TRESLER
Que dia é hoje ? Domingo, 27 de maio de 2001.

Olá ! Está é a edição número 6 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Sozinha na Europa: Meus Primeiros Dias (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. Um  dia  qualquer em um diário de uma Pessoa qualquer - Saudade  (Daniel
   Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. E a Moral, onde fica? (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Análise de sensibilidade (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO
   & PARALELO)
6. Devaneios (César Henrique Costa - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

===========================================================================
======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
===========================================================================

Todos  têm soluções para as vidas alheias, falar é fácil. Isto está escrito
no  Tresler de hoje. Isto é uma das maiores verdades do mundo. E também uma
das  coisas  mais  inúteis do mundo. Pessoas tomam partido sobre coisas que
não possuem nenhuma relação. Acham simplesmente que tem o direito de mandar
nas  nossas  decisões.  Vivi  isso  um bom tempo. No more lies. Você tem um
nariz,  certo?  Tá,  aquela  menina  que  ameaçou  terminar  o  namoro está
procurando o dela ainda, mas tudo bem. Boa sorte para ela. Se não existirem
peixes  no  rio  quem sabe ela acha. Senão teremos peixes comendo meleca de
nariz  por  aí.  Vamos mudar o contexto. Você tem bolas, certo? Pode ser no
sentido  figurado!  O.K.,  este  também  não  é  um  bom  exemplo,  temos o
estuprador que foi pedir para sua vítima fazer sexo oral com ele... ela não
estava muito "afins" (dor de cabeça derivada da TPM), mas resolveu bater um
bolão  com  o  cara (e não foi no sentido figurado infelizmente)... ô vida.
Homens,  tomem  cuidado ao pedir uma "mordidinha". Bom, esse não é o ponto.
FOCO.  Você  tem  nariz para dar direção para sua vida? Você tem bolas para
tomar suas próprias decisões? Então viva sua vida sem medo de se ferrar.

Mudando o assunto, você sabia que o gaúcho Aldyr Garcia Schlee, escritor de
contos  como  "Anão  de  Circo"  e "Braulina", em 1953 venceu o concurso de
desenho  para  a escolha do uniforme da seleção brasileira de futebol? É, a
camisa "canarinho" é invenção dele.

Alguém  explica?  Eu ia fazer uma seção "falando sério" hoje, mas isso está
virando  uma  seção "é brincadeira", só pode ser. Se eu sair na rua e matar
alguém  devo  pegar  uns  8  anos  de cadeia, considerando desde já meu bom
comportamento.  Como tenho curso de graduação vou ficar bem feliz em alguma
prisão  especial.  Depois  que eu sair, escrevo um livro, vou no Jô Soares,
participo  do Domingo Legal, Quarta Total, programa do Ratinho e como estou
ficando  saradão,  G  Magazine pode ser uma, ou aquela revista nova que diz
ser  sensual  e não "sexual", depende do cachê. Enfim, o ponto é... e se eu
matar  8  pessoas  e  desabrigar  umas tantas outras, por ter construído um
prédio  com  areia  de  praia?  Eu  fico  livre  leve  e  solto, e a pessoa
responsável  por  projetar  o  prédio  para  aguentar  280 toneladas (DEVIA
AGUENTAR  500!!)  pega  2  anos  e  8  meses. De prisão? Que nada, trabalho
comunitário!  E  uma  hora  por  dia para evitar a fadiga. Isto acontece no
Brasil,  país  com  a maior "produção de madeira" da América Latina, e quem
sabe do Mundo!

Mudando  o  assunto  novamente...  e  o  apagão  hein?  Eu só posso dizer o
seguinte: junto com o inverno iminente, doses moderadas de vinho, serenatas
a  luz  de  velas e noites geladas esquentadas pelo amor é o que eu espero.
Viu menina que odeia domingos solitários, isto é um convite!

No  mais  eu  não  estou  a fim de escrever muito sobre minha vida ou sobre
coisas  do  meu  cotidiano.  Estou  comprando  um  carro,  nesta semana vou
apresentar  um artigo sobre meu Mestrado na semana acadêmica da faculdade e
não vi minha namorada hoje (fiquei estudando para a semana acadêmica). Ouvi
The Byrds o dia todo e agora estou ouvindo Modest Mouse (Broke, Heart Cooks
Brain,  Convenient  Parking  e Trailer Trash). Parei de acreditar no Brasil
(farei  uma  reanálise  da minha posição de seis em seis meses) e estou com
pena do Faustão (vão puxar o tapete dele, escreve aí).

Ah,  no  Tresler de hoje temos experiências fora do nosso país MARAVILHOSO,
cheio  de  falsas  riquezas.  Temos  contos,  ou um projeto de conto. Temos
devaneios,  reflexões  sobre a moral, ou a falta dela, e temos humilhações.
Ou  será  que  é uma terapia para a elevação da alma, para edulcorar a vida
por assim dizer?

Ah2, aproveitando o  ensejo, hoje temos "o plus a mais de hoje", tendo como
autor  uma pessoa  que com  certeza não sabe que foi uma das causas para eu
começar a  escrever. Com  seus super  emails relatório conheci sua forma de
escrever narrativas inesquecíveis. Pronto, falei.

Daniel Wildt, que espera que "foderoso" tenha sido um jogo de palavras.  Eu
não corrigi. Eu achei legal. Não entendeu? Leia o Tresler.

===========================================================================
====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
===========================================================================

SOZINHA NA EUROPA: MEUS PRIMEIROS DIAS

Durante o período em que morei na Europa, escrevi muito. Como agora, o fato
de  eu  estar voltando para lá está presente o tempo todo na minha cabeça e
na  minha  vida, estou adaptando para mostrar para vocês algumas das coisas
que senti e vivi quando estive sozinha do outro lado do oceano.

Quando  cheguei  na  Bélgica,  passei  uma  semana  morando  em Diepenbeek.
Diepenbeek  é  uma cidade universitária de mais ou menos 7000 habitantes. O
lugar  onde  eu  estava  morando  ficava  a  mais ou menos 4km do centro de
Diepenbeek.  Se  é  que se pode dizer que uma cidade de 7000 habitantes tem
centro...  Mas Diepenbeek tinha! E eu, estando a "apenas" 4km deste, estava
morando praticamente no campo! Ou seja, um lugar calmo.

Depois  de  uma  semana morando no campo, eu me mudei para Hasselt. Hasselt
tem  quase  100.000 habitantes e é a capital de Limburg, uma das províncias
belgas.  Em  Hasselt, eu fui morar na Kuringersteenweg, um avenida por onde
passam  para  a maioria dos carros que estão chegando ou saindo de Hasselt.
Ou seja, um lugar nada calmo! Mas era super bem localizado, perto do centro
e da estação. Meu quarto era no segundo andar, e a entrada era pela padaria
que tem no térreo. Achei ótimo!

No  dia  em  que me mudei para Hasselt, achei que ia ficar super bem no meu
novo quarto. A verdade é que eu já estava começando a gostar de Diepenbeek,
apesar de meio longe.

Assim  que  cheguei,  comecei  a arrumar minhas coisas. Mas eu estava muito
perturbada,  não  dava.  Eu não conseguia pensar o que eu ia colocar onde e
nem  o  que  eu tinha que arrumar. E o barulho! Muito barulho! Eu não podia
agüentar!  "Trocentos"  carros passando por segundo, mesmo depois das 11, o
chuveiro  que  não  parava  de pingar, o neon da padaria fazendo barulho lá
fora!  Apaguei  a  luz  para dormir e o quarto continuou claro por causa do
neon... Vou enlouquecer!!! Quero voltar pra Diepenbeek, pensei.

O  que eu poderia fazer? Vou investigar os outros quartos, quem sabe lá tem
menos  barulho.  Afinal, não pode ser tão ruim assim... Não tem tanta gente
que  mora  em  avenida? Mas eu preciso de sossego... Será que vou conseguir
ficar  aqui? Barulho noite e dia... E o lugar do Paul? Será que é tão longe
assim? Será que ainda posso mudar de idéia? Não, mas eu vou me acostumar...
Afinal,  não  era  o  que eu queria?!? Perto do centro e da estação. Droga!
Ninguém  mandou  querer  ficar  em  Hasselt! Eu estava odiando o meu lugar.
Achei melhor ir dormir ...

Na  manhã  seguinte, eu estava muito perturbada. Não consegui descobrir nem
onde  é a luz da cozinha!!! E para esquentar o leite?!? Não tem microondas!
Não tem nenhuma leiteira! Só UMA panela!!!

Nisso, um outro estudante apareceu. Ufa!!! Foi bom conversar com ele porque
pude  perguntar  para  ele  algumas  coisas...  Tipo  como acender a luz da
cozinha e onde estava o microondas (na outra cozinha no andar de cima).

Engoli  meu  café, fiz meus sanduíches para o almoço e saí. Disfarcei o dia
todo.  Falei  que  o  lugar  era barulhento, mas que eu ia me acostumar. De
noite, a galera combinou de ir no cinema... Yesss ! Assim não preciso ficar
nesse lugar sozinha.

Fui  no  super logo depois do trabalho. Pegar um carrinho foi uma lenda! Eu
sabia  que  precisava  de  uma  moeda  para  desengatar  um dos outros, mas
qual?!?!  Tentei  várias  e  já  ia  desistir  quando funcionou com a de 20
francos.

Dentro  do  super, fiquei bem perdida. Não conseguia achar o que eu queria.
Droga!!!  O  que está acontecendo?!?!? Achar os preços era um problema. Tem
muita  variedade de tudo e os preços estavam colados nas prateleiras com os
nomes  todos  abreviados... Saco! Fora o que eu não sabia o que era! Acabei
comprando um monte de porcarias: chocolate, bolachas, muffins, doces...

Quando  cheguei  em  casa,  ainda estava meio perturbada com os barulhos: o
neon,  os  carros, o chuveiro pingando, a geladeira e agora também a luz da
cozinha  que  fica  fazendo  barulho quando está acesa porque tem um timer.
Precisava  desesperadamente comer algo doce. Devorei uns doces folhados que
eu  tinha  comprado.  Fiquei  meio tonta de novo... Todos os barulhos desse
lugar  me atrapalhavam. Eu não conseguia pensar... Andava de um lado para o
outro  sem  parar.  E  não  sabia  que  horas alguém vinha me buscar para o
cinema.

Tentei  me  acalmar. Liguei o som (com pilha porque a única tomada onde ele
entraria  não  está  funcionado)  para  disfarçar os barulhos e fui arrumar
minhas  coisas.  Consegui  me acalmar. Parece que eu não ouvia mais tanto o
barulho dos carros. Acho que já estou me acostumando...

Por volta de 10 horas vieram me buscar. Fomos nos cinema e voltei para casa
à  1:30...  Ouvi um pouco os barulhos, mas depois não sei se dormi ou só me
acostumei com eles... Deve ser um bom sinal.

Ariadne Amantino 

===========================================================================
===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
===========================================================================

UM DIA QUALQUER EM UM DIÁRIO DE UMA PESSOA QUALQUER - SAUDADE

Cheguei em casa, depois de tomar um banho de chuva daqueles. Parecia um dia
comum,  pessoal  ainda  estava  na  rua e eu resolvi tirar minha roupa e me
secar.  Acabei  ficando peladão andando pela casa, pois nunca fiz isso. Era
cedo,  liguei  a  TV  no  canal  pornô para ver qual era, e não era nada...
incrível  a capacidade de colocar no tal canal exatamente no momento em que
um filme está terminando. Bom, troquei de canal e estava começando Ed TV...
filme  legal, numa boa fiquei assistindo enquanto esperava algum pensamento
aparecer em minha cabeça para me dizer o que fazer.

Eu  pensei  em  pedir  alguma  coisa,  pizza, cachorro quente, mas no final
resolvi  botar  a  mão  na massa e fazer uma comida caseira mesmo, coisa de
guri novo... macarrão com molho de tomate de caixinha. E ainda um ovo frito
padrão  para  comer com um sanduba enquanto a massa não ficava pronta. Bom,
fui botar uma bermuda antes de fazer o ovo, para proteção pessoal. Normal.

Depois  dessa  jornada  gastronômica, fui para meu quarto. Neste momento as
pessoas  da casa começaram a chegar. Meu irmão com o ânimo padrão me mandou
longe  quando  tentei  ser  simpático  (sentimento  estranho  entre irmãos,
humpf),  mas  tudo  bem, eu levei numa boa, fiquei frio e voltei para minha
vidinha  mais  ou  menos  na  frente  do computador conversando com pessoas
estranhas e com pseudo-nomes.

Antes de dormir, meu telefone celular tocou, eu fui atender. Era madrugada,
pode  ser  ela. Tem  que ser  ela. Não  pensa negativamente, é  ela. Tomara
que ela diga "quero estar com você!"... ia ser demais. Faz tempo que eu sou
amigo  dessa  menina  e ela nunca nada. É, nunca nada, entende? Bom, enfim,
óbvio que era engano... mais ou menos duas horas da manhã quando o telefone
tocou.  Era engano. E já notou que as pessoas ligam para o telefone celular
procurando  sempre pessoas com nomes estranhos? Era engano, não acredito. O
Roberval  tá  aí?  Aí tu manda o maluco esquecer, que o telefone é de outra
Pessoa.  Era  engano... E se a insistência é uma virtude humana, poucos são
tão  insistentes  quanto  esta  pessoa  que  me  ligou...  EU NÃO CONHEÇO O
ROBERVAL!!!  Após  começar  a  me  irritar,  deixei  de lado e simplesmente
desliguei  o  celular,  pois o sono absorveu o "ânimo de surpresa" quando o
telefone tocou. Era engano.

Nem  preciso  dizer  que  no  outro  dia,  quando  recebi  a  ligação  mais
importante,  a  bateria  do  celular chegou ao fim. Murphy, fazia tempo que
você  não me visitava. Sempre que pessoas chatas ligam para você, o celular
está  lá,  na  boa.  Você  fica  procurando um túnel para ver se o sinal se
perde,  mas  nada.  O túnel mais próximo fica 30Km longe do local onde você
está...  Agora,  quando  é  aquela  menina,  sabe, AQUELA MENINA, aí sim, o
celular  te  abandona,  e  ainda  ri da nossa cara, com aquela tela dizendo
"Descarregando...". Dá vontade é  de descarregar minha ira sobre o celular.

  Pessoa: Alô?
  Menina: Oi! Tudo bem contigo?
  Pessoa: (triple sigh) OI!!
  Celular: bip
  Menina: Eu quero conversar contigo, pode ser agora!?
  Pessoa: A minha bateria tá...
  Celular: bip bip bip (heheheh... got you!)
  Pessoa: tava... (double twister sigh)

Pânico instalado. Só isso. Pânico. Ela ia se declarar, só pode ser isso. Ou
não,  mas  nessas  horas  eu  não  penso  em  nada.  Estava  longe de casa,
caminhando,  e tinha uma subida considerável. No pain no gain! Cheguei em 5
minutos,  em um percurso que faço em 15. Ligo para a menina, óbvio, após 10
minutos me recuperando do esforço extremo realizado (do the math).

  Pessoa: Oi, acabou minha bateria!
  Menina: Tudo  bem, eu  ouvi tu dizer  "a minha ba", daí  pensei que fosse
          isso.
  Pessoa: Bom, podemos falar agora? Ou tua bateria está no fim também?
  Menina: bip bip bip! Brincadeira... 
  Pessoa: hehe, engraçadinha.
  Menina: estou com saudades.
  Pessoa: eu também.
  Menina: nos encontramos lá?
  Pessoa: sim.

Esta é a comunicação existente entre dois corpos loucos por sexo. Sim. E lá
fomos  nós,  para o local sempre escolhido para nossas aventuras tântricas.
Depois  de  passarmos  a  noite acordados, dormimos metade do dia seguinte,
cuidando da nossa "saudade"... queria que fosse amor.

Pessoa

===========================================================================
==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
===========================================================================

E A MORAL, ONDE FICA?

Há  alguns  dias  estava  pensando  sobre o modo brasileiro de olhar pra si
mesmo.  Estamos  sempre  tão distantes de nós. Paradoxalmente distantes. Há
casos   que  acontecem  com  nossos  vizinhos  que  imaginamos  que  jamais
acontecerão  com  a  gente.  Quase nunca nos preocupamos em prevenir alguma
coisa,  mas  estamos  sempre solidários para remediar. Sim. Nós brasileiros
somos  solidários.  Talvez  mais  solidários  do  que  a  maioria dos povos
latinos,  que  acredito sejam os mais humanos. Depois da desgraça consumada
lá  estamos  nós,  prontos  a  estender  a  mão e doar o que não temos para
aliviar a dor daquela pessoa, ainda que nunca a tenhámos visto. No entanto,
não  pensamos  no  amanhã.  O  brasileiro  não  guarda  dinheiro,  não está
preocupado  se  alguma  coisa  pode acontecer. Se acontecer, amanhã a gente
resolve.  Na  verdade  somos  extremamente complacentes com nossos próprios
erros  e  defeitos.  Somos  tão  solidários  que nos compadecemos da dor de
criminosos,  sanguinários ou não, psicopatas ou não. Sim, temos uma maldita
atitude  paternalista  de  não  condenar,  nem  mesmo moralmente, o maldito
traficante  que  drogou  crianças,  afinal "a sociedade o condenou a ser um
traficante"!  E  nós, como bons brasileiros, não nos revoltamos contra este
tipo  de  pensamento,  que  atribui  as tendências criminosas à fatalidades
naturais  do  destino! No entanto somos os primeiros a correr pra segurar a
mão  da  nossa  amiga  em  coma tóxica no hospital. Ou abraçá-la quando é a
filha  dela que está nesta situação. "Isso não é real, não está acontecendo
comigo!  Quando  que  eu  poderia  imaginar  que minha filha seria capaz de
tanto!".  E você pensa, "como não imaginou? Como não percebeu? Estas coisas
quase saltam aos olhos! Você vê nas roupas, no comportamento, no cheiro, no
jeito,  nos amigos! Eu, que não tinha proximidade notava, como vocês podiam
não  ver!".  Perdemos  as rédeas da nossa sociedade há muito tempo. Desde o
momento  que  nos resignamos a aceitar o caos com naturalidade deixamos com
que  a  própria sorte definisse nosso futuro. Um simples bonsai nos ensina:
se  queremos  que  algo  floresça  de  uma maneira, é preciso aparar as más
tendências   e  fazer  pender  para  o  lado  que  desejamos,  acompanhando
continuamente.

Basta  isso.  Dizer não ao que está errado. Mas nós não fazemos isso. Muito
pelo  contrário,  discriminamos  com  chacota  as  boas atitudes e apoiamos
aquele  que emprega a lei de Gérsom. Afinal, ser brasileiro é saber usar da
malandragem.  Não  dá  nada.  E  pra infelicidade extrema desta maravilhosa
nação  que somos, carregamos continuamente o defeito de não saber dizer não
a  isso.  Não prendemos o motorista que bêbado mata mais de uma dezena numa
parada  de  ônibus. Não prendemos o deputado inescrupuloso cuja construtora
empregou  material de última linha na malograda construção que culminou com
a  morte  de  8  pessoas  e  deixou  centenas  sem teto. E, pior ainda, sem
esperança  de  justiça.  Não  prendemos o senador que mente que não pediu e
nunca  viu  lista,  que  não  sabe de nada ... "Ah, lembrei! Sim, havia uma
lista!". Não. Nós não fazemos nada. Não prendemos o juiz federal que roubou
milhões  e enviou tudo pro exterior. "Ah, não. Nós prendemos sim". Sim. Ele
está  muito  bem preso na própria casa, com todo conforto de que necessitar
para aproveitar aquilo que roubou. "Mas afinal, de quem ele roubou? Não foi
do  governo.  Eu  não gosto do governo mesmo!". Sim, parece que é assim que
pensamos. Parece que não era nosso dinheiro, afinal era tanto dinheiro! Não
podia  ser  nosso  que  passamos  todo  tempo que temos trabalhando e vendo
nossos  amigos mais justos se sujeitaram a situações de extrema miséria pra
manter  a dignidade. Não. Temos que ficar em casa, presos pra não morrer na
selva que se transformou nossa cidade. Sabendo que se algo nos acontecer ou
a  alguém da nossa família, nunca teremos justiça. Temos que ficar em casa,
no  escuro,  porque  não há energia. E se queremos sair de carro, é bom nos
prepararmos, pois a gasolina custa muito caro. E não presta, porque é feita
de uma mistura braba. Tenho vontade de esbravejar impropérios que me fariam
ser  banido  da  edição do Tresler para sempre. Mas não. Ao contrário, como
bom  brasileiro,  eu  devo  me  calar,  sentar  em  frente a TV e continuar
pensando  que  o jornal falado é mais uma atração mórbida de entretenimento
popular,  como  nossas  consagradas novelas. Devo mudar meu comportamento e
dizer  "Sim  filho.  Essa  piada  racista  é realmente engraçada". Ou então
"realmente,  meu  filho. Podemos ganhar muito dinheiro se mentirmos para as
pessoas  e as enganarmos. Quanto mais fazemos isso mais alto o cargo para o
qual  seremos eleitos". Talvez assim ele realmente seja um homem de sucesso
para a sociedade que vivemos. Sociedade esta que torturou, matou e humilhou
os valores morais, tal qual fizemos há 2000 anos atrás com aquele que cedeu
sua  vida  para nos trazer o exemplo. E o mais triste desta história toda é
que  nada do que foi escrito aqui será novidade alguma para qualquer leitor
desta coluna.

Anuncio  que  a  partir  da  próxima  semana  plagiarei  a seção "Linhas de
pensamento  catótico  e  paralelo" do meu colega Vincent, chamando-a em meu
espaço de "Traços de reflexão desordenada e paradoxal".

Eduardo Seganfredo

===========================================================================
======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
===========================================================================

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

Oi!

Então  tá  gurizada,  vamos descer a lenha hoje pq eu não tenho muito tempo
pra  escrever...  é,  eu  tenho  prova  de  Pesquisa  Operacional amanhã, e
gostaria  de  estudar  um  pouquinho  mais (pra variar), então vamos ao que
interessa.  Um  aviso: a coluna de hoje não tem nenhum assunto definido, ao
contrário  das colunas anteriores. Hoje sim, caro leitor, você conhecerá as
verdadeiras,    únicas  e  confusas...  "Linhas  de  pensamento  caótico  &
paralelo"!

Falando  em linhas de pensamento caótico e paralelo, lembrei que no Tresler
#3,  em  minha coluna (onde mais, dummy?) comentei que pretendia assistir o
filme  "Miss  Simpatia".  Pois  bem, final de semana passado assisti o dito
cujo.  E  achei  muito  legal!  Quem sabe agora a Sandra Bullock desiste de
fazer  filmes tipo "Speed" e envereda para os lados da comédia. Enfim, para
aqueles que querem se divertir um pouco, com um filme bem light, recomendo.

Falando em recomendar, gostaria de recomendar uns sonzinhos pro pessoal que
ainda    conecta  no  Napster:  Candysuck,  com  Scratch!;  Nightwish,  com
Wishmaster  e She is my sin; Sepultura, com Symptom of universe e Rhapsody,
com  Emerald  sword.  Ok, se você tem alergia a guitarras, não tolera rock,
punk  rock,  heavy  metal  e  semelhantes,  não assimila muito bem as notas
altíssimas  atingidas  por Tarja Turunen do Nightwish, siga meus conselhos:
vá  pro inferno e não faça o download dessas músicas, nessa ordem, sob pena
de violentas reações alérgicas.

Falando  em música, baixei mais umas mp3 nessa madrugada, mais precisamente
três  solos  de  contrabaixo.  Sim,  eu estava buscando a autoflagelação...
buscava  a  humilhação completa da minha técnica (ou falta de técnica) como
baixista.  Busquei  mp3  de  dois  caras  que são mestres: Flea, do Red Hot
Chilli  Peppers  (dispensa  maiores  comentários),  Stu  Hamm, baixista que
acompanha  Joe  Satriani  e Victor Wooten, que me desculpem, mas não faço a
menor   idéia  de  quem  seja.  Digamos  que  atingi  meus  objetivos:  fui
completamente  humilhado  pela  técnica  e  pelo  feeling destas figuras, e
tratei  de  recolher-me a minha insignificância. Isto é, assim que consegui
recolher meu queixo, que tava atirado lá no chão.

Falando  em chão, depois de recolher meu queixo, chegou a hora (quase 2h da
manhã)  de  verter  algumas lágrimas no chão da minha casinha. E também era
hora  de  dar  algumas gargalhadas na madrugada deste domingo. Tudo isso ao
mesmo tempo. Não, não tente entender. Eu não vou tentar explicar.

Por  falar  em  explicar,  lembrei  novamente  do Tresler, mas dessa vez da
edição 5: mais especificamente, lembrei da coluna de nosso foderoso editor,
Daniel-san.  Na  qualidade  de  meu colega de trabalho, Daniel bem sabe que
tenho  algum  conhecimento  no que diz respeito a questão "A mulher amiga".
Entretanto,  talvez  ele  não  saiba  que eu não conseguiria, nem em tempos
futuros, escrever, devanear, filosofar, enfim, explicar tal assunto tão bem
quanto ele o fez no Tresler #5. Parabéns Daniel!

Voltando  a  causa  da  péssima qualidade desta coluna, citada no início da
mesma:  a  prova  de Pesquisa Operacional. Ainda não consegui ver utilidade
nessa  cadeira,  mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é um tópico de
tão inútil cadeira: "Análise de sensibilidade". Caras e gurias, esse nome é
muito legal! Parece título de livro ou de filme que nos faz pensar sobre as
relações  (ou  falta  de) do mundo moderno, bem como a falta de sinceridade
das pessoas consigo mesmas, no que tange seus sentimentos.

Melhor parar por aqui.
One more message to go and then I'll go home!

Para aqueles que mandaram e-mails relativos a minha última coluna: eu estou
bem  crianças,  e  fazendo o possível para mudar a situação relatada nestas
mesmas  linhas.  Não  se  preocupem  com  minha saúde mental, pois já estou
tomando umas cápsulas cheias de lítio.

Ok,  agora  chega.  Ash  to  ash, dust to dust e as linhas de pensamento se
tornam circulares. Caóticas. Paralelas.

Na semana que vem: Tresler #7!

Vincent Kellers

===========================================================================
============== O PLUS A MAIS DE HOJE (César Henrique Costa) ===============
===========================================================================

DEVANEIOS

Bom,  eu  bem  que  tentei  escrever  minha  "coluna"  para  tão  admirável
publicação  sóbrio,  mas as tentativas foram infrutíferas. Então, agora, às
4:13 de madrugada do dia 27.05.2001, sentei à frente do computador, ouvindo
Zé Ramalho ("Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz...
Há  meros  devaneios  tolos,  a  me  torturar... Fotografias recortadas, em
jornais de folhas... Amiúde").

Pois  bem,  não  sei  ainda sobre o que devo devanear. Semanas atrás, havia
pensado em falar sobre a "revolução pessoal" que tive nesses últimos 7 anos
e  como  a vida de certas pessoas continuou em MRU nesse tempo todo (como a
do Motorista do São Manoel, que, quando eu fazia cursinho, em 94, me trazia
todos  os dias para casa, às 23:00 e pouco... e que hoje, continua sendo um
simples  motorista do São Manoel). Mas não, acho que hoje não deve ser esse
o  tema...  Estou  muito  "emotivo"  para  tecer comentários sobre algo, em
princípio, cético.

Mas  é  impressionante  como  ficamos  "emotivos"  quando o número de mg de
álcool  por  litro  de  sangue  aumenta,  né? Falamos sobre coisas que, até
segunda  ordem,  eram  meio que "proibidas". Não que isso seja um "pecado",
muito  pelo  contrário.  Creio que se as pessoas fossem tão sinceras quanto
costumam  ser  nesses "estados alterados da mente", o Mundo realmente seria
melhor.

Que  viagem!!!  Agora  está  tocando "O Trem das 7", cantado também pelo Zé
Ramalho.  Acabei  de  baixar  no Napster e eu nunca tinha imaginado que ele
cantasse  essas  coisas... Mas o que isso tem a ver com esse texto? Nada...
Quem  se  importa?  O importante é que o Banco R... dá 10 dias sem juros no
cheque especial.

Voltando  ao  contexto  antes  exacerbado,  agora  lembro  de uma colega de
trabalho... Que disse, algum dia nem tão distante, algo semelhante a: "Quem
não  bebe nem usa qualquer tipo de droga, não é legal". Mantidas as devidas
proporções, até certo ponto ela tem razão. Calma, gente! Eu explico. De vez
em  quando,  é  bom  nós  sairmos  do  nosso "normal", viajarmos por outros
"mundos"  e,  no  fim das contas, captarmos algo desses mundos para o nosso
mundo  real.  Puxa,  quantas vezes a gente acaba falando mais do que "deve"
quando  toma  umas  que  outras? Por que não aproveitarmos as respostas que
recebemos  nessas situações para nos tornarmos cada vez melhores? Sim!!! Eu
sou  partidário de que "papo de bêbado faz sentido", bom, pelo menos de vez
em quando! :-)

Não,  isso  não é uma apologia ao álcool, longe disso. Cada um deve saber o
que  é  melhor  pra  si,  se  algo  pode ou não te tornar melhor. Todos têm
soluções  para  as vidas alheias, falar é fácil. Enfim, todos devemos viver
tentando  melhorar  a  cada instante. Temos que ser melhor conosco e com as
pessoas  que  efetivamente  importam  para  nós...  Quanto aos demais, bom,
deixem pra lá! :-)

Estou sentindo que até agora não escrevi absolutamente nada conclusivo. Até
porque,  não  tenho como escrever nada conclusivo sobre coisas que estão em
constante  mutação.  A cada dia, mudamos nossa opinião a respeito de alguma
coisa,   alguma  pessoa,  alguma  situação...  Nossas  atitudes  e  reações
tornam-se  condizentes  com  essas  mudanças... AAAAAAAAA!!! Vocês estão me
entendendo, né?

Já se passaram 31 minutos desde o início desse texto, com direito a revisão
de  tudo o que foi escrito até agora. Mas ele ainda está sujeito a erros de
digitação e de concordância verbal e nominal, afinal de contas, ele não foi
"revisado pela comissão de formatura". :-)

Bom,  por  hoje  é  só! Semana que vem vou procurar um tema mais específico
para compartilhar com vocês.

Saudações tricolores,
César Henrique Costa

===========================================================================
============================= CRÉDITOS FINAIS =============================
===========================================================================

Este  fanzine  maluco  que  você  recebe  por  email todo domingão se chama
Tresler.  Um  grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você
quiser  entrar  em  contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os
números    anteriores   do  nosso  fanzine  eletrônico),  se  cadastrar  ou
descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem.

Tresler Team:
  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
  Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br)
  Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br)
Colaboradores da edição de hoje:
  César Henrique Costa (chcosta@gmx.net)
Visite o Site do nosso e-zine:
  http://www.tresler.cjb.net
Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para:
  treslerbr@yahoo.com.br
Para receber o nosso e-zine mande um email para:
  tresler-subscribe@yahoogroups.com
Para não receber mais o e-zine, mande um email para:
  tresler-unsubscribe@yahoogroups.com

Visitante número:
Espaço cedido por:
GEOCITIES - Free Home Pages

Copyright © 2001 Tresler - Todos os direitos reservados
Última atualização em 7 de setembro de 2001
Críticas e sugestões envie email para treslerbr@yahoo.com.br