BH
- VITÓRIA > VIDA SEM PRRESSA
Leitura,
crochê e bate-papo preenchem o tempo de quem não tem pressa para chegar ao
destino
A leitura de um romance, costura, orações
e bate-papo são passatempos para quem permanece praticamente o dia
todo a bordo do trem. Vale até pensar na vida, nos problemas, na
família e refletir, à beira da janela, o quanto a beleza de Minas
agrada aos olhos. A ex-salgadeira Maria José Silva, de 47 anos,
preenche o tempo ocioso confeccionando fuxicos. "Sempre trago a
costura, vou fuxicando, fuxicando e passo uns minutinhos gostosos, né?",
diz, enquanto prepara uma colcha para forrar sua cama. Ela conta que
já fez bolsas, toalhas e até um biquíni, que estreou no verão
passado.
"Sou aprendiz de fuxiqueira", conta a estudante Celeste
Pereira, de 19, que aprendeu a costurar com a vizinha de vagão. De
tempos em tempos, Maria José vai ao Espírito Santo cuidar dos imóveis
que aluga para temporadas na praia de Jacaraípe, próximo a Vitória.
'Aproveito para tomar um solzinho e procurar inquilinos para os
apartamentos", ressalta. Ela é separada e já não tem muitas
preocupações com o filho, de 25 anos. Durante a viagem, não
dispensa cafezinho, pão com mussarela, salgadinhos e bolinhos.
A ex-salgadeira, de Belo Horizonte, não quer ter preocupações com
curvas, alta velocidade ou imprudência, e há muitos anos não vai
ao litoral de ônibus. "Às vezes, vou de avião, mas quase
sempre de trem. Fica uma viagem gostosa. Tenho a tranqüilidade de não
ver um carro na frente, tem a natureza do lado e amanhã vou estar
descansada", conta. Segundo ela, a viagem de trem é excelente
para a solução de problemas. "Você fica matutando, vendo
como vai ficar, e, no final da viagem você, já tem a solução.
Também costumo dizer que o trem também é cultura, pois já fiz
muitas amizades e até aprendi a fazer sabão", explica.
Para compor o enxoval do casamento que, se Deus permitir, sairá no
ano que vem, a professora Raquel Pereira Tavares, de 28, e a mãe, a
dona de casa Conceição Pereira Tavares, de 56, vão fazendo crochê
de Baixo Guandu (ES), onde moram, até Ipatinga, no Vale do Aço,
onde visitarão parentes. Pano-de-prato, caminho de mesa, toalhas,
entre outros, já estão prontos para servir Raquel e o pretendente,
há quatro anos juntos. "Durmo um bocado, faço crochê, e a
viagem fica menos tensa. No ônibus não consigo pregar o
olho", afirma a professora.
Mesmo sempre sozinha, a funcionária pública Maria das Dores de
Oliveira, de 46, vai de Coronel Fabriciano, a 198 quilômetros da
capital, a Vitória, onde planeja visitar a amiga, entre rezas e orações.
Com o terço sempre à mão, ela pede à Nossa Senhora das Dores,
sua padroeira, proteção durante a viagem. "Quero sempre ter
ela e Deus perto de mim. Porque não é o maquinista quem dirige,
mas Deus. Por isso, nunca estive num acidente", acredita.