NAMO BUDDHAYA - NAMO DHARMAYA - NAMO SANGHAYA !

 POR QUE PRATICAR BUDISMO?
O PONTO DE VISTA BUDISTA.

Why do the babies starve, when there’s enough food to feed the world?
  Why when there’s so many of us, and there’s still people who feel alone?
  Why are missiles called peace keepers, when they’re aimed to kill?
  Why is a woman still not safe, when she’s in her home?”  (*)
                                                                              “Why” - Tracy Chapman.
Nós podemos constatar, por experiência própria, que todos os seres desejam a felicidade e não desejam o sofrimento. Este é um sentimento básico que todos temos em comum. Contudo, constatamos também que o ser humano, ao tentar obter a felicidade, envolve-se numa massa de sofrimentos e envolvimentos. E por que? Já se perguntaram? Há mais de 2500 anos atrás, o Buddha fez as seguintes constatações, resumidamente: 
1º )   que o sofrimento existe;
2º )  que o sofrimento humano tem causas;
3º )  que o sofrimento humano pode ser terminado ou atenuado, extinguindo-se ou atenuando-se as suas causas;
4º )  que para obter este resultado, é necessário um caminho de ação, uma tomada de consciência.
O Buddha, antes de falar em felicidade, falou-nos dos sofrimentos. Como? As pessoas não já conhecem o sofrimento? Sim, mas todos nós, apesar de experimentarmos os sofrimentos, não estamos realmente conscientes de suas causas. 
O Sublime dedicou toda a sua vida à mensagem de que o sofrimento - como todas as outras coisas - é; um fenômeno, isto é, nasce de causas e cria conseqüências (tem início, meio e fim). Tão logo desapareçam suas causas, desaparecem suas conseqüências. É uma lógica budista muito elementar, mas também muito difícil de se aperceber. Por isto, as pessoas, ao procurarem a felicidade, encontram dissabores, se a elas fogem as causas e condições dos sofrimentos. 
Somos basicamente ignorantes destas causas. A ignorância ou desconhecimento é uma das causas do sofrimento.
Podemos criar uma definição de felicidade como ausência de sofrimento. Este é um aspecto. Neste particular, a mensagem central dos Ensinamentos do Iluminado é uma ferramenta poderosa para a liberação gradual e total da insatisfatoriedade. 
Todos os seres desejam ter paz, mas não sabem realmente como produzi-la ou encontrá-la. Devido a um condicionamento muito forte, de vidas e vidas em dispersão, nossas mentes são um pátio de recreação de pensamentos, de sentimentos acumulados, de sensações, etc. As pessoas não possuem a tranqüilidade mental, que é um pré-requisito para níveis de consciência e percepção mais acurados. Vem um pensamento e somos levados com ele. Vem uma emoção, e embarcamos nela. A mente humana é uma bagunça, basta sentarmo-nos um minuto para constatar como ela é ativa. As práticas budistas não são difíceis, nós é que estamos muito mal acostumados! 
Se não temos a paz interior, como nações e vizinhos podem ser pacíficos entre si? 
A Paz começa “em casa”, e precisamos lutar para obtê-la. Lutar conosco. A história de Iluminação do Bem-Aventurado mostra como Ele mesmo, ainda um Bodhisattva, teve de lutar com Suas próprias paixões, ilusão e ignorância, personificadas pelos exércitos de demônios e por Mara. E saiu desta batalha monumental como um Jina ou Vitorioso, tendo conquistado a Si mesmo. Esta Conquista do Buddha se traduziu em Sabedoria, Paz e Compaixão. 
Os Ensinamentos do Buddha trazem, no seu bojo, o caminho mais excelente para a obtenção de tranqüilidade ou equanimidade, via autoconhecimento. Nós mesmos temos de lutar  com  nossos próprios  demônios  do  egoísmo, da aversão, do apego, da angústia, da ignorância, da autopreservação, da raiva, do medo. Enquanto estes demônios forem ativos, dominam nossas mentes, tiranizando-nos. E assim, não temos a Paz. A mente tiranizada é como aquele macaco, que vive pulando de galho em galho; vai para onde os ventos soprarem. Não tem controle. E, sem controle, todos nós sabemos bem qual pode ser o resultado: dor, sofrer, doenças, etc. 
Por um condicionamento forte, nosso mental está rodeado de “sujidades” diversas, tais como raiva, ignorância, ódio, apego, egoísmo, preferências  e tendências mentais, etc.
Mas tudo isto fica na “periferia” da mente, e não faz parte de sua verdadeira natureza, que é idêntica ao estado de Buddha. Mesmo o Sol, este astro de luz superpotente, pode ser bloqueado por simples nuvenzinhas locais, e temos a tempestade!  O mesmo se dá com a mente. Estas sujidades tomaram conta de nossas vidas, e pior de tudo é que as tomamos como expressão verdadeiramente nossa, de nosso eu...
Portanto, para quem quer triunfar sobre as próprias imperfeições, a cultura mental budista é um Caminho, um Caminho com o coração. Pela cultura mental, ou “meditação”, nós voltaremos a ter as rédeas de nossas vidas. A escuridão criada pela ignorância cede lugar à luz e à visão clara das coisas como elas são.
A cultura mental traz de volta ao nosso cotidiano a atenção ou vigilância. Se foi por uma falta de atenção que nos envolvemos em sofrimentos, nada mais justo que, pela vigilância, nós coloquemos nossas vidas funcionando no lado mais pleno ou “positivo”. A prática do Budismo é inseparável de nossa vida diária. Nossa vida cotidiana é nossa prática. 
Todos nós temos um nível de atenção ou vigilância, funcionando nas portas dos 6 sentidos (nossos cinco sentidos, mais a mente, considerada no Budismo como um dos sentidos). Foi por este nível de atenção que aprendemos a falar, andar, e nos moldamos como somos hoje. Só que este nível de atenção é insuficiente para lutar com nossas imperfeições. Precisamos de um reforço da atenção, e isto vem através de técnicas elaboradas, como as meditações. São a “ginástica mental”. Pela Atenção Plena, tudo se nos apresenta mais claro, dando-nos a Compreensão Correta das coisas, e afastando-nos do sofrimento. 
Praticamos os Ensinamentos do Buddha, então, para sermos felizes, para obter a Paz e o Conhecimento, na forma de Sabedoria. 
Sabedoria, da maneira como Buddha a exemplificou, é a Visão das coisas como elas realmente são, e provém da experiência direta de uma Mente desimpedida com a Realidade. Buddha é um Sábio, não sentido intelectual da palavra, mas Aquele que Sabe e Vê, com Sua Visão e Percepção penetrante, advinda do desenvolvimento das faculdades espirituais. 
Praticamos o “Budismo”, ou mais acertadamente os Ensinamentos do Buddha, não somente para o nosso benefício, como também para o benefício de todos os seres. O bem-estar completo do outro também deve ser preocupação do verdadeiro budista.  A Via espiritual budista é muito rica e plena de satisfação, se praticada. 
Vida espiritual significa a luta sincera com nossas próprias imperfeições, especialmente a ignorância e a raiva. Onde há raiva não há espiritualidade. O Budismo é uma Via séria de desenvolvimento espiritual, preenchendo as brechas deixadas pela falta de instrução espiritual e pelos dogmas estéreis de tantas religiões. Li na revista Veja, nº 9 de 01/03/1995, para a minha surpresa, que mesmo um católico fervoroso como John Travolta, encontrou suporte e respostas  nos Ensinamentos do Bem-Aventurado, ajudando-o no pior momento de uma crise. 
O caso de John Travolta é um em centenas de milhares, ou talvez mesmo milhões de ocidentais. Poderíamos falar em Tina Turner, Elza Soares, Cláudia Raia, Richard Gere, Alan Ginsberg,  Richard Clayderman, Roberto Baggio e outras pessoas famosas, mas o que dá respaldo ao Budismo não é a adesão ou concordância dessas pessoas famosas, consideradas de “peso” na opinião pública, mas sim a “frescura” dos Ensinamentos do Buddha, mesmo 2.600 anos depois. Seus Ensinamentos são tão atuais hoje quanto na época em que viveu porque Buddha ensinou algo que é básico a todo o ser humano,  independente de casta, credo, cor, sexo, raça, ou de momento histórico- cultural. É uma mensagem universal e atemporal
A validade dos Ensinamentos budistas está na sua prática de transformação. Para obter os frutos desta prática, os budistas devem conhecer os seguintes pontos doutrinários, cada vez mais aprofundadamente: 
1.- as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo;
2.- as Três Características da Existência manifestada, a saber: impermanência, insatisfatoriedade e impessoalidade de todos os fenômenos;
3.- a Lei de Originação Interdependente;
4.- a Lei de Karma e Renascimento;
5.- a Vacuidade;
6.- a fé baseada no conhecimento;
7.- a futilidade e inutilidade de argumentos especulativos;
8.- o conhecimento de técnicas de “bhavana”, ou cultura mental.
O budista também deve ter em mente que “sua fé” tem as seguintes características:
1.- tolerância e universalidade;
2.- adogmatismo e investigabilidade;
3.- constatável nesta vida;
4.- praticabilidade;
Deve ainda saber que a Doutrina tem 3 Pilares, a saber:  vida ética, concentração e Sabedoria.  Ou ainda, dois aspectos inseparáveis: o desenvolvimento das faculdades do Coração e da Mente. É um desenvolvimento integral do ser humano. Compaixão e Sabedoria andam de mãos dadas. 
Será que com este breve ensaio você já poderia responder às inquietantes perguntas de Tracy Chapman?? Porque tanta situação de infortúnios e insatisfatoriedade? 
Por que os bebês sofrem com fome, quando há bastante comida para alimentar o mundo?  
  Por que havendo tantos de nós, e ainda assim existem pessoas que se sentem só?  
  Por que os projeteis são chamados de guardiães da paz, quando eles são apontados para matar?  
  Por que uma mulher não está segura, ainda que ela esteja em casa?” (*)