TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 24 de junho de 2001.

Olá! Está é a edição número 10 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Planeta  Atlântida em Viena ou Donauinselfest? (Ariadne Amantino - CARPE
   DIEM)
3. Encontros (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Sem título (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. For   mature  readers  (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO &
   PARALELO)
6. O Cordão (Michelle Denise Leonhardt - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

===========================================================================
======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
===========================================================================

Toda quarta-feira um colega de trabalho quer sair mais cedo, pois diz que é
dia  do  sofá  e tal. Eu brinco com ele, mas libero na boa (na qualidade de
"chefe"). Normalmente sempre complemento que quarta-feira é dia de afogar o
ganso,  como dizia meu professor de literatura no terceiro ano do colegial.
Afogar o ganso. Saca a idéia?

Na china antiga, os carinhas tinham o hábito de "comer" gansos. Sim, e para
obter  mais  prazer,  o  ganso era afogado. Quando isso acontecia, quando o
nosso  querido  ganso  estava  prestes  a  morrer,  seus  músculos  sofriam
contrações,  afinal nosso amiguinho estava lutando para não morrer. E estas
contrações geravam mais prazer para os papa-gansos.

Também  dizem  por  aí  que a falta de oxigênio no cérebro dá prazer. Sendo
assim, já teve gente  que morreu  de tanto prazer. Vai entender. 

No  Tresler  de  hoje,  festivais  internacionais,  coisas do nosso Brasil,
música,  coisas  malucas,  histórias  de  namoradas  ciumentas. E namorados
babacas ou bonzinhos demais. É redundante, mas tudo bem.

Site da semana: 
Rogério Skylab (http://www.rota66.com.br/skylab)

Música da semana!
Radiohead - Fake Plastic Trees

Trilha sonora para fazer o Tresler?
Ipanema FM

Daniel Wildt

===========================================================================
====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
===========================================================================

PLANETA ATLÂNTIDA EM VIENA OU DONAUINSELFEST?

Shows,  esportes  radicais,  vários tipos de comidas e bebidas... Tudo isso
reunido  em  um  só lugar contando com a presença de milhares de pessoas...
Planeta   Atlântida!  Foi  a  primeira  associação  que  fiz  ao  saber  da
Donauinselfest e, principalmente ao chegar no local e começar a comparar as
coisas.

O  local:  no  Brasil, uma das mais movimentadas praias do litoral norte do
Rio  Grande  do  Sul;  aqui, a ilha do Danúbio. É curioso que a presença da
água é um ponto em comum como cenário de fundo de ambos os eventos.

Aqui  a festa dura três dias. É a chegada do verão na Europa e todos querem
aproveitar o sol que ilumina os dias até mais de 9 horas, fazendo com que o
anoitecer  seja  depois  das 10! Apesar de os dias serem maiores, o calor é
menor.  No  verão  deles  dá para usar calça comprida e moleton à noite sem
passar  calor.  Mas  é  claro  que  tem  sempre aqueles que querem curtir e
aproveitam  o  calor  de  mais  de 20 graus para colocar pernas e braços de
fora.

A língua oficial do evento é o alemão... Nos palcos, muitos artistas apenas
agradecem  em  alemão  e  falam o resto em inglês. Mas se a gente for parar
para  prestar  atenção  nas  pesosas  que  passam,  dá  para  ouvir inglês,
italiano,  francês, japonês, idiomas do leste europeu e por aí vai... Entre
as  atrações  mais  conhecidas:  Right  Said  Fred, Gigi d'Agostino, Gloria
Gaynor, No Angels, Lucio Dalla e Lou Bega.

As comidas vão de cachorro quente e pizza a crepes, kebab, langos, krapfen,
tacos,  wurst  entre outras que não sei citar nem descrever, mas dá vontade
de provar um pouco de tudo. O mesmo vale para as bebidas... As tradicionais
cerveja,  coca-cola, suco de laranja e água mineral estão por tudo. A estas
somam-se  bebidas  típicas  daqui,  tais  como radler, que é uma mistura de
cerveja  com  refrigerante  de limão. E, por incrível que pareça, a cerveja
normalmente é a mais barata! Os copos variam de tamanho, tem gente que bebe
até de regador!

O  Brasil está presente sempre! Na caipirinha vendida em diversos locais...
Na  homenagem  de  Lucio Dalla ao cantar uma música feita para Ayrton Senna
feita  por  um  jovem  compositor  cujo  nome  ele  não  citou  ou não pude
entender... No show "Carneval" da Orchestra Brasil...

Muitas  coisas  são  as mesmas do nosso "Planeta": as pessoas andam de mãos
dadas  para  não  se  perder;  as tendinhas brancas com o centro em formato
cônico são muito parecidas; a sujeira pelo chão depois de um dia inteiro de
festival  é  a  mesma  ou  maior,  apesar  de muitas tendinhas devolverem 5
schilings  em  troca  dos  copos de plástico; não tem espuma branca, mas as
frescuras  para  vender  variam de grandes corações de plástico piscantes a
guampinhas azuis ou vermelhas que se alternam piscando também.

No  entanto,  o espaço deles é maior, a ilha do Danúbio tem mais ou menos 5
quilômetros.  E,  apesar disso, o festival é de graça. A festa começa cedo.
No  final  da manhã ou início da tarde, shows já estão acontecendo nos mais
de  20  palcos  montados  para  o  evento que apresentam estrelas de vários
lugares do mundo.

Além  de  esportes  radiais,  aqui  tem  também  parque  de diversões e uma
infinidade de atrações para crianças. Eles também tem Bungee Jump mas pulam
de uma torre à beira do Danúbio que pode ser vista praticamente de qualquer
lugar  da ilha. Ao longo dos 5 quilômetros de festa, barraquinhas vendem de
tudo,  numa variedade que pode ser comparada ao Brique da Redenção: Roupas,
anéis,  pulseiras,  bolsas,  livros, cds, discos, óculos, chapéus, bonsais,
artesanato...

Jovens,  velhos, crianças e adultos... Pessoas de todas as faixas etárias e
dos mais diversos tipos e culturas se dirigem à Donauinselfest, fazendo com
que  a  dita maior festa jovem da Europa atraia em torno de dois milhões de
visitantes para a Ilha do Danúbio durante estes três dias.

Aos  poucos,  caminhando  pela  ilha  e  observando  os  acontecimentos  do
festival,  como disse o Diego, foi necessário deixar o nacionalismo de lado
e  admitir:  estaríamos  ofendendo  a Donauinselfest ao chamá-la de Planeta
Atlântida em Viena.

Ariadne Amantino

===========================================================================
===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
===========================================================================

ENCONTROS

Esta  é  uma  música  minha.  Eu  fiz  essa aí um dia que liguei para minha
namorada  e  o  telefone  dela estava ocupado. Enquanto esperava para ligar
para  ela  saiu a poesia. Tentei novamente e o telefone continuava ocupado.
Aí  eu  fiz  a  melodia.  Telefones  ocupados  são  ótimos para inspirações
musicais.

Encontros

Mal posso esperar
Pelo nosso próximo encontro 
Fico esperando meu relógio despertar
Para sonhar novamente contigo

A paz prevalece quando nos vemos
Sinto um bem enorme 
Um que de melhores momentos
Sem me preocupar com comparações

Pois teu amor é incomparável
Sublime e incontestável
Forma de amor
Simples e eterna

Equanto durar
Não quero pensar
Em nada que possa 
Me distanciar 
Do teu amor 

Daniel Wildt

===========================================================================
==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
===========================================================================

Caros  amigos,  a minha coluna de hoje é um relato pesaroso de uma história
real.  Peço  excusas pela delonga da coluna, mas tinha que transportar para
as letras, em forma quase de um relatório de desabafo, um sentimento que me
sufocava. Em razão disso, hoje não teremos as seções de "Traços de Reflexão
Desordenado e Paradoxal" e "Cena da Semana".

Meu  pai é aposentado. Trabalhou muitos anos como advogado e obteve sucesso
no  exercício da profissão. Trabalhava na área trabalhista em um escritório
onde  compartilhava  com  mais  2  colegas o ambiente e as causas. Em 1984,
quando  o  escritório  estava vivendo seu auge devido às vitórias que vinha
acumulando  em  causas trabalhistas, um homem chamado José Chapper procurou
meu pai para contar sua situação e impetrar uma ação contra seu empregador,
um órgão do governo federal.

José Chapper era dentista do INAMPS - órgão que na época equivalia ao atual
SUS,  porém  com  mais  qualidade  no  atendimento  e  organização - em São
Jerônimo,  cidadezinha  do interior do Rio Grande do Sul. Em 1971, passou a
exercer  a  função de Supervisor Odontológico na agência daquela autarquia.
Durante muitos anos ele trabalhou pela nação atendendo as pessoas pelo hoje
extinto  INAMPS,  sem  ter seu vínculo empregatício reconhecido. Este foi o
motivo  que  o  levou  a  buscar, como cidadão, seus direitos trabalhistas,
procurando para tanto o escritório onde meu pai trabalhava. Isto ocorreu no
final de 1984, ou seja, por pelo menos 13 anos este brasileiro trabalhou em
um órgão federal sem ser considerado um empregado da União e, portanto, sem
direito  a  férias,  décimo  terceiro  salários  e vários outros benefícios
garantidos pela legislação.

Após  a  análise  dos  fatos,  meu  pai  e  seu colega Mílton, atuando como
procuradores  de  José Chapper, deram entrada numa Reclamatória Trabalhista
contra  o  INAMPS, processo de número 00.0683724-7. Esta reclamatória tinha
como  objetivo  único  que a justiça reconhecesse o vinculo empregatício do
José, de forma que ele pudesse contar com os mesmos direitos trabalhistas -
os  quais a legislação garante e nada além disso - que qualquer funcionário
de  qualquer empresa. Tudo que ele queria era ter reconhecido seu direito a
ter  férias,  a  ter  décimo  terceiro salário, a ter fundo de garantia por
tempo   de  serviço  entre  outros  direitos  fundamentais  ao  trabalhador
assegurados pela Lei.

Assim que o extinto INAMPS tomou conhecimento da ação, através da audiência
de  citação do processo, tratou o órgão da autarquia de agir em retaliação,
mais  uma vez procedendo em contrariedade com as normas da Lei. Poucos dias
depois  da  interposição  da  ação  trabalhista,  foi  o autor, brasileiro,
divorciado, José como tantos outros da nossa nação, avisado pelo INAMPS que
seria  afastado  da  função  de  Supervisor  Odontológico,  para retornar à
condição de simples credenciado que detinha em data anterior à 1971.

Isso mesmo. José Chapper, após mais de 13 anos na função de Supervisor, foi
rebaixado para voltar a função de dentista credenciado, que exercera antes.
Com isso, seu salário ficou reduzido a menos da metade.

Imediatamente  após  tomar conhecimento disso, seus procuradores, meu pai e
seu  colega,  tomaram  as  medidas  legais cabíveis ajuizando, no dia 14 de
dezembro  de 1984, uma ação cautelar objetivando a manutenção de seu status
salarial como Supervisor Odontológico.

Eu abro um parênteses nos fatos pedindo para que atentem para a data em que
o  processo foi iniciado: 06 de dezembro de 1984. É possível que alguns dos
leitores  desta  publicação ainda não tivessem nascido nesta data. Isto foi
há mais de 16 anos atrás.

No  dia  31  de  março  de 1986, o Juiz Federal da Segunda Vara Dr. Osvaldo
Moacir  Alvarez assinou a sentença da ação cautelar favorável ao Autor José
Chapper.  Na  sentença,  o  magistrado  determinava que a autarquia deveria
manter  o  salário  de  Supervisor  Odontológico ao nosso amigo José, pagar
todas  as  perdas  acumuladas  pelo tempo que ele passou recebendo menos da
metade  do que deveria - mais de um ano até então - e ainda pagar as custas
do  processo.  Esta  foi  apenas  a  primeira  de  uma  séria  de sentenças
favoráveis ao autor do processo, José Chapper.

Mas  a união estava determinada a não tratar o José como um cidadão. O José
não poderia vencer, mesmo já o tendo feito. Era um Estado contra uma pessoa
comum,  com  um nome comum, não poderia ele sair vitorioso. Mesmo tendo ele
servido  à nação com seu trabalho durante tantos anos e continuasse a fazer
isso como cidadão, buscando seus direitos e abrindo caminho para que outras
pessoas fizessem o mesmo.

Apesar  da decisão favorável, José Chapper continuou recebendo menos do que
a  Lei  lhe  assegurava porque a União entrou com um recurso. E mesmo tendo
José  Chapper  novamente  ganhado a ação, outro recurso foi impetrado pelos
advogados  da  União. E depois outro e outro e outro e tantos quantos foram
possíveis.  Todos  com  vitória para o autor, José, em quase todos os casos
por    unanimidade.  Foram  embargos  declaratórios,  recursos  especial  e
extraordinário  no  STJ e STF, agravos e toda sorte de artifícios legais as
armas  que  os advogados da União, cumprindo orientação do Procurador Geral
da União, usaram com o objetivo único de atrasar ao máximo o cumprimento da
sentença e com isso manter mais um brasileiro na completa desolação.

Desolação? Não sei que palavra poderia expressar o sentimento de uma pessoa
que  -  tendo servido seu país e seu governo, trabalhando num órgão federal
que  visava  o  atendimento gratuito às pessoas necessitadas, sem direito a
férias,  a  décimo terceiro salário, sem sequer anotação na sua CTPS, tendo
seu  salário  drasticamente  reduzido  a  menos da metade - se vê obtendo o
reconhecimento  da  justiça mas sem poder efetivamente ser recompensado por
toda  esta humilhação. Eu realmente não sei qual palavra usar pra descrever
toda esta decepção aliada a impotência de fazer valer a Justiça.

Em  abril  de  1990,  a  Primeira  Turma do Tribunal Regional Federal da 4a
Região  colocou  na  sentença  em  que,  mais  uma  vez  José  Chapper saiu
vitorioso:  "Constatado,  'in  casu',  que o credenciamento de profissional
liberal pela autarquia previdenciária encerra uma fraude contra a aplicação
das  normas trabalhistas, há nulidade de pleno direito a teor do art. 9o da
CLT".

Sim,  é  isto  mesmo.  A  Justiça  classificou como FRAUDE contra as normas
trabalhistas  a forma de contrato do INAMPS, um órgão do governo federal. O
próprio governo do país não segue a Lei.

Mas,  após  cada sentença, os advogados da União esperavam chegar no limite
do  prazo  e  interpunham  um  recurso,  ora com a desculpa de questionar o
processo  de cálculo empregado na correção dos valores, ora com a pretensão
de  rebater os fatos com seus frágeis argumentos, esboroados diversas vezes
no  curso  da  ação  trabalhista.  Na  verdade,  o único objetivo deles era
postergar ao máximo o cumprimento da sentença.

Em  1995  eu  passei  a me envolver com o processo, embora de uma forma não
muito  significativa.  Apesar  de  já  estar  aposentando, era meu pai quem
formulava  as  respostas aos recursos e demais artifícios legais utilizados
pela união para retardar a execução do ex-INAMPS, hoje Ministério da Saúde.
Como nesta data eu já possuia um computador e uma impressora jato de tinta,
ele  levava  para  que eu digitasse e imprimisse as respostas aos recursos.
Muitas  vezes,  meu  pai  chegava  em  casa  tarde,  me entregava as folhas
rascunhadas  em  papel  almaço  por  volta  das 10 da noite e dizia que era
urgente  e  tinha  que  estar  pronto  na manhã seguinte. Algumas vezes ele
ficava  comigo,  modificando  o  texto,  ditando para mim, me auxiliando na
diagramação  do  texto  ou  simplesmente me fazendo companhia. Fizemos isto
diversas  noites  e em quase todas elas era no processo do José Chapper que
trabalhávamos.  Era  através  destas tarefas que meu pai silenciosamente me
passava  o  senso  de  responsabilidade  com  o trabalho que ele tinha. Não
importava  se a resposta para a ação pudesse ficar para a semana que vem ou
o  mês  que  vem.  Ele  queria  sempre  para  amanhã.  E  aos poucos eu fui
assimilando  isso  e aceitando passivamente o fato de ter que cancelar meus
compromissos  pessoais  para passar a noite toda digitando as respostas com
palavras no mínimo esdrúxulas e sem sentido pra mim e depois perdendo horas
imprimindo  e  ajustando  para  que ficassem ao gosto perfeccionista do meu
velho.

Mas  no  meio  daqueles  termos  todos,  existia uma coisa bem clara que eu
conseguia compreender: um cidadão, que fora prejudicado de uma forma cruel,
lutava  pelo seu direitos há muito tempo. E ele tinha o apoio, mesmo lento,
da  justiça. Mas a cada última barreira surgia quase que inacreditavelmente
outra  a  ser  transposta.  E  nesta  batalha,  eu  de  alguma forma estava
colaborando  com ele, e torcendo para que chegasse o dia em que ele pudesse
receber tudo aquilo que lhe era devido. Não queríamos nem um centavo a mais
ou a menos. Só aquilo a que ele tinha direito. Isso era o bastante para lhe
garantir uma aposentadoria confortável. Há poucos dias atrás, contei em meu
computador 23 documentos que eu havia digitado para a ação.

Na  última  quinta-feira  eu  iria  sair para jantar com minha namorada. No
entanto,  quando  eu  já  estava  saindo  do  trabalho, meu pai me ligou me
avisando  que  tínhamos  uma  petição para fazer. Entristecido ele disse ao
telefone: - Esta é pesada. - e começo a ler:

-  "Mílton  Soares  da  Silva,  no fim assinado, na qualidade de procurador
(...)  vem  à presença de V. Exa. para dizer e requerer o quanto segue: que
tomou conhecimento do falecimento de seu representado, óbito ocorrido em 10
de junho corrente, conforme certidão de óbito com esta oferecida". Adivinha
o nome do Autor? É cruel.

Tive  vontade  de  calar  ao  telefone, mas tentei fingir que não me abalei
muito.  Era  algo  típido  do  livro "Ninguém escreve ao coronel" do grande
Gabriel Garcia Marquez.

Mas na verdade aquilo tinha me abalado. E muito.

Estranhamente  naquela  noite fui pra casa chorando a morte de um homem que
nunca  vi  na  vida  e  que  pouco  sabia sobre ele. Um brasileiro morto de
desgosto,    de  tanto  esperar,  de  tanta  humilhação.  Assassinado  pela
inoperância impotente da justiça, engessada pela má fé do governo federal.

Pra  mim  foi uma tremenda facada, justamente onde mais me dói: na parte do
meu coração que ainda abriga meu amor a Pátria e que ainda tem esperança no
futuro  e  que  acredita  numa  nação  próspera, que possa dar um mínimo de
dignidade ao seu povo sofrido e tantas vezes humilhado.

Sequei  minhas lágrimas, abafei meu grito e fui pra casa digitar o que pode
ser  a  última das juntadas ao processo: a substituição de seu nome pelo de
sua companheira como beneficiária da sentença.

Espero  que  ela possa algum dia realmente se beneficiar pelo sacrifício ao
qual    seu  companheiro,  José,  foi  forçado  a  fazer  pela  prepotência
reconhecidamente  injusta  e criminosa do governo, que pouco importa-se com
seu povo.

Com  isso,  duas  coisas  ainda restam fortes no meu peito: a ferida aberta
deste  episódio e a confiança na única justiça em que devemos esperar: a de
Deus.

Eduardo Seganfredo

===========================================================================
======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
===========================================================================

FOR MATURE READERS

Oi!

---

A park.

- "Hey mister!", screams a kid.
Dream catches the ball in mid-air
- "That  was  a  killer  catch,  man!  Totally  wicked! Can I have the ball
  back?", asks the kid.
- "Hmm? Oh... This? Here.", says Dream.
- "Thanks. You wanna play ball?", replies the kid.
- "No. No, thank you. I am feeding the pigeons", says Dream.
- "Thass cool.", says the kid, leaving.

Death comes closer, in the background.

- "What are you doing?", asks Death, sat near Dream.
- "Feeding the pigeons.", replies Dream.
- "You  do that too much, you know what you get?",  asks Death, with  a big
  smile.

Dream doesn't seem to bother with the question.

- "Fat pigeons! That's a line from Mary Poppins.", says Dream.
- "I love that movie. You ever see it?", asks Death.
- "No."
- "There's  this  guy who's utterly a banker,  and he doesn't have time for
his  family,  or  for living, or anything. And Mary Poppins, she comes down
from the clouds, and shw shows him what's important. Fun. Flying kites, all
that stuff."
- "SUPERCALIFRAGILISTICEXPIALIDOCIOUS", says Death.
- "What?", asks Dream.
- "SUper  -  CAli  -  FRAGil  -  ISTic  -  EXpi  -  ALi - DOCious.  Utterly
fantabulous   word,  huh?  It  means,  y'know,  great.  Wonderful.  Ginchy.
Gnarly.", Death explains.
- "PEACHY KEEN!", says Death.
- "Ah.", says Dream.
- "It's  a cute  movie. Maybe not everybody's thing, but y'know... Dick van
Dyke's  british  accent defies belief. 'Hoh 'hits a jolly 'oliedye wiv yew,
Mairee Pawpins!'. Y'know. Cute", says Death.

Again, Dream doesn't seem to bother with what Death says.

- "Ok. So, what's the matter?", asks Death.
- "What do you mean?", asks Dream.
- "What's  the  matter? I  know  something's  wrong. I  mean, look  at you!
Sitting here, moping. It isn't like you.", says Death.

- "No...  perhaps  it   isn't. I don't know what's wrong. But you're right.
Something is... the matter", says Dream.
- "When they  captured me, imprisoned in their box, I had just one thought:
Revenge. By the time I freed myself, my original captor had gone the way of
mortals,  and I took my vengeance on his son. It felt.... fine, I suppose",
Dream explains.
- "But  it didn't  feel as -- satisfying as I had expected. In the interim,
my  dreamworld  had  fallen apart. I needed my tools, long since stolen and
scattered.", says Dream.
- "Eventually,  I  found them. The pouch was relatively easy. To regain the
helmet  I  challenged a demon, dared the Hordes of Hell, faced down Lucifer
himself. Hahh. That left only the ruby.", says Dream.

- "The ruby was... a  human had been using it. I hate to think what toll it
must  have  taken  on  his  mind,  on his soul... we fought, in dreams. The
stone,  no  longer  mine,  was  sucking  me  into  its  fabric.  It was....
terrible.", says Dream.
- "And  thinking  it was my life he was crushing, he destroyed the ruby. HE
DESTROYED  IT.  It freed me. More than that. It freed everything of me that
was in the stone. I got it ALL back.", explains Dream.
- "I was more powerful than I had been in eons. I returned the human to the
madhouse.  You  see,  until  then  I'd been driven. I'd had a true quest, a
purpose  beyond  my  function  -- and then, suddenly, the quest was over.",
says Dream.
- "I  felt... drained.  Disappointed. Let down. Does that make sense? I had
been sure that as soon as I had everything back I'd feel good. But inside I
felt worse than when I started.", says Dream.

- "I feel like, nothing.", says Dream.
- "There. You asked. I'm sorry, maybe I don't have an answer", says Dream.
- "Have you finished?", Death asks.
- "Yes.", replies Dream.

- "You could have called me, you know", says Death.
- "I didn't want to worry you.", Dream replies.

- "I.  Don't.  Believe. It.  Let me tell you something, Dream. And I'm only
going to say this once, so you'd better pay attention.", says Death.
- "You  are utterly  the stupidest, most self-centered, appallingest excuse
for  an  anthropomorphic  personification  on  this  or any other plane! An
infatile,  adolescent,  pathetic  specimen!  Feeling all SORRY for yourself
because you little game is over, and you haven't god the -- the balls to go
and  find  a new one!", replies Death, as she hits Dream in his head with a
piece of bread, with which he was feeding the pigeons.

Taken  from  Sandman  #8,  titled  "The  sound of her wings". Words by Neil
Gaiman.

--- 

Come on death! 

---

Trilha:
  Bad Religion - Only entertainment
  Bad Religion - Generator
  Vandals - Supercalifragilisticexpialidocious (pura coincidência)
  Bikini Kill - Suck my left one
  Bikini Kill - I like fucking
  Bikini Kill - Rebel girl

Vincent Kellers

===========================================================================
=========== O PLUS A MAIS DE HOJE (Michelle Denise Leonhardt) =============
===========================================================================

O CORDÃO
 
1996,  tarde  de  sexta-feira.  Sala  íntima  de  uma casa de Porto Alegre.
Natália  (que  usa um cordão de ouro com a frase "Eu te amo"), seu namorado
Lucas,  seu  irmão  e  uma  amiga  se  preparam para uma maratona de vídeos
esparramados nos enormes sofás cor creme.

- Peraí,  não  começa  o  vídeo  ainda! - Pede  Lucas, fazendo menção de se
levantar e buscar os óculos dentro da sua pasta.
- Luqui,  deixa  que eu pego pra ti. Tá lá na tua pasta, né? - diz Natália,
já levantando e caminhando na direção das coisas do namorado.
- Sim, meu amor!

Passam-se  alguns instantes e a menina deixa a sala sem dizer palavra. Três
minutos depois, Lucas pergunta:

- Pra onde foi a Nati?
- Deve ter ido ao banheiro. - Diz Marcelo
- Ou foi fazer pipoca pra gente. - Diz sua amiga
- Não,  ela tá  demorando demais. Natiiii? (grita) Vem cá amor, o filme vai
começar!

Silêncio.  A conversa continua normalmente entre Marcelo e Lucas enquanto a
turma espera que Natália volte de onde quer que esteja.
(...)
- Como tu teve coragem, Lucas? - grita a menina, batendo fortemente a porta
ao entrar na sala.

Mais uma vez silêncio. Silêncio mortal.

- Fala, Lucas? O que foi, tá com medo, garanhão de meia tigela
- O que foi que eu fiz, meu amor?
- Meu  amor? Essa é boa. Só o que me faltava, ainda tem a cara de pau de me
chamar de meu amor.
- Nati,  me  explica  o que é que tá acontecendo, porque tu tá me xingando,
exatamente?
- Ahhh, garoto! Eu não nasci ontem. Quem é essa Renata?

Garoto.  Lucas  odiava  ser chamado de garoto. Era assim que sua namorada o
chamava  quando  estava  brava.  Bom,  pelo  menos não tinha usado seu nome
completo:  Lucas  Eduardo.  Se  chegasse  a  usar,  ela  estaria  realmente
emputecida.
  
- Que Renata, Nati?
- Que  Renata? Que Renata? A Renata,  que fica te dando presente e tu ainda
tri cara dura pergunta que Renata? Ahh, faça-me o favor.
- Eu só conheço uma Renata. Mas da onde tu tirou essa coisa toda de Renata?
O que foi que eu fiz?
- Lucas  Eduardo,  ouça  bem o que eu vou ler pra ti agora. Quem sabe tu se
lembra  quem  é a Renata e o que tu anda fazendo com ela. Marcelo, olha que
belo namorado eu arrumei.

O bilhete. Ela pegou o bilhete da Renata. Que idiota que eu fui em deixá-lo
na  pasta.  Como  eu vou explicar pra ela?? Ainda mais agora. Tu é mesmo um
otário  Sr.  Lucas Eduardo. (pensa ele, enquanto Nati lê berrando o bilhete
de Renata)

- Lucas.  Finalmente consegui comprar o seu cordão. Escolhi o mais bonito.
Espero que goste!
- Amor, eu posso explicar.
- Explicar? Peraí que tem mais, eu não acabei. Olha só: Super beijo Renata.

Ela levanta a cabeça e encara o namorado, depois diz:

- O  cordão.  Já  sei   de  que cordão ela está falando. Esse que eu estava
usando (num impulso, ela arranca o cordão do pescoço dela própria). Ainda é
cachorro,  né  Lucas? Ganha um cordão onde diz eu te amo de uma mulher e dá
pra burra da Natália que fica em casa, te esperando todo dia.
- Ela não...
- Hipócrita. Renata. Que tipo de vadia é essa Renata?
- Nati, calma, deixa eu falar...
- Falar  o  que,  seu cachorro.  Negar? Eu li bem o que está escrito. Super
beijo, Renata. Super beijo? O que tu quer explicar ainda. Sabe o que eu vou
fazer  com esse cordão idiota? Tocar fora. Porque ele é podre, isso que ele
é. Presente de puta.

Natália  sai  da  sala enfurecida (e todo mundo vai atrás). Ela corre até o
banheiro,  joga  o  cordão  na  privada  e  puxa a descarga. Lucas começa a
chorar. Natália sempre foi estourada. Não admite chorar enquanto briga.


- Que  foi, Lucas  Eduardo? Chorando pelo presentinho que foi pela privada?
Se  essa Renata estivesse aqui, quem ia chutada por essa patente abaixo era
ela. Aquela vaca, chinelona. De onde ela é, hein? Hein? Fala, cretino.

Natália  está  vermelha.  Numa  mão  o  bilhete,  já  amassado. Na outra, o
sabonete que estava em cima da pia.

- Nati, a Renata...
- Primeiro  lugar, seu  mesquinho. Eu me chamo Natália, tá? Nenhum cachorro
me  chama  de Nati. Tô esperando, não vai falar? Até porque tem um restinho
de  bilhete,  né?  "Obrigada  pela  companhia  na  sexta.  Você  foi  muito
importante." Muito importante, Lucas Eduardo. É eu dar as costas por um dia
e tu sai com uma vadiazinha.
- Natália,  sexta  foi  a  janta  do pessoal da turma. Tu estava num chá de
fraldas, lembra? Eu te chamei pra ir junto.
- Ahhhh, então é  só eu não estar  e tu já fica com outra? Não acredito que
tu  jogou fora dois anos de namoro comigo só porque essa galinha te abriu a
asa  e te  comprou um  cordão de  ouro que tu teve a cara de pau de me dar. 
Cretino desgraçado.
- Natália, a Renata e eu não ficamos juntos. A Renata é minha amiga, ela me
deu uma ajuda...
- Ajuda? Ajuda? (Natália já está vermelha, o sabonete já voando na direção
de  Lucas.  Ela volta pra sala, mais uma vez, todo mundo a segue) Sei muito
bem que ajuuuda que ela te deu. Puta. (ela pega os óculos do namorado) Eu é
que vou te ajudar agora pra tu ver ela melhor da próxima vez. (arremessa os
óculos contra a parede, corre e pisa em cima. Eles se estraçalham).
- Natália! (grita desesperadamente Lucas) Pára com isso.
- Paro,  paro  sim.  Mas  eu  quero  que tu ligue daqui de casa pra ela, na
frente  de  todo  mundo.  Quero ver o que essa galinha fala. E nem tenta me
dizer  que  não  sabe  o  telefone. Se tu não ligar, ligo eu, afinal, até o
número tá no bilhete.
- Eu não vou ligar.

Onde já se viu? (ele pensa) A Natália tem ataques de loucura e eu tenho que
pagar  o pato. Não acredito que ela jogou fora o cordão, custou tão caro. E
meus óculos, Meu Deus...

- Ahhh, ótimo, ligo eu!
Ela liga, deixa o telefone no viva voz. Uma voz meiga atende do outro lado.
- Alô.
Natália belisca Lucas para que ele responda e fale normalmente.
- Alô, Renata?
- Eu mesma, quem é?
- Lucas.
- Oiii Luquinhas, tudo bem?
Natália  está  furiosa,  belisca  Lucas  cada  vez  mais  forte. A conversa
continua...
- Nem tudo, Renata, e contigo?
- Ahhh, Lucas, comigo tudo bem, tu sabe, voltei com o Guigo, a gente tá bem
melhor agora do que antes.
Ainda é corno. (sussurra Natália, com as unhas ainda cravadas no namorado)
- Que bom.
- E tu, Luquinhas, o que houve? A Natália não gostou do presente?
Natália imediatamente solta o braço de Lucas, começa a chorar.
- Acho que não, Renata.
- Porque  não, criatura? Foi  o cordão mais lindo que eu achei, te juro que
eu  achei  que  um  eu  te amo ia ser ideal, pelo jeito meigo com que tu me
falou  dela na sexta. Falei pro Guigo que tu tinha me pedido pra escolher o
cordão  mais lindo que encontrasse pra ela. Ela deve ter gostado, Lucas, só
não soube como demonstrar, mulher tem disso algumas vezes...
Natália agora soluça de tanto chorar
- Talvez... Mas Renata, legal a gente conversar, preciso desligar.
- Tudo  bem, Lucas, até  segunda então. Ahhh, e obrigado por ter me ajudado
com  o  Guilherme na sexta. Se não fosse tu, eu e ele estaríamos de mal até
agora.
- De nada.
- Tá bom, super beijo
  
Click. Lucas desliga o telefone. Natália apenas o abraça e chora. Chora sem
parar.  Lucas  retribui  o abraço, com o braço sangrando, ele apenas aperta
Natália forte contra o peito. Passam alguns minutos...

- Aí gente, alguém mais ainda quer ver o filme?  - pergunta Marcelo.
  
Natália e Lucas caminham até o sofá e deitam, abraçados.

  - Luqui, desculpa pelos óculos, tá?
  Vou botar lentes, pensa ele.
  - Tá bem, Natália.
  - Nati, amor, me chama de Nati.
  - Vamos ver o filme, Nati.
  - Tá, vamos, desculpe. Eu amei o cordão, fui boba em jogá-lo fora.
  - É, quando a gente casar, eu te dou outro.

Todos se ajeitam na sala. O filme começa. A tarde segue normalmente. A vida
segue  normalmente.  Apenas  mais  um  mal-entendido  de  uma sexta-feira a
tarde...

(*)  Esta não é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a vida real
não  é  mera coincidência. Natália e Lucas completam sete anos de namoro no
próximo  dia  3  de  setembro.  Ela está sem o cordão, ele usa lentes desde
1998.
  
  **O bilhete**
 
  Lucas
 
  Finalmente consegui comprar o seu cordão.
  Escolhi o mais bonito. Espero que goste!
 
           Super beijo
           Renata
           Meu telefone: xxx xxxx
 
  Obs = Obrigada pela companhia na sexta.
        Você foi muito importante.

Michelle Denise Leonhardt

===========================================================================
============================= CRÉDITOS FINAIS =============================
===========================================================================

Este  fanzine  maluco  que  você  recebe  por  email todo domingão se chama
Tresler.  Um  grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você
quiser  entrar  em  contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os
números    anteriores   do  nosso  fanzine  eletrônico),  se  cadastrar  ou
descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem.


Tresler Team:
  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
  Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br)
  Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br)
Colaboradores da edição de hoje:
  Michelle Denise Leonhardt (mity@leonhardt.com.br)
Visite o Site do nosso e-zine:
  http://www.tresler.cjb.net
Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para:
  treslerbr@yahoo.com.br
Para receber o nosso e-zine mande um email para:
  tresler-subscribe@yahoogroups.com
Para não receber mais o e-zine, mande um email para:
  tresler-unsubscribe@yahoogroups.com

Visitante número:
Espaço cedido por:
GEOCITIES - Free Home Pages

Copyright © 2001 Tresler - Todos os direitos reservados
Última atualização em 7 de setembro de 2001
Críticas e sugestões envie email para treslerbr@yahoo.com.br