TRESLER
Que dia é hoje ? Domingo, 03 de junho de 2001.

Olá!  Está é a edição número 7 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Última aula (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. A última entrega (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. O zumbido (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Slaves (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. A carta (Lenara Guadagnin Londero - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Sucinto. Devo ser sucinto. Para sinônimo desta palavra já não basta a vida?
Sucinto  na  definição  do  dicionário  me  leva  a palavras como resumido,
conciso,  lacônico  (breve). Sendo assim, não é minha intenção ser breve em
nada que faço na minha vida.

Se pudesse me mudar
Não mudaria minha sensibilidade
Não seria rústico
Não deixaria de pensar no próximo

Apesar de que do contrário seria mais próximo
De pessoas que conheço
Que nunca pensam em nada da maneira que eu penso
Que não acreditam na comunicação sadia 

Que acreditam em sonhos fúteis
Que possuem objetivos inúteis 
Que nutrem apenas seus egos
Narcisos podres

Morram de tanto olhar para o umbigo
Usem da minha boa vontade
Que ainda proverá um ombro amigo
Mesmo que arrependido

Neste  mês tivemos apenas 1 dia útil (sexta-feira). Minha folha de horários
marca  24h  de  trabalho.  Trabalhei sábado, domingo, deixei de almoçar, de
curtir  o  Sol  das 16h no Parcão, mas não deixei de curtir o pôr do Sol no
mesmo  Parcão  nem  o  luar,  que  a  cada dia que passa é melhor. Um show.
Falando  em  show,  sábado  meu  tio  reuniu  a banda "Dino Boys" (onde ele
atualmente  faz  os  vocais  e  guitarra  base), dez  anos depois da última
apresentação, em um show onde também era a comemoração do aniversário dele.
No  set  list,  Velvet  Underground,  David  Bowie,  Bob Dylan, Neil Young,
Beatles,  Eric  Clapton,  Iggy Pop, Pink Floyd, além de alguns clássicos do
Blues.  Um  show que entrou para minha história dos melhores shows da minha
vida.  E  eu  tenho tudo gravado na minha filmadora. Voltarei a falar sobre
isso  daqui a algumas semanas. Serei sucinto neste editorial, para ver qual
é.

Hoje  temos  emoções  de último dia, zunidos, cartas (plus a mais de hoje),
nuvens,  e  alguma  coisa minha que eu não sei ainda o que é. Sobre música,
que tal essa (que serve de prévia para a semana que vem, próximo do dia dos
namorados):

...
O teu silêncio 
Ilumina o momento
Tua respiração 
É o paraíso

Te vejo dormir 
E só penso que 

Te quero tanto
... 
     (Declaração, letra e música de Daniel Wildt)

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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ÚLTIMA AULA

"Como  é  que  eu  vou lembrar de ti, sora, se tu vem aqui, me dá um mês de
aula  e  vai  embora  para a Áustria?", foi o que disse a Marcella, uma das
minhas  alunas adolescentes, quinta-feira na última aula que dei para eles.
E eu não pude dizer nada, não tinha o que responder.

Depois  de  muito tempo trabalhando com informática, dei aula de inglês por
mais  ou  menos  dois meses e meio na verdade. Entre várias coisas, aprendi
que  lidar com pessoas é muito mais complicado do que lidar com máquinas. E
talvez, exatamente por isso, ao mesmo tempo mais interessante e assustador.

A  máquina fica ali na nossa frente inerte, imóvel; ela só faz aquilo que a
gente  "manda"  ela  fazer.  Ela não tem vida nem vontade própria apesar de
muitas vezes parecer teimar e não obedecer.

As  pessoas  têm  emoções,  têm sentimentos. Elas se apegam ou não a outras
pessoas  por  determinadas  razões  ou  afinidades  por  vezes  difíceis de
explicar.  Elas  não  fazem só aquilo que a gente "manda". Muito antes pelo
contrário,  quando se trata de adolescentes e crianças, eles preferem fazer
o oposto do que a gente pede.

A Marcella passou a aula toda batendo boca comigo. Dizendo que meu trabalho
era  muito  fácil,  só  ficar  ali  caminhando pela sala, falando frases em
português  para  eles  repetirem  em inglês e depois corrigir meia dúzia de
frases  nos  temas.  Ficou  dizendo que eu devia ter me dado muito bem como
professora  porque  afinal de contas, estou indo para a Áustria sem nem ter
emprego ainda.

Pessoas  a  gente  conquista  e se deixa conquistar às vezes sem nem se dar
conta. E muitas vezes, a gente só se dá conta disso quando vai perdê-las.

Numa  das  turmas,  tive que fazer bilhetinhos para todas as alunas. Outros
não  queriam  que  eu fosse embora. Não aceitavam. É a vida, não...? Eu não
tinha  como  explicar  para  eles  o  porquê de eu estar indo embora agora.
Outros,  é  claro,  nem  se  importaram.  "Boa Viagem", ou nem isso, apenas
"tchau", como se fôssemos nos ver novamente na semana que vem.

E  o  mais  interessante,  é que é em horas como essas que a gente descobre
que,  de  um  jeito ou de outro, faz diferença na vida de algumas pessoas e
descobre,  também, que passa indiferente na vida de muitas outras. Deve ser
por  isso  que  algumas  pessoas  têm  tanta  resistências  a iniciar novos
relacionamentos,  a se deixar cativar... Deve ser por isso que adolescentes
preferem criticar e dizer que odeiam primeiro antes que comecem a gostar.

Todos  os  meus  alunos  foram  saindo,  menos  a  Marcella.  Ela continuou
implicando  comigo,  perguntando  se  eu  voltava  e  dizendo que quando eu
voltasse,  ela  já  ia  estar  velha e eu caduca e não ia mais dar aulas de
inglês.

Depois  que  todo o mundo foi embora e a Marcella ficou sozinha comigo, ela
disse:
- Sora, se tu não curtir, eu te mato!

Ela  desceu comigo, conversando o tempo inteiro e perguntando várias coisas
e acabou se despedindo com um beijo, um abraço e me desejando boa viagem.

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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A ÚLTIMA ENTREGA

O  que  seria algo fácil para Otávio não estava sendo nem um pouco perto do
conceito  de  fácil.  A  espera  por  um lugar ao Sol parecia interminável.
Finalmente  Otávio  encontra  o emprego dos sonhos. Boy. Office boy. E você
pensa que esta é mais uma daquelas histórias onde a pessoa começa por baixo
e  cresce?  Errou.  Otávio  não dava valor para as coisas que tinha, mas no
final  desta história esperamos que ele entenda o que a vida quer mostrar e
ele não quer ver.

Otávio  não gostava  de seguir  regras impostas  por outras  pessoas. Fazia
de  sua vida um monólogo, gostava  de fazer  o estilo exército  de um homem
só.  Sempre achava que estava com a razão. Mesmo sendo um merda na vida com
um emprego que não reflete em nada um emprego dos sonhos. Para Otávio era.

Existia  um  problema  único: ele mesmo. Como não gostava se seguir regras,
sempre  marcava  o início do seu dia com uma entrada triunfal perto do café
das  10h  da  manhã.  Seus  chefes  e  mesmo  seus  colegas com mesmo nível
hierárquico  falavam  mal dele. Pensavam que nada faria aquele homem mudar,
acordar para a vida antes que ela faça isso, mas aí não tem volta.

Certa  vez  Otávio  resolve chegar mais tarde. Desafia o ponto eletrônico e
chega  cedo, para o almoço. O pacote especial que deveria ser levado para o
banco  no horário, que era sempre responsabilidade de Otávio, já tinha sido
levado por outra pessoa, que segundo um documento que ele tinha levado para
o  departamento  de  RH  da  empresa  na  semana anterior, tinha começado a
trabalhar fazia duas semanas na empresa. Não acreditando naquilo, Otávio se
irrita, e vai tirar satisfação com a tal pessoa. Vai até o local onde ficam
os protocolos e descobre o endereço eletrônico da pessoa que tinha levado a
entrega.

Mensagem enviada. Desaforos e desabafos de uma pessoa sem razão. Otávio não
tinha  base  para a discussão, o que o fez derivar assuntos pessoais sem ao
menos  saber quem era a outra pessoa. E agora vocês podem pensar: claro que
era  um  chefe  ou  alguém para fazer Otávio pagar um mico. Não, não era um
simples chefe. O nosso amigo não prestou atenção e não leu do lado do email
da pessoa a palavra "Presidente".

No  dia  seguinte, falam sobre uma mensagem que o presidente teria recebido
falando sobre um pacote especial. Otávio começa a entrar em pânico. Pronto,
agora  ele  já  está  em  pânico, e com razão. O telefone toca na sala onde
ficam  os  ajudantes da empresa. Era para ele. Era o presidente da empresa.
Diz  que  Otávio  não  agiu de maneira correta e o presidente fez o que fez
pois  era  caminho; e  ele  estaria indo no banco. Como o pacote ainda  não
tinha  sido  entregue  ele pensou  em relembrar  os maus  tempos que passou
sendo  office  boy  na  mesma empresa, onde começou sua promissora carreira
profissional.

Na  manhã  seguinte,  Otávio  tinha  que levar  um  documento   importante,
que  estava  vindo do gabinete do presidente da empresa para o departamento
de RH. O  documento era a  requisição para demitir Otávio. Sim, demissão. E 
ele não sabia que estava levando o seu próprio fim.

E  a moral disso tudo? Você todos os dias leva um pacote do presidente para
o  departamento de RH. É o seu destino profissional, que representa a forma
como  as  pessoas  te  enxergam dentro de um ambiente de trabalho. Imagem é
tudo. Com  base em  pequenas atitudes é que o conteúdo do pacote vai mudar.
Atitudes negativas e/ou positivas. Expectativas. Responsabilidade.  Encarar 
o problema como sendo seu problema e não problema de alguma coisa maior.

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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O ZUMBIDO

Hoje  acordei  diferente...  Havia  um  zumbido  atordoando minha mente ...
Contínuo,  agudo...  Pensei um pouco, fiz uma análise profunda de mim mesmo
na  tentativa  de  identificar  do que se tratava aquele som incomum. Era o
alerta  de que minha reserva de esperança havia chegado ao nível mínimo. Os
ventos  do  cotidiano haviam levado para longe as últimas nuvens carregadas
de  motivação  sobre  o céu do meu mundo. Restaram apenas camadas densas de
incompreensão  que insistiam em estagnar-se no horizonte, na espreita, como
que  aguardando  o momento exato de se dissipar em um temporal fatal... E o
zunido  fino  ecoava agora como um alarme anti-aéreo, forte e intermitente,
suplicando  que  minha  fé  viesse  em socorro trazer reforços que poderiam
proteger-me  do  perigo iminente. Mas as milícias da fraqueza e da decepção
haviam  tomado  de  assalto a cavalaria da fé e reduzido significativamente
seu  contingente, outrora excessivo. Agora o zunido se tornara mais grave e
fúnebre...  Sob  o  campo de batalha, destroços das tropas já putrefatas da
confiança  aniquiladas  pela  traição  que  novamente atacara pelas costas,
carregavam  a atmosfera de um odor fétido, repugnante e sórdido, através do
qual uma brisa negra soprava como que pronunciando palavras de algum ritual
satânico...  Ao  fundo  do zumbido havia gritos terríveis, que praticamente
moldavam  a  fumaça  densa  do  ar  em faces tomadas pelo pavor e pela dor,
anunciando  que  o  caos e a crueldade venceram mais uma batalha. Também em
segundo  plano,  um retumbar constante carregado de sons metálicos graves e
ritmados, que se anunciavam como um marchar constante de um exército imenso
de  infindáveis sombras do mal, prestes a despontar no topo do monte em uma
fileira interminável. Pelo ruído destruidor de seus passos, ainda ao longe,
era  possível perceber o rastro rubro de sangue e negro de desgraça deixado
a  cada  ceifar  impiedoso  das vidas pelo caminho. A visão de um caldeirão
fervilhando  onde  carne,  sangue,  ossos e lágrimas se misturavam com dor,
gritos  e faces de pavor tomou conta do meu pensamento... pude sentir até o
cheiro  fétido  da  imagem funesta... Imediatamente tentei acionar a razão,
mas  era  evidente  que  a  razão  estava em crise existencial. Uma análise
rápida  concluiu que se a emoção inegavelmente existia e havia me permitido
presenciar  tamanho  cataclisma, não haveria razão que pudesse contrariar o
fato  de  que  aquilo  pra  mim  era real. Busquei socorro novamente em meu
coração,  tentando  gritar  mais  e  mais  alto  para  que o zumbido, agora
ensurdecedor,  não abafasse minha voz enfraquecida pelo cansaço... Enquanto
aguardava  alguma resposta, meus ouvidos captavam o galhofar estridente dos
até  então  vitoriosos  soldados inimigos. Olhei para mim mesmo, como que a
avaliar  qual  seria  a  baixa  material se decidisse salvar minha honra ao
custo  do  meu  corpo...  e  que surpresa meus olhos encontraram. Havia uma
espécie de carapaça luminosa envolvendo meu perímetro... e ao meu lado mais
pessoas igualmente assim. Percebi que estávamos em alguma espécie de missão
especial,  envoltos  por  alguma proteção igualmente diferenciada. Com meus
ouvidos  agora  mais  afinados,  escutei  a  resposta:  era  a perseverança
anunciando  que  a  cavalaria estava a caminho, que as tropas estavam sendo
repostas  e  que  a missão prosseguiria em sua última tentativa. Recebida a
mensagem ergui a cabeça... O horizonte agora não era tão denso. Analisei ao
meu  redor  ...  meus  companheiros também haviam recebido o recado. Juntos
sabíamos que estávamos protegidos, embora agora ficasse claro que estávamos
em  um  lugar  estranho para nós. Não era preciso estar ali, mas o senso do
dever  e  de  alguma responsabilidade nos mantinha firmes e confiantes... O
temporal  não  nos  atingiria e manteríamos nosso posto conquistado a muito
custo,  ainda  que  intimamente  soubéssemos  que  não  poderíamos  esperar
gratidão  ou  recompensa naquela terra, ainda dominada pelas influências do
mal.  Apenas era nosso dever estarmos ali, a fim de servir de porto àqueles
que,  vencidos  pelo tédio e pela consciência, decidiram desertar ao mal. E
ali estaríamos, pelo menos por mais uma tentativa ou 2 mil anos.

O zumbido parou. Tem sol.
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Traços de reflexão desordenada e paradoxal.
*  Não  demora  nada para o racionamento e a sobretaxa de energia chegar ao
Sul. Sem energia, sem produção. Sem produção sem PIB.
*  Quando  muita  gente tem que fazer muito sacrifício é porque pouca gente
está tendo muito benefício.
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Cena da semana:
*  em  Traffic,  momento  em que o juiz federal vai a casa do traficante em
busca  da  filha.  A  expressão exata de como, em certas situações da vida,
tudo  aquilo  que você julgava importante ou julgava saber vai pro espaço e
você se sente inferior a um saco de adubo, incapaz de fazer coisa alguma.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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SLAVES


  "Os triângulo são os quadrado.
  Os quadrado são uma banderinha."
  
    Omar
  


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E  viva o verão de maio. Dias quentes, abafados, com manhãs e noites frias.
Dias sem nuvens, céu limpo. Sem chuva.

Céu sem nuvens... nuvens que eu gostava de observar na minha infância, pois
nelas  encontrava  feições de pessoas, desenhos, fantasias e qualquer outra
coisa que minha imaginação e as nuvens permitissem criar.

Mas  hoje  não  tenho  tempo  para  achar formas em nuvens. Espremido entre
trabalho,  faculdade,  sonhos,  contas  e pequenas frustrações diárias, não
tenho  mais  tempo  de  olhar para as nuvens. Até pq não mais as vejo, pois
passo  o  dia inteiro trancado em salas. As nuvens continuam lá, observando
um  bando de formiguinhas lutar por um lugar ao sol, "por uma vida melhor",
mas  eu  não  tenho  tempo  de  observar  sua imponência branca: devo estar
atrasado para algum compromisso.

Dentre  os  compromissos  que assumi (ou que me foram impostos), aquele que
ocupa maior parte de meu tempo é o trabalho. Trabalho que ajuda a sustentar
minha família, que não me permite estudar todo o tempo que eu gostaria, que
me  permite  adquirir pequenos sonhos materiais, que me cansa fisicamente e
que  me  permite conhecer pessoas fantásticas (é uma longa história, um dia
eu conto, mas foi daí que o Tresler nasceu).

Qualquer  dia  desses,  sem nuvens no céu, perguntei-me qual era a razão de
tudo isso.

Para que trabalhar tanto assim? Para q um dia eu possa montar uma página na
internet  e  dizer  que eu trabalho 55 horas por semana, ou, dizer na mesma
página  que  sou capaz de fazer 120 horas extra (horas extra? é assim?) por
mês? Para que eu não tenha absolutamente nenhum assunto a comentar com meus
colegas  além  do  trabalho?  Para  que eu me transforme em um autômato que
apenas concorda com cada ordem superior? Para que ao receber meu salário eu
fique triste, pois estou recebendo o valor que corresponde a mais um mês de
vida  perdido?  Para que eu sonhe com o dia de minha aposentadoria, pois aí
sim terei tempo para fazer as viagens que eu sempre quis?

Não.

Trabalho por questões financeiras, e tento me policiar para não transformar
minha vida no inferno acima descrito.

Entendo  que  alguém  tem  que  trabalhar.... afinal, o trabalho tem de ser
feito.

Mas, acima de tudo, a vida deve ser vivida. Até pq, as nuvens continuam lá,
a esperar que nossos olhares perdidos se voltem novamente para suas formas.
Em um dia qualquer.

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Sim, eu SEI que nós já estamos em junho.

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Pipou!  A  Overflow,  banda que integro na função de baixista, vai fazer um
super hiper ultra show no centro de Viamão City, a megalópole que um dia já
foi  capital  de  todos  os  gaúchos.  Será  no  sábado  que vem, dia 09, e
estaremos participando do primeiro festival de rock da cidade. Se alguém aí
curte  punk  rock,  heavy  metal,  hardcore  e afins, me contate em private
(vkellers@terra.com.br)  que  eu lhe fornecerei maiores informações sobre o
show, ok?

Dizem  as  piores  línguas da cidade que a Overflow fará um show no Garagem
Hermética (www.garagemhermetica.com.br) em agosto. Aguarde!

Ainda sobre shows, teremos as seguintes atrações esse mês:

Helloween - 20/06/2001 - Opinião (?), POA

Tequila Baby - 30/06/2001 - (?) - POA

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Oh my gawd run for cover! They're back! They're baaaaaaaaack!!!
Linhas de pensamento caótico 

- Morte ao governo. Apagão = falta de investimentos, privatização e aumento
  de tarifas
- E o Grêmio ganhou do Juventude.
- Morte a cadeira de Pesquisa Operacional.
- Morte:  o  Pereirinha,  do grupo Quero quero, faleceu na sexta feira,  as
  22h30min.

Linhas de pensamento paralelo

- Mas  você  pode  economizar,  não? Então se mexe e apaga essa lâmpada  do
  quintal   (seus  cachorros   enxergam  no   escuro...)  e  fecha  direito
  esse refrigerador! E DESLIGA LOGO ESSE CHUVEIRO!!!
- Morte aos meus vizinhos.
- MORTE MORTE MORTE
- Fiquei sabendo disso pq minha irmã resolveu ouvir Rádio Liberdade durante
  a  madrugada  da última  sexta, e  eu acordei  com a barulheira, lá por 4
  horas  da manhã,  e fiquei  acordado até  5h30min. E daí que eu tinha que
  acordar pra ir trabalhar as 6 da manhã?

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Trilha:
  Megumi Hayashibara - Hesitation
  Megumi Hayashibara - Daybreak impression 
  Candysuck - Leach
  Smashing pumpkins - XYU
  Nirvana - Tourettes
  Bad Religion - 21st century (Digital boy)
 
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Na  próxima  semana: Impressões bêbadas sobre o show da Overflow! Despedida
da Ariadne!

Vincent "Digital boy" Kellers

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============= O PLUS A MAIS DE HOJE (Lenara Guadagnin Londero) ============
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A CARTA

A carta esquecida sobre a mesa. Mais uma vez: folhas e folhas de desabafos,
lembranças, saudades. Escrevia por horas a fio, a letra corrida, os acentos
espalhados,  os pontos atropelados. Passava da ternura à angústia como quem
muda  de parágrafo, mas não mudava, escrevendo ora com raiva, ora com amor.
Depois,  a  sanidade  recuperada,  jogava  tudo  numa  gaveta  qualquer  na
tentativa  de  enterrar  aquilo  tudo  pra  sempre.  Não  adiantava, não ia
esquecer. E jamais enviaria aquelas cartas para outro lugar que não fosse o
lixo. Ainda assim, há meses aquela mesma cena se repetia.

Na  tarde  em  que  ele  a  procurou  com aquela conversa de tempo, pensar,
decidir, ela já sabia. Sentados os dois na mesma sala-testemunha de sempre,
conversaram. Não, ela chorava. Ele falava.

No  começo prestou atenção em todas as palavras que ele ia dizendo. Custava
a  acreditar  que  aquilo  estava  acontecendo,  sentia  que ele não queria
magoá-la. Escolhia as palavras, cada pausa, e desviava o olhar nas horas em
que  era  inevitável  dizer o que pretendia. Pretendia partir. Juntos fomos
ótimos,  ele  dizia,  tu  és  a  melhor pessoa que eu já conheci, nunca vou
esquecer  o  que me ensinaste. Não chora, já era hora, não estávamos bem. É
assim que tem que ser, e não é porque está terminando que não existiu amor,
eu sempre vou te amar.

Era  assim  que  tinha que ser, ele dizia. Ela não perguntou nada, não quis
saber porquê, percebeu tudo quando ele gaguejava, fugia do assunto e depois
voltava,  para  enfim  dizer: não dá mais. Falou durante uma tarde inteira,
ele que nunca falava, ela só olhos e água. Ele não chorou.

Dessa  vez,  entretanto,  a  carta ficou sobre a mesa. Aquelas cartas todas
eram  como deixar a água correr e lavar a sujeira. Parecia que o sentimento
sufocava  e precisava sair - escrever era abrir a torneira. Aquela, sobre a
mesa,  por esquecimento ou por um desejo inconsciente de que alguém lesse e
soubesse  de tudo, era a última. Ela decidira, e não ia voltar atrás. Era a
última,  para  ninguém, e mais do que nunca para ela mesma. A justificativa
daqueles  três  anos, a última tentativa fracassada de entender a distância
entre  os  dois.  A prova da desistência de ainda amar mais uma vez. Alguém
ali era profundo demais. Ou de menos.

E dizia:
Ele  pra lá sempre com seus livros, seus estudos, seus amigos, sua mania de
perfeição  que  jamais teve cura, sua dificuldade de se entregar. Eu pra cá
com  meus  escritos,  minhas  loucuras,  minha  dança,  minha paixão e meus
suspiros, minha alegria.

Nós  dois com nossas diferenças, nossas mudanças, nossas tentativas. Nossas
descobertas, nossa amizade, nossos enganos.

Ele  pra lá com seus sonhos de médico, com suas entranhas, com sua família.
Com  suas crenças, seus cultos, seu sono, sua convicção tão pouco convicta,
sua  indiferença.  Eu  pra  cá com minhas brigas, minhas contradições, meus
bilhetes,  meus  muitos  eu  ao  mesmo  tempo,  minhas  muitas  dúvidas sem
resposta.

Nós dois tentando, invadindo, errando, acertando.

Ele  pra lá com sua racionalidade, suas certezas, seus eu te amo. Eu pra cá
impulsiva, irrefletida, duvidando.

Nós  dois  nos  achando  e perdendo, levantando e caindo, nos contrapondo e
entendendo.

E  ainda  assim,  ele pra lá tão frio, tão virgem, e eu pra cá tão ardente,
sagitário e fogo.

Nós dois juntos de repente tão separados.

Um pouco nós.

Hoje, sós.

A carta ali, incontestável, em cima da mesa. Como um exame de dissecção que
expusesse toda a sua anatomia. Ou uma página de jornal que denunciasse toda
sua  loucura.  E  naquela  tarde, ela não lembra se para resgatar um CD, um
livro ou uma mentira, ele apareceu. Leu, aqueles mesmos olhos inexpressivos
de sempre. Não conseguiu encará-la quando estendeu a folha em sua direção.

- Joga isso fora.

Lenara Guadagnin Londero

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  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
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Colaboradores da edição de hoje:
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