NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

 PERCEPÇÃO PENETRANTE
(Vidarasana Bhavana)
M. K. Sirinus - traduzido por Eduardo Gallez Romero

PREFÁCIO
Dehiwala Bauddhodaya Sangamaya foi fundada em 1945, dedicando-se à nobre causa de divulgar o Dhamma do Buddha, deleitando-se grandemente nesta ocasião histórica em que estende suas atividades a outros países além de Sri Lanka. Este passo adiante tornou-se possível graças à cortesia do Venerável Kotugoda Dhammawansa Nayake Thera, Patrono de Nossa Sociedade, o qual está por visitar os EUA em futuro próximo.
O Senhor Buddha advogou que "A Graça do Dhamma excede todas as outras Graças". Assim, este livrinho contendo um estudo de meditação em Budismo avançado, Percepção Penetrante (Vidarasana Bhavana), escrito em 1979 por M. K. Sirinus Esqr., Escrivão Assistente Geral em Sri Lanka, já falecido, foi escolhido por Nossa Sociedade para ser impresso e distribuído de graça   entre os amantes do Budismo, em Sri Lanka e particularmente no exterior, nesta ocasião de celebração do 41º aniversário de Nossa Sociedade.
O mérito provindo desta ação meritória, conferimos ao falecido Sr. Sirinus e a todos os outros seres vivos.
Possa a Paz e a Harmonia prevalecer sobre todo o Mundo.
 
Dehiwala Bauddodaya Sangamaya
Sri Dharmapalaramaya
Dharmapala Road, Mt. Lavinia
Sri Lanka, 5 de janeiro de 1987.
INTRODUÇÃO
Resultados apreciáveis dos ensinamentos Budistas são obtidos somente por Bhavana (meditação). Efeitos de Bhavana sistemática podem ser experimentados nesta própria vida. Uma longa prática de Bhavana cria conforto para corpo e mente. Pode parecer sem sabor nos estágios iniciais, até se alcançar desenvolvimento satisfatório. Devido à ignorância do sistema correto de Bhavana que leva a bons resultados, a prática torna-se amarga.
O Visuddhi-Magga dá uma descrição abrangente e detalhada de Bhavana. O avanço genuíno da Sasana repousa na obtenção dos processos supramundanos pelos devotos. No entanto, se o número de praticantes de Bhavana aumentar, isto é um marco de progresso da Sasana.
O objetivo de todos os Buddhas tem sido alçar a humanidade sofredora do interminável oceano Samsara, às alturas da Bênção do Nibbana. Portanto, é atividade sagrada para os Budistas na Sasana esforçarem-se seriamente pela Salvação. Deve ser lembrado que o único caminho para o Nibbana é Vidarasana Bhavana (Percepção Penetrante).
SISTEMA
Uma valorosa exortação do Buddha aos Bikkhus (monges) consistiu em incentivá-los a freqüentar as sombras das árvores, casas desabitadas e a meditar, de modo a evitar posterior arrependimento.
Formas de devoção e ritual, oferecimento de flores, doação de esmolas, construção de Viharas e observância de Sila somente, não levariam a alcançar o Nibbana.
Nenhum outro método além do desenvolvimento da visão interior através de Vidarasana Bhavana e alcançar os quatro estados de santidade, asseguram a bênção do Nibbana. No entanto, como pode ser longa a jornada no Samsara, outras ações meritórias, tais como a doação de esmolas, Sila, etc., são essenciais para aliviar o sofrimento até se alcançar o Nibbana. O completo desenvolvimento da visão interior, Vipasana, não falha em levar o praticante a níveis supramundanos, mesmo atualmente. É uma falácia achar que esta era é imprópria. O Thathagatha disse a Subadda que se os Bikkhus viverem na lei do Dhamma e trilharem a Senda de maneira perfeita, no mundo jamais deixará de existir Arahants (iluminados). Não pode ser afirmado com segurança que não haja atualmente pessoas de grande evolução, como Sowans e Arahants. Eles jamais proclamam haver atingido status supramundano. Mesmo no antigo Sri Lanka floresceram Arahants em abundância. O numero de devotos de Vidarasana é comparativamente baixo na atualidade. Há um conceito incorreto comum de que ouvir um Sermão do Buddha é um Sésamo ao Nibbana. Tais efeitos imediatos fluem para aqueles que já se qualificaram anteriormente no Samsara com os requisitos mentais (Upanisra).
Não menos errônea é a crença de que para alcançar os benefícios completos de Bhavana são essenciais a renúncia ao mundo, uso de manto e limitar-se à vida solitária na floresta. No entanto, aqueles aspirantes à libertação do Samsara podem praticar Vidarasana mesmo enquanto engajados no trabalho diário. Devem primeiramente conhecer o que prende os seres ao Samsara, bloqueando o acesso ao Nibbana.
MENTE E CORPO
Mente e corpo são a origem do sofrimento. A causa do contínuo renascimento é o Desejo (Thrisna), ou Anelo. A erradicação do anelo  resgata o Nibbana. A ignorância da natureza real da mente e do corpo é a causa da cobiça. Apesar da mente e do corpo produzirem em certas circunstâncias algo de suposto prazer, no entanto, há imensos efeitos adversos inerentes. Algo a recear e não a aderir. A ignorância leva a se ter uma imagem errada dos Cinco Agregados da existência. O antídoto é a prática de Vidarasana.
O QUE É VIDARASANA
Fundamentalmente, Vidarasana é ver e saber. Mas, para haver uma visão penetrante de pessoas e objetos tais como homem, casa, terra, árvores, etc., em aspecto analítico contendo as características de Anicca, Dukkha, Anatta (impermanência, sofrimento e ausência de alma) inerente a eles é real e genuína Vidarasana. Meditação Vidarasana é um longo processo. Tem que ser praticada passo a passo. Deve-se dispor de um período de tempo especial para Bhavana. Não deve ser menos que meia hora. Para resultados mais rápidos, um período diário de uma a duas horas é necessário. Sessões esparsas podem não produzir resultados nesta vida. Um local reservado para Bhavana deve ser conservado limpo. Os trajes utilizados pelo praticante devem também estar limpos. A impureza é inimiga da concentração (Samadhi). O sigilo deve ser mantido. Grande devoção deve ser conferida ao processo Bhavana. O dia Poya é preferencialmente adequado para começar. As horas da madrugada entre as 4 e as 6 e cerca de meia hora antes do nascer do sol são salutares. A postura conveniente (Buddha Paryanka) é com as pernas cruzadas, colocadas uma sobre a outra, a direita sobre a esquerda. Aqueles que acharem essa postura pouco confortável ou impossível, podem adotar qualquer postura confortável. Quando sintomas de dores de cabeça, ou peso, ou sinais de qualquer outro mal estar são sentidos, a meditação deve ser suspensa.
Um praticante vê o mundo e os afazeres mundanos de uma perspectiva bastante diferente da dos seres humanos normais. Deve portanto guardar-se de expressar seus pontos de vista a outros, preservando suas simpatias e idéias.
Quando  Bhavana progride por vários meses, podem aparecer muitas figuras criando luxúria, medo ou ilusões em frente aos praticantes. Tais imagens podem mesmo até falar! Tais ilusões devem ser ignoradas. Considerável perda de sono e fadiga das faculdades causam doença. O melhor método é seguir os conselhos de um instrutor competente.
PUREZA DISCIPLINAR (SILA)
Medo e suspeita freqüentam a mente culpada daqueles que praticam erros. Em tais mentes, Bhavana, ou Samadhi, não se desenvolve. Antes de lançar-se a meditar, deve-se estar puro de mente e de corpo, afastando todos os pensamentos e ações errôneos.
Deve estabelecer-se firmemente em disciplina (Sila). "Sila" entretanto não é uma entidade permanente. Quando esta se perde, deve ser reabilitada antes que Bhavana comece novamente. As seduções decrescem enquanto Bhavana se desenvolve, devendo ser perseguida sem trégua, acumulando-se continuamente forças para alcançá-la.
PUREZA MENTAL
É extremamente difícil haver uma visão interior penetrante da mente (Visão Vidarasana), do corpo ou dos seres e formações exteriores. O conhecimento obtido a partir de leituras e observações, somente, não produz uma visão genuína, ou compreensão das formações tais como realmente são. Tal visão é obtida por Bhavana. Baseada em Bhavana, a mente torna-se livre dos obstáculos que cegam a visão clara. É aconselhável alcançar concentração (Samadhi) inicialmente, para aquietar a mente efêmera, antes do desenvolvimento de Vidarasana.
PROCEDIMENTO
O praticante deve venerar e reverenciar o Buddha Iluminado com a maior humildade. Sentado em sua postura usual (Buddha Paryanka), com os olhos fechados, deve advertir a si mesmo com as seguintes palavras: 
a) apresse-se, desenvolva Bhavana antes que a velhice chegue, antes que a doença e a morte se apossem de ti; 
b) encare pequenos desgostos e sofrimentos, se te amedrontas com a doença, com a velhice e com a morte, emancipa-te; 
c) desiste de confortos menores do mundo se quiseres alcançar a mais alta bênção do Nibbana.
Dito isto, pratique Maitri Bhavana (amor universal) para todos os seres.
Finalmente, imagina que o Thathagatha Samma Sambuddha está sentado no Vajirasana à tua frente. Venere seus pés com devoção completa e invoque Sua bênção, Sua atenção. Com plena atenção na imagem do Buddha, em tua imaginação, serás capaz de ver o Buddha à tua frente. Então, pondera sobre as grandes qualidades do Buddha.
PUREZA DE VISÃO INTERIOR, OU CRENÇA - (DITTI VISUDDHI)
Não tratar a mente e a realidade corporal como tais, mas como um indivíduo ou pessoa, eqüivale a acreditar em uma alma. Não ver ou reconhecer pessoas ou indivíduos como pais, amigos ou algo assim, mas como formações, constitui a real sabedoria Vidarasana (Percepção Penetrante). Um praticante deve primeiramente adquirir esta percepção. Achará fáceis os próximos passos. Tem que usar uma mente analítica para alcançar correta compreensão de Nama-Rupa (mente e realidade corporal) em perspectiva correta. Isto, é claro, em sentido filosófico extremo. No entanto, banir todos os termos convencionais de expressão colocará o praticante em conflito com a sociedade, podendo vir a ser considerado lunático.
Conhecimento e sabedoria nascem de duas maneiras: intuitivamente ou  por aprendizado. A um praticante de alto nível mental será possível adquirir "Ditti Visudhi" após curto tempo de contemplação.
A realidade corporal muda constantemente desde a infância até a trôpega senilidade, e finalmente morre. "Nama" é a mente que impulsiona e controla o corpo.
Um ser é formado dos seguintes seis elementos: terra, água, calor, espaço vazio (Akasa) e mente. Então, estes elementos são temas para meditação analítica. Todos os objetos estão contidos no espaço. O corpo é formado de vinte elementos térreos tais como cabelo, dentes, pele, carne, etc. Doze líquidos: linfa, sangue, suor, etc. Quatro fogos produzindo calor, digestão, queima, destruição. Seis formas de ar e espaço (Akasa). Meditação isolada deve ser praticada em cada um destes elementos, considerando cada um como composto de certas qualidades e nada mais. Assim, individualidade, ou "Atta" parece ilusão. Todos os espaços vazios no corpo são Akasa Dhatu
ELEMENTO MENTE - (VINNANA DHATU)
É o elemento mente que opera todas as ações do corpo e dos sentidos. Sem o elemento mente, o corpo será somente uma tora inativa. Olhos, orelhas, nariz, língua, corpo e coração encontram sua fonte operacional na mente. Esforço em ação, conforto, tristeza, vontade, afeição, ódio e outros sentimentos que ocorrem na mente são Consciência Mental. Estes sentimentos ocorrem devido a várias causas e circunstâncias. É errado atribuir isto a um "Eu" (ego). É portanto útil contemplar cada uma das ditas seis portas que operam o processo do contato com a realidade (os sentidos), com suas características correspondentes.
Neste mundo há somente mente e forma. De maneira convencional última, mente e corpo formam um indivíduo. Estas duas existem juntas. Não é possível a estas existência em separado.
PURIFICAÇÃO DA DÚVIDA - (KANKA VITHARANA VISUDDHI)
Todos os esforços dos praticantes dirigem-se à meditação de modo a alcançar finalmente libertação de incalculável série de nascimentos, mortes e renascimentos no Samsara.
A Doutrina do Renascimento cria dúvidas em certas pessoas, assim como Nama-Rupa (mente e forma). Vivi no passado ou não? Se vivi, onde foi? É esta minha primeira vida? Como nasci? Acabarei eu ao morrer?   A contemplação, para alcançar purificação de tais dúvidas, chama-se "Kanka Vitharana Visuddhi". A convicção será alcançada procurando as causas que criam corpo e mente. Esta doutrina para estudo e contemplação é "Paticca Samuppada"  Originação Dependente - ou corrente de causas. É a doutrina do estado condicionado de todos os fenômenos físicos e psíquicos. Esta doutrina, junto à impessoalidade (Anatta), forma a condição indispensável para o real alcance e compreensão do ensinamento do Buddha. Mostra a natureza dependente e condicional deste ininterrupto fluxo multifacetado de fenômenos físicos e psíquicos de existência, convencionalmente chamada Ego do homem ou animal, etc.
A fórmula de originação dependente é a seguinte:  
Avijja Paccaya Sankhara. Pela ignorância são condicionados Sankharas. Apóia o renascimento produzindo volições (Cetana) ou formações Kármicas:- méritos e deméritos. Avijja é ignorar as Quatro Nobres Verdades.
Sankhara Paccaya Vinnana:- As formações Kármicas da vida passada condicionam a consciência na vida presente.
Vinnana Paccaya Namarupa:- A consciência condiciona os fenômenos mentais e físicos (Nama Rupa) na existência individual.
Nama-Rupa Paccaya Salayatana:- Os fenômenos mentais e físicos condicionam as Seis Bases, i.e., os cinco órgãos dos sentidos e a consciência como a sexta.
Salayatana Paccaya Phasso:- As Seis Bases condicionam a impressão mental sensorial (contato).
Phasso Paccaya Vedana:- Pela impressão é condicionada  a sensação. 
Vedana Paccaya Tanha:- A sensação condiciona o desejo, a cobiça.
Tanha Paccaya Upadana:- A cobiça condiciona o apego.
Upadana Paccaya Bhavo:- O apego condiciona o processo de existência, constituindo-se no processo de vida ativo e passivo, i.e., o renascimento, produzindo o processo Kármico (Karma Bhava). Como resultado, o processo de renascimento (Uppathi Bhava).
Bhava Paccaya Jati:- O processo existencial é renascimento condicionado (Renascimento produzindo karma).
Jati Paccaya Jara Marana:- O renascimento condiciona a velhice e a morte (tristeza, lamentação, dor, mágoa e desespero). Assim aparece a completa massa de sofrimento novamente no futuro.
A Doutrina Paticca Samuppada acima descrita (Originação Dependente) é muito adequada à contemplação, de forma a neutralizar todos os tipos de dúvidas que aparecem. Foi a contemplação que levou finalmente o Thathagatha a todos os conhecimentos. No entanto, deve ser lembrado que esta doutrina não traça e nem identifica o primeiro elo de um ser! O tempo não tem começo.
O sucesso ao contemplar as duas Bhavanas, na Certeza e na Dúvida, produz uma luz jamais vista anteriormente, frente ao praticante. Certas vezes sentirá um estado de júbilo espiritual como nunca antes sentido. Praticantes não sábios são assim levados a concluir haverem alcançado o supremo e sublime estado supramundano da mente. Os modos Correto e Incorreto de decidir são tecnicamente chamados "Magga Jnana Darshana". O modo incorreto é supor haver o praticante alcançado a Bem Aventurança após ter visto uma luz incomum, etc.
O TRÍPLICE SINAL - (TRIPLA SINALIZAÇÃO)
Para alcançar o modo correto é muito necessária uma intensa contemplação de Anicca, Dukkha e Anatta, da seguinte maneira:- todas as coisas compostas tem características distintas, mas as únicas características comuns e universais são a impermanência, o sofrimento e a inexistência da alma (Anicca, Dukkha e Anatta).
A real e intrínseca natureza destes três Dharmas (doutrinas), poderia ser compreendida somente através de Percepção Penetrante (Vidarasana) dos elementos componentes. Pela combinação dos quatro elementos, terra, água, calor e ar, uma minúscula partícula (Rupa Kalapa), menor que o átomo, é formada. Cada átomo é formado de muitas Rupa Kalapas. Terra, árvores, pedras, paus, ferros, carne, ossos, etc., são assim chamados de acordo com suas várias aparências e combinações, formando Rupa Kalapas (grupos corpóreos).
Filosoficamente, terra, pedras, etc., são somente combinações de Rupa Kalapas. Tais objetos formados de RupaKalapas são chamados Samuha Pannatti (ordens grupais). Formatos de objetos que aparecem como curtos, longos, altos, são chamados Sansthana Pannatti.
VIDA DE UMA RUPA KALAPA
Deve ser compreendido que cada Rupa Kalapa tem somente uma vida, ou existência muito curta. Aparece e desaparece durante o tempo de um piscar de olhos. Cada unidade de grupo corporal (Kalapa), é substituída por outra recém nascida em uma sucessão simultânea. Quando esta verdade é alcançada, o sentido real e o significado de "Anatta" é sentido (compare-se isto com a Física Quântica).
MENTE E FACULDADES MENTAIS
O tempo de vida de um pensamento divide-se entre nascimento, existência e desaparecimento. Uppada, Sthithy, Bhanga. O tempo destes três estágios é semelhante. O Abhidhamma descreve o tempo de vida de um pensamento como tão rápido quanto um piscar de olhos.
CARACTERÍSTICA DE SOFRIMENTO - DUKKHA LAKKHANA
É sofrimento ou dor, ver e experienciar o nascimento e o desaparecimento constante de pessoas e propriedades, etc. Um ser tem que enfrentar muita dor de diferentes modos e exercer cuidado constante para manter seu corpo decadente e a vida. Sofrimento similar é sentido no processo de manter a consciência (Vinnana), a qual é alertada ou ativada pelos cinco sentidos, etc. Ainda que o sofrimento em várias formações, Sanskara, seja facilmente entendido, o sofrimento inerente ao assim chamado prazer, ou alegria (Sukkha), não é prontamente sentido e compreendido. A perda da alegria, a qual não é permanente ou resistente, traz de volta o sofrimento implícito. É como o prazer de uma criança ao sentir quando lhe é oferecida uma guloseima mantida fora de alcance. A negação da guloseima, positivamente, cria sofrimento na criança. Até se poder ou não alcançar o que se cobiça, há sofrimento. O assim chamado prazer dura enquanto a mente está fixada. Ação contínua é necessária para manter sentimentos de prazer, estando assim um ser sujeito a inúmeros perigos e riscos. Um grão de areia, um inseto, uma mosca ou um mosquito podem irritar o corpo e a mente de um ser. Perigos advindos do fogo, da água e do vento também nos espreitam. Estas são algumas das características do sofrimento (Dukkha Lakkhana). Formações (Sanskara) inevitavelmente expõem-se a si mesmas ao perigo e ao sofrimento.
CARACTERÍSTICAS DA AUSÊNCIA DE UMA ALMA - ANATTA LAKKHANA
A característica da inexistência de alma das formações é a verdadeira antítese da crença na Atma (personalidade, eu, ego).
Nascer de acordo com sua própria vontade, comportar-se de acordo com suas próprias fantasias e caprichos e ser capaz de controlar outras características da vida, são as características principalmente aceitas do ego (Atta). Porém, é bem sabido que sem a combinação de causas, nenhum ser nasce e nada é feito. Nenhum ser e nenhum objeto pode existir sem deteriorar e decair. Não há portanto "Atta" causando nascimento ou controlando formações (Sankara). Concepções errôneas de Atta devem ser escrupulosamente evitadas. A realidade corporal parece encobrir ou esconder a característica Anatta da vida. Assim a contemplação dos elementos que constituem o corpo, tais como terra, calor, água e ar, deve ser continuada. Na realidade existe somente este processo contínuo, que se auto consome, aparecendo e desaparecendo sob a forma de fenômenos corporais e mentais, não havendo uma entidade egóica dentro ou fora deste processo.
OS TRÊS SINAIS  - TRI LAKKHANA
As três características da existência são Impermanência (Anicca), Sofrimento ou Insatisfatoriedade (Dukkha) e Impessoalidade (Anatta). Permanece a firme condição, o fato imutável e lei fixa de que todas as formações são impermanentes, sujeitas ao sofrimento e à impessoalidade. O que é impermanente é desagradável e miserável (sofrimento). O que é impermanente, miserável e sujeito a mudanças não pode ser definido como ego. As formações não fluem para uma existência futura e nada flui para o presente. Este princípio aplica-se aos elementos da consciência também (Vinnana Dhatu). Naquele que compreende o olho, os ouvidos, o nariz, a língua, o corpo e todas as formações como impermanentes, os grilhões (Samyojana) são dissolvidos.
De modo a causar a contemplação anteriormente citada dos Três Sinais, estabilizada e depois purificada, a contemplação pode ser continuada nos pontos também importantes a seguir:
1.- As formações são impermanentes por estarem sujeitas a instantâneo e indiscutível decair.
2.-
Constituem sofrimento (Dukkha), por estarem sujeitas a nascer e morrer.
3.-
São doenças, por estarem sempre a ser tratadas como a uma doença e à dor inerente.
4.-
São como feridas, pois fluem corrupções. São nascimento, maturidade e morte.
5.-
Causam dor internamente e são difíceis de desalojar. São como espinhos cravados no corpo.
6.-
Devemos condená-los por causarem séria maldade e ofensa.
7.-
Tem que ser alimentados, dar-se água e todas as necessidades devem  ser atendidas. São a morada das doenças, etc.
8.-
Não são controlados, mas sim, sujeitos a influências externas.
9.-
São facilmente susceptíveis a doenças, envelhecimento e morte.
10.-
Estão expostos a diversos perigos.
11.-
Estão sujeitos a perigos súbitos e a ferimentos, são sujeitos a desnutrição e ao envelhecimento.
12.-
Sendo uma mina de medos e obstrução à cessação de todos os medos, são uma formidável barreira opondo-se à meta do Nibbana.
13.-
Seguidos por inumeráveis inclinações de natureza errônea e apegados a várias doenças como lascívia, ódio, etc, são barreiras contra a meta da vida divina.
14.-
São abalados pela doença, envelhecimento, morte e lucros e perdas mundanos.
15.-
Estão sujeitos a destruição por natureza e por artifícios
16.-
São sensíveis a toda sorte de estágios e situações, não tendo estabilidade e permanência.
17.-
Não possuem segurança ou proteção contra o decaimento, morte, sofrimento e tortura nos infernos.
18.-
Não possuem absolutamente lugar seguro.
19.-
São incapazes de remover ou evitar o medo.
20.-
São isentos de suposta permanência, felicidade, saúde, ego. São vacuidade.
21.-
São de mínimo valor e vis.
22.-
Não tem mestres e operadores, etc. São vazios.
23.-
São isentos de "Atta" (ego) e são "Anatta" (sem alma).
24.-
Carregados de sofrimento e miseravelmente desabrigados, assim são.
25.-
São sujeitos às mudanças de deterioração e morte.
26.-
Facilmente se quebram ou são destruídos, não sendo substanciais.
27.-
São fontes de erro.
28.-
Apesar de serem considerados amigos, aparecem de maneira amigável somente, destroem e são virtuais carrascos.
29.-
Não tem permanência, felicidade ou saúde.
30.-
São passíveis de erro.
31.-
São condicionados.
32.-
São as vítimas da morte e do erro.
33.-
Tem a natureza característica de nascimento, envelhecimento, doença e morte inerentes.
34.-
Causam sofrimento, dor, choro e soluços.
35.-
São a fonte de crenças de luxúria, impurezas e outros erros.
OS DEZ ESTÁGIOS DA VIDA
As dez idades da vida humana são: infância, idade de brincar, idade da cor, idade da força, idade da inteligência, idade do envelhecimento, idade em que o corpo se curva para a frente, idade na qual, devido ao peso excessivo, o corpo se curva, idade da perda da memória, idade fraca na qual o sono e o deitar é induzido. Estes estágios de vida devem ser contemplados, atribuindo-se a cada um Anicca, Dukkha e Anatta (Impermanência, Sofrimento e Ausência de Alma).
TEMPO
Em atenção ao tempo, um ano pode ser dividido em suas seis estações e doze meses. Características e aspectos inerentes a cada uma destas divisões podem ser assim contempladas. Um dia pode ser dividido em suas partes e assim suas divisões tais como a noite, podem ser ponderadas à luz de Anicca, Dukkha e Anatta.
MOVIMENTOS DO CORPO
Similarmente, a meditação deve ser estendida aos movimentos: para frente, para trás, olhando em volta, esticando a mão, etc, na mesma base de Anicca, Dukkha e Anatta.
ESTADOS MENTAIS
A contemplação deve ser estendida às formas criadas pelas condições mentais. Em alguém vivendo em regozijo, formas suaves e coloridas ou complexas se geram. Alguém vivendo com humor sofrido gera um complexo duro, grosseiro, fraco e sem cor.
Que a consciência (Vinnana) é instável e impermanente é um fato bem estabelecido. Se há somente uma forma sem consciência, não há sofrimento, seja o que for que lhe aconteça. Portanto, o sofrimento é resultado do sentir.
O conhecimento é devido à geração de consciência. Poderia-se então concluir que toda dor e sofrimento terminam com a erradicação da consciência. Apego e luxúria, como formações acabam quando o praticante vê sua real natureza impermanente, sofrida e sem alma. Ao mesmo tempo, ele deve abster-se de pensamentos de "meu" e "eu". Estes formam um "ego".
Todas as formas mentais e pensamentos em todas as conexões possíveis, são alinhados com impermanência, sofrimento e ausência de alma.
SOMENTE FORMAÇÕES
Finalmente não é um indivíduo, ou ser, que gratifica-se em Vidarasana Bhavana (percepção penetrante). Somente formações contemplam formações. Portanto, ambos, o que contempla e as formações contempladas são objeto de Anicca, Dukkha e Anatta.
É prática comum ver coisas em um quarto escuro após acender-se um fósforo, ou alguma outra luz. Quando a luz se vai, a escuridão prevalece.
NASCIMENTO E ENVELHECIMENTO
Aquele que alcança a habilidade de compreender o nascimento e a deterioração das formações associadas a si mesmo e ao mundo exterior, pode ser apontado como imbuído da sabedoria de ver o nascimento e a deterioração (Udayabbaya Jnana). O nascimento de um ser é causado pelo seu Karma da vida anterior, especialmente pela luxúria de vida e existência. É de fato a sua própria continuidade da vida prévia. É continuação de Avidya (Ignorância), Tanha (Desejo) e Karma da existência prévia. É o alimento que mantém um ser vivo.
Com a remoção da Ignorância, as formas desaparecem.
Com a remoção do Desejo,       "       "             "
Com a remoção do Karma,       "       "             "
Com a cessação de Karma,       "       "             "
Com a negação de Alimento,     "       "             ".
FIM DA CORRENTE DE CAUSAS
A total eliminação de Avidya (Ignorância), leva à destruição das formações, Vinnana (Consciência) desaparece com a eliminação das formações. Eliminação da consciência (Vinnana) destrói mente e forma (Nama Rupa). Quando a mente e a forma são eliminados, desaparecem as Seis Bases (Salayatana). Não há percepção quando as Seis Bases são eliminadas. Com a eliminação da percepção não haverá sentimento (Vedana), com a eliminação de Vedana (sentimento), é destruída a cobiça. Quando a cobiça (Tanha) cessa, não há apego (Upadana). Com a eliminação do apego, o processo de vir a ser é destruído. O renascimento cessa quando o vir a ser (Bhava) é destruído. Uma hoste completa de sofrimentos, como o envelhecimento, dor, morte, etc, desaparecem com a cessação do renascimento.
VISÃO REAL
O praticante que houver alcançado a Nobre Verdade, origem dependente (corrente de causas) e os Três Sinais (Tríplice Lakkhana), vê na perspectiva correta todas as formações que aparecem e se destroem, desaparecendo como bolhas no oceano, ou miragens, assim instantaneamente...
Pela repetida continuação da contemplação, o praticante chega a certo padrão de conhecimento Vidarasana. Então, certas visões enganosas lhe aparecem: uma suave luz brilhante, uma alegria de vários graus, um sentimento mental de satisfação doce e refrescante afetando corpo e mente (Passaddhi). Então, há um sentimento de contentamento e alegria, afetando formações (Adhimokkha). É um sentimento determinado por Sadha. Então vem Pragrahaya, um poder associado com Vidarasana, "Sukkha" que é experiência.. É o resultado do sentimento feliz e saudável gerado por Vidarasana. Uma afiada sabedoria chamada Jnana o imbui, penetrando as partículas materiais. Uma mente extraordinariamente plena, que o faz reconhecer todas as formações, aparece (Smruthi). Após aparece um caminho médio de pensar sobre as formações (Upekkha). Estes novos poderes subitamente nascidos, criam em si um grande desejo e cobiça por Vidarasana. O praticante não deve se deixar seduzir pensando serem estas visões sinais de sucesso em Vidarasana Bhavana e sua chegada ao estágio de Sowan.
Tais visões não o devem deslumbrar. Deve aplicar-se a Bhavana como antes e livrar-se de ilusões.
NOVE GRANDES SABEDORIAS
Há nove grandes sabedorias alcançáveis na mais pura forma através da prática de Vidarasana. Tal sabedoria purifica todas as manchas (Klesas). Finalmente, leva à sabedoria supramundana. O praticante que alcançou já o caminho correto para alcançar pureza, superando os modos incorretos, deve agora esforçar-se para obter as Nove Sabedorias a seguir mencionadas:  
1.-
Udayabbaya (nascimento e envelhecimento);
2.-
Bhanganu Dassana (dissolução das formações mentais e materiais); 
3.-
Bhayatu Patana (contemplação do contínuo envelhecimento e destruição de todas as formações). Sob completa compreensão, isto desenvolve uma apreensão no praticante; 
4.-
Adinavanu Dassana (contemplação dos traumas e perigos inerentes ao Samsara). A completa compreensão disto torna o praticante desgostosos com o Samsara. Torna-se apto a alcançar a libertação; 
5.-
Nibbidanu Dassana. Esta sabedoria torna o praticante totalmente desgostoso do Samsara. É um subproduto do item 4 acima; 
6.-
Munchitukamyata Jnana (esta sabedoria enfatiza o fato de não existir libertação do intenso sofrimento da vida exceto através da total abdicação das formações- Sanskara); 
7.-
Patibhanganu Dasana (Esta sabedoria leva o praticante a claramente ver a Real Verdade de Anicca, Dukkha e Anatta - Impermanência, Sofrimento e Inexistência de Alma). Para obter esta sabedoria, o praticante tem que escavar sua mente e arrancar todas as Klesas (manchas), para posterior contemplação;
8.-
Sankarapekkha Jnana (Esta é a sabedoria que compreende o vazio, ou nulidade das formações  É o mesmo que ver a inexistência da alma: Anatta);
9.-
Anuloma Jnana: Não há contemplação específica para alcançar esta sabedoria. É a contemplação repetida dos Três Sinais (Thri-Lakana). É conhecimento adaptado e está ligado com, ou acompanha Udayabbaya Jnana. Precede Gothra Bhu Jnana, o estado mental imediatamente precedente à absorção (Dhyana).
OS QUATRO ESTÁGIOS SAGRADOS
Sotapatti (entrando na correnteza), Sakadagami (retorna uma vez), Anagami (não retorna), Arahant (percorreu completamente o caminho da Felicidade), são os estágios Nobres que constituem Gnana Dassana Visuddhi (pureza que leva à Sabedoria Real). Estes estados mentais são imunes às formações. Seguindo a mente Gothra Bhu, livre de formações, entendendo a mente Nirvânica supramundana, o praticante entorna a sua mente leiga e alcança o primeiro estágio sagrado de Sotapana. Neste estágio obtém conhecimento prático das quatro Nobres Verdades. Um Sowan não teme voltar atrás. Jamais vai para o inferno. Sua eventual entrada no Nibbana está garantida. Certos Sowans alcançam também os três estágios restantes no mesmo assento, em sucessão. Termina então o Renascimento. Após alcançar o estágio de Sowan, não tem mais práticas futuras, ou princípios a seguir. Enquanto contempla as Cinco Skandas (forma, sentimento, etc.) à luz de Anicca, Dukkha e Anatta (impermanência, sofrimento e ausência de alma), diminui consideravelmente sua luxúria sensual (kamaraga) e ódio (Vyapada), alcançando o estágio de retornar uma vez - Sakadagami. Futura contemplação das manchas da luxúria sensual e, no devido tempo, o processo alcança o estágio de Anagami (não retorna), erradicando luxúria sensual e ódio inteiramente. Se Dhyana é alcançada, renasce no mundo de Brahma. Anagamin contempla as manchas de seu próprio estágio, livres e presas, e também o Nibbana. Com futura contemplação alcança o estágio Nobre Arahant.
O sistema acima descrito de práticas são possíveis para leigos e Bikkhus (monges).
LEIGOS
Aqueles que através de extenuante esforço de contemplação alcançam os primeiros Três Estágios Sagrados, continuam a viver como leigos. Aqueles que aspiram assumir o manto, assim o fazem. No entanto, a vida leiga não é compatível com o estágio final Arahant. Os leigos que alcançam este estágio ordenam-se na Sangha ou partem desta vida. Aqueles que não tem expectativa de vida de pelo menos uma semana, expiram como leigos e entram no Nibbana. Aqueles cuja vida ainda for superior a uma semana, tornam-se Bikkhus.

Possa Vipassana Bhavana lhe trazer a Bênção do Nibbana