Na visão budista, nenhum Buddha é um salvador mágico, mas sim um grande e compassivo Mestre da humanidade. O aparecimento de um Buddha é explicado por alguns como conseqüência da lei eterna de causalidade, quando a humanidade está mergulhada em profunda ignorância; e que a missão de um Buddha é restaurar e ensinar a Verdade. Outros explicam dizendo que o surgimento de um Buddha é devido a uma situação como a que existiu na Índia no tempo de Gautama. Naqueles dias, havia uma fermentação espiritual, em que toda a Índia era filosófica; as pessoas viajavam de um canto a outro em busca da Verdade, e havia milhões na busca. Naqueles dias criavam-se sistemas por todos os cantos. Eram tão complicados e complexos que nunca houve nada comparado a eles. Historiadores de religião e filosofia dizem que a Índia conhecia cada sombra e nuance de pensamento, cada via de ascese, descortinando todos os caminhos e abordagens. Desde aquele tempo não houve nada de novo em filosofia. Se você pensa que há algo de novo, é porque não está bem a par do que se passou na Índia. Um tesouro espiritual imenso está guardado em línguas mortas como o páli, o sânscrito e o prakit. Siddhartha Gautama surgiu nesse meio filosófico-religioso e, embora não possamos desvinculá-Lo da experiência humana e cultura de Seu tempo, Sua Iluminação foi a real inspiração de Seus Ensinamentos, pois Ele conheceu e provou de todos os sistemas de sua terra natal, e não encontrou liberação neles. Mas é a fermentação espiritual que prepara o terreno para um Buddha. Somente quando há milhões na busca é que é possível o surgimento de um Buddha, pois milhões de pessoas buscando forma a base da pirâmide na qual o Buddha forma o ápice. E , depois do Buddha nada de novo até hoje surgiu no mundo. 

Seja como for, por ignorância ou fermentação espiritual, a realização de um Buddha nada tem a ver com estímulos externos. Talvez estímulos externos tenham empurrado Gautama para sair em busca da Verdade, como tantos outros, mas o que Ele descobriu foi devido à Sua própria bagagem interna e Sabedoria. Um Buddha ou Perfeitamente Iluminado é aquele que se iluminou pelo próprio esforço e tem a capacidade de ensinar a todo tipo de ser e temperamento humano. Um Arahant tem a mesma Iluminação, mas não a tendência para sair a público e ensinar e ser notório como foi o Buddha. Assim, o conteúdo da Iluminação é o mesmo hoje como ontem, e se não temos notícias de iluminados modernos, é porque eles vivem vidas comuns e não anunciam nos jornais. Realmente comparando-se aos bilhões da humanidade, devem ser florescências raras, mas nem por isto inexistentes. Ven.Gunaratana quando esteve aqui no Rio em 1996 relatou que conheceu um verdadeiro iluminado quando ainda vivia no Sri Lanka. Volta e meia se fala de um mestre tibetano com esta qualidade. E por aí vai. Tem gente que especula se existem iluminados hoje ou não, como prova da eficiência do Dharma. Esquecem-se elas de que, mesmo sentadas em meditação já estão vivendo na iluminação, na eficácia do Dharma, e no próprio Nirvana!