NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

PENSAMENTO BUDISTA
Adaptado do artigo “Pensamento Budista” do Monge P. Vipassi.

A Verdade da qual fala o Budismo não é conceitual, e, portanto, não pode ser transmitida através de palavras.  Um Iluminado como o Buddha, pode nos guiar mostrando o Caminho para a realização da Verdade, mas nós é que temos de trilhar o caminho do autoconhecimento, através da auto-observação, estudo e meditação, de modo a descobrir os mecanismos da mente. Então a Verdade pode ser revelada e percebida em toda a sua beleza, poder e pureza.
O talento do Buddha, que foi desenvolvido em sucessivos nascimentos, através do correto desenvolvimento da concentração e outras formas de disciplina espirituais, lhe proporcionou uma mente soberana, autônoma. Então se pode compreender que uma mente soberana pode compreender e declarar profundas verdades relativas à vida, seu significado e propósito. O homem interessado no Budismo preocupa-se com a aplicação destas profundas verdades como soluções práticas para seus problemas e dificuldades, que o embaraçam na procura para a felicidade.
O Budismo, que se tornou a principal  “religião” no sexto século a.C., começou a se instalar em toda a região sul, central  e oriental da Ásia, inspirando múltiplos povos com uma civilização de bondade e autoaperfeiçoamento. A Verdade Eterna que ele desvendou é um lótus de muitas pétalas, que continuará a florescer em sua inexaurível infinitude, trazendo a mensagem de esperança, saúde e compaixão aos corações dos homens que buscam o Sublime.
O crescimento dos Ensinamentos do Buddha nos corações de milhões de pessoas ainda hoje, mais de 2600 anos após Sua Passagem pela Terra, mostram a relevância do Budismo em qualquer época ou clima.  No Budismo, as pessoas não são tolhidas de sua liberdade individual, tem um leque amplo de opções práticas e de exemplos, e o que é mais importante: não separa o conhecimento intuitivo do intelectual. 
Sistemas religiosos, filosofias e estratégias ideológicas; os “ismos” que tanto conhecemos, sempre tenderam a serem desacreditados com o surgimento de outros sistemas subsequentes. Estas doutrinas arquitetadas pela mente humana, unidas às paixões não conscientizadas, ou à pessoas ignorantes, geraram intolerância entre os homens e os levaram a trilhar obscuros caminhos. Com o progresso gradual da ciência, muitos modos de vida ainda assim permaneceram com suas corrupções morais. Muitas instituições sociais foram assim, ou expostas, ou desabaram sob o escrutínio científico. A história relata derrotas violentas de diversas instituições sociais, mostrando-nos a sobrevivência de uma idéia em detrimento de outras. Porém, uma sociedade só pode se fortalecer através de suas instituições. 
O Budismo, por outro lado, não conclama à violência contra qualquer forma de instituição. As instituições (família, religião, governo, etc) são necessárias à coerência social e sua funcionalidade, de acordo com as necessidades locais. Por outro lado, os padrões de pensamento e o irreprimível grito das paixões e apegos humanos não podem ser mudados pela simples troca de instituições. Assim, a revolução do Budismo se dirige aos fatos básicos da vida psicológica e mental comuns a todos os seres, o que constitui de verdade a base de todas as atividades humanas. Os valores sociais e humanos que se desenvolvem a partir dos Ensinamentos do Buddha adquirem um caráter excelente por estarem fundamentados na vida psicológica individual, e não nas funções de uma dada instituição formal. 
Estritamente falando, a cultura desenvolvida a partir dos Ensinamentos de Buddha, é a cultura da  mente do indivíduo. Entretanto, pelo processo de secularização, podemos ver que as instituições de cunho budista podem decair pela má aplicação dos Ensinamentos do Buddha. Mas o Ensinamento em si é imutável e eterno, independe de cultura, tempo ou localização. 
Uma sociedade constitui-se de uma totalidade de indivíduos aos quais a cada um em particular o Budismo endereça sua filosofia de cultura. Cada indivíduo se esforça para ajustar suas relações com a sociedade de acordo com o Dhamma. O Budismo revela então suas funções sociais. Dentro da consciência ética pregada por Buddha, o aspecto social da vida não é menos importante do que o aspecto individual. Neste sentido, o Budismo também tem um aspecto de filosofia social. O mundo budista existe compromissado com o modo de vida budista, porém, é constituído de vários países, que possuem suas próprias peculiaridades sociais e ambiente cultural. 
Na civilização budista encontramos um sistema chamado de estrutura e superestrutura. Sua estrutura geral é a filosofia fundamental do Buddha. É extra-temporal e extraterritorial, e assim, aplica-se com igual validade e relevância em todas as épocas e locais. A superestrutura é a civilização nacional determinada por fatores raciais e históricos, sujeitos à variação temporal e geográfica.
O modo de vida budista pode somente incorporar-se em indivíduos que habitam um território específico em uma época específica. Podemos então concluir que o Budismo é capaz de combinar o local com o internacional; o temporal com o atemporal. 
O modo de vida budista é baseado em princípios democráticos, e nenhum budista, seja ele monge ou leigo, é obrigado a acatar ordens que neguem a escolha livre e independente, de acordo com a Verdade e a Justiça. Na tarefa de uma construção nacional, na qual cada budista se esforça para contribuir, o que é requerido e desejável é a unidade baseada na igualdade, compreensão e confiança mútuas. Entretanto, todos os caminhos possíveis para a unidade, solidariedade e compreensão ainda não foram totalmente explorados pelos budistas.
A lealdade ao Budismo e dedicação à vida budista não deve interferir na amizade entre budistas e outros. Como indivíduos, é uma escolha particular seguir a Via budista, de acordo com nossos gostos e habilidades.
O Dhamma que o Buddha ensinou traz técnicas de comportamento, formas de atividade física e mental, inculcando uma peregrinação à perfeição. Seu Ensinamento central mostra as condições e relatividade de todos as coisas, explicando todos os eventos, fenômenos, coisas e pessoas. Ao nível de indivíduo, ensina a viver a vida não movido pelas circunstâncias, tranqüilo e sereno, equânime diante de dissabores e alegrias passageiras. Põe o homem como foco e origem de todas as coisas, preconizando que nele está o Caminho para a sua realização interior. Nega a onipotência da mera razão para aperceber-se da Verdade, a qual está sujeita à percepção da visão espiritual interior. Advoga a sanidade total, a moderação e a sabedoria não-discursiva adquirida pelo Caminho do Meio.
O Budismo expõe métodos para os indivíduos embelezarem suas vidas, e os governos desempenharem suas funções para o bem-estar comum. É necessário promover o Dhamma hoje para o bem dos indivíduos e da sociedade, produzindo beleza, qualidades e bondade. Serviço social e Justiça, associadas ao Dhamma, seria uma ferramenta poderosa a que ninguém se objetaria. 
Uma especial atenção deve ser dirigida para o trilhar da Nobre Senda Óctupla, para cultivar seus oito aspectos um a um, como fatores mutuamente cooperativos que sustentam nossas vidas ,desenvolvimento e bem-estar. É também importante compreender e realizar as Quatro Nobres Verdades. A palavra “dukkha” em língua páli significa “sofrimento intrínseco”, o que inclui obviamente sofrimentos físicos e mentais.  Porém, há sofrimentos que não são tão óbvios, como os que decorrem da lei de mudança ou impermanência de todas as coisas. Este aspecto da natureza o Buddha esclareceu com  as seguintes palavras: “YAD ANICCAM TAM DUKKHAM” : “Aonde há mudança, há sofrimento”. Além disto, todo sofrimento está fortemente enraizado em desejo egoísta. É necessário compreender como a luta pela satisfação dos desejos egoístas massacra o ser humano. A satisfação do egoísmo jamais se completará. 
Particularmente, os ingredientes da Nobre Senda Óctupla são úteis para a purificação do pensamento, da palavra, e da ação, resultando finalmente no completo extermínio do egoísmo e levando ao desabrochar da mais alta sabedoria. 
Diz assim o Buddha:
TANCA KAMMAM KATAM SADHU
 YAM KATVA NANUTAPPATI
 YASSA PATITO SUMANO
 VIPAKAM PATISEVATI
Aquele ato é bem realizado, quando após ele não há arrependimento e quando, com alegria e prazer colhemos os seus frutos” .