TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 17 de junho de 2001.

Pedido do Editor: chame seus amigos e inimigos para assinar o Tresler. Peça
para  eles  enviarem  e-mail  para tresler-subscribe@yahoogroups.com. Nosso
e-zine  tem  como  objetivo ser um e-zine distribuído por e-mail, então nos
ajude  a aumentar mais ainda nossa lista de leitores. Fale da gente, bem ou
mal, mas fale!

Olá!  Está é a edição número 9 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. De volta à Europa (Ariadne Amantino - CARPE DIEM)
3. Sou  uma águia! Egotrip não faz mal para ninguém (Daniel Wildt - BORN TO
   BE WILDT)
4. Já Faz Tempo (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Infected (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. Não me diga não (Gilberto Freitas - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Oi!  Tudo  bem?  Espero  que  tirando tudo de ruim que está acontecendo com
você, o resto esteja legal.

Estou  com  frio. Minha meia está bem longe, e eu estou com preguiça. Muita
preguiça.  Meu quarto está desarrumado, desde janeiro a coisa vem piorando.
É  uma  bagunça bem arrumada, afinal eu encontro qualquer coisa por aqui. O
problema é que minha mãe não entende isso.

Queria  estar assistindo TV, tapado por cobertores bem quentinhos, sorvendo
uma  caneca  com  café  ou  chá,  sei lá, na companhia da menina que arruma
problemas  sem  pensar  duas vezes (yes, my girlfriend). Enfim, estou aqui,
sozinho ouvindo Beck e Candysuck, mas o domingo ainda não acabou.

Despite  all  my  rage  i'm  still  just  a  rat  in the cage! (Bullet with
butterfly wings - The Smashing Pumpkins)

Sobre a semana, morte de um dos Titãs (é cedo demais para dizer adeus), fim
dos  Raimundos  (é  cedo  demais  para  dizer adeus), melancia quadrada (as
sementes  continuam  lá  dentro  enchendo  o  saco),  o apagão continua (já
comprou  sua lanterna?), a política ainda do mesmo jeito (sem comentários),
meu  artigo  sobre  simulação distribuída foi apresentado em Praga (ôba!) e
comprei  um microfone (gravações experimentais). Agora falta o amplificador
e  um  cabo novo para minha guitarra, pois o que eu tinha acabei estragando
tocando sleep now in the fire (rage against the machine).

Bom,  resolvi  mudar um pouco o final deste editorial e vou colocar algumas
dicas.

Riff da semana!
Creedence Clearwater Revival - Suzie Q
E----------------------------------------|
B----3-----------------------------------|
G------2-0-------------------------------|
D-------------2-0h2--2-----0-------------|
A----------------------0h2---------------|
e--0-------------------------3b--0-------|

Música da semana!
Beck - Devils haircut - um comentário, é muito tri!

Albúm da semana!
Creedence  Clearwater  Revival  - Chronicle One - São 20 sucessos, Susie Q,
Bad moon rising, Fortunate son, Who'll stop the rain, Long as i can see the
light, Someday never comes, Have you ever seen the rain, e por aí vai.

Download da semana!
http://www.winmx.com  -  WinMX  -  tipo  o  Napster. Se pode fazer busca de
vídeos, imagens, e claro, mp3!

Site da semana!
http://www.falae.com.br  - Falaê! - revista eletrônica, vale a pena dar uma
passada por lá. E não é só porque tem um texto meu publicado. :-)

Extra!
http://planeta.terra.com.br/arte/adonais/phonica.htm  - Phonica é uma banda
com  músicas  bem  legais. Um som meio pop-rock romântico ou algo parecido.
Não  sou  crítico  de  música  nem muito menos gosto de classificar música.
Certo  Zu,  volta  e  meia  classifico  pessoas, mas estou melhorando, quer
dizer,  estou deixando de classificar pessoas. Façam o que quiserem. Enfim,
neste  site  aí  se pode fazer download das músicas (mp3). Aconselho baixar
"Mais Ninguém" para começar.

E no tresler de hoje? Sei lá, lê aí e me diz o que você achou. Ouviu? Envie
o  que você achou (treslerbr@yahoo.com.br), se gostou ou não, participe! Se
ninguém disser que algo está errado, continuaremos fazendo coisas erradas e
você continuará lendo e não gostando. Isso lhe parece familiar? Você espera
para dizer que algo está errado? Que pena. Você machuca pessoas assim, além
de ser machucado sem necessidade.

Daniel Wildt.

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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DE VOLTA À EUROPA

Dadi,  repórter  internacional diretamente de Viena conta suas impressões e
sentimentos a respeito da capital mundial da música!

A  cidade  é grande, maior do que Porto Alegre, com seus quase 2 milhões de
habitantes  e  seu transporte considerado um dos melhores do mundo. Para ir
de  um  lugar  para  outro,  pode-se usar U-bahn, schnellbahn, strassebahn,
ônibus  ou  várias combinações destes. Os prédios variam dos mais antigos e
conservadores  aos  mais  modernos, a maioria grandiosos. A língua: alemão!
Nas  ruas, nos cartazes, nas propagandas, no supermercado, tudo em alemão e
na maioria das vezes só em alemão!

Me  senti  super  bem  no  primeiro mundo de cara dessa vez! Nem parece que
estou  tão  longe  de  casa!  É muito diferente chegar num país estrangeiro
sozinha  e chegar num país estrangeiro já direto nos braços da pessoa que a
gente  ama. Dessa vez, tudo me parece perfeito e a cidade parece ótima para
se viver com todas as vantagens de uma cidade grande de primeiro mundo.

Durante  a  semana, me aventurei sozinha pelas ruas de Viena algumas vezes,
com  diversas  tarefas  para  cumprir.  Uma  delas,  fazer  as  compras  no
supermercado.  Não foi tão fácil como eu esperava porque aqui, diferente da
Bélgica, o nome dos produtos estão só em alemão e não em francês, então até
para  comprar  farinha  tive que usar o dicionário! Próxima tarefa: dar uma
olhada  nas  casas de estudante em volta para tentar descobrir os preços de
um  quarto  para  nos mudarmos! Como não tinha ninguém nas recepções nunca,
cada  portinha  que tinha uma placa, eu parava para procurar o significado.
Podia  ser  zelador ou algo parecido... Que nada, só achei sala de marcação
da  água, chave de luz, sala de trabalho e outras coisas inúteis para o meu
propósito. Desisti e voltei para casa!

No  sábado, durante um passeio pelo Nachmarkt, tipo um mercado público, deu
para descobrir as vantagens de se morar numa cidade grande. Lá tem de tudo,
desde as frutas mais exóticas e nunca vistas por mim até as mais conhecidas
e  tropicais  como  banana  e  melancia, todo o tipo de tempero imaginável,
sucos  de  tudo  quanto é fruta e uma variedade enorme de grãos, que inclui
até feijão!

Pontos turísticos já averiguados até o momento: Schloss Schönbrunn, Schloss
Belvedere,  Catedral  Stephansplatz,  Praterstern e Staatsoper. Os palácios
são  maravilhosos  como  sempre,  mais ainda às vésperas do verão quando as
flores e a natureza em geral estão exuberantes.

Enfim,  vale à pena ver Viena e, com certeza, vale à pena sair atrás de uma
aventura desse tipo pelo menos uma vez na vida (ou mais em alguns casos)...
Mas  o  tempo  é  curto e por hoje esse texto meio desordenado foi tudo que
consegui produzir para vocês!

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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SOU UMA ÁGUIA! EGOTRIP NÃO FAZ MAL PARA NINGUÉM

Sim,  esta  é  minha  história.  Um dia antes de completar 22 anos, sofri o
pênalti  por  assim  dizer. O meu melhor atacante (myself) foi atacado pelo
goleiro  adversário. No coração. Fratura exposta. Tive que aprender a viver
com a dor por um tempo. Fiquei enclausurado no meu quarto durante os dias e
em  algum  lugar  durante as noites. Estava de férias do trabalho. Cinemas,
teatros,  bares,  pubs,  boates.  Diversão  para não pensar no presente. No
vazio.

Durante  este  processo  de  internalização,  eu  comecei  a ler, escrever,
estudar  mais música, compor. Ou seja, me tornei uma pessoa melhor. Cultura
faz  bem.  Ou  eu dava a volta por cima, criava novas manias, traçava novos
objetivos,  ou  sucumbia. Sou extremo em questões de sentimento. Um doador.
Por  consequência,  aquele que sempre acaba sofrendo quando o sentimento em
questão acaba.

E  uma  das coisas que me fez muito bem neste processo foi uma história que
meu  pai  me  contou.  Sobre  a vida de uma águia. E eu sempre me lembro da
história,  mas nunca sei contar ela direito. Hoje, pensando no que escrever
aqui,  recebi  um  SPAM,  e  acredite,  era um e-mail com a história. Sendo
assim, aí vai a tal história.

[[[
A águia é a ave que possue a maior longevidade da espécie. Chega a viver 70
anos,  mas para chegar nessa idade, aos 40 anos ela tem que tomar uma séria
e difícil decisão.

Aos  40  anos ela está com: as unhas compridas e flexíveis, não conseguindo
mais  agarrar  as  suas  presas  das  quais se alimenta. O bico, alongado e
pontiagudo se curva.

Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas em função da
gorssura das penas, e voar é tão difícil!

Então  a  águia  só  tem duas alternaivas: Morrer, ou enfrentar um dolorido
processo de renovação que irá durar 150 dias.

Esse  processo consiste em voar, para o alto de uma montanha, e se recolher
em  um  ninho próximo a um paredão, onde ela não necessite voar. Então após
encontrar  esse  lugar, a águia começa a bater com o bico em uma parede até
conseguir arrancá-lo.

Após arrancá-lo, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar
suas unhas.

Quando  as  novas  unhas  começam  a nascer, ela passa a arrancar as velhas
penas.

E só depois de cinco meses, sai para o famoso vôo de renovação e para viver
mais 30 anos.

Em  nossa  Vida,  muitas  vezes  temos  de nos resguardar por algum tempo e
começar  um  proceso  de  renovação.  Para que continuemos a voar um vôo de
vitória,  devemos nos desprender de lembranças, costumes e outras tradições
que causam dor.

Somente livres do peso do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso
que uma renovação sempre traz.
]]]

Se  é verdade ou não esta história eu não sei. Sei que já vivi coisas muito
tristes  com relação ao amor e acredite, desejo isso a todas as pessoas. Um
coração  partido  faz  você se encontrar, crescer muito, dar valor a certas
coisas,  principalmente  ao  espelho  (que por acaso reflete o que você é).
Aproveito  aqui  para  agradecer  a todas pessoas que me fizeram sofrer por
amor.  De  coração.  Aqui,  variando entre um tom sarcástico e sincero. Vai
saber. Nunca fui bom com ironias.

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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Estou  em meu quarto... Pink Floyd no rádio anuncia em tom provocativo "Hei
you!"...  Aqui  dentro,  a lua cheia só pode ser percebida pela excitação e
ansiedade  que sinto... É impressionante como as pessoas tem necessidade de
sofrer  na  grande  maioria  das  vezes.  Estamos  sempre procurando aquele
problema  pra  remoer, aquela mágoa para chorar, aquele amor ou amizade mal
resolvidos   para  pensar  como  podia  ter  sido  diferente,  aquela  foto
nostálgica da família unida quando você era criança, aquela antiga carta...
Parece  que  estas  coisas são mais impactantes que qualquer bom momento. A
tragédia marca mais que a comédia.

JÁ FAZ TEMPO
------------
Eu  podia ter sido diferente. Não importa o quanto tenhamos feito, o quanto
tenhamos  nos  esforçado,  vamos sempre lembrar do que faltou dizer, do que
faltou  fazer,  principalmente  se  envolve  sentimentos de outras pessoas,
vidas, destinos, amores. Para exemplificar, quem não se comoveu com uma das
cenas  finais  de  "A  Lista  de  Schindler", quando Schindler, na saída da
fábrica  após  o  término  da  guerra, cercado pelas pessoas que salvou, se
coloca  de  joelhos  em  prantos  amaldiçoando  os poucos pertences que lhe
restaram  - seu carro, um relógio e um anel, se não me engano - por não ter
ele  convertido-os  em vidas. Quem salva uma vida, salva toda a humanidade.
Grande   verdade.  Verdade  que  me  apunhala  no  íntimo,  como  a  gritar
"Incompetente!!!"... Ás vezes culpo-me por não ter escutado o silêncio. Por
não  ter  visto  a sombra no escuro. Falo isso das coisas que sabemos estar
acontecendo  em  nossa  volta  mas  não paramos pra ver, pra sentir, pra se
envolver.  Aquelas coisas que só irão aparecer se você mexer nelas, retirar
as  folhas  secas  de  cima, trazer à tona. Você sabe que elas estão lá mas
acha  que  não é o momento de mexer naquilo, pois isto devia ter sido feito
antes,  ou  deve  ser  feito  depois. Como aquelas amizades da infância que
terminaram  simplesmente porque você não foi mais na casa dela e ela também
não  foi  mais  na  sua casa e vocês simplesmente perderam o contato, mesmo
você  tendo  o  telefone dela, ela tendo seu telefone e nada ter acontecido
entre  vocês. Passam-se anos e anos, você simplesmente não ligará e não irá
lá,  mas  você guarda o telefone dela, sabe que ela está lá ou apenas pensa
saber.  Mas  não  importa  o  que  acontecer, você sempre vai pensar que já
passou  tempo demais para ligar assim do nada. E assim o tempo vai passando
e  a  distância  vai aumentando cada vez mais. E então você já não sabe que
rumo  tomou  a  vida dela, se aquele problemão que ela tinha com os pais se
resolveu, como ela está ganhando a vida. E você descobre que agora ela está
envolvida  com  drogas  e com um pessoal barra pesada... Mistura isso com a
personalidade  dela,  faz a soma com os traumas de infância e com a família
destruída  e  logo vê o resultado negativo. Mas nem assim você liga, porque
agora  não  é  o  momento,  você está ocupado, tem que se preocupar com seu
futuro.  E  mais  uma  vez o tempo passa. Você sabe que quando sobrar algum
tempo  deve  procurar  ela  com alguma desculpa, só pra saber como andam as
coisas. Mas nunca sobra tempo, é uma coisa atrás da outra. E nessa correria
um  dia  desses  você esbarra naquele amigo que te diz que ela saiu de casa
porque  não conseguia mais segurar a barra com os pais e que estava morando
com o namorado, um cara mais velho e meio malucão cuja vida era centrada na
sua  banda  de  rock  malfadada. Tudo bem, quem sabe ela não melhore agora.
Ilusão. É claro que isso é uma atitude desesperada e que o abismo está cada
vez  mais  próximo.  Mas  tudo  bem. Agora está mais difícil ainda qualquer
possibilidade  de  contato.  Mas ainda assim você sabe que se ligar pra mãe
dela conseguirá um meio de falar com ela. Mas pode ficar estranho. Não vale
a  pena.  E  mais  uma  vez o tempo passa e passa muito. Até o dia que você
descobre  que ela não estava mais morando com o namorado, que no fim era um
tremendo  canalha  que  a  usou  das mais variadas maneiras e que quando se
cansou  dela  praticamente a expulsou de sua casa quase a pontapés. Normal,
não  se  pode  confiar  nesse  tipo  de  sujeito,  penso  eu  criando  mais
preconceitos.  Mas  ela  também  não retornou pra casa, pois não suportaria
aturar  a  humilhação  que  seria  ter  que aguentar seu pai insuportável e
irresponsavelmente  nojento  de  novo.  Sentia  pena  da mãe por ter que se
submeter  àquela  situação.  E  a cada visita rara que resolvia fazer a sua
mãe,  constatava  enojada  os  ematomas  que haviam mudado de lugar desde a
última  vez  que  a  vira.  - Quando ele bebe ele perde a noção das coisas,
minha  filha!  -  dizia  ela  como  que  a eximir de culpa o mau caráter do
marido.

Mas  como  ela  estaria se virando sozinha se não tivera como estudar? Sim.
Você  sabia  como.  No fundo você sabia que aquele corpo escultural e rosto
angelical de alguma forma estavam servindo pra isso. A princípio você tenta
se  iludir,  afinal  ela  poderia  estar só tirando fotos ou trabalhando em
eventos  publicitários.  Mas aquele jeito maroto de morena mignon inspirava
outros  desejos.  Sim.  Aquelas  curvas  logo  seriam  alvo  de empresários
desajustados ou qualquer outra espécie de infelizes que se acham os tais só
porque  ganham  um pouco mais de dinheiro que a grande maioria das pessoas.
Era assim que ela estava se sustentando. Que pecado, você pensa. Quantos de
nós,  seus colegas na época, não haviam quase se despedaçado de atração por
aquele corpo, agora desvalorizado pela presença de um preço.

E  mais uma vez o tempo passa. E novamente passa muito, até que você abre o
jornal  e  lê  o nome dela. Na reportagem, uma mulher com AIDS se suicidara
jogando-se  do  sexto  andar  do  Hospital de Clínicas. Você olha a data do
jornal.  É de ontem. O enterro já deve ter acontecido. Não há nada mais que
se  possa fazer agora. E mesmo que houvesse, você não faria. Afinal, já faz
tanto tempo.

Traços de reflexão desordenada e paradoxal
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*  O  mundo  animal  é  uma  inspiração  constante para novas descobertas e
invenções.  Você  sabia  que  existem mais de 10 mil espécies de formiga? E
você  nunca  se  perguntou se elas ficam doente? Já imaginou um formigueiro
inteiro  gripado?  Pois fique sabendo que elas tem uma glândula antibiótica
que  as mantém livre de infecções. E elas usam seus ovos como tubos de cola
pra prender folhas e outras coisas na construção do formigueiro.

Cena da semana
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* Todo ataque japonês a base americana do Havaí em "Pearl Harbor". O ataque
é realmente impressionante. Um exemplo clássico de como algo pode passar de
paraíso  a  inferno  em  poucos  minutos.  Desde  criança escuto que o erro
japonês  foi  não  ter bombardeado mais vezes a base naval, uma vez que nos
dois  primeiros  ataques muito poucos aviões foram perdidos. As reservas de
petróleo americanas estavam lá, quase a mostra e não foram bombardeadas. Os
americanos afirmam que se elas tivessem sido destruídas, não era necessário
bombardear  nenhum  navio,  pois  eles não teriam como sair do lugar. Nunca
saberemos  se a atitude do comandante japonês foi uma espécie de "piedade",
uma  espécie  de  fraqueza  ou displicência, ou uma espécie de discordância
moral contra o prevalecimento que teria sido o próprio ataque.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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INFECTED

Oi!

Ouça Glycerine, do Bush ao ler esta coluna.

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Christian tem AIDS há dez anos.
No  estado  atual  da doença, ele não pode fazer muito além de esperar pela
morte.  Enquanto  espera,  pede ajuda, de ônibus em ônibus. Qualquer ajuda.
Dinheiro.  Alimento.  Qualquer espécie de carinho. Ele não pede mais do que
alguma espécie de sustento, seja físico ou espiritual.

Aposentado  por  invalidez  pelo governo, Christian já não chora, pois isto
consumiria  suas escassas energias. E também pq já não há o que chorar. Ele
apenas  vive  o  tempo  que lhe resta, da maneira que é possível. Seu corpo
está roído pela doença. Magro, com voz fraca e o corpo debilitado, todo dia
ele se expõem ao público. Se expõem pois precisa desesperadamente de ajuda.
Qualquer espécie de ajuda.

Em  um ônibus qualquer, Ângelo, uma pessoa qualquer, presenciou o pedido de
ajuda de Christian.

Tocado  pela  dor  do  rapaz,  e  pela  indiferença dos demais passageiros,
deu-lhe  todo  o  pouco  dinheiro que possuía consigo. Ainda que o dinheiro
fosse extremamente necessário nos dias seguintes, naquele momento nada mais
importou.  Face  a dor de outro ser humano, expressa em contrações faciais,
em  gestos  fragilizados  pela  doença,  nada  mais fazia diferença. O mais
terrível de toda esta situação era a constatação de que o sofrimento alheio
não fazia a menor diferença.

E  Ângelo  pôde  comprovar  a  sua  volta  que  as  últimas fofocas do meio
televisivo  ou as últimas notícias esportivas fazem diferença. Estas são de
fato  importantes  para a vida das pessoas. O fato de Christian precisar de
dinheiro  para  comprar  analgésicos não faz diferença. O fato de Christian
estar  morrendo  a  sua  frente não faz diferença. Mesmo que fizesse alguma
diferença,  os  demais  passageiros  não  poderiam  ajudá-lo,  pois não têm
dinheiro,  não  é  mesmo?  Embora  tenham  dinheiro  para  comprar  jornais
populares  e  assemelhados,  eles  não  podem ajudá-lo, mas isso não vem ao
caso, não é verdade?

Christian  não  recebe  remédios que combatam a doença, e isso não importa.
Christian  não  tem mais a quem recorrer e isso não faz diferença. Ele está
estendendo  a  mão  a cada passageiro e esta mão é afastada como quando uma
mosca  é  afastada. Sequer o consideram humano. Ele é menos que humano: não
merece  sequer ser olhado, pois ele não faz diferença. Ele vai morrer logo,
e  convém não olhar para os olhos de um morto, pois isto faz diferença para
você, que escolheu ignorá-lo, não é verdade?

Ângelo  pensou  em  todos esses fato em uma fração de segundo. Entregando o
dinheiro  a  Christian,  ele  não  sabia o que dizer. O que se diz a alguém
nesta  situação?  Ele  não  sabia.  E  não  teve  o  tempo  necessário para
descobrir.  Limitou-se  a  chorar. Chorou por Christian e por todos naquele
ônibus.

Observou  o  doente  agradecer o seu dinheiro e solicitar a cada passageiro
alguma  contribuição.  Cego  de  ódio,  observou  o  rapaz receber diversas
negativas  ou  ser simplesmente ignorado. Comovido e ao mesmo tempo odiando
todos  a  sua  volta, com os olhos embaçados por lágrimas inocentes, Ângelo
buscou  descer do ônibus. Como se isso fosse o alívio de seu sofrimento. Ou
ainda,  o  alívio do sofrimento de Christian. Como se ele pudesse de alguma
maneira esquecer tudo aquilo que havia presenciado há pouco.

Ao  descer  do  ônibus,  Ângelo  estava como que bêbado. Observou o veículo
partir  e  seguir  sua  viagem.  Pôde  divisar  através dos vidros sujos do
veículo  a  figura  magra  de  Christian.  Com algum fio de consciência, se
perguntou  por quanto tempo ele ainda viajaria em ônibus como aquele. Sabia
que o tempo era escasso, mas... quanto tempo?

Desnorteado  que  estava,  não sabia onde encontrava-se, embora já houvesse
passado  por  aquele  local  centenas de vezes. Simplesmente não sabia para
onde  ir.  Ou não queria saber. Mas isso já não fazia diferença. Nada mais.
Nenhum sofrimento... Alheio. Nenhuma ajuda.

Por  alguns  minutos,  Ângelo caminhou sem rumo. Chorando, já não conseguia
coordenar nenhum raciocínio lógico. Apenas caminhava e chorava. Caminhava e
chorava.  Corria  e chorava. Corria. Corria às cegas. Corria para o meio da
estrada e isto já nao importava, nada fazia diferença.

Por isso não viu a morte que se aproximava velozmente.

Após  o  choque  com  um veículo qualquer, seu corpo foi arremessado ao ar.
Girou, girou e caiu inerte no chão. No asfalto, seu sangue se juntou a suas
lágrimas e nada mais fez diferença.

Nenhuma  ajuda:  nem para ele, nem para Christian, que morreu meses depois,
sozinho em um lugar qualquer.

---

Trilha:
  - Bad Religion: I  wanna conquer the world, Shades of truth e Against the
    grain
  - Pennywise - Surfin' USA, Peaceful day e Society
  - Ataris - Your boyfriend suck, You need a hug e Clara

Vincent Kellers

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================= O PLUS A MAIS DE HOJE (Gilberto Freitas) ================
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NÃO ME DIGA NÃO

Em todos momentos vividos
Vivemos em vão
Teu amor não mais me satisfaz
Por isso te peço perdão

De dizer que tudo acabou
E que agora não mais podemos nos ver
Sinto não ser mais parte da tua vida
Sinto não ser mais parte do teu ser

Que eu seja queimado se me arrepender
Mas quero que seja assim
Quero buscar meu rumo

Quero ver se me aprumo
E reconstruo meu mundo
Para aprender a viver

Gilberto Freitas

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============================= CRÉDITOS FINAIS =============================
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  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
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Colaboradores da edição de hoje:
  Gilberto Freitas (wisewizard@bol.com.br)
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Última atualização em 7 de setembro de 2001
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