TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 22 de julho de 2001.

                       http://www.tresler.cjb.net                          

Olá! Está é a edição número 14 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Hoje não tem. Volte semana que vem! (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. O mundo em equilíbrio (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Um pouco de mim (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Tales  from  a  scorched  Earth (Vincent Kellers - LINHAS DE  PENSAMENTO
   CAÓTICO & PARALELO)
6. Abaixo os estereotipos #1 (Giancarlo Panizzutti Lima - O PLUS A MAIS  DE
   HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Sim,  e hoje é domingo. Se fosse um católico praticante já iria acrescentar
que  hoje é dia do senhor. Hoje é dia do senhor! Sabe, estava analisando os
idosos.  Eles  são  pessoas  importantes  na  nosssa  formação. É uma coisa
interessante  com  certeza,  principalmente  porque  eles  não possuem mais
certezas, estão inseridos em um mundo onde a tecnologia dita para eles como
as  coisas devem ser feitas. O passado deles tem histórias maravilhosas, do
tempo  que  eles  trabalhavam em cais de portos, soldando cascos de navios,
como  costureiras, enfim, possuem histórias únicas. As histórias atuais são
mais  como  micos,  ou  desabafos  irritados  com  a  vida no novo milênio.
Exemplo...  Banco? Caixa eletrônico por favor senhor! Não, o senhor quer ir
no  caixa? Qual o motivo senhor? Aqui o senhor pode fazer tudo o que aquele
humano  faz.  É,  mas  o  caixa eletrônico não vai responder quando o idoso
afirmar  que  a  vida  tá complicada, apesar daquela conta de luz ter vindo
mais baixa que no mês passado... e assim vai.

Hoje fez um dia bem frio. Eu gosto do inverno. Gosto de sentir frio. Melhor
que  isso  é ter alguém para compartilhar o frio. De preferência alguém que
você  tenha  como  sinônimo  de  amor.  Super. Namorar é legal. Ainda estou
pensando  no  que  escrever na minha coluna de hoje. Talvez escreva sobre o
namoro, aproveitando uma crônica que tinha começado a escrever faz uns dois
meses.  É legal pegar textos antigos e reler, para ver se o está escrito lá
ainda  reflete  o  que  pensamos  a  respeito  que  alguém ou alguma coisa.
Voltando  ao  frio de hoje, iniciei a manhã tomando mate (como diz a música
no Neto Fagundes), depois saboreando um almoço muito bom. No mais, beijos e
abraços curtindo a tarde de domingo.

Já  pensaram em fazer um blog? Blog, abreviação de Weblog, é uma espécie de
diário  público,  onde você vai colocando tudo o que acontece na sua vida e
todas    as   pessoas  que  entrarem  no  seu  Site  tem  acesso.  No  Site
http://www.desembucha.com,  você  tem  a  possibilidade  de construir o seu
Blog. Eu não teria um, pois acho que minha vida é, olha só, minha vida. Mas
essa é a minha opinião.

E começam as buscas por um lugar ao Sol. Nesta semana estarei fazendo minha
inscrição  em  um  concurso  de  poesias.  Vamos  ver  no  que vai dar. Até
mostraria ela aqui, mas tem que ser inédita, então faz a matemática por aí.
E vamos lá:

Música da semana!
U2 - Walk On

Álbum da Semana!
Ira - e-collection

Riff da semana!
Black Sabbath - Paranoid
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--------------------------------|--------------------------------|
--------------------------------|--------------------------------|
--------------------------------|--------12-h14----------12------|
(12)h14-----(12)h14-----(12)h14-|12-h14----------12-h14------14--|
12----------12----------12------|--------------------------------|

Pensamento da semana!
Não  importa  o  que  o passado fez de mim. Importa o que eu farei do que o
passado fez de mim. (J.P. Sartre)

Falando mais um pouco de guitarra, para quem toca ou quer aprender a tocar,
aqui vai um link muito importante: http://www.olga.net.

No  tresler  de  hoje, temos uma contribuição muito legal, sobre WISFTOMJPD
(criptografado  - ah, essa é barbada). Hoje  não  tem  coluna  da  Ariadne,
pois ela está passeando pela Europa. Novidades sobre ela? Bom, ela  arrumou
um  emprego  em  uma  empresa  bem legal.  ONU.  Conhecem? É,  essa  mesmo.
Parabéns  para a  Ariadne. E  o resto do  pessoal? Lê aí. Tá bem legal. Tem
texto sobre como seria a vida daqui algum tempo,  tem  gente  se dando mal,
e  pessoas passando  pelo portal.  Ainda bem que  foi  só  uma viagem, pois
senão  eu e  o Vincent teríamos  muito trabalho  para dividir lá na empresa
(sim, trabalhamos juntos).

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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HOJE NÃO TEM. VOLTE SEMANA QUE VEM!

Hoje não tem texto da nossa colunista. Agora com o emprego na ONU ela tá se
achando... hehe. Brincadeira. Ela mandou email na quinta pedindo desculpas,
que  teve  bloqueio  para escrever, e ainda mais ela ia fazer um passeio no
final de semana. Sendo assim eu estou colocando este texto aqui apenas para
poder  lhe  informar que hoje não tem coluna da Ariadne. Semana que vem ela
volta.  Ou  não. Acho que volta. Se ela não voltar podemos fazer a campanha
volta  Ariadne.  Vocês depositam qualquer quantia na minha conta corrente e
assim eu ganho grana.

Daniel Wildt

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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O MUNDO EM EQUILÍBRIO

Júnior não pensava que aquilo pudesse acontecer algum dia. Ele sempre levou
muito  a  sério  o  seu  presente  para  pensar em algo de errado. Tudo era
planejado,  tudo  era visto como se fosse a última coisa a ser realizada na
sua vida. Desde que nasceu, ele sempre pensa mais de uma vez antes de fazer
alguma  coisa, para evitar efeitos colaterais na sua vida. Todo efeito teve
sempre uma causa bem pensada.

Era  uma  manhã  com muita neblina e apesar de ter ouvido a sugestão da sua
mãe, Júnior saiu de casa sem dar ouvidos para a voz da sabedoria. Não levou
seu  boné.  Nem  seu  guarda-chuva. Enfim, estava atrasado e não estava com
tempo  para  discutir.  Chegou  no trabalho atrasado, mas conseguiu bater o
ponto.  Naquela  manhã, tudo correu bem no escritório, e não era algo comum
para uma sexta-feira de final de mês.

Chegada  a  hora  do  almoço,  veio  a  ligação de uma colega de faculdade,
marcando uma hora para estudarem junto. O dia não estava indo bem, algo tem
que  dar  errado.  É o equilíbrio pensava Júnior. Sem saber o que falar ele
disse  que  sim, que estava marcada a sessão de estudos, mas estava ficando
preocupado pois nada tinha acontecido de errado naquele dia. Nenhum cliente
irritado,  nenhum  chefe  acordou  do lado errado da cama, nenhum colega de
trabalho ficou enchendo o saco naquela manhã... algo estava errado.

Ele  volta  do  almoço.  E  nada  deu errado. Todos telefonemas ele tentava
atender.  Algo  de errado tinha que acontecer. Se pelo menos ele tivesse se
atrasado, não estaria achando estranho uma colega de faculdade ligando para
ele  para saber se ele poderia estudar com ela. Na casa dela. Sexta-feira à
noite.  Algo tinha que dar errado. E aí vem a ligação! Perfeito. Um cliente
muito  chateado com um trabalho que foi feito pela equipe de Júnior. Ele se
desculpa  com  o  cliente  e  avisa  que o trabalho vai ser revisado e será
enviado  no  final  da  tarde de segunda-feira. O cliente fica extremamente
chateado,  mas  aceita  o  prazo  estipulado por Júnior, pois este quer ter
certeza que nenhum outro erro será encontrado.

Ótimo.  Agora  o  dia  está  feito. Aí vem a ligação, que é o pesadelo para
Júnior.  A  colega  desmarcando a sessão de estudos? Nãããã... era o cliente
avisando  que  tinha  se  enganado  e o trabalho estava correto. Júnior vai
olhar  junto  com ele, parando o que está fazendo, revisando por telefone o
que  foi  realizado  e  conclui com o cliente que o trabalho realmente está
correto. Infelizmente, nosso amigo está novamente com o problema de não ter
um problema. E o dia corre.

Hora  do  café.  E o copo de café cai da mão dele. Pronto, era um problema,
mas  não  o tipo de problema que ele estava procurando. O copo poderia cair
no  chão e respingar na roupa dele. Poderia. O copo simplesmente cai de pé.
Fica  paradinho,  perfeito. Nenhum pingo cai do copo. Júnior é aplaudido de
pé  pelos  colegas  como  sendo  o  cara.  Ele  não  queria ser o cara. Era
sexta-feira,  o  dia  estava  quase acabando e ele não tinha um problema. O
mundo não está em equilíbrio, ele pensava.

Bom,  chegou o fim do dia. Agora ele tem que sair do trabalho para ir até a
casa da amiga (lembram da mulher amiga? Pois é...), mas ele precisava de um
problema.  Desgraça  pouca  sempre é bobagem. Na hora de sair veio a chuva.
Júnior   lembrou  de  sua  mãe  reclamando  que  ele  não  queria  levar  o
guarda-chuva. Júnior lembrou do porteiro que sempre enche o saco quando ele
chega com seu guarda-chuva e o dia marca nada menos que 35 graus e mais Sol
do que está só em filme de ficção científica. Júnior tinha um problema, mas
o  problema  é  que  ele já tinha se acostumado com o fato de que as coisas
podem dar certo, sem nenhum problema.

Bom,  voltando  à  realidade, Murphy sempre está por perto. Nosso camarada,
bem,  ele esqueceu o material de estudo na gaveta da sua mesa. Era só subir
para pegar. É só pegar a chave, que ficou sobre sua mesa, quando ele estava
colocando seu casaco. Era só pedir a chave para aquele colega que acabou de
entrar  no ônibus. Eles foram os últimos a sair do escritório. Júnior grita
para  o  colega.  O  colega  não  ouve. Júnior tenta o celular do colega. O
bateria  do  celular dele acaba. Então ele pensa no que pode acontecer. Ele
pode  ter  que  dividir os livros com a amiga. Isso pode ser uma boa idéia.
Vamos para o carro.

Lembram  que  estava  chovendo?  Não está mais chovendo. Agora o mundo está
literalmente  caindo.  Júnior  não  desanima,  sua amiga pode emprestar uma
roupa  para  ele  se  vestir  e  assim  esperar suas roupas secarem. É, ela
poderia,  se um ônibus não passasse e jogasse na roupa de Júnior pedaços de
merda  de  cavalo  que estavam boiando na rua. Agora a coisa estava ficando
legal. Tudo bem, Júnior não desanima. Agora vem o granizo, e ele corre como
nunca.  Seu  carro  está perto. Ele pula uma poça de lama, mas não consegue
vencer  a  poça.  Com  a  velocidade que estava, ele se desequilibra. Com a
perda de equilíbrio, seus óculos vão para o chão. Lembram da mãe de Júnior?
Ela  pediu  que  ele  usasse lentes de contato, pois ele ficava mais bonito
assim,  mas  Júnior  não  queria, achava mais certo usar óculos. Bom, agora
seus  óculos  estavam quebrados. Se ele estivesse usando lentes, nada disso
poderia estar acontecendo. E agora Júnior tinha alguns problemas, inclusive
o de conseguir dirigir com uma lente quebrada.

Júnior resolve ir assim mesmo para a casa da amiga. Ele ainda acha que hoje
é  o  seu  dia,  então  roupas  não serão necessárias. Chegando lá, mas que
vergonha,  e  não  é pelo fato de ter maconha. Nem tinha, mas me lembrei da
música.  Desculpem.  Todo caso Júnior estava doidão. Enfim, nosso amigo viu
seu  amigo, o André, chegar na casa de sua amiga também, na hora combinada.
Neste momento, Júnior se lembra que André também tem um apelido. Júnior.

Lembram  que  tinha  acabado a bateria do celular dele? Pois é, a sua amiga
estava  tentando  ligar  para  desmarcar  a  sessão de estudos pois ela não
poderia  mais  estudar  com  ele,  pois  tinha  errado de Júnior. Agenda de
telefone  é  coisa  complicada.  Júnior fez a contagem do dia e resolveu ir
para  casa  assistir  televisão.  E  dormir  cedo,  para  acabar  com  seus
problemas.  E  colocar na sua cabeça que as coisas podem dar certo. Ou não.
Fazer o que... é a vida.

E ainda bem que não é a minha.

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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UM POUCO DE MIM

Fim-de-semana  planejado.  Raro  isso  pra mim. Mas, enfim, este tinha sido
idealizado.  Viagem  pra  serra  marcada,  reservas  feitas, tudo em ordem.
Sexta-feira  de noite, carro na estrada. Embora tudo estivesse perfeito, de
alguma forma eu me sentia incomodado, pois meus pais pareciam não concordar
com a minha saída. Meu pai temia por mim em razão das condições da estrada,
pois a chuva havia sido muito intensa nos últimos dias, ocorrendo inclusive
queda  de  barreiras,  fato  comum  na  serra  gaúcha  em  dias de temporal
violento.  Já  os  motivos  da  minha  mãe pareciam ser outros, algo talvez
relacionado a minha namorada ou a ciúme ou as duas coisas.

Enfim, pegamos a estrada e seguimos nosso destino, Gramado. Não era difícil
imaginar  que  com  nossa  inexperiência em viagens para a serra poderíamos
errar  o  caminho.  Sim,  acabamos  conhecendo a cidade de Estância Velha à
noite.  Cidadezinha pitoresca, com residências esparsas pelos seus terrenos
largos, com as cercas pintadas típicas da paisagem serrana.

Corrigido  o  engano,  colocamo-nos  novamente no rumo de Gramado, enquanto
consolávamos  nosso  atraso reforçando a idéia de que estávamos passeando e
por  esta  razão  era  permitido errar o caminho. No entanto, aquele engano
instituiu  uma espécie de incerteza de destino e um ar de mistério no nosso
passeio.  Agora  sabíamos  que poderíamos acabar parando em uma cidadezinha
qualquer,  cheia  de  histórias misteriosas, como tantas cidadezinhas deste
nosso rincão dos pampas.

Retomado  o caminho, a sensação estranha e enigmática aumentou muito quando
nos  vimos  completamente  sozinhos  na  estrada. Nenhum carro indo, nenhum
carro vindo em um trecho de muitos quilômetros pela rodovia. Meu raciocínio
lógico  tentava  entender como podería haver tão pouco movimento se ligamos
para  dezenas de pousadas e todas estavam lotadas. Imaginei de pronto que o
caminho  estava  errado  de  novo.  Mas algumas placas na estrada quebraram
minha  teoria.  As  subidas agora se acentuavam e a estrada ia ficando cada
vez  mais sinuosa e perigosa. Verdadeiros penhascos despencavam para o breu
a  poucos  metros  do  acostamento  a  nossa  direita. Embora não estivesse
chovendo,  havia  alguns  trechos  em  que  a  pista  estava  completamente
encharcada,  com  poças de água acumulada que desequilibravam o veículo. No
outro  lado  da pista, uma parede interminável de rocha de onde vertia água
se  erguia  junto  ao  acostamento. Antes de sair de Porto Alegre estávamos
conscientes  destas  dificuldades,  mas  não tínhamos exata noção da que se
seguiria.  Alguns quilômetros a frente ou acima, adentramos literalmente em
uma nuvem.

A  partir de então, eu mal conseguia enxergar o capô do carro. Havia muitos
quilômetros  que  não  cruzávamos com carro algum e a atmosfera de mistério
era agora completa. Sem pestanejar, deixei-me envolver pelos meus devaneios
e  coloquei  em  meu  imaginário  um  cenário  de "Novo Mundo" para além do
nevoeiro.  Após  atravessar  o  denso  portal,  seríamos  recepcionados por
habitantes  de  um  mundo  perdido,  perfeito,  harmônico,  pacífico. Minha
namorada  falou:  -  Acho que morremos em algum acidente e estamos indo pro
céu.  -  e  eu  concordei, pois era o que parecia. Naquele ponto, de alguma
forma  despi-me  de qualquer senso de responsabilidade, aumentei o volume e
deixei-me  conduzir  o  veículo  um  pouco  mais  rápido.  Sim, eu tenho um
instinto  suicida. Por entre as árvores extremamente altas e belas, em meio
as  rochas  e  desfiladeiros,  atravessando  pontes  e  cruzando vilarejos,
mergulhados  em  uma  densa  cortina  de  cerração,  circundados  pela mais
completa  escuridão,  era possível sentirmo-nos como parte daquela natureza
mágica,  imponente,  selvagem,  que  gentilmente  se  retirava da frente do
veículo,    como   o  pai  austero  que  dá  licensa  ao  filho  afoito.  E
caprichosamente,  como que envaidecida pela sua própria e admirável beleza,
uma  breve trégua da natureza dissipou o nevoeiro, apenas para nos permitir
apreciar  as  colinas  envolvendo  o vale e uma cidadezinha plantada em seu
seio,  com  sua  capela  iluminada  encantando nossos olhos. Talvez o "Novo
Mundo"  que  eu sonhara não fosse assim tão novo, nem tão distante, nem tão
imaginário.  Talvez  este  lugar  não  fosse  assim  tão  perfeito, nem tão
perdido,  nem  tão  harmônico  e nem tão pacífico. Mas uma coisa era certa:
para chegar lá era preciso atravessar o portal.

A viagem prosseguiu bem e o fim-de-semana foi ótimo. Temperaturas oscilando
de  10 a 5 graus. Momentos raros onde se consegue esquecer todo o resto pra
olhar um pouco pra nós.

Bem  aventurados  os  que  se  permitem  atravessar  os  portais que a vida
oferece.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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TALES FROM A SCORCHED EARTH

Oi!

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Sim  filho, houve um tempo em que as coisas eram diferentes. Há muito tempo
atrás, quando conheci sua mãe, podíamos viver nossas vidas da mesma maneira
como  nossos  pais  o fizeram. Era um tempo mais simples. Infantil, talvez.
Não tínhamos nenhuma preocupação além de nos sentirmos felizes. Como era um
tempo  mais simples, fatos pequenos e para muitos sem sentido, nos deixavam
satisfeitos.  Naquela  época, podíamos deixar a brisa quente de verão tocar
nossos  cabelos simplesmente por que isso nos trazia paz. Podíamos caminhar
por horas e horas em alguma praia, sempre acompanhados pelo som das ondas e
eventualmente,  acompanhados por alguma ave marinha. E fazíamos isto apenas
por que gostávamos de viver momentos singelos como este, juntos.

O  mundo  era  bastante diferente. As pessoas podiam passear pelas ruas sem
medo.  O ar era limpo, assim como as águas. As florestas cobriam uma grande
área do planeta, e os mares pareciam seres vivos, dada a quantidade de vida
que   abrigavam.  Naquele  tempo,  as  chuvas  eram  por  vezes  fortes,  e
demonstravam  claramente  a beleza da natureza. Mas não eram ácidas. Nossos
invernos eram rigorosos. Mas não eram nucleares.

Sim,  o  mundo  era de fato diferente, mas o homem era igual. O espírito do
homem era o mesmo, e seus jogos de dominação se repetiam ao longo do tempo.
Seus objetivos permaneciam os mesmos: dominação e massacre de outros povos.
E  agora os meios utilizados para a conquista do objetivo pareciam cada vez
mais  insanos.  A  História  se  repetia uma vez mais, e agora, a escala de
destruição  é  muito  maior.  Uma  vez  mais  deixamos  que  a  ganância, a
ignorância e o medo nos dominassem.

Países  inteiros  estão  destruídos.  Bilhões de vidas foram perdidas nesta
guerra com o uso de armas químicas e biológicas. Continentes inteiros estão
contaminados por radiação, os mares estão mortos e o céu está encoberto por
uma  nuvem  densa de poeira, erguida pela detonação de uma série de bombas.
As  áreas  que não sofrem com a radiação são castigadas pelo frio, já que a
poeira  erguida  impede  a passagem dos raios solares. O pouco alimento que
tínhamos  acabou  há  muito.  O desespero aos poucos consome a sanidade das
pessoas no pequeno espaço que dividimos neste abrigo.

Se  hoje  ousarmos  voltar  à  superfície, teremos nosso corpo congelado em
pouco  tempo.  Ou  teríamos  nossa  carne  corroída  pelo  ácido. Ou ainda,
veríamos nosso corpo lentamente definhar ante os ventos radioativos. E caso
nada  disto  viesse  a  acontecer,  talvez  fôssemos esmagados pela dor que
sentiríamos ao presenciar a destruição ao nosso redor.

Felizmente  sua  mãe  não  sobreviveu  para presenciar este horror. Ela não
suportaria  vê-lo  passar  tantas necessidades, meu filho. Isto não é razão
para  alguma  comemoração, mas o fato é que estamos vivos, e cabe a nós uma
vez  mais  tentar  nos  reerguer  deste  caos, pois é isto que a humanidade
sempre  fez.  Nos  ajudando mutuamente, e através de todas as adversidades,
nós,  os  poucos sobreviventes, um dia poderemos reconstruir nossas vidas e
este  planeta,  pois eu espero que você um dia possa sentir a chuva tocando
seus  cabelos.  Espero  que  um  dia  você possa sentir a brisa tocando seu
rosto. Espero que um dia você possa sentir o abraço líquido e vivo do mar.

Lutaremos  juntos  em memória daqueles que se foram, e em nome de um futuro
melhor  para  sua  geração.  Lutaremos juntos para que você possa admirar a
beleza  simples  da  natureza.  Lutaremos  juntos por um longo tempo, mesmo
sabendo  que  a História se repetirá: mesmo que a natureza mude, o espírito
humano  é  sempre  o  mesmo.  E  cabe  a  nós apenas a tarefa de tentar nos
reerguer após toda queda. Pois é isto que a humanidade sempre fez.

---
Trilha:
  Bad Religion - All ages album

---
Linhas de pensamento caótico
  - Mustn't run away. Mustn't run away. Mustn't run away. Mustn't run away.

Linhas de pensamento paralelo
  - MUSTN'T RUN AWAY!

Vincent "Langley" Kellers

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=========== O PLUS A MAIS DE HOJE (Giancarlo Panizzutti Lima) =============
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ABAIXO OS ESTEREÓTIPOS #1

Quem  eh que nao gosta de se divertir, nao eh mesmo? Depois do trabalho, ou
no  fim-de-semana, nada melhor do que desfrutar de uma historia inteligente
de    proporcoes   epicas   com   personagens  fantasticos,  fruto  de  uma
caracterizacao sem falhas e uma emocao autentica capaz de atingir o coracao
ateh  dos  mais cinicos...e o melhor de tudo eh poder voltar umas paginas e
ver tudo de novo para apreciar o desenho!

"Paginas? Desenho?"

Ah,  sim,  me  desculpe,  voce  pensou  que eu estava falando de cinema! Eu
deveria  ter  dito  desde  o  comeco  que  este  se trata de um texto sobre
QUADRINHOS.

Provavelmente  voce deve estar pensando em parar de ler este texto apos ter
lido a palavra grafada acima. Afinal, quadrinhos sao para criancas, idiotas
e  pervertidos,  certo?  Bom,  que tal me dar uma chance de provar que voce
esta  errado(a)?  Afinal,  preconceitos e estereotipos sao para pessoas que
nao  sabem  pensar  por  si proprias, nao eh verdade? Os quadrinhos sao uma
forma  de  entretenimento como qualquer outra. E ponto final, nao importa o
que  dizem  alguns  idiotas  que se apegam a ideias pre-concebidas que saem
julgando  qualquer  coisa  - mesmo sem nunca ter lido antes pra poder falar
alguma coisa.

Se  voce  pensa  que todo aquele material que se encontra nas bancas nao eh
nada alem de 50, 100 paginas mensais com dois trogloditas com as cuecas por
cima das calcas e uma toalha amarrada no pescoco trocando socos e pontapes,
com  uma  mulher  seminua fazendo pose na capa, entao voce nao tem a minima
nocao  de quao errado estah. Tah certo, tah certo, existem gibis assim, mas
o quao diferente eles sao dos filmes do Steven Segall e do Van Damme? E nem
por  isso  eu vejo pessoas se achando no direito de se dirigir com um ar de
superioridade  aos  fas  desses  dois  atores  como  fazem  com  quem  *le*
quadrinhos.  (Gibis  foram feitos para serem *lidos*, sim, e nao soh pra se
olhar  pras figurinhas bonitas, sabia?) Mas eu nao estou aqui para falar de
gibis ruins, ou dessa meia duzia de macas podres. E sim do resto do balaio,
recheado  do  melhor  que  a  mente de homens e mulheres (Mulher tambem faz
gibis, e muito bons, por sinal) com criatividade de sobra tem a oferecer.

Algumas  linhas  acima  eu  falei  sobre  *ler*  um  gibi.  Se  eh pra ler,
siginifica    que  tem  uma  *historia*.  Quem  cria  essa  historia  eh  o
'argumentista',  nome  dado  por  convencao. Pelo fato desse ser chamado de
'argumentista' ser o profissional de quadrinhos com a melhor remuneracao do
ramo,  e  o  roteirista  desses  filmes  blockbuster  as  vezes  nem  serem
creditados  ou  remunerados,  voce  jah  tira  uma  ideia da importancia da
*historia*  em  ambas  as  midias.  "Ah,  mas os personagens se vestem como
palhacos  e drag queens!" Voce jah foi ao teatro? A uma opera? Como voce eh
culto,  deve saber que estou citando outros exemplos de exteriorizacao, que
significa  mostrar  graficamente  as  qualidades  de  alguma coisa. Tecnica
antiga.  Eh isso que significa o uniforme de bandeira do Capitao America, o
uniforme sombrio do Batman, etc.

Sao  icones,  nada  alem  disso.  E geralmente esse 'uniforme' eh feito *de
proposito*  em  cores  primarias/secundarias,  para  que  o  olho  humano o
reconheca  mais  facilmente,  tornando igualmente mais facil o destaque e o
contraste na pagina. Mas acho que eu estou ficando tecnico demais. Bom, jah
serve  como  exemplo pra provar que gibi jah nao eh mais *tao* simples como
voce pensava.

Se  eh  pra  falar  de  complexidade,  eu prefiro falar dos personagens. Os
assim-chamados "super-herois". Entre aspas, assim mesmo. Porque pra mim, de
'super',  eles  nao  tem  muita  coisa.  E  eh  justamente  daih  que vem a
identificacao  que  o  leitor tem com eles. Veja o James Bond, por exemplo:
ele  eh  perfeito  em tudo. Quem eh que vai se identificar com isso? Jah os
pesonagens de quadrinhos...voam, tem superforca, invulnerabilidade...e unha
encravada,  emprego  pra  pagar  as contas, esposa e filhos para sustentar,
ficam  gripados,  pegam  onibus  lotado  e passam noites estudando. Fora as
qualidades sobre-humanas, eu poderia ter descrito amim mesmo, ou voce. Daih
vem  a  graca  do  gibi.  Eu  nao  quero  ver  o  Schwarzenegger salvando o
Presidente    dos  EUA  numa  conspiracao  ficticia.  Eu  quero  ver  eh  o
Homem-Aranha batalhando pra ser valorizado no emprego novo.

Taih uma coisa com a qual voce sempre pode contar: os 'super'-herois sempre
sao  gente *decente*. Imperfeitos, sim, mas sempre vao tentar fazer a coisa
certa. Sou soh eu que estou cansado do cinismo e do estrelismo que cercou e
dominou  a industria do cinema, a politica, os esportes...? Pro meu alivio,
ainda    existem  esses  personagens  que  se  procupam  com  valores  como
responsabilidade,  honestidade e sinceridade, porque sao escritos por gente
igualmente  decente,  que  nao  ganha  muito  comparado com outros ramos do
entretenimento,  e  que  tem  uma  fama (ou infamia?) irrisoria, mas que se
*orgulha*  do  que  faz  e  tem  a sensacao de estar fazendo algo de *bom*.
Geralmente,  historias de 'super'-herois sao contos sobre forca de vontade,
o  espirito  humano,  pais  e  filhos,  amizade,  emocoes  como amor, odio,
tristeza, frustracao, alegria, com palavras escritas com cuidado por alguem
que  quer  realmente fazer valer a pena o dinheiro do leitor gasto num gibi
com  uma  historia  complexa  e  coerente,  servindo  de  inspiracao para o
dia-a-dia, cada vez mais dificil de suportar.

Pensa nisso que eu falei porque semana que vem tem mais. Ateh.

Bom, essa eh a *minha* opiniao. Posso estar errado.

Mas voce tambem.

Giancarlo Panizzutti Lima

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Tresler.  Um  grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você
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Tresler Team:
  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
  Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br)
  Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br)
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  Giancarlo Panizzutti Lima (manda email pro Tresler que a gente repassa)
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Última atualização em 7 de setembro de 2001
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