya?
A principal causa do sofrimento é o apego ao desejo e ao nosso intenso "querer", ou tanha na terminologia budista. Este "querer" manifesta-se em seus dois aspectos de atração e repulsão (aversão), dependendo em como as experiências nos sejam agradáveis ou não. 

Os desejos podem ser agrupados em:

  1. desejos pelos prazeres dos sentidos
  2. desejos por "tornar-se" , vir-a-ser alguma coisa, ou obter alguma coisa; de existir
  3. desejos de não existir.
O desejo dos sentidos surge em conexão com um ou mais órgãos dos sentidos (incluindo-se aí a mente). Este desejo se manifesta como querer ter experiências prazerosas: o gosto pela boa comida, experiências sexuais, músicas agradáveis, etc. O prazer não é a sensação nascida dos sentidos; uma pessoa pode ter prazer em uma sensação, ou ser-lhe indiferente, portanto, o prazer depende da atitude mental da pessoa, que varia com os condicionamentos de costumes de família, do país, da religião, da época, etc. 

O desejo de existir, de vir a ser alguma coisa, de ter uma existência separada ou egocêntrica é um dos mais fortes, porque todos nós temos o desejo de continuidade, de autopreservação; que este suposto eu viva eternamente. Levado pela ilusão, o homem se delicia nos prazeres dos sentidos e no fato de sua existência -- "eu existo" ou "minha existência" --, conceituando as coisas como sendo "meu", "minha" -- meu corpo, meus filhos, minha profissão, meus pertences e minha reputação. Não vê que todas estas coisas são "emprestadas", e quando um ladrão vem e nos leva um pertence, ou quando alguém morre, achamos que a vida nos deu uma "rasteira", e não vemos que a ilusão de uma existência egoísta é a causa sofrimento. As coisas são como são, e nós preferimos fazer as coisas serem o que elas não são. Impermanência e impessoalidade são as características de todos os fenômenos manifestados. Somente como Olho da Sabedoria - o Olha do Dharma - é que podemos ver as coisas como elas realmente são. 

O desejo de não existir apenas confirma a ilusão da existência de um ego, pois é baseado na sua existência que a pessoa, frustrada e cansada, deseja aniquilá-lo ou paralisá-lo.  Esta classe de desejo é a base de impulsos suicidas e auto-mutiladores, bem como diversas doenças psíquicas. 

Vale lembrar: não há nada de errado em ter prazer ou desejos. O erro é nos subjugarmos a eles através do apego, e em vez de sermos senhores de nossa situação, somos na verdade escravos deste apego-aversão. E com isto sofremos.  E mais: desconhecemos o fato de que a cessação do desejo é felicidade. Veja por exemplo: ao obtermos algo que desejamos  ficamos felizes. A realização daquele desejo, preenchendo-o e finalizando-o é a experiência da felicidade. Pela lei da impermanência, esta experiência tem um fim, e pelo apego gerado desejamos reviver aquela felicidade. Só que este desejo pedindo imediata satisfação cria tensão, angústia, medos, etc. Ficamos presos então a uma roda viva de desejos-satisfação-apego-aversão-outro desejo...Agora pensem em quando um desejo não tem a possibilidade de ser satisfeito ou cessado, no que isto pode acarretar...

Em resumo, a Segunda Nobre Verdade é o diagnóstico da dor.

2.3. A Terceira Nobre Verdade - A Cessação do Sofrimento - "nirodha"
A Terceira Nobre Verdade nos fala da possibilidade da cessar o sofrimento. Em termos budistas, isto só é possível quando alcançamos aquela maestria interior resultante de uma compreensão profunda e amorosa das coisas e de nós mesmos, através da luz da Sabedoria (com "s" maiúsculo, porque não se trata da sabedoria livresca ou erudição). O homem não se liberta sem desenvolver em si o afloramento da Sabedoria interior, do Amor e da Compaixão, itens imprescindíveis para a nossa sobrevivência, ensinados por Buddha. 

Alcançar a cessação do sofrimento é realizar o Nirvana, ou Nibbana. Esta palavra é hoje de conhecimento mundial, mas seus significados verdadeiros são amplamente desconhecidos. Dependendo de como se veja a composição desta palavra, temos diversos significados. "Nir" em sânscrito é "não", e "vana" é "cordão"; assim Nirvana pode ser traduzido como "não estar preso", ou "estar liberto". Mas liberto do que? Liberto da tirania do ego, da ignorância, da ilusão e da dor!!! Esta foi a Grande Conquista do Buddha. E isto Ele conseguiu através de vidas e vidas de dedicação. O Nirvana é um estado do ser, e não um lugar ou "céu". Ele é realizado por todo aquele que vence a si mesmo; por aquele que renunciou ao ?eu? e ao apego. Deve-se notar que a mera renúncia ou restrição dos desejos não é o Nirvana, pois se assim fosse seria igual ao aniquilamento e seria fácil resolver nossas dores. Já de partida Buddha ensinou que não existe nenhum ?eu? para que seja aniquilado, mas sim para ser compreendido. Nirvana não é o aniquilamento, pois continua-se a pensar, sentir e viver. O Iluminado somente não gera apego aos objetos dos sentidos e da mente. 

Disse o Buddha:  "Monges, existe o Não-nascido, o Não-formado, o Não-causado, o Não-condicionado. Se não existisse esse Não-nascido, esse Não-formado, esse Não-causado, esse Não-condicionado, não haveria nenhuma possibilidade de libertação para o que é nascido, formado, causado e condicionado". 

O Nirvana não é resultado de nossas ações, pois é um estado incondicionado. Está além da condicionalidade. Poderá surgir a seguinte pergunta: "se Nirvana não depende de nossas ações, para que tanto treinamento dirigido para o bem e as boas obras no Budismo"? É uma pergunta interessante, mas enganosa.  A natureza essencial de nossa mente é de pureza ou iluminação. Somos Buddhas em potencial, mas não sabemos disto. Assim como uma pedra ou metal  precioso estão escondidos latentes dentro do minério ou da rocha, precisam ser lapidados e polidos para que evidenciem suas qualidades. O polimento em si não cria a preciosidade, mas afasta as impurezas que a obscureciam. Somente isto. Da mesma forma as  boas ações e práticas meritórias são um polimento espiritual para nossas mentes que estão, no momento, cercadas e tomadas pela escória das paixões, da ilusão, da ignorância, da raiva e da má vontade. Isto tudo deve ser dissipado antes que a mente alce seu vôo livremente e viva no Nirvana, no aqui e no agora.

Buddha atingiu o Nirvana em vida, aos 35 anos, quando a persona ?Gautama Siddhartha? morria para dar lugar ao Iluminado Vivo. Por tradicional comodismo do jogo de palavras, diz-se que Buddha entrou no Nirvana no momento de sua Morte, mas isto é incorreto. O que aconteceu é que já estando Ele vivenciando o Nirvana por quarenta e cinco anos, no momento de Seu desenlace viu-se finalmente livre do estorvo do corpo físico, entrando em verdade no Paranirvana ou Parinibbana, o Nirvana integral. 

O Nirvana é um estado de inefável bem-aventurança, de paz e alegria sem limites, como se atesta pelas declarações daqueles que o atingiram. Aquele que realizou esta Verdade é o mais feliz dos seres. Sua saúde mental é perfeita; não se arrepende do passado nem se preocupa com o futuro; vive o momento presente e está livre da ignorância, dos desejos egoístas, do ódio, da vaidade, do orgulho. Torna-se um ser puro, meigo, cheio de Amor Universal, Compaixão, bondade, simpatia, compreensão e tolerância. Presta serviço aos outros com a maior pureza, não procura lucro, nem acumula coisa alguma, nem mesmo bens espirituais, pois está liberto do desejo de vir a ser alguma coisa. 

?Naquele que é caridoso  a virtude crescerá. Naquele que domina a si próprio nenhuma cólera poderá aparecer. O homem justo rejeita toda maldade. Pela extirpação da concupiscência, do ódio  e de toda ilusão, tu atingirás o Nirvana? 

-- o Buddha, Mahaparinibbana Sutta. 
"Fazei com que tua mente repouse na Verdade, difunde a Verdade e ponha a Verdade em teu ser. E na Verdade, viverás eternamente! O apego ao eu e à personalidade é morte contínua, ao passo que quem vive e se move na Verdade, alcança o Nirvana" 
-- o Buddha
Recapitulando: para compreender o Incondicionado (Nirvana) precisamos ver que tudo que tem a natureza de nascer tem a natureza de morrer; que todo fenômeno que tem uma causa é impermanente. Ao deixarmos as coisas serem o que são, sem agarrá-las, o desejo pode ser dominado e a liberação do sofrer atingida. 

Em resumo, a Terceira Nobre Verdade é a descoberta da possibilidade de cessação da dor. 

2.4. A Quarta Nobre Verdade - O caminho que leva à Cessação do Sofrimento - "magga"
Esta Verdade indica o Caminho a tomar para a cessação do sofrimento. Este Caminho prático é constituído de oito fatores -- assim, é também conhecido como Nobre Senda Óctupla ou Caminho do Meio. Antes de apresentá-lo, umas considerações. O Caminho é chamado de "nobre" porque coloca nossas vidas funcionando no lado positivo. É chamado de ?senda? porque nós temos de percorrê-lo, recriá-lo, trabalhá-lo; ninguém  fará isto por nós. É chamado de "óctupla" porque apresenta oito fatores que estão funcionando para o sustento de nossas vidas.  O espírito deste caminho é o meio-termo eqüidistante de todos os extremos, evitando a auto-indulgência de um lado e a auto-tortura de outro. O segredo está no "meio-termo". A Quarta Nobre Verdade consiste na base de todo treinamento budista, e consiste em três áreas de atuação simultâneas : Vida ética, Concentração e Sabedoria. As 3 estão interligadas e se complementam. 

O símbolo universal budista da  Roda, a Roda da Lei -- que se opõe à Roda da VVida de ignorância e sofrimentos, não é um símbolo fortuito. Como o nome já diz, a Nobre Senda Óctupla é composta por oito fatores, os quais são representados pelos oito raios da Roda. Cada Raio representa um fator que nós todos temos funcionando em nossas vidas diárias, só que de forma incompleta, de forma parcial, obscura ou errônea. Budismo nada mais é que uma forma prática para colocar estes oito fatores funcionando em nossas vidas em seu lado pleno, completo, desimpedido, correto.  Podemos ver que Budismo não é diferente de nossa vida diária; seu caminho não consiste em especular ou fugir do mundo, mas pelo contrário, atuar nele conscientemente. O último fator ou elo da Roda está intrinsecamente interligado ao primeiro, de forma que a Roda deve ser girada em todos os seus itens, passo a passo, começando onde nós estamos ou achamos mais fácil. E que fatores são estes? 

  1. Compreensão Correta ou Completa
  2. Pensamento  Correto
  3. Palavra Correta
  4. Ação Correta 
  5. Meio de Vida Correto
  6. Esforço Correto
  7. Conscientização Completa ou Correta
  8. Concentração Correta
Sobre cada item há muito do que se falar. Entretanto, o presente catecismo não se propõe a detalhá-los agora, dizendo somente que, com o estabelecimento de cada um desses fatores em seu lado mais pleno e puro em nossas vidas, criamos uma base sólida para a espiritualidade com uma vida ética - que é diferente de qualquer moralismo imposto ou auto-imposto - , crescemos em concentração e Vigilância ou plena atenção, e chegamos cada vez mais perto da Sabedoria. Só a Sabedoria é capaz de livrar-nos dos sofrimentos criados por nós mesmos e pelos outros. Só através da Sabedoria vemos a Verdade, e a Verdade nos libertará. 

Parte importante deste treinamento é a cultura mental, da qual o Budismo conta com mais de 2.500 anos de práticas testadas. A "cultura mental"  é precariamente traduzida por "meditação", e constitui a ferramenta principal para o nosso esclarecimento e auto-conhecimento, trazendo-nos o conhecimento sem palavras ou conceitos acerca da Realidade. Trazendo-nos Sabedoria.

Todo budista que pratique sua religião procura desenvolver qualidades e aptidões, sem os quais seu desenvolvimento espiritual não se estenderia longe. Amor, Compaixão, equanimidade, paciência, tolerância, respeito a todas as formas de vida, justiça,  etc, são somente alguns. Deverá aplicar o esforço correto para trilhar o caminho do meio, ficando longe de radicalismos, de pontos de vistas extremos e errôneos, vivendo conforme o conselho de Buddha: se esticarmos demais as cordas do violão elas arrebentarão, e se as deixarmos frouxas, elas não produzirão o som adequado. O ideal está no meio-termo, na medida correta das coisas. Assim, cada budista deverá descobrir qual é o seu "Caminho do meio". 

3. A Sabedoria ou Pañña 
A Sabedoria corresponde à compreensão das 4 Nobres Verdades, e mui especialmente da compreensão das Três Características da Existência
  • todos os fenômenos condicionados são impermanentes
  • todos os fenômenos condicionados são impessoais, carecem de um "eu"
  • apego dos desejos pelos todos fenômenos impermanentes levam ao sofrimento ou insatisfatoriedade
Ao contrário do que possamos pensar, ter a verdadeira compreensão destes 3 itens, não tem nada de desesperador, mas sim tranquilizador, pacificador. A Sabedoria procurada pelos budistas não tem nada de livresca. O Budismo é uma tradição viva justamente porque livros e palavras são tidos somente como guias ou setas apontando o Caminho. Um budista não guerreará para defender a letra morta de alguma escritura ou sutra.... Geralmente tem-se a idéia de que a Sabedoria seja algo que possa ser acumulado e guardado na memória; que ela tenha alguma relação com a compreensão discursiva ou intelectual, quando não é nada disto.  Sabedoria significa compreensão pura, visão clara e desimpedida, aqui e agora, da natureza de todas as coisas como elas são. É um conhecimento não-cumulativo que brota de dentro do ser, como um relâmpago que num segundo revela tudo a nossa volta na noite escura da ignorância. A Sabedoria está ou 
não evidenciada, e isto é somente um problema de cultivo. Pode não ser fácil, mas está perfeitamente ao alcance do ser humano, que tem esta possibilidade.  Buddha é um Sábio em toda a extensão do termo, pois atingiu a Onisciência. 
4. Impermanência ou Anicca
Teoricamente sabemos que ela existe, mas em verdade desconhecemos como a impermanência é lei geral da manifestação. O universo, com todos os seus planos e seres, estão num estado de eterno fluxo, ou movimento. Devido à tremenda velocidade de vibração e transformação das coisas e situações, nossos sentidos são incapazes de mostrar o âmago dos fenômenos. Por exemplo,  se girarmos um ponto de luz rapidamente no escuro, veremos um círculo onde não há círculo algum. A velocidade cria a ilusão de continuidade. Assim, o tumulto infindo de diálogos internos, tendências, pensamentos, sensações, percepções -- e a consciência decorrente destas coisas,  cria a ilusão de uma personalidade coerente e contínua, que chamamos de  "meu eu".  Esta verdade só é compreendida  em meditação. 

Tudo que tem uma causa, ou depende de contribuições externas para existir, tem um início e um fim. São os chamados fenômenos condicionados,  e os fenômenos condicionados são transitórios. Mas é aos fenômenos condicionados que o "eu" se apega, e quando há apego ao que é impermanente, há sempre sofrimento. 

5. Impessoalidade ou "Não-eu" ou Anatta
Desde o grande cosmos até a menor partícula subatômica, não existe uma entidade como pensamos que exista -- independente, autônoma. Tudo é uma grande rede de relações interdependentes, ensina o Budismo. Um acontecimento aqui afeta alguém ou alguma coisa acolá. Para a mente comum, um acontecimento torna-se espantoso e surpreendente porque nosso mundo mental ao qual estamos habituados é limitado, não alcança a amplidão de um processo cósmico. Assim, falamos em "sorte", "sincronismo", "azar", "rapport", "sintonia", "desgraça", "vontade divina" e o que mais pudermos rotular para esconder nossa ignorância. 

Todas as coisas se relacionam graças à Lei de Originação Dependente , proclamada e explicada por Buddha, em linhas gerais: 

"Estando isto presente, isso acontece.
 Do aparecimento disto, isso vem à existência. 
 Estando isto ausente, isso não acontece. 
 Da cessação disto, isso cessa" . 
Física Quântica

A física quântica veio a corroborar uma mensagem budista: a de que este mundo é ilusório; sua materialidade é composta de espaço vazio e partículas subatômicas que vagam neste espaço vazio em alta velocidade, mas das quais nunca poderemos prever onde elas estarão, ou que caminho percorrerão num dado momento, sendo que a simples tentativa de observá-las já afeta as características de seus movimentos. É o princípio da incerteza.  Não dá para garantir onde encontraremos uma dada partícula. A matéria é então constituída de muito espaço vazio e partículas diminutas em movimento incerto. A nossa noção de corporalidade, solidez, suavidade etc, depende do grau de agitação das partículas em movimento. Nossos sentidos não são capazes de penetrar nos níveis subatômicos e ver a realidade incerta que constitui a matéria. A interdependência da mente e da matéria fica muito clara nestas experiências dos físicos quânticos, pois a mente do observador afeta os resultados da experiência, o que nos lembra a Lei de Originação Dependente e a Teoria da Relatividade desenvolvida por  Einstein, de que toda experiência precisa de um referencial. O físico estabelece um ponto referencial e mede as coisas a partir dele. Nosso "eu" é somente um referencial, para que possamos funcionar no mundo. Os diversos agregados que o compõem eqüivalem às partículas que, sozinhas não são nada, mas que funcionando juntas dão a idéia de um corpo sólido e consistente. 

 Karma e Renascimento

Não é um eu ou alma que continua após a morte. O renascimento é possível porque as ligações cármicas não foram quebradas e ainda há energia para ser dissipada, como desejos e volição. O que renasce -- difícil de ser posto em palavras -- não é igual nem diferente à ultima personalidade. A reprodutividade do Karma nos conduz necessariamente ao problema do renascimento. É, de fato, um problema, porque se existe o Karma, tem de existir o renascimento também, e no entanto, não existe ser algum para ser reencarnado, de acordo com os ensinamentos de Anatta, ou "Não-eu". Karma e Renascimento estão intimamente interligados. É justamente o conceito errôneo de acreditar numa entidade própria que dá origem ao problema, e é o processo da realidade que o resolve. O simples fato de haver a pergunta  "o que é que renasce?", é baseada no desconhecimento do processo do Karma e da constituição do ser humano em partes agregadas e altamente coesas, mas todas perecíveis e "não-eu", ou ?não-entidades?. o Karma não é uma entidade que passa de uma vida para outra, mas é a própria vida, visto que a vida é o produto do Karma. Em cada passo que damos agora na idade adulta, estão também as frágeis tentativas de nossa infância; como ações, elas foram um processo que passou com o ato, mas aquele processo deu origem a outros processos, que originaram outros processos. A transformação é contínua, e não há um "eu" que fica parado, esperando morrer para pular para outra vida... O "eu" é o processo de transformação contínua! Um fluxo! O que chamamos de "morte" nada mais é que uma das fases deste processo de eternas transformações. Mas não é um fluxo de coisas desconexas, mas sim um fluxo dos agregados, coordenados  pelo Karma individual. 

6. Moralidade ou Vida Ética ou Síla
Aderir aos preceitos é essencial como proteção para a própria pessoa como para os outros. Ao mesmo tempo que estas as linhas a seguir definem um código de disciplina, as virtudes que trazem uma conduta moral podem também ser cultivadas com a prática do cultivo das qualidades do coração. 

Existem 5 Preceitos básicos que os praticantes budistas se comprometem (monges e monjas tem muitos mais). Uma análise moderna destes preceitos é feita pelo monge Zen vietnamita Thich Nhat Hanh, a saber: 

  1. reverência pela vida  - abster-se de matar
  2. generosidade - abster-se de roubar 
  3. responsabilidade sexual - abster-se de má conduta sexual
  4. escutar com profundidade e falar com amor - abster-se da mentira
  5. consumo consciente - abster-se de ingerir intoxicantes
No contexto do Caminho Óctuplo, estes cinco preceitos implicam :

Fala Correta
Fala Correta significa falar a verdade e falar apropriadamente, de acordo com o quarto preceito. Especificamente, implica em abster-se de : 

  • mentiras
  • fofocas e falas que causam a divisão
  • linguagem rude e abusiva
  • conversas vãs e sem utilidade
Ação Correta
Ações corretas são aquelas consistentes com os preceitos 1, 2, 3 e 5. Elas compreendem ações que demonstrem reverência pela vida, generosidade e controle da conduta sexual. 

Meio de Vida Correto
Meio de vida correto significa que a pessoa deveria sobreviver de uma atividade que permita o desenvolvimento dos cinco preceitos. Lidar com armas, drogas, violência, exploração dos outros e fazer lucro fácil com a boa fé alheia não conduzem a uma vida moral. 

7. "Meditação" e Cultura Mental
A prática da meditação desenvolve a conscientização (sati) e a concentração ou absorção (samadhi). Ela é um dos três pilares do Nobre Caminho Óctuplo. Desenvolver as qualidades do coração : gentileza, compaixão, simpatia-alegria e equanimidade também são possíveis através de meditações específicas. 
8. A Lei de Karma - Responsabilidade Pessoal
No Ensinamento Budista, a Lei de Karma diz somente isto : ?para cada evento que ocorre, ocorrerá um outro evento cuja existência foi causada pelo primeiro, e este evento será agradável ou desagradável conforme suas raízes sejam benéficas ou não?. Um evento benéfico é aquele que não é acompanhado pela ânsia ou ilusão, e um evento maléfico o é. Na verdade, os eventos não são maléficos ou benéficos por si sozinhos, mas sim devido ao estado mental que os geraram e que eles condicionam. Portanto, a Lei de Karma nos ensina que a responsabilidade dos atos é de quem os realiza.