A Revolução Industrial, que se
processou na Europa e principalmente na Inglaterra a partir do século XIX,
surgiu quando os meios de produção, até então dispersos em pequenas
manufaturas, foram concentrados em grandes fábricas, como decorrência do
emprego da máquina na produção de mercadorias. Numerosos inventos,
surgidos no século anterior, permitiram esse surto de progresso. Entre
eles, destacam-se a invenção do tear mecânico por Edmund Cartwright, em
1785, revolucionando a fabricação de tecidos, e a máquina a vapor por
James Watt, aperfeiçoando a descoberta de Newcomen, em 1705. O aumento do
volume da produção de mercadorias e a necessidade de transportá-las, com
rapidez, para os mercados consumidores, fizeram com que os empresários
ingleses dessem apoio a Stephenson, que apresentou sua primeira locomotiva
em 1814.
Antes de Stephenson, muitos mecânicos
construíram veículos que se assemelhavam a locomotivas. No entanto, não
obtiveram resultados práticos. O mais famoso deles foi Richard Trevithick
que construiu um veículo em 1803, pesando 5 toneladas e que podia
desenvolver a velocidade de 5 quilômetros por hora, e, outro, em 1808.
George Stephenson (1781-1848) deve ser considerado o verdadeiro criador da
tração a vapor nas estradas de ferro. Foi o primeiro que obteve resultados
concretos com a construção de locomotivas, dando início à era das
ferrovias.
Em associação com seu filho, Robert
Stephenson, fundou, em 1823, a primeira fábrica de locomotivas do mundo e
construiu, também, a estrada de ferro pioneira.
A primeira locomotiva experimentada por
Stephenson foi a “Blucher”, que tracionou oito vagões com 30 toneladas
entre Lilligwort e Hetton, no dia 25 de julho de 1814. No entanto, a data
marcante da história das ferrovias foi o dia 27 de setembro de 1825, quando
a “Locomotion” correu, entre Darlington e Stockton, num percurso de 51
km, transportando 600 passageiros e 60 toneladas de cargas. Outra locomotiva
de Stephenson, a “Rocket”, ganhou um concurso, instituído pelos donos
da E. F. Liverpool-Manchester, ao desenvolver 47 km por hora, recebendo um
prêmio de 500 libras. O que caracterizou a “Rocket” foi a utilização,
pela primeira vez, da caldeira tubular e do escapamento do vapor pela
chaminé, proporcionando equilíbrio entre o consumo e a produção de
vapor. Stephenson construiu, também, a primeira linha para o transporte
regular de passageiros, inaugurada no dia 15 de setembro de 1839, entre
Liverpool e Manchester. Era um trecho com 63 quilômetros, tendo um grande
viaduto e o primeiro túnel ferroviário do mundo.
Nos Estados Unidos, o primeiro trem para
passageiros circulou no dia 25 de dezembro de 1839, com locomotiva importada
da Inglaterra, entre Charleston e Hamburg, na Carolina do Sul. Entre 1850 e
1860, o melhor negócio da América era o de construir e explorar estradas
de ferro. Grandes somas de dinheiro foram empregadas na compra de ações de
ferrovias, o que proporcionou um rápido desenvolvimento ferroviário
naquele país.
Surgiram, então, as fábricas de locomotivas
que tiveram como construtores pioneiros John Estevens, Peter Cooper e
Mathias Willian Baldwin (1796-1866), este último, o mais famoso. Ele
construiu a locomotiva “Ironside”, que circulou em 1838, e a série
“Mikado” para as ferrovias japonesas. Sua fábrica “Baldwin Locomotive
Works”, fundada em 1831, iniciou a exportação de locomotivas em 1838.
A primeira locomotiva “Baldwin” chegou ao Brasil em 1862.
Durante a realização da Exposição industrial de Berlim, em 1879, uma
locomotiva elétrica circulou pela primeira vez.
Foi criada pelo engenheiro alemão Werner Von
Siemens (1816 - 1892) e seu trabalho possibilitou a utilização da tração
elétrica nas ferrovias. Os países europeus aceitaram a novidade com
entusiasmo.
A França fez circular, em 1881, uma
locomotiva acionada por acumuladores. A Suíça construiu a primeira linha
eletrificada em 1898, e em 1963 completou a eletrificação de todas as suas
ferrovias. No Brasil, a tração elétrica foi empregada pela primeira vez
num bonde da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, que circulou no dia
8 de outubro de 1892, entre o Teatro Lírico, na Cinelândia, e a Rua Dois
de Dezembro, no Catete.
Em 1910 foi eletrificada a E.F. Corcovado; em
1922, iniciou-se a eletrificação da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro e, em 1937, foi a vez da Centra do Brasil, com o início da
eletrificação das linhas utilizadas para o serviço suburbano do Grande
Rio.
Com o passar do tempo, novas descobertas
foram introduzidas na produção de locomotivas. O transporte ferroviário
se popularizou em todo o mundo. Na França, o primeiro trem circulou entre
St. Etienne e Lyon, em 1830. Na Alemanha, a primeira estrada de ferro foi
inaugurada em 1835, entre Nurenberg e Fürth. No mesmo ano, o Canadá
inaugurou sua ferrovia ligando La Praierie a St. Jean. A primeira ferrovia
da América do Sul foi construída no Peru, em 1849. Nos Estados Unidos,
acontecimento importante foi registrado em 1869 - a linha transcontinental
ligando Nova York, no Atlântico, a São Francisco da Califórnia, no
Pacífico, numa extensão de 5.300 km. Os trens aumentaram sua velocidade de
percurso e, em 1877, um deles fez 72,80 km/h entre Londres e Swindon. No
Brasil, a primeira ferrovia seria inaugurada em 1854, no dia 30 de Abril, a
Estrada de Ferro Mauá.
Ao se desenvolverem, as estradas de ferro
estenderam seus trilhos através de montanhas, rios, lagos, desertos,
vencendo os obstáculos naturais. Muitos túneis foram escavados nos Alpes,
entre eles o Simplon I, ligando a Itália à Suíça, com 20 km de
extensão, inaugurado em 1905. Outro, o São Gotardo, de 15 km, também na
Suíça, foi aberto ao tráfego em 1882. A linha Lima-Oroya, no Peru,
ostenta o título de ser a mais alta do mundo, pois foi construída a 4.816
metros de altitude. Em Gales, na Inglaterra, existe ainda hoje a ponte
ferroviária “Britânia” construída por Robert Stephenson. No Brasil, a
primeira ponte ferroviária foi construída em 1858, na região de afogados,
Recife.
A sinalização, por sua vez, evoluiu desde a
primeira lanterna colocada num poste, em 1834, na linha
Liverpool-Manchester, até os atuais sistemas de comando de tráfego
centralizado, entre outros.
Ao escrever sua obra “Teoria e Construção de um Motor Térmico
Racional”, o engenheiro Rudolf Diesel, nascido em Paris em 1858, estava
assinalando um marco muito importante na evolução das estradas de ferro: a
utilização da tração diesel. Na Alemanha, ele requereu e conseguiu a
patente do motor a combustão interna conhecida como diesel. Seu invento foi
comercializado com as fábricas MAN e KRUPP para produção em escala. Em
1900, Rudolf Diesel foi aos Estados Unidos negociar suas patentes. O motor
passou a ser utilizado, pouco depois, nas indústrias nascentes como gerador
de energia e, mais tarde, nos barcos, navios, locomotivas e caminhões.
O motor diesel foi empregado, pela primeira
vez, nas ferrovias, em 1925, numa locomotiva de manobras da Central Railroad
de Nova Jersey. Nove anos depois, ele foi utilizado no novo trem de
passageiros “Zephir” e, em 1941, no transporte de cargas na Ferrovia
Santa Fé, EUA.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as
locomotivas diesel e diesel-elétricas foram substituindo, em todo o mundo,
as locomotivas a vapor. Mesmo assim, em 1965, 65% das locomotivas existentes
eram ainda acionadas a vapor.
Na França, no dia 1º de julho de 1975,
circulou o último trem a vapor entre Montpellier e Lodève. No Brasil, as
primeiras locomotivas diesel chegaram em 1939 para a Central do Brasil e a
E. F. Santos-Jundiaí.
A Rede Ferroviária Federal S. A. iniciou a
dieselização das ferrovias em 1958.
Desde os primitivos vagões que transportavam
carvão e os rudimentares carros de passageiros que circularam em 1830 entre
Liverpool e Manchester, a indústria ferroviária se desenvolveu,
diversificando a produção para o transporte dos mais variados tipos de
cargas: granéis, combustíveis, produtos perecíveis frigorificados, entre
outros.
Os carros para passageiros também evoluíram
para proporcionar mais conforto e segurança. O primeiro carro-dormitório
circulou em 1838, na Linha Londres-Liverpool-Manchester. No mesmo ano,
ocorreu o primeiro carro-postal, entre Londres e Birminghan. Nos Estados
Unidos, em 1859, George Pullmann idealizou o primeiro carro dormitório
completo. Os carros Pullmann apareceram com muitas inovações para
proporcionar viagens mais agradáveis.
A crescente demanda de transporte para os
mais variados tipos de cargas e a necessidade de atender, também, à
movimentação de passageiros, fez com que a ferrovia se tornasse o
principal meio de transporte em todos os países.
No Brasil, a chegada de D. João VI, a
abertura dos portos, o incremento do comércio e a necessidade de aproveitar
os recursos existentes condicionaram o surgimento das estradas de ferro. A
primeira tentativa foi no Governo Regente Feijó, em 1835, sem resultados
concretos, entretanto.
A viação férrea começou a existir em
1852, quando Irineu Evangelista de Souza, (1813 -1889), mais tarde Barão de
Mauá, recebeu o privilégio do Governo Imperial para construção e
exploração de uma ferrovia entre a Praia da Estrela, na Baía da
Guanabara, e a raiz da Serra de Petrópolis. A primeira seção, de 14,5 km,
foi inaugurada por D. Pedro II, no dia 30 de abril de 1854. O primeiro trem
da E. F. Mauá foi tracionado pela locomotiva “Baroneza”, construída na
Inglaterra por William Fair Barin & Sons, em 1852.
A segunda ferrovia inaugurada no Brasil foi a
Recife - São Francisco, no dia 9 de fevereiro de 1858. No mesmo ano, no dia
29 de março, era inaugurada a Estrada de Ferro D. Pedro com a extensão de
48 km, entre Campo da Aclamação e a localidade de Queimados, na Província
do Rio de Janeiro.
Seu material rodante consistia, na época, em
10 locomotivas, 40 carros para passageiros de primeira classe, e 100 vagões
de diversos tipos.
Cristiano Benedito Ottoni (1811-1896) foi seu
construtor e primeiro diretor. Em seu relatório, em 1867, ele assinalava a
conclusão de 221 km de linhas distribuídas por três seções e um ramal.
A Estrada de Ferro D. Pedro II, através do
trabalho dinâmico de seus operários e técnicos, transformou-se, mais
tarde (1889) na Estrada de Ferro Central do Brasil, um dos principais eixos
de desenvolvimento de nosso País. Desde a ação pioneira do Barão de
Mauá e de Cristiano Benedito Ottoni, muitos vultos célebres passaram pela
ferrovia.Entre outros, a figura de André Gustavo Paulo de Frontin (
1860-1933) que realizou grandes obras, entre as quais a duplicação das
linhas na Serra do Mar. Foi por duas vezes diretor da Estrada nos períodos
1896-97 e 1910-14.
Assinale-se, ainda, a figura do Engenheiro
Adel Pinto, criador do sistema de licenciamento eletro-mecânico, conhecido
como bloco Adel.
Outra figura marcante foi a de Francisco Pereira Passos (1836-1913),
construtor de vários trechos da ferrovia e da E.F. Santos a Jundiaí.
Quinze anos após a inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II, havia no
Brasil as seguintes ferrovias: E. F. D. Pedro II, com 363,4 km; E. F. Recife
ao São Francisco, com 124,9 km; E. F. da Bahia ao São Francisco, com 123,5
km; E. F. Santos a Jundiaí, com 139,6 km; E. F. de Cantagalo, com 83,9 km;
E. F. Paulista, com 44 km, E. F. Itaúna com 70 km; E. F. Valenciana, com 25
km; E. F. Campos-São Sebastião, com 19,9 km e a mais antiga e menor, E. F.
Mauá, com 17,5 km. Após o fim da guerra do Paraguai, a partir de 1873,
ocorreu um apreciável desenvolvimento ferroviário no País. Em 1889, ao
ser proclamada a República, o total de linhas construídas atingia 9.538
km.
Um dos fatos mais importantes na história do
desenvolvimento da ferrovia no Brasil foi a ligação Rio-São Paulo, unindo
as duas mais importantes cidades do País. Ela se realizou no dia 8 de julho
de 1877, na cidade de Cachoeira Paulista, quando os trilhos da Estrada de
Ferro São Paulo, inaugurada em 1867, se unificaram com os da E. F. D. Pedro
II.
Em 1941, foi planejada a remodelação e
modernização do ramal Rio-São Paulo. As obras foram levadas a efeito pela
REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S. A. a partir de 1967, com a construção de
treze variantes.
A partir de 1910, houve um grande
desenvolvimento das ferrovias brasileiras, com a integração de vários
Estados. Entre 1911 e 1916, foram construídos 5.180 quilômetros de linhas.
Outro marco importante na história de nossas ferovias foi a criação da
REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S. A. em 1957, congregando e inicialmente, 18
estradas de ferro. A REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S. A., que já operou com
24.132 km de extensão, (80% do total das linhas ferroviárias do Brasil),
dos quais 1.053 eletrificados, serviu quatro das cinco regiões
fisiográficas do Brasil, estendendo-se do Maranhão ao Rio Grande do Sul e
do Rio de Janeiro a Mato Grosso. A R. F. F. S. A. interligou, também, com a
Bolívia através de Corumbá, Mato Grosso, em direção a Santa Cruz de la
Sierra, com a Argentina, através de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, e com o
Uruguai através de Omaraí, Livramento e Jaguarão, no Rio Grande do Sul.
Talvez George Stephenson não imaginasse, em
1814, que seu invento um dia mergulhasse pelo solo, passa-se em elevados,
sobre nossas cabeças, e se transformaria num importante veículo para o
transporte coletivo em quase todas as grandes cidades do mundo - Os metrôs.
O primeiro serviço de metrô foi inaugurado em Londres, em 1863, com
locomotivas a vapor. No mesmo século, surgiram os metrôs de Nova Iorque,
Paris, Berlim, e outras capitais européias.
As locomotivas e as ferrovias não pararam.
Elas continuam progredindo no tempo,
incorporando os mais avançados meios tecnológicos no transporte de
passageiros e de cargas. Hoje trens rápidos movidos a eletricidade ou a
diesel alcançam grandes velocidades.
Revista Ferrovia.
www.ferrovia.com.br