AVENTURAS E DESVENTURAS DE HO-HO-DEMI

O terceiro filho, Ho-ho-demi, pediu ao seu primeiro irmão, Ho-deri, o anzol prodigioso que ele usava para pescar, e Ho-deri emprestou-lhe mas com tão pouca sorte que não pescou nada e, além disso, perdeu o anzol. De regresso à casa, pediu humildemente perdão a Ho-deri e quis recompensá-lo pela perda sofrida, entregando-lhe em troca a sua espada. Mas Ho-deri rejeitou o seu oferecimento e Ho-ho-demi foi à beira do mar, pesaroso por ter sido o culpado daquele sarilho. Ouvindo o seu lamento, o deus Shiko-zuchi aproximou-se para consolá-lo, recomendando-lhe que fosse com O-wata-tsumi, deus do mar, pois ninguém melhor do que ele podia resolver o seu problema. Na morada de O-wata-tsumi, Ho-ho-demi apresentou-se ao deus do mar, mas conheceu então a sua bela filha, Toyo-Tama-bime, por quem ficou imediatamente prendado, pois se grande era a sua beleza, maior era a sua gentileza e doçura. Portanto, o jovem filho de Ninigi apresentou-se como tal e pediu ao rei do mar a mão da sua filha e casou com ela. Só ao cabo dos anos, Ho-ho-demi recordou que a sua presença nessa corte marinha foi motivada pelo desejo de recuperar o anzol do seu irmão Ho-deri e expôs tal desejo ao seu sogro. Pouco demorou O-wata-tsumi em encontrá-lo e menos ainda em aconselhar-lhe que fosse muito prudente com o seu irmão ao devolver-lhe o anzol, recomendando-lhe que, ao entregá-lo, com a outra mão atrás do corpo, apontasse que se tratava de um anzol desonrado. Teria então que estar atento às palavras do seu irmão, pois exprimiria uma série de desejos. Se ele quer cultivar as terras altas, estabelece-te tu nas baixas; se quer fazê-lo nas baixas, fá-lo tu nas altas; eu, senhor das águas, mandá-las-ei para as tuas terras. Para tua proteção dou-te uma concha de vidro e outra de madrepérola para governar as ondas. Se Ho-deri quiser o teu mal, afoga-o; se Ho-deri mostrar o seu arrependimento, livra-o da morte. Fez Ho-ho-demi o que o seu sogro lhe tinha ensinado e em breve a fortuna estava a seu lado, tanto que Ho-deri tentou matá-lo, mas as ondas aplacaram a sua fúria e Ho-ho-demi ficou amo do território; chegou ao seu lado a sua esposa Toyo-Tama-bime, que esperava um filho, pedindo um lugar oculto para o parto que se aproximava. Quando estava dando à luz, Ho-ho-demi teve a indelicadeza de esquecer o desejo da sua esposa, aproximando-se para a olhar no seu retiro. Então viu com espanto que a princesa filha do deus do mar era, nesse momento do parto, um tubarão. Pariu a princesa, mas tendo observado que o seu marido a tinha visto transformada daquela maneira, fugiu humilhada do seu lado, deixando a criatura com o seu pai e enviando do reino do mar a sua irmã mais nova, Tama-Yori-bime para que o cuidasse por ela. O menino casou mais tarde com a sua mãe adotiva, tendo quatro filhos com ela. O menor, Toyo-mike-nu, quando se converteu num homem, deixou a terra do pai e estabeleceu-se em Yamato, convertendo-se no primeiro imperador do Japão, sendo conhecido para a posteridade com o nome de Jimmu-tennô. Após esta descrição, termina a mitologia e dá início à história legendária no segundo livro do Kojiki.

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