Homenagem a você, para quem todos os Dharmas são
simples desde o início!
Homenagem a você, que permeia todas as coisas com grande compaixão! Homenagem à suprema salvação de todos os seres migrantes! Homenagem a Você, Oh Tara, que é a mãe dos conquistadores! |
"Devido a suas raízes de virtude,
se você, neste seu corpo atual, rezar para em uma próxima vida tornar-se um homem e praticar os ensinamentos, obterá sucesso. Isso é o que deve fazer, e, ao final,
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"Não há homens ou mulheres,
Nem ego, nem personalidade ou consciência. Os rótulos "masculino" e "feminino" não têm essência, Mas maculam ainda mais este mundo enganoso." "Muitos desejam a iluminação em corpo masculino,
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Mais adiante, em um eon chamado Vibuddha (Expandido), diante do Tathagata Amogasiddhi, fez o voto de proteger e salvar todos os seres sensoriais de todas as ameaças, pelos infinitos mundos das dez direções.
Concentrando-se no samadhi "Derrotando Todos os Maras", a cada dia, durante noventa e cinco eons ela estabeleceu uma centena de milhares de bilhões de líderes de seres sensoriais em dhyana, e, à cada anoitecer, subjugou um bilhão de Maras, senhores dos céus de Paranirmita-vasavartin. Por isso recebeu os nomes de Tara (Mãe Salvadora), Mãe Amorosa, Veloz Salvadora, e Heroína.
Adiante, em um eon chamado Não-obstruído, o monge Brilho da Luz Imaculada foi consagrado com raios de luz de grande compaixão por todos os Tathagatas das dez direções e, assim, tornou-se Aryavalokita (Avalokiteshvara - BODHISATVA da Compaixão). Então, novamente os Tathagatas das cinco famílias e todos os outros Buddhas e Bodhisattvas consagraram-no com grandes raios de luz da natureza da sabedoria da onisciência, de tal forma que, da combinação dos raios de luz anteriores com os últimos, como pai e mãe, surgiu a Deusa Tara. Emergindo do coração de Avalokiteshvara, ela manifestou a intenção iluminada de todos os Buddhas em proteger os seres sencientes dos oito grandes medos.
Mais adiante, no eon chamado Mahabrada (Muito Afortunado), ela ensinou manifestando-se na aparência "Imovível" do estágio de encorajamento. No eon chamado Asanka, pela consagração de todos os Tathagatas das dez direções, tornou-se conhecida como a mãe que origina todos os Buddhas.
Tudo isso em passado muito remoto, em tempos sem início.
Tara responde?
Quando há um problema, isto se dá referido a causas e condições. Quando as causas e condições mudam, o problema muda ou desaparece. Ao focarmos Tara, focamos a natureza da espacialidade e luminosidade pura. Nesta, que é a condição natural de nossa mente, os problemas são focados com o olho de verdade (sânsc.: Prajna, tib.: Sherab) e mostram sua natureza verdadeira: sonho, ilusão. São como uma bolha, uma faísca atmosférica: surgem e desaparecem, não têm consistência, natureza própria, sustentação.
Quando assistimos um filme, a identificação com os personagens é imediata. Ainda que esteja claro que trata-se de uma ficção, as emoções surgem e somos capazes de nos inflamar. Por um lado isso é completamente ilusório. Por outro lado, tem a beleza da dança da natureza fundamental da mente, produzindo manifestações transitórias e fugazes ao operar sob condições variadas que se sucedem. O que chamamos "realidade da vida" não é diferente.
A realidade das experiências ao assistirmos um filme é criada por uma combinação de causas internas - marcas mentais associadas as seis emoções perturbadoras (carma) - e fatores vindos através dos sentidos físicos. Como resultado, surgem medo, esperança, raiva, orgulho, desejo, inveja, avareza, espaço, tempo, justiça, certo e errado. Exatamente o mesmo ocorre quando das experiências "reais".
Quando percebemos a natureza da realidade que está além das transformações e dos referenciais, além de espaço, tempo, nome ou forma, além de propósito, de certo ou errado, todos os jogos passam a ser vistos como o que são: jogos. Atuam pela modulação da energia fundamental indiferenciada. Dão a sensação de realidade pela experiência de fixação que temos neles. São ilusórios porque surgem sob referenciais, faltando-lhes consistência própria. Entretanto, como um sino que soa ao ser tocado, são perfeitos em sua finitude, manifestação maravilhosa da natureza básica atuando sob condições.
O frescor e alívio dessa compreensão são bênçãos de Tara.
Pedindo ajuda
Faça uma lista cuidadosa do que você quer.
Olhe agora a sua lista. Há algo nela que seja permanente? Algo
que não possa ser roubado, que não vá estragar, envelhecer
ou morrer? Há algo aí que você não tenha que
abandonar ao fim da vida ou antes mesmo? Existência cíclica
é esta infindável experiência de carência por
objetos, situações e pessoas, apenas para mais adiante isto
originar mais sofrimento. Em cada corpo, por incontáveis vidas até
a extinção completa da ignorância, sucedem-se estas
experiências de nascimento-e-morte.
Olhe novamente sua lista. Se o que você está buscando é impermanente, seu esforço apenas movimenta a existência cíclica, essa Roda da Vida onde a doença, velhice, decrepitude e morte são os estágios finais das ilusões criadas. Foi justo a percepção desse ponto que produziu no príncipe Siddhartha a motivação de atingir a liberação da condição de um Buddha, tornando-se capaz de ajudar efetivamente os outros seres em seu vaguear sem rumo. Esta é a diferença entre os deuses mundanos e os Buddhas: os primeiros nos suprem do que é transitório e resulta em sofrimento, os Buddhas, do que é permanente e libertador. Os Buddhas nos apontam a natureza fundamental de nossa própria mente, idêntica e una com a mente de Tara e todos os Buddhas.
Quando o príncipe Siddhartha estava sentado sob a árvore Bodhi sendo atacado por Mara e seus exércitos, os deuses que até então o tinham aconselhado e propiciado seu caminho, impotentes e aterrorizados ficaram ao lado, apenas assistindo. Os deuses estão submetidos à dualidade, à ignorância, à noção de um eu separado, de outros eus, de espaço, tempo, ganho e perda e, portanto, estão sob o domínio de Mara. Tudo o que oferecem está sujeito a doença, velhice, decrepitude e morte. A despeito de seu poder, estão presos à roda de Samsara. Ainda que sua vida seja longa, ao final o fruto de sofrimento e morte é também inevitável. Mesmo eles necessitam a iluminação - a transcendência -, pois, não reconhecendo sua natureza verdadeira, atuam por carma, submetidos a Mara.
Foque seu problema e peça clareza a Tara. Peça para que você e todos os seres reconheçam a natureza verdadeira de si mesmos, e que o sofrimento se extinga. Este fruto de liberação não pode ser roubado, nunca será perdido, não pode ser esquecido, não cria rugas, não precisa ser polido. É o fruto que atravessa vida-e-morte, está além de espaço e tempo, além de eu-e-outro, além de todos os universos e, ao mesmo tempo é inseparável de tudo isso. Quando pedir, a liberação que surgir em sua mente é a imediata resposta de Tara. O que mais merece ser pedido? Que outra ajuda haverá para você, para seus filhos, seus pais, seus queridos, quando eles se aproximarem da morte? Tara pode proporcionar esta ajuda, os deuses não. Tudo o que os deuses proporcionaram durante a vida ou que possam neste momento oferecer será inútil.
Isso não se dá apenas no momento da morte. Em realidade, neste exato momento estamos, como o Buddha Sakyamuni, sob a árvore Bodhi, atacados por Mara. Os deuses jogam flores. Só Tara pode nos oferecer ajuda: a liberação pelo reconhecimento de nossa própria natureza e do aspecto ilusório de tudo o que Mara produz contra nós.
Se achar difícil entender assim, veja: uma criança que grite mãaeee!, irá provocar a imediata solidariedade de quem estiver à volta. Com muito mais razão, quando recitar o mantra de Tara — Om Tare Tam Soha —, Tara e todos os Buddhas imediatamente responderão. Experimente! Você pode usar qualquer mantra, o essencial é focar a mente em Tara e nos Buddhas. É imediato. Quando Om Tare Tam Soha ecoa, o mundo muda e a iluminação torna-se possível.
Mistério? Evidentemente. É como o mar para o sapo que vive preso dentro de um mesmo poço; como concebê-lo tendo o poço como referencial? Nosso poço é a dualidade, a separatividade, os seis venenos. Só isso vemos. A tudo vemos através disso. O que está além da dualidade, além de nossos referenciais, não podemos conceber, até duvidamos, chamamos de mistério. Neste sentido a natureza de Buddha, ainda que seja nossa própria essência, é inteiramente misteriosa, transcendente que é à dualidade.
Há realidade em Tara?
Qual sua realidade? O que é Tara?
Quando nos defrontamos com os oito grandes medos, nossos olhos buscam Tara. Nada mais nos resta. Pedimos ajuda e Tara nos ampara. Ela nos ampara no sentido condicionado, como os deuses de Samsara, presos à roda da vida. Enfim, se os oito grandes medos estão nos perturbando precisamos de socorro. Mas Tara não se limita a este tipo de ajuda. Tara revela-nos simultaneamente nossa verdadeira natureza.
Diferentemente dos deuses mundanos, quando estamos sob a árvore Bodhi Tara corre em nosso socorro com o tipo de ajuda mais eficaz. Tara nos transporta para a outra margem, para além de espaço, tempo, nome, forma, dualidade, para a iluminação.
Uma das manifestações de Tara é Prajnaparamita. A experiência de Avalokiteshvara com Prajnaparamita é narrada no Maha Prajna Paramita Hrdaya Sutra. Prajna Paramita traz liberação por oferecer o reconhecimento da realidade última. Forma é vazio, vazio é forma. Forma nada mais é do que vazio. Vazio nada mais é do que forma.
Não é que forma, sendo vazia, não exista objetivamente. Na verdade os critérios de objetividade, como, por exemplo, os trazidos pela ciência e pela nossa experiência cotidiana continuam plenamente válidos. É que a forma, ainda que exista objetivamente, não tem existência absoluta, ou seja, suas qualidades surgem em processos de relação e não dela mesma 6. A forma é vazia de existência inerente.
A todos os problemas que enfrentamos, atribuímos existência própria. A compreensão de que os problemas e dificuldades surgem sob condições, não têm natureza própria, é o início da travessia para a margem da iluminação, e possibilita a experiência além da dualidade.
A pura atenção plena é esta experiência. É a forma sutil de Tara. Está além dos referenciais, é espacialidade, vacuidade e compaixão. Por ser o samadhi da iluminação, é a experiência mãe de todos os Buddhas — os Vitoriosos.
Tara existe mesmo? Olhando com cuidado, vemos que nossas próprias características pessoais mudam. Nosso ser de amanhã não é o mesmo que o de hoje. Nossa realidade é fugaz e imprecisa. Já Tara tem a natureza além da dualidade, suas faces são a espacialidade, luminosidade e compaixão imutáveis. Sua realidade é palpável, precisa e estável, muito diferente da nossa – fugaz, ilusória, breve.
1. | Recontado à partir de "The Golden Rosary, A History Illuminating the Origin of the Tantra of Tara", Taranatha, do ano de 1608, citado em "In Praise of Tara", Martim Wilson, Wisdom, Boston, 1996, e de "Comentários Sobre Tara Vermelha", Chagdud Khadro, Rigdzin Editora, Porto Alegre, 1997. |
2. | Ou seja, não possuem existência independente, por si mesmos. |
3. | O medo dos elefantes, como projeção da ignorância; do fogo como projeção da raiva; dos leões, como orgulho; dos ladrões, como visões falsas; das enchentes, como avareza; das cobras, como inveja; da prisão como cobiça; e o medo dos demônios, como projeção da dúvida. V. "Comentários Sobre Tara Vermelha", op.cit. |
4. | Orgulho, inveja, desejo-apego, ignorância-obtusidade mental, aquisitividade-avareza, ódio-raiva. Cada uma dessas características constitui a base cármica para a experiência dos seres sencientes que dá surgimento a cada um dos seis reinos correspondentes de Samsara. |
5. | Sutra do Coração ou Maka Hannya Haramita Shingyo. |
6. | Para um exame cuidadoso deste ponto, ver "A Cognição Budista"; A.Aveline, Bodisatva nº2 e 3., e também o livro "Jóia dos Desejos". |
7. | Para praticar a meditação silenciosa, visualizações e recitações de mantras de Tara, de modo geral todos os centros de Budismo tibetano podem auxiliá-lo. As práticas de Tara Vermelha podem ser encontradas em várias cidades do Brasil exterior. |