IZANAGI DÁ VIDA A NOVOS DEUSES
Terminada a trágica aventura do mundo subterrâneo, Izanagi decidiu que era hora de purificar-se após o seu contato com os mortos e foi ao rio Voto, em Tachibana, para submergir-se nas suas águas. De cada peça de roupa que tirou, nasceu um novo deus, até completar uma dúzia de divindades tão diversas como a do final do caminho, dos caminhantes, dos doentes, das dúvidas, da saciedade, das praias, do oceano, do alto mar, da ressaca, das costas longínquas, etc. Mas também, ao banhar-se nas águas do Voto, a poluição do reino dos mortos se transformou em duas divindades negativas, a dos oitenta males e a dos grandes males, às quais Izanagi respondeu com a criação de dois deuses benignos que reparam e purificam, à parte doutros seis deuses encarregados de velar pelo fundo, a parte média e a superfície do mar. Mas os deuses mais importantes ainda não tinham sido criados nas suas abluções, dado que foi ao lavar o olho esquerdo quando deu lugar a Amaterasu, a deusa do Sol; ao fazer a mesma coisa com o olho direito, deu vida ao deus da Lua, Suki-yomi-no-Kimoto; ao lavar o nariz, engendrou o deus Take-haya-Susa-no-o, o homem por excelência. Orgulhoso dos seus filhos partenogenéticos, Izanagi encomendou-lhes o governo do Céu, da noite e do mar, respectivamente, embora o recém-nascido Susa-no-o tivesse começado a chorar, porque não queria o reino do mar senão a região subterrânea onde estava a sua defunta mãe. Izanagi encolerizou-se ao ouvir tal pretensão e pô-lo imediatamente fora do seu lado, mas o perplexo Susa-no-o pediu ao seu pai a graça de poder elevar-se ao Céu, para ver, antes de partir para o inferno, a sua boa irmã Amaterasu. Concedida a licença, Susa-no-o sulcou os céus atrás da sua irmã, entre os tremendos sons duma Terra que se estremecia em tempestades e erupções e que se sacudia em terremotos.