TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 19 de agosto de 2001.

                       http://www.tresler.cjb.net                          

Olá! Está é a edição número 18 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Um pouco sobre diferenças culturais (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. Eu prometo (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Lei de Causa e Efeito (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Amanda I (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. Abaixo  os estereotipos #3 (Giancarlo Panizzutti Lima - O PLUS A MAIS DE
   HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Arrumaram  o vídeo cassete aqui em casa. Testaram com a fita de aniversário
de  quatro anos da minha irmã. Hoje ela tem QUINZE. Chamaram minha namorada
para  ela ver como eu era bonitinho. Eram 19h de sábado a noite. As 22h Ron
Levy  iniciaria  um  show  no Music Hall, um dos melhores lugares para ir a
dois  em Porto Alegre. Eu recomendo. Tinha feito reserva, para termos lugar
garantido.  20h  no relógio. Nada de parar de ver a fita. Queriam que minha
namorada  assistisse  toda  a  fita, para ver como eu era lindo com meus 10
anos  de  idade.  Tentei puxar a atenção do pessoal, chamando o olhar deles
para  mim,  tocando  guitarra.  Que  nada.  Aquelas imagens de 1989 estavam
tomando  conta  da  cabeça  de  todos  que  estavam  sentados na sala. Bons
momentos.  Enfim,  eu  precisava  de algo para fazer o pessoal parar de ver
aquela  fita,  para  que  então eu e minha namorada pudéssemos nos preparar
para ir pro show tão esperado. Coloquei a guitarra sobre a cabeça e comecei
a  tocar Hey Joe. Jimi Hendrix baixou em mim, pode-se dizer. Sou canhoto...
bom,  as  semelhanças  com Jimi param por aí. Nem isso fez o pessoal parar.
Poderia  ser a guitarra distorcida. Com um som limpo então, comecei a tocar
Susie  Q, do Creedence, ainda com a guitarra atrás da cabeça, mas que nada.
Aí eu me rendi e terminei de ver a fita com eles.

Não preciso dizer que chegamos atrasados no local e perdemos nossa reserva.
Fomos  colocados  então em um sofá bem legal, onde curtimos Ron Levy em uma
noite inspirada.

Música da semana!
Simon and Garfunkel - Bridge over trouble water

Álbum da Semana!
Simon and Garfunkel - Greatest Hits

Riff da semana!
Bad Religion - American Jesus (Recipe for Hate)
e |-----------------------------------------------------------------|
B |-----------------------------------------------------------------|
G |-----------------------------------------------------------------|
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A |-0---0h2-3---2h3-----3r2-3r2-0---0---0h2-3---2h3-----3r2-3r2-0---|
E |-----------------------------------------------------------------|

No Tresler de hoje temos contatos imediatos de terceiro grau, gente com dor
de cabeça, papo legal sobre manga, perdas irrecuperáveis e causa e efeito.

Ah,  na  trilha  sonora  para  este  editorial,  Midnight  Oil (20.000 Watt
R.S.L.). Recomendadas? Surf's Up Tonight, Truganini, Beds are burning, Blue
Sky  Mine,  e  por aí vai. O CD é uma coletânea, então não tem erro. E para
completar,  NIB,  Evil  Woman,  Wicked World, War Pigs, Paranoid e Iron Man
(Black  Sabbath  -  The  best  of  Black  Sabbath  -  CD Duplo extremamente
recomendado).

Daniel  Wildt, fez uma limpeza no seu quarto, espantando demônios que ainda
atrapalhavam a paz que tanto procura.

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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UM POUCO SOBRE DIFERENÇAS CULTURAIS

Essa é uma cena muito comum no Brasil:

Um  restaurante,  várias  famílias  com  crianças.  Outras sem. As crianças
correm  por entre as mesas encantando todos aqueles que gostam de crianças.
Aqui  ou ali, numa famiília onde ainda não tem crianças ou já não tem mais,
sai uma careta, um assobio, uma palavra de carinho ou uma piadinha para uma
criança que passa brincando ou pára entre as mesas para tomar fôlego. E, na
mesma  hora,  uma relação, uma comunicação se estabelece entre esta criança
(por  mais  que  ela  tenha sido alertada a não falar com estranhos) e este
estranho  que  já  não  é  mais  um estranho porque, afinal de contas, está
sorrindo  para  ela. E ela sorri de volta. E brinca com ele. Se ele deixar,
em menos de meia hora, ela vai estar na mesa junto, no colo dele ou puxando
ele pela mão para participar do brinquedo dela. Os pais dela estão em algum
lugar  do  restaurante  cuidando  de  longe e até sorriem para o estranho e
conversam com ele se notarem que a criança está gostando dele.

Na  Europa  as  crianças  são  muito mais contidas, reservadas, medrosas ou
menos  comunicativas.  Já tentei várias vezes estabelecer contato com esses
serezinhos  que  parecem até ser de outro planeta. Mas os europeuzinhos, ao
contrário de nós, brasileiros, levam ao pé da letra a tão recomendada frase
"não fale com estranhos". Aqui as crianças simplesmente se afastam ao ouvir
um  "psiu"  ou  ver  uma  careta engraçada. Algumas ficam olhando de longe,
curiosas,  com  olhos arregalados e amedrontados imaginando, talvez, que eu
seja  um  ser de outro planeta tentando estabelecer contato. Algumas poucas
vezes  consegui  que  elas,  depois  de  olhares  curiosos de quem nunca se
deparou  com tal situação, brincassem comigo de longe por algum tempo. Sim,
de  longe, porque num trem um gurizinho saiu de perto de mim e nem me olhou
mais  depois  que toquei de leve na mão dele. A sensação deve ter sido algo
inexplicável!  Em  outro  trem, outro não ousaria passar do meu lado sem os
pais.  Tivemos  que  sair do trem na frente deles, caso contrário, acredito
que ele não desceria do trem tendo que passar perto de mim.

É  como  se  estivéssemos fazendo algo de errado ou extremamente inédito ao
sorrir ou extender a mão a uma criança. Tão inédito que eles, na melhor das
hipóteses,  simplesmente não sabem como reagir e ficam imóveis, surpresos e
até  de  boca  aberta  olhando  para  a gente. Comunicação e principalmente
contato  são  duas  coisas  que  mudam  muito  de uma cultura para outra. E
contato  não  parece  ser  algo  muito  importante  na vida dos seres deste
planeta aqui.

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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EU PROMETO

Quando você estiver se sentindo cansada, pequena, quando existirem lágrimas
nos  seus olhos eu prometo que irei secá-las. Estou e estarei sempre do seu
lado. Quando tudo mais ficar complicado e você não conseguir encontrar mais
amigos,  eu me deitarei como uma ponte sobre águas turbulentas. Quando você
estiver  para  baixo,  estiver  fora de si, quando estiver na rua e a noite
cair  rapidamente,  eu  estarei lá para lhe consolar. Sempre estarei do seu
lado.  Quando  a  escuridão  chegar, quando o sofrimento estiver por todo o
lado,  eu  me  deitarei  como  uma ponte sobre águas turbulentas. É hora de
velejar  e  deixar a tristeza para trás, e saiba que agora é a hora de você
brilhar! Todos os seus sonhos estão a caminho! Veja como eles brilham! E se
você  precisar de um amigo, olhe para o lado! Lá estarei eu velejando perto
de você. E me deitarei como uma ponte sobre águas turbulentas, para aliviar
a pressão dos seus pensamentos. Eu prometo.

Palavras bonitas por Paul Simon (Bridge over troubled water).

Depois  que  eu  ouvi essa música, muitas coisas ficaram claras para mim, e
não  foi  porque  resolvi  abrir as janelas. Estava sentado pensando no que
fazer,  quando  resolvi  ligar  a TV, coloquei em um canal e lá estava Paul
Simon  no  Central  Park  (NY), fazendo um dos seus grandes shows, cantando
bridge over troubled water. Foi lindo aquilo. Milhares de pessoas sentindo,
relembrando momentos difíceis e relembrando como conseguiram superar. Neste
momento  um sorriso aparecia no rosto de cada pessoa. Em momentos difíceis,
quando  você  precisa levantar, seus "amigos" somem. Ponto. E é neste ponto
que seus amigos aparecem. Do nada. E eles te ajudam a passar pelos momentos
complicados,  e  eles te ajudam a mudar, te ajudam a chegar em algum lugar.
Paciência de amigo é algo que não tem tamanho.

Com Alberto não foi diferente. Perdeu um grande amigo não fazia dois meses,
vítima de um acidente de carro. O que aconteceu? Naquela noite tudo parecia
ótimo,  todos estavam prontos para a festa, tinham certeza que iriam chegar
pela  manhã  deitados  em  alguma cama. De preferência de um motel, um logo
completava,  para espantar qualquer possibilidade de voltarem para casa sem
uma  fêmea  humana,  seguindo  o  estilo de definição de raças "planeta dos
macacos".  Chegando  no  local  da  festa,  logo  as caras desconhecidas se
tornaram  conhecidas,  e  todos  conversavam na que seria a grande noite de
Alberto.  Melhor  pois  Mariana  estaria  lá.  Eles estavam bebendo demais,
comentava  Alberto  com  Mariana. André estava indo muito rápido, já estava
dando risadas pelos cantos. A conversa rolava solta e o papo de Alberto foi
mais  eficiente do que ele pensava. Meia hora de festa, ele e Mariana deram
adeus  para ninguém e saíram pelos fundos, em direção a um motel que ficava
perto  do  local  da  festa. Foram a pé mesmo para ninguém notar a falta do
carro de Alberto.

Algum  tempo  depois voltaram da festa para a festa. Saca a idéia? É por aí
mesmo.  Vem  comigo...  bom,  o pessoal tinha continuado festejando e iriam
neste  ritmo até o amanhecer, com direito a café da manhã. Não, não era uma
rave.  Enfim,  uns  já  caídos  pelos  cantos, que não aguentaram o tranco,
outros  ainda  conversavam  na  mesma  animação do início da noite. Bebida?
Energéticos  com whisky. É, pode crer. Os outros eram os tomadores oficiais
de  Água  Tônica. No entanto, Alberto olhava para os lados e não encontrava
duas  pessoas.  Foi  até  a frente da casa e não viu o seu carro. Seu carro
tinha  sumido. André tinha sumido. Saiu correndo da festa, pois André tinha
grande possibilidade de estar muito mal. Tinha bebido muito confirme diziam
as pessoas ainda conscientes da festa. Alberto tinha que achar o amigo, que
sabia  dirigir como ninguém, mas sóbrio. Onde estará!!?? Foi para sua casa,
perto  dali  e  quase  lá,  viu  o  seu  carro.  Alberto saiu correndo, não
acreditava  no  que  estava vendo, não poderia ser verdade. Seu carro novo,
seu  melhor  amigo.  Aquela  cena não era real. Estava tudo indo tão bem na
noite e agora isso.

Chegando perto do carro, Alberto ainda estava em dúvidas se tinha perdido o
amigo.  Hoje tinha certeza. Sua irmã não estava usando proteção, nem André.
André estava meio bêbado, meio apaixonado por Cláudia, irmã de Alberto. Era
verdade.  Agora  ele  sabe porque André nunca aparecia no futebol de terça.
Agora  sabe  porque  sua  irmã sempre voltava da faculdade mais cedo. Tinha
perdido  um  amigo  e  ganho  um cunhado, vítima de acidente de carro, como
Alberto diz desde então.

Daniel Wildt, listening to the sound of silence by mr. simon

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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Amigos,  uma  infecção  respiratória  está  me deixando bastante prostrado,
motivo  pelo  qual  não  escrevi  minha coluna de hoje. No entanto, tomei o
cuidado  de  selecionar  um  texto  que gostei muito de uma agenda espírita
deste  ano, visando não deixá-los sem esta porção de leitura deste saboroso
pacote  denominado  Tresler.  Suprimi uma parte do texto, que narrava outro
epsódio  semelhante  ao  enfocado,  para  reduzir  seu  tamanho. Espero que
gostem.

Eduardo Seganfredo

LEI DE CAUSA E EFEITO

No  início dos anos 60, quando o Rio de Janeiro recém perdera o "status" de
capital  da  República,  eu trablhava numa agência de propaganda carioca no
lançamento  de um novo chocolate em pó. Sua campanha publicitária tinha por
título  "Gostoso  como  uma tarde no Circo", tema infantil e alegre que, em
poucos minutos, representaria uma grande tragédia. Aconteceu de repente, do
outro  lado  da Baía da Guanabara, na bela Niterói, quando o maior circo do
mundo  transformou-se  numa  imensa  fogueira,  em  plena  sessão da tarde,
lotada.  No  maior  desespero, cercadas pelo fogo e as feras enlouquecidas,
dezenas de pessoas perderam a vida, principalmente crianças. Uma das piores
tragédias que abalaram a nossa pátria. E a tal campanha publicitária, já em
andamento nas várias mídias, teve que ser abortada, cobrindo-se de preto os
painéis de rua.

Muitas  vezes  me  perguntei  o  porquê  de  tanta dor e sofrimento naquela
fatídica  matinê  de  17  de dezembro de 1961, no auge do clima festivo que
antecede  o  Natal.  A  explicação  veio  cinco  anos  depois,  através  da
mediunidade  de  Chico  Xavier,  psicografando  Humberto  de  Campos, sob o
pseudônimo  de Irmão X, no livro Cartas e Crônicas. Tratava-se da infalível
lei de causa e efeito, chamada de karma pelos povos orientais, uma vez mais
se manifestando.

Segundo  sua  narrativa,  no  longínquo  ano  de 177, Marco Aurélio reinava
poderoso  sobre  toda  Gálea, permitindo que se aplicassem com máximo rigor
todas  as  leis então existentes contra os cristãos. Em Lião fora armado um
grande circo, cuja principal atração era o sacrifício de pessoas inocentes,
os  chamados  desfavorecidos  da  fortuna  jogados  às  feras.  E o público
assistia  tais  espetáculos  com  a  mesma vibração de quem torce hoje numa
partida  de  futebol.  Milhares  de  cristãos  haviam  sido  mortos em tais
circunstâncias  e  a  repetição de cenas semelhantes já começava a cansar a
multidão.  Era  preciso  imaginar  algo  diferente para comemorar a chegada
triunfal  de  Lúcio  Galo,  guerreiro  que  merecia  atenções  especiais do
Imperador pelas suas numerosas conquistas.

Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador de Lião foi encarregado
de  organizar  os  festejos. E organizou uma grande comissão onde tiveram a
trágica  idéia  de  prender  cerca de mil crianças e mulheres cristãs paras
jogá-las  numa  arena  coberta  de  resinas  de  fácil combustão. Depois de
mostradas  festivamente  ao público, tocaram fogo em toda a área e soltaram
na  mesma  todos  os  cavalos  que já não serviam aos seus jogos de guerra.
Impossível   imaginar  as  cenas  lascinantes  protagonizadas  por  aquelas
idefesas  criaturas  sob  a ação das chamas e dos cavalos ensandecidos. E o
Irmão  X  conclui assim a sua pungente revelação: "Quase dezoito séculos se
passaram  sobre  o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei,
através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis que, em diversas
posições  de  idade  física,  se reuniram de novo para dolorosa expiação, a
17/12/61,  na  cidade  brasileira  de  Niterói,  em comovedora tragédia num
circo".

Este  é  um  exemplo  de  karma  coletivo,  pois reuniu um grande número de
pessoas  numa única expiação. São as atuais catástrofes que assombram, pela
sua  violência, todas as comunidades do planeta, agora ligadas pelo milagre
da  comunicação  instantânea.  O  mais  comum, porém, é o karma individual,
aquele  que  você  e eu carregamos, conseqüência de nossas ações erradas no
passado próximo ou remoto.

(...)

E  aquela  crença  de  que Jesus morreu na cruz para pagar pelos pecados de
todos  nós,  os que viveram no seu tempo antes dele e depois, até o momento
atual?  Essa  vem  do  tempo em que se acreditava que o justo poderia pagar
pelo  pecador.  Se o pecado era pequeno, ia-se ao templo sacrificava-se uma
avezinha  e  a  divindade  ficava  satisfeita. Agora, se o pecado fosse dos
grandes,  aí era preciso oferecer um boi aos deuses para ser perdoado. Hoje
sabemos  que cada um será julgado pelas suas próprias obras, pelo que fez e
também pelo que deixo de fazer por simples e comodista omissão.

Mas,  poderá  objetar  objetar alguém, Jesus não veio para nos salvar? Sim,
Jesus  veio  como  Salvador para nos mostrar o caminho, pregando através do
próprio  exemplo  para  que  seus  ensinamentos  perdurassem para sempre. A
ninguém,  todavia, Ele dispensou de resgatar seus pecados. Aquele que viver
depois de mim, disse, tome a sua cruz e siga-me. E a cruz de cada um, que é
seu próprio karma, tem o tamanho e o peso dos seus erros.

P.S. - E, como tudo cicatriza com o tempo, aquela campanha publicitária, de
que  falamos  inicialmente, foi relançada um ano depois com o título: "xxxx
tem gosto de festa".

Pedro Azevedo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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AMANDA I

Oi!

Já  estou  recuperado pessoas. Após breve porém incômodo mal-estar estou de
volta ao Tresler.

Ah    sim!   Em   breve   teremos   visual   novo   no   site   do  Tresler
(http://www.tresler.cjb.net). Aguarde!

On with the show...

---

Ele  despertou  no  meio  da  tarde. Abriu os olhos, fitou o teto e uma dor
fortíssima cruzou seu crânio, fazendo com ele gemesse em agonia. Por longos
e  dolorosos  segundos  ele  ficou  imóvel, tentando se lembrar quem era, e
tentando identificar a origem da dor.

Tentou  inclinar  levemente  a  cabeça para a direita, mas a dor persistiu,
embaralhando  seus  pensamentos.  Por  alguma  razão  desconhecida,  ele se
lembrou  que  no  elevador  as pessoas aproveitam para conferir se precisam
comprar  sapatos novos. Reunindo forças, e descartando pensamentos inúteis,
girou  todo  seu  corpo  para  a parte oposta da cama, e buscou uma posição
quase fetal. Sem resultado. A dor continuava rasgando todo seu cérebro.

Voltou  à  posição  original,  apoiando  as costas no colchão. Com cuidado,
levou  as  mãos  à cabeça e deixou-as comprimindo as têmporas, como se isto
pudesse erradicar a dor. E nesta posição ele ficou. Por muito tempo ele não
sabia quem era, não sabia seu nome, não fazia a menor idéia de onde estava.
Sabia  que  estava  vivo embora tudo parecesse distante como em um filme. A
dor lhe garantia que ele ainda não estava morto.

Quase  magicamente, a dor cessou. Agora ele já não ofegava. Seus gemidos de
dor  já  não  preenchiam o vazio do quarto. Ainda estava levemente tonto, é
verdade,  mas  agora  precisava  se recompor. Sentou-se na beirada da cama,
apoiou os cotovelos nos joelhos e acariciou os cabelos. Notou que precisava
cortar  os  cabelos.  Não  sabia onde faria isso, pois não se lembrava onde
costumava  fazer  isso.  Mas isso não tem importância agora, pensou ele com
raiva.  Acalmou-se  e ouviu os ruídos do local. Distinguiu o som de música,
mas não ouviu nenhuma voz no local.

Olhou  em volta e viu seus pertences ao lado da cama. O telefone celular, a
carteira  e  as  chaves  estavam ali. O quarto girou sob seus pés e ele não
teve  forças  para  se  levantar.  Sentou-se novamente na cama. Esfregou os
olhos  com  força  e  buscou organizar seus pensamentos. Se chamava Rafael,
havia saído na noite passada com alguns amigos, bebera demais, usara outras
drogas demais e agora estava em uma casa que definitivamente não era a sua.
Não reconhecia o quarto e não reconhecia a cama onde estava sentado.

Precisava  sair  dali.  Mas  antes,  precisava encontrar quem o ajudou após
ingerir uma quantidade aparentemente absurda de bebida. Provavelmente algum
amigo o ajudou, e agora ele seria motivo de risadas para o pequeno grupo de
companheiros.  Algumas  poucas  vezes  ele  se  preocupara com este tipo de
situação.  Tinha  receio  de  que algo lhe acontecesse quando estivesse sob
efeito  do  álcool.  Algo potencialmente nocivo a sua integridade física. E
moral também, claro. Mas logo o pensamento era afastado, pois "se até agora
nada me aconteceu, não é agora que vai acontecer", pensava.

Sua  camisa  também  fora  colocada  ao  lado da cama. Seus sapatos e meias
também  estavam  ali.  Vestiu-se  calmamente,  a  fim  de  evitar  qualquer
mal-estar,  juntou  seus  pertences e buscou a porta do quarto. Quanto mais
próximo  chegava da porta, mais clara ficava a música. "Frank Sinatra...?",
pensou.  Curioso,  abriu  a porta e deparou-se com uma sala simples. Sentiu
seu rosto queimar quando viu que uma mulher o observava. Ela estava sentada
em  um  surrado  sofá  de cor avermelhada, e tão logo viu que seu "hóspede"
estava acordado, tirou os óculos de lentes pequenas e finas.

Colocou  o grosso livro que estava em suas mãos no seu colo, afastou alguns
fios  de  cabelo que atrapalhavam sua visão com um gesto gracioso, e com um
sorriso nos lábios disse:

"Boa tarde Rafael. Sou a Amanda."

(continua)

Vincent Kellers

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============ O PLUS A MAIS DE HOJE (Giancarlo Panizzutti Lima) ============
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ABAIXO OS ESTEREOTIPOS #3

Voce  jah  deve  ter  notado  uma certa tendencia na TV, ultimamente. Que a
guerra  de  audiencia  entre  as emissoras nao eh soh mais a apelacao entre
Gugu  x  Faustao para ver quem mostra mais baixaria. Recentemente, as novas
armas  dessa  guerra  sao desenhos de pura pancadaria e apelo comercial. De
onde  vieram  esses  desenhos  tao  estranhos,  afinal? Bom, eles vieram do
Japao.

"Japao?"

Ah,  sim,  entendi  sua  reacao.  Pensando  bem,  japoneses soh sabem fazer
desenhos  e  filmes  de  artes  marciais, monstros e robos gigantes, certo?
Errado:  isso  eh  um (pausa dramatica) estereotipo! Pelo nome desse texto,
voce  jah  deve  ter adivinhado por que estou aqui. Enquanto que os mais de
500  episodios  de  lutas  interminaveis  de  Dragon Ball Z e os zilhoes de
Pokemon  a  venda  no  camelo  mais  proximo  sao  suficientes para tirar a
paciencia  de qualquer um do serio, existem muitas series japonesas que tem
pouco  mais de 25 episodios (ou as vezes nem *um quinto* disso) que possuem
uma    historia  inteligente  e  coerente,  animacao  de  boa  qualidade  e
personagens  extremamente humanos capazes de gerar uma grande identificacao
por parte do espectador.

Mas  isso soh se voce ignorar o apelo de consumismo americano implantado no
seu cerebro atraves de mensagens subliminares! ;) Falando serio, por que eh
que  tudo  o  que  nao  eh  americano eh ruim? Copiamos *tanto* uma cultura
estrangeira  que  copiamos  a  xenofobia deles tambem? Ateh mesmo a *nossa*
cultura parece estranha depois de certo tempo. Quem eh que anda por aih com
uma  camiseta  com  frases  em  portugues?  Vale  ateh  "tem  um  corno  me
olhando"...:)

Mas,  voltemos aos japoneses. Vou tentar dar um esclarecimento em relacao a
esta midia tao discriminada, ateh mesmo entre fas de quadrinhos e animacao.
Em  primeiro  lugar,  isso nao eh novidade. Osamu Tezuka comecou a desenhar
seus  mangas  (Vamos  dar  nomes  aos  bois  a partir daqui: manga: man=sem
limites; ga= desenho; modo como os quadrinhos sao chamados no Japao. Anime:
abreviacao  de  animeshion,  pronuncia da palavra 'animation'; modo como os
desenhos animados sao chamados no Japao; Os animes soh comecaram a aparecer
no  final  da  decada de 50, e eram apenas baseados em mangas. Depois de um
tempo  e  que comecaram a aparecer animes originais) por volta da decada de
40,  e  eh tido como o idealizador dos quadrinhos e animacao japoneses como
nos  os  conhecemos  hoje. Aqueles olhos grandes, com pes e maos igualmente
grandes. Estranho, nao eh?

Comparado ao que?

Olhos grandes, pes grandes...descrevi um personagem de manga? Pode ser, mas
eu  estava pensando nos personagens da turma da Monica e no Pernalonga, que
possuem  as  mesmas caracteristicas dos personagens de manga e nem por isso
eu vejo pessoas comentando como eles sao 'estranhos' ou 'mal-desenhados'. E
os  desenhos  americanos  foram  justamente  a  inspiracao  dos  quadrinhos
japoneses de Tezuka. Como exemplo, a popularidade da Betty Boop no Japao na
decada  de 30. A partir das mesmas regras de estilizacao, Tezuka criou seus
'prototipos'  baseados  em  sua propria cultura, que acabaram por 'evoluir'
com  o  passar dos anos e dos outros artistas. Hoje em dia os japoneses dao
um show de tecnica nos americanos com a animacao digital.

"Mas  os  desenhos  sao  todos iguais!" Meio apressado esse seu julgamento,
nao?  Que usem os mesmos elementos, pode ser; mas daih a dizer que o estilo
de  desenho  eh  igual...Nao  dah  pra  comparar  o estilo 'normalzinho' do
Yoshiyuki  Sadamoto  com o super exagerado do Tsukasa Kotobuki com o estilo
foto-realista da versao animada de "Ghost in the Shell" e dizer que eh tudo
a  mesma coisa! Nunca ouviu falar desses nomes? Pois devia, e provavelmente
vai acabar gostando do que vai ver.

"Mas  por  que os olhos sao tao grandes? E aqueles cabelos coloridos?" Bom,
aih  entra  a estilizacao que eu mencionei ha pouco e dei uma explicacao no
outro  texto  que eu escrevi. Se voce nao leu..."estilizacao eh um sinonimo
para  abstracao,  que significa, basicamente retirar e/ou alterar elementos
de  um  desenho  para  melhor  expressar  a  mensagem  pretendida. Diminuir
detalhes  do  cenario para fazer a figura principal mais proeminente, criar
contrastes  de  claro-escuro, acentuar o movimento e as expressoes faciais,
definir um estilo que funcione como uma 'assinatura' do artista." Depois de
ver  uma  meia  duzia de episodios voce acaba se acostumando e percebendo a
grande  expressividade  por  tras  de  todas  aqueles  movimentos e feicoes
exagerados  e  os  jogos  de  iluminacao  e  cores  de cena. Jah os cabelos
coloridos  tem  uma  historia  para  contar:  a  estilizacao  eh ainda mais
importante nos quadrinhos japoneses do que nos americanos, porque os mangas
geralmente  sao  *semanais*,  e  com  um  cara  soh escrevendo, desenhando,
arte-finalizando,  escolhendo e colocando as reticulas e pintando as capas,
quando  muito  com a ajuda de um ou dois assistentes, isso acaba ficando um
tanto  trabalhoso.  Entao,  como  no  Japao  todos tem o cabelo moreno, jah
ficava  meio  que subentendido e o artista soh fazia o contorno dos cabelos
(estamos  falando de 1940-50 aqui!). Ao fazerem a adaptacao para os animes,
resolveram  ser  mais  criativos  e  colocaram  varias  cores berrantes nos
cabelos  dos  personagens  principais para aumentar o destaque. E em certas
series,  o  cabelo  colorido  eh  diferencial para os personagens humanos e
alienigenas/robos/etc. de forma humanoide.

Muitas  vezes  a  estilizacao  eh  tamanha  a  ponto da omissao completa do
cenario  em  pontos  chave da historia, aumentando a dinamica e a enfase na
expressao.  E  essa  "omissao"  de  partes  do  cenario  jah  era  comum no
paisagismo  de  Sesshu  e  Hokusai, de *seculos* antes de voce ter nascido.
Estao  valorizando a cultura deles e usando os mesmos elementos pelos quais
a arte japonesa sempre foi reconhecida internacionalmente, nada alem disso.

E  eu  nem  comecei  a  falar  nas  historias,  ainda. A maioria das series
japonesas  sempre  tem  um final programado, ao contrario das interminaveis
'Arquivo  X',  'Friends'  e 'Simpsons', que ha tempo jah nao seguem um rumo
definido e seus conceitos iniciais, estragando o que essas series tinham de
bom  nas  primeiras temporadas em nome do todo-poderoso dolar, esgotando os
personagens  e  cansando  a paciencia ateh mesmo dos mais ardorosos fas. Eu
que o diga.

Mas nossa discussao continua semana que vem. Ateh lah, tenta nao formar uma
opiniao sobre o que voce nao conhece.

Bom, essa eh a *minha* opiniao. Posso estar errado.

Mas voce, tambem.

Giancarlo Panizzutti Lima

"Tiger  :  Otaru Mamiya. Until quite recently, that was a name of the enemy
who had to hate. I was going to offer this world for Master Faust. I didn't
care  injuring  someone  or  even  risking  my  life  for  that purpose. We
obediently  believed  there was not our happiness except for it. Now, I who
feel even pleasant feelings in this situation am here. Why is it so?

Otaru : Happiness doesn't fall suddenly from the sky surely, and is not the
result  which  someone fought furiously, rather happiness may be the result
that  someone's  hand  which  tap  on  the  back  when  I was at a loss, or
someone's  word  which  wipes  tears, or someone's smile which meets me, or
such  a  thing  which someone keeps throwing to someone when the unpleasant
thing or painful thing continues were piled up. I feel so.

Tiger : That's right.

Lorelei : Are you going already?

Tiger : Yes, because I must procure the material which is necessary for the
research from now. Please tell my words to Lime, Cherry and Bloodberry. I'm
really glad I could meet you and come to love you. I want to see you again.

Otaru : Do your best, too. "

De  Saber Marionette J to X, serie dirigida por Masami Shimoda, baseada nos
contos de Akahori Satoru.

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Última atualização em 7 de setembro de 2001
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