Jorge Moraes
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Entre Schopenhauer e Nietzsche -
Música e Vontade em O Nascimento
da Tragédia:
Existem
pelo menos duas maneiras de abordar a relação entre música e vontade
em O Nascimento da Tragédia. A mais comum é aquela que interpreta esta
primeira obra publicada de Nietzsche à luz da filosofia de Arthur Schopenhauer.
A interpretação que desenvolveremos aqui não seguirá este caminho, em vez disso
avaliaremos alguns pontos de divergência entre este primeiro Nietzsche e o filósofo
pelo qual ele manifestou ter sido influenciado na juventude. A partir das
divergências entre Nietzsche e Schopenhauer, nosso objetivo é marcar uma
diferença fundamental entre suas estéticas, tendo como ponto central o acesso
direto à vontade que a arte musical teria em ambas.
No
jovem Nietzsche, a arte das Musas é apresentada como sendo dotada de uma
capacidade especial, a saber, de acessar o que, dentro da filosofia alemã (em
Kant e Fichte), ficou conhecido como coisa em si e que, especialmente em
Schopenhauer, foi identificado como vontade (Wille). A música
seria então uma arte privilegiada diante das demais modalidades artísticas; mas
também seria privilegiada diante da própria Ciência, à medida em que é, tanto
para o jovem Nietzsche quanto para Schopenhauer, a única via de acesso à
verdade do mundo; a única linguagem (Sprach) capaz de comunicar o em
si do mundo. Estaria configurada assim o que o próprio Nietzsche chamou de "metafísica
do artista".
Todavia
-tal como pretendemos demonstrar-, enquannto a relação entre música e vontade
em Schopenhauer se dá por via direta , em Nietzsche esta relação
nunca é direta (direktem) ou imediata (unmittelbar),
em vez disso ela é simbólica (symbolische). Deste modo, ao
aprofundarmos nosso entendimento sobre o caráter mediador do simbolismo
(symbolik) em Nietzsche, nos colocamos finalmente diante de um profundo
distanciamento entre os dois filósofos, o que por fim nos levaria,
obrigatoriamente, a rever o estatuto metafísico do pensamento do jovem
Nietzsche -delineando, nestes termos, o viés de uma possível transição da "metafísica
do artista" (propriamente schopenhaueriana) em direção ao germe de uma
"psicologia da arte" (notadamente nietzscheana).
Em
sua obra principal, O mundo como vontade e representação, Schopenhauer,
mantendo a distinção kantiana entre fenômeno e coisa em si (1), nos apresenta um
mundo sob dois aspectos: (a) como fenômeno (MVR I), o mundo é
para ele apenas aparência: representação que obedece ao princípio de razão
suficiente (2); (b)
como coisa em si (MVR II), porém, o mundo é pura vontade: uma
força cega, sem razão (grundlos) e caótica, a qual nosso pensamento não pode
acessar. O homem, como parte do mundo, é concebido como produto da coisa em si,
ele é o que é querido pela vontade; ele é impulso e objetivação da vontade (MVR
25) (3), que
existe, segundo Schopenhauer, para além de toda explicação racional. Por este
motivo, o fio da causalidade, do pensamento racional, não nos permite qualquer
acesso a coisa em si que é a vontade. Ela se encontra, portanto, fora do
domínio do "princípio de razão", muito embora suas manifestações
fenomênicas sejam submetidas a este princípio. Isto é possível apenas porque a
própria razão é produto da vontade e, ainda que tal produto se encontre no
interior da esfera do conhecimento, os mecanismos de produção permanecem, à luz
da razão, uma completa incógnita.
Entretanto,
para Schopenhauer, a vontade se objetiva em diversos graus, não apenas
na forma dos entes grosseiros que existem no mundo (-tal como o homem); mas
também sob a forma de idéias, as quais correspondem ao grau mais
imediato de objetivação da vontade. Platonicamente, Schopenhauer nos apresenta
tais idéias como "formas e propriedades invariáveis originárias de
todos os corpos naturais, orgânicos e inorgânicos" (MVR 30). E por
não experimentar pluralidade nem mudança, a idéia está por sua vez fora
do âmbito da representação, i.e. do fenômeno, não se submetendo, portanto, ao
princípio de razão, o que consequentemente distancia Schopenhauer do
"otimismo socrático". Mesmo assim, ainda que através da razão não se
tenha acesso à idéia, esta interdição não se faz total em Schopenhauer; pois,
em sua filosofia, a arte seria capaz de nos levar até a idéia e assim, por
intermédio dela, chegaríamos finalmente a esta verdade primordial e sem sentido
que é a própria vontade cega do mundo. Isto só é possível porque, para ele, a
arte "é a contemplação das coisas independente do princípio de razão"
(MVR 36). Nesse estado de contemplação estética, o homem se torna
"sujeito puro do conhecimento". Desta forma, ainda que de modo
indireto, nos é oferecido "um claro espelho do ser do mundo" (MVR 36).
Há,
no entanto, uma arte em especial para Schopenhauer: -a música. Nela, mais do
que em qualquer outra manifestação artística, se faz possível o acesso ao cerne
do mundo (MVR 52); não mais por intermédio das idéias, mas de modo
imediato. "Porque a música é uma reprodução e uma objetivação tão imediata
de toda a vontade [...] como o são as idéias" (MVR 52). Isto
porque "Ela nos dá sua essência sem qualquer acessório, e, por
conseqüência, sem qualquer motivo." (MVR 52) Por isso, para
Schopenhauer - aqui parafraseando Leibniz (4) -, "a música é
um exercício de metafísica inconsciente, no qual o espírito não sabe que faz
filosofia." (MVR 52) Ou ainda, "uma linguagem [Sprach]
universal do mais alto grau" (5).
I) Em
O Nascimento da Tragédia, muito embora a música seja também considerada
a arte mais privilegiada dentre as demais, encontramos apenas 3 passagens em
que o autor se refere à arte musical como sendo capaz de acessar diretamente a
vontade, todas as três concentradas na seção 16 e todas sob a sombra de
Schopenhauer. Na primeira passagem, Nietzsche cita a idéia que "se tornou
manifesta a apenas um dos grandes pensadores" (Schopenhauer), de que a
música é "reflexo imediato da vontade mesma". Na segunda, citando
entre aspas O Mundo como Vontade e Representação, Nietzsche repete que a
música é "reflexo imediato da própria vontade". Por último,
concluindo logo após a citação, diz ele: "Entendemos portanto, segundo a
doutrina de Schopenhauer, a música como linguagem imediata da vontade".
São estas, porém, as palavras de um filósofo enunciando as idéias de outro, já
que em vários momentos desta sua primeira obra, Nietzsche se refere à música
como sendo arte simbólica:
Agora
a essência da natureza deve expressar-se por via simbólica; um novo mundo de
símbolos se faz necessário, todos os gestos bailantes dos membros em movimentos
rítmico. Então crescem as outras forças simbólicas, as da música, em súbita
impetuosidade, na rítmica, na dinâmica e na harmonia. Para captar esse
desencadeamento simultâneo de todas as forças simbólicas, o homem já deve ter
arribado ao nível de desprendimento de si próprio que deseja exprimir-se
simbolicamente naquelas forças [...] (NT 2. V. também NT 5, 6,
entre outros)
Eis a
expressão do ser interno do mundo em O Nascimento da Tragédia: um
símbolo e não - tal como em Schopenhauer- a objetivação imediata da vontade sob
a forma musical. A vontade, portanto, se manifestaria através da música;
mas apenas porque a arte musical é um "mundo de símbolos", ou, mais
precisamente, porque ela é dotada de "forças simbólicas". Cabe,
portanto, compreender isto que Nietzsche chama de força simbólica e então
verificar em que medida a relação simbólica se distancia da relação direta ou
imediata. -Devemos então determinar em que sentido e por que razão a relação
simbólica não pode ser considerada imediata.
Para
isso, antes de tudo, faz-se necessário inverter a relação entre música e
vontade. Pois, em Nietzsche, a própria música não é vontade, mas aparece como
vontade: "pois é impossível que a música, segundo a sua essência, seja
vontade, já que ela, como tal, deveria ser completamente banida do domínio da
arte - porquanto a vontade é em si o inestético; porém [ela] aparece como
vontade." (NT 6). Dito de outro modo: a música não é a aparência
da vontade, e sim é a vontade a aparência da música. (6) Ao dizer isso,
Nietzsche se separa consideravelmente da metafísica schopenhaueriana, ao mesmo
tempo que separa seu Dionísio (verdadeira essência da música) da vontade
de Schopenhauer. - O deus Dionísio, já não pode mais ser identificado
com a vontade, visto que a vontade é considerada agora como mera
aparência, manifestação da arte dos tons. A vontade, portanto, não se manifesta
através da música. O que temos aqui é justamente o movimento oposto, pelo qual
a música dá à luz a vontade. Neste sentido, Nietzsche não trilha exatamente o
caminho de Schopenhauer, (7)
o que nos obriga a ver a relação entre música e vontade em Nietzsche por um
outro viés, e assim talvez encontrar este "novo mundo de símbolos".
II)
Embora Nietzsche afirme que a música não é a aparência da vontade, e sim o
inverso, poderíamos nos perguntar se em O Nascimento da Tragédia não há
uma transposição onde Dionísio assume o lugar da vontade schopenhaueriana.
Seria o caso de uma apropriação terminológica, pela qual Nietzsche diz Dionísio
para não dizer vontade, ao passo que diz vontade para não se
referir àquilo que ele chama de fatos mais universais [alleruniversalsten
Tatsachen] (8).
Essa transposição seria possível porque de fato há uma relação íntima entre a
vontade de Schopenhauer e o deus Dionísio de Nietzsche. Afinal, para este
último, a essência da música é o próprio deus grego. Paralelamente, em
Schopenhauer, a música é objetivação da vontade. Dionísio e vontade se
encontram, portanto, de maneira bastante relevante aqui. Ambos são instâncias
exteriores à cena, (9)
se encontram sempre em outro plano e não se manifestam senão através de uma
materialização da e na arte musical. Sendo assim, Dionísio e vontade são transcendentes,
(10) i.e. são
realidades propriamente metafísicas, que existem para além de toda aparência.
Deste modo, Nietzsche, tal como Schopenhauer, permanecerá preso a um pensamento
metafísico; muito embora, ao avaliarmos o papel que a música assume em cada
autor, verificamos por fim que tais metafísicas se constituem de modo
totalmente diferente.
a) Em
Schopenhauer, a música é focalizada como um instrumento de contemplação da
vontade porque ela é, ao mesmo tempo, a materialização da vontade (tal como um
código pelo qual a vontade se manifesta), mas também é um anestésico (que nos
permite ler esse código). Em Nietzsche, porém, a música é focalizada em seu
aspecto produtivo: como elemento fundamental para a realização da tragédia.
Deste modo, é na obra de arte dionisíaca que encontramos o verdadeiro
fundamento da tragédia Ática. Por esta razão dirá Nietzsche: "a melodia
incessantemente geradora lança à sua volta centelhas de imagens" (NT
6). Ou ainda, "A força hercúlea da música: é ela que, chegando na tragédia
à sua mais alta manifestação, sabe interpretar o mito com nova e mais profunda
significação; de tal modo que já tivemos antes de caracterizar isso como a mais
poderosa faculdade da música." (NT 10) Ou mais adiante: "Esse
mito moribundo é agora capturado pelo gênio recém-nascido da música dionisíaca:
e em suas mãos floresce ele mais uma vez, em cores como jamais apresentara, com
um aroma que excita o pressentimento nostálgico de um mundo metafísico." (Idem)
-Percebemos este caráter predominantementte produtivo da música não apenas ao longo
da obra, mas também a partir, inclusive, do seu título, onde se lê: O
nascimento da tragédia a partir do espírito da música.
b)
Notamos ainda que estes diferentes papéis assumidos pela música se correspondem
com os também diferentes sentidos que a tragédia encontra nos dois filósofos.
Deste modo, delineamos duas perspectivas bastante diversas: por um lado a de
Nietzsche, que vê na tragédia a expressão de uma alegria (11) -perfeitamente compatível
com o caráter produtivo da música nietzscheana; e por outro a perspectiva de
Schopenhauer, que vê na tragédia apenas a "renúncia à vontade de
viver" (12), o
"caminho da resignação" (13) -também compatível
com o caráter contemplativo que encontramos em sua música. Por isso, somos
levados a considerar as palavras de Charles Andler: "Nietzsche tentou ser
um interprete rigoroso e um adversário leal. Mas ele nunca foi servo do
pensamento schopenhaueriano." (14)
Vemos,
portanto, que a metafísica no jovem Nietzsche adquire um sentido diferente da
de Schopenhauer. Conforme vimos, não há qualquer caráter contemplativo na
música nietzscheana. Não se trata, portanto, de conhecer nem a vontade interna
do mundo, nem Dionísio. Nietzsche não está interessado em constituir "um
puro sujeito do conhecimento" como Schopenhauer (MVR 34). O que
encontramos em Nietzsche é uma dimensão psicológica da música, a qual tem o
poder de afetar o ouvinte, destruindo sua consciência individual, tal como no
êxtase produzido pela embriaguez. Não nos referimos aqui à psicologia que
Nietzsche desenvolverá em sua obra de maturidade; já que Nietzsche ainda não
está interessado em avaliar os tipos psicológicos (forte ou fraco, ativo ou
reativo) que comporiam uma determinada obra. Em vez disso, a dimensão
psicológica que aqui se estabelece se explica através do "conforto
metafísico" produzido pela música. Nas palavras de Richard Schacht:
"Nós podemos ser confortados (mais ainda) pela transformação de nossa
identidade psicológica que nos habilita a alcançar um senso de unidade com esta
indestrutível e inexaurível realidade subjacente, da qual nós somos
manifestações verdadeiramente." (15) Neste sentido, a
"força simbólica" da música é uma força de amálgama, uma força que
une o homem a esta realidade subjacente (16), produzindo com isso o conforto
metafísico. Esta união, entretanto, não é nada mais que uma experiência
psicológica, na qual o homem é destituído de uma consciência individual e passa
a assumir uma postura de aquiescência feliz com relação à falta de sentido
original do mundo, i.e. com relação à força cega, sem razão (grundlos) e
caótica, a qual nosso pensamento não pode acessar. Através da experiência
oferecida pela música, a falta de sentido original do mundo, transfigurada
simbolicamente em dissonância musical, passa agora a ser inscrita no próprio
homem. Temos assim, por intermédio da dissonância, a repetição de uma força
caótica originária no próprio homem, o que de modo algum é uma representação ou
contemplação da vontade ou de Dionísio. E é neste sentido que compreendemos o
caráter simbólico da música: esta reprodução da dissonância no ouvinte, tal
como se escreve simbolicamente toda dissonância sobre um pentagrama. Por isso,
repetimos com Nietzsche, "o homem deixa de ser artista e passa a ser obra
de arte", lugar onde se resolve a dissonância original.
III
Concluímos, portanto, que, ainda que se manifeste em O Nascimento da
Tragédia a mesma dicotomia metafísica de Schopenhauer (a mesma separação
entre coisa em si e fenômeno), a filosofia do jovem Nietzsche não compartilha
em momento algum com a solução schopenhaueriana. Pois a música em Nietzsche não
é capaz de acessar a verdade interna do mundo. Dito de outro modo, embora
Dionísio seja para a música nietzscheana o que a vontade de Schopenhauer também
é para a arte dos tons, a música em Nietzsche se concentra em seu caráter
produtivo, o que de modo algum garante o conhecimento da instância originária
da qual esta mesma arte partiu. A música, em vez disso, exprime a vontade tal
como se exprime um objeto, i.e. tal como se constitui um objeto que emana de si
próprio. Isto porque a música, como já foi dito, não é a aparência da
vontade, e sim é a vontade a aparência da música. Vontade aqui significando
não mais o caos originário (como em Schopenhauer), mas as sensações de prazer e
desprazer que acompanham todas as representações. (17) Vemos, portanto,
que a sutil distinção entre relação simbólica e relação direta somente
pode ser compreendida a partir desta já não tão sutil diferença entre o caráter
contemplativo e o caráter produtivo da música - onde até a própria
vontade passa a ser um produto da arte musical. O que por fim nos leva a
encontrar, no pensamento metafísico do jovem Nietzsche, o viés de uma possível
transição, localizando este primeiro Nietzsche em algum ponto entre Nietzsche e
Schopenhauer.
Notas:
(n1) Cf Clément
Rosset, Schopenhauer. Paris: PUF, 1968, p. 19.
(n2) Devemos observar
que Schopenhauer reduz as 12 categorias kantianas, segundo às quais percebemos
o mundo (v. Crítica da Razão Pura, B. 106), à noção de causalidade (cf. Sobre
a Quádrupla Raiz do Princípio da Razão Suficiente, tr. fr., p. 44).
(n3) V. tr. fr., p. 176:
"[...] é nos graus extremos da objetivação da vontade que vemos a
individualidade se produzir de uma maneira significativa, especialmente no
homem [...]" Para Schopenhauer, a vontade é sempre una e a mesma. Ao
contrário, suas formas visíveis são múltiplas e distintas.
(n4) Para Leibniz,
"A música é um exercício oculto de aritmética, no qual o espírito ignora
que calcula (...)". Correspondência com Goldbach de 6 de outubro de 1712.
(n5) MVR I, p.
309, citado por Nietzsche (NT 16), a partir da edição de 1873 de Julius
Frauensädt.
(n6) V. também texto da
mesma época, FP primavera de 1871, 12 [1]: "a 'vontade' é objeto
[Gegenstand] da música, mas não origem [Ursprung] da mesma, nomeadamente a
vontade em sua maior universalidade, como a mais original forma da aparência
[Erscheinungsform], sob a qual todo devir [Werden] deve ser compreendido."
(n7)
Ao contrário do que pensa Julian Young, Nietzsche's philosophy of art,
Cambridge: Cambridge, 1996, p. 26: "O Nascimento incorpora sem
modificação a metafísica de Schopenhauer".
(n8)
Cf. NT 21: "Aqui se infiltra, entre a nossa mais alta excitação
musical e aquela música, o mito trágico e o herói trágico, no fundo apenas como
símiles dos fatos mais universais [der alleruniversalsten Tatsachen], de que só
a música pode falar por via direta." Comparar com texto da mesma época FP,
primavera de 1871, 12 [1]: "Se temos então que ceder ante a
necessidade de não ir à parte alguma além das representações, assim podemos
distinguir novamente, porém, dois tipos principais no domínio das
representações. Um aparece para nós como sensações de prazer e desprazer [Lust-
und Unlustempfindungen] e acompanha como um infalível baixo fundamental
[Grundbaß] todas as restantes representações. Esta mais universal manifestação
[Erscheinungsform], a partir da qual e sob a qual compreendemos todo vir a ser
e todo querer e para a qual desejamos manter o nome 'vontade' [...]".
(n9)
Cf. destaca Jean-Michel Rey, L'enjeu des signes. Paris: Seuil, 1971, p.
226: "O nome de Dionísio não aparece jamais dentro do texto mesmo, mas
como que dentro de sua margem e em sobrecarga; elemento anônimo que circula sem
fim dentro do texto da tragédia, sem que lá possa ser lido como tal; elemento
sempre retraído do texto; que lá se dissimula ao se deslocar (Verborgenheit);
ponto obscuro que não se pode nomear senão dentro dos termos de uma diferença
sem solução (...)"
(n10) Cf. assinala
Mathieu Kessler, L'esthétique de Nietzsche, Paris: PUF, 1998, p. 32.
(n11) Cf. NT 7, 17, 22,
24. Esta alegria se converterá mais tarde no riso, cf. FP, junho-julho de
1885, 36 [49], 17-23: "Mas para suportar [ertragen] este pessimismo
extremo (como se percebe aqui e lá no meu 'Nascimento do Tragédia'), para viver
sozinho 'sem Deus e moralidade', eu tive que inventar para mim uma contraparte.
Talvez eu saiba melhor, por que somente o homem ri: somente ele sofre tão
profundamente que teve de inventar o riso. O animal infeliz e melancólico é,
adequadamente, o mais alegre."
(n12) SCHOPENHAUER, Paderga
e Paraliponema, v. ii , cap. XIX, § 227 e MVR, IV, § 68.
(n13) MVR, cap.
XXXVII dos suplementos ao livro III intitulado "Da estética da
poesia".
(n14) Nietzsche, sa
vie et sa pensée. Paris: Gallimard, 1958, vol. 1 , cap. VI, p. 78. V.
também Janz, Nietzsche, vol. 1, Hanser Verlag, pp. 196-197. V.
texto de juventude 'Zu Schopenhauer' in: Frühe Schriten, Bd. 3, pp. 352.
(n15) Nietzsche, Nova York: Routledge, 1995, p. 494.
(n16) Talvez por esta
razão o Nietzsche filólogo e helenista tenha se utilizado do termo alemão Symbol,
que vem do grego simbolon. Em Herôdotos (6.86b), simbolon é uma espécie de
senha, metade de moedas cortadas em 2 partes capazes de rejuntar-se
perfeitamente.
(n17) V. nota 8 deste trabalho.