Que dia é hoje? Domingo, 19 de agosto de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 18 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. Um pouco sobre diferenças culturais (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. Eu prometo (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. Lei de Causa e Efeito (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Amanda I (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. Abaixo os estereotipos #3 (Giancarlo Panizzutti Lima - O PLUS A MAIS DE HOJE) 7. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== Arrumaram o vídeo cassete aqui em casa. Testaram com a fita de aniversário de quatro anos da minha irmã. Hoje ela tem QUINZE. Chamaram minha namorada para ela ver como eu era bonitinho. Eram 19h de sábado a noite. As 22h Ron Levy iniciaria um show no Music Hall, um dos melhores lugares para ir a dois em Porto Alegre. Eu recomendo. Tinha feito reserva, para termos lugar garantido. 20h no relógio. Nada de parar de ver a fita. Queriam que minha namorada assistisse toda a fita, para ver como eu era lindo com meus 10 anos de idade. Tentei puxar a atenção do pessoal, chamando o olhar deles para mim, tocando guitarra. Que nada. Aquelas imagens de 1989 estavam tomando conta da cabeça de todos que estavam sentados na sala. Bons momentos. Enfim, eu precisava de algo para fazer o pessoal parar de ver aquela fita, para que então eu e minha namorada pudéssemos nos preparar para ir pro show tão esperado. Coloquei a guitarra sobre a cabeça e comecei a tocar Hey Joe. Jimi Hendrix baixou em mim, pode-se dizer. Sou canhoto... bom, as semelhanças com Jimi param por aí. Nem isso fez o pessoal parar. Poderia ser a guitarra distorcida. Com um som limpo então, comecei a tocar Susie Q, do Creedence, ainda com a guitarra atrás da cabeça, mas que nada. Aí eu me rendi e terminei de ver a fita com eles. Não preciso dizer que chegamos atrasados no local e perdemos nossa reserva. Fomos colocados então em um sofá bem legal, onde curtimos Ron Levy em uma noite inspirada. Música da semana! Simon and Garfunkel - Bridge over trouble water Álbum da Semana! Simon and Garfunkel - Greatest Hits Riff da semana! Bad Religion - American Jesus (Recipe for Hate) e |-----------------------------------------------------------------| B |-----------------------------------------------------------------| G |-----------------------------------------------------------------| D |-----------------0-------------------------------0---------------| A |-0---0h2-3---2h3-----3r2-3r2-0---0---0h2-3---2h3-----3r2-3r2-0---| E |-----------------------------------------------------------------| No Tresler de hoje temos contatos imediatos de terceiro grau, gente com dor de cabeça, papo legal sobre manga, perdas irrecuperáveis e causa e efeito. Ah, na trilha sonora para este editorial, Midnight Oil (20.000 Watt R.S.L.). Recomendadas? Surf's Up Tonight, Truganini, Beds are burning, Blue Sky Mine, e por aí vai. O CD é uma coletânea, então não tem erro. E para completar, NIB, Evil Woman, Wicked World, War Pigs, Paranoid e Iron Man (Black Sabbath - The best of Black Sabbath - CD Duplo extremamente recomendado). Daniel Wildt, fez uma limpeza no seu quarto, espantando demônios que ainda atrapalhavam a paz que tanto procura. =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== UM POUCO SOBRE DIFERENÇAS CULTURAIS Essa é uma cena muito comum no Brasil: Um restaurante, várias famílias com crianças. Outras sem. As crianças correm por entre as mesas encantando todos aqueles que gostam de crianças. Aqui ou ali, numa famiília onde ainda não tem crianças ou já não tem mais, sai uma careta, um assobio, uma palavra de carinho ou uma piadinha para uma criança que passa brincando ou pára entre as mesas para tomar fôlego. E, na mesma hora, uma relação, uma comunicação se estabelece entre esta criança (por mais que ela tenha sido alertada a não falar com estranhos) e este estranho que já não é mais um estranho porque, afinal de contas, está sorrindo para ela. E ela sorri de volta. E brinca com ele. Se ele deixar, em menos de meia hora, ela vai estar na mesa junto, no colo dele ou puxando ele pela mão para participar do brinquedo dela. Os pais dela estão em algum lugar do restaurante cuidando de longe e até sorriem para o estranho e conversam com ele se notarem que a criança está gostando dele. Na Europa as crianças são muito mais contidas, reservadas, medrosas ou menos comunicativas. Já tentei várias vezes estabelecer contato com esses serezinhos que parecem até ser de outro planeta. Mas os europeuzinhos, ao contrário de nós, brasileiros, levam ao pé da letra a tão recomendada frase "não fale com estranhos". Aqui as crianças simplesmente se afastam ao ouvir um "psiu" ou ver uma careta engraçada. Algumas ficam olhando de longe, curiosas, com olhos arregalados e amedrontados imaginando, talvez, que eu seja um ser de outro planeta tentando estabelecer contato. Algumas poucas vezes consegui que elas, depois de olhares curiosos de quem nunca se deparou com tal situação, brincassem comigo de longe por algum tempo. Sim, de longe, porque num trem um gurizinho saiu de perto de mim e nem me olhou mais depois que toquei de leve na mão dele. A sensação deve ter sido algo inexplicável! Em outro trem, outro não ousaria passar do meu lado sem os pais. Tivemos que sair do trem na frente deles, caso contrário, acredito que ele não desceria do trem tendo que passar perto de mim. É como se estivéssemos fazendo algo de errado ou extremamente inédito ao sorrir ou extender a mão a uma criança. Tão inédito que eles, na melhor das hipóteses, simplesmente não sabem como reagir e ficam imóveis, surpresos e até de boca aberta olhando para a gente. Comunicação e principalmente contato são duas coisas que mudam muito de uma cultura para outra. E contato não parece ser algo muito importante na vida dos seres deste planeta aqui. Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== EU PROMETO Quando você estiver se sentindo cansada, pequena, quando existirem lágrimas nos seus olhos eu prometo que irei secá-las. Estou e estarei sempre do seu lado. Quando tudo mais ficar complicado e você não conseguir encontrar mais amigos, eu me deitarei como uma ponte sobre águas turbulentas. Quando você estiver para baixo, estiver fora de si, quando estiver na rua e a noite cair rapidamente, eu estarei lá para lhe consolar. Sempre estarei do seu lado. Quando a escuridão chegar, quando o sofrimento estiver por todo o lado, eu me deitarei como uma ponte sobre águas turbulentas. É hora de velejar e deixar a tristeza para trás, e saiba que agora é a hora de você brilhar! Todos os seus sonhos estão a caminho! Veja como eles brilham! E se você precisar de um amigo, olhe para o lado! Lá estarei eu velejando perto de você. E me deitarei como uma ponte sobre águas turbulentas, para aliviar a pressão dos seus pensamentos. Eu prometo. Palavras bonitas por Paul Simon (Bridge over troubled water). Depois que eu ouvi essa música, muitas coisas ficaram claras para mim, e não foi porque resolvi abrir as janelas. Estava sentado pensando no que fazer, quando resolvi ligar a TV, coloquei em um canal e lá estava Paul Simon no Central Park (NY), fazendo um dos seus grandes shows, cantando bridge over troubled water. Foi lindo aquilo. Milhares de pessoas sentindo, relembrando momentos difíceis e relembrando como conseguiram superar. Neste momento um sorriso aparecia no rosto de cada pessoa. Em momentos difíceis, quando você precisa levantar, seus "amigos" somem. Ponto. E é neste ponto que seus amigos aparecem. Do nada. E eles te ajudam a passar pelos momentos complicados, e eles te ajudam a mudar, te ajudam a chegar em algum lugar. Paciência de amigo é algo que não tem tamanho. Com Alberto não foi diferente. Perdeu um grande amigo não fazia dois meses, vítima de um acidente de carro. O que aconteceu? Naquela noite tudo parecia ótimo, todos estavam prontos para a festa, tinham certeza que iriam chegar pela manhã deitados em alguma cama. De preferência de um motel, um logo completava, para espantar qualquer possibilidade de voltarem para casa sem uma fêmea humana, seguindo o estilo de definição de raças "planeta dos macacos". Chegando no local da festa, logo as caras desconhecidas se tornaram conhecidas, e todos conversavam na que seria a grande noite de Alberto. Melhor pois Mariana estaria lá. Eles estavam bebendo demais, comentava Alberto com Mariana. André estava indo muito rápido, já estava dando risadas pelos cantos. A conversa rolava solta e o papo de Alberto foi mais eficiente do que ele pensava. Meia hora de festa, ele e Mariana deram adeus para ninguém e saíram pelos fundos, em direção a um motel que ficava perto do local da festa. Foram a pé mesmo para ninguém notar a falta do carro de Alberto. Algum tempo depois voltaram da festa para a festa. Saca a idéia? É por aí mesmo. Vem comigo... bom, o pessoal tinha continuado festejando e iriam neste ritmo até o amanhecer, com direito a café da manhã. Não, não era uma rave. Enfim, uns já caídos pelos cantos, que não aguentaram o tranco, outros ainda conversavam na mesma animação do início da noite. Bebida? Energéticos com whisky. É, pode crer. Os outros eram os tomadores oficiais de Água Tônica. No entanto, Alberto olhava para os lados e não encontrava duas pessoas. Foi até a frente da casa e não viu o seu carro. Seu carro tinha sumido. André tinha sumido. Saiu correndo da festa, pois André tinha grande possibilidade de estar muito mal. Tinha bebido muito confirme diziam as pessoas ainda conscientes da festa. Alberto tinha que achar o amigo, que sabia dirigir como ninguém, mas sóbrio. Onde estará!!?? Foi para sua casa, perto dali e quase lá, viu o seu carro. Alberto saiu correndo, não acreditava no que estava vendo, não poderia ser verdade. Seu carro novo, seu melhor amigo. Aquela cena não era real. Estava tudo indo tão bem na noite e agora isso. Chegando perto do carro, Alberto ainda estava em dúvidas se tinha perdido o amigo. Hoje tinha certeza. Sua irmã não estava usando proteção, nem André. André estava meio bêbado, meio apaixonado por Cláudia, irmã de Alberto. Era verdade. Agora ele sabe porque André nunca aparecia no futebol de terça. Agora sabe porque sua irmã sempre voltava da faculdade mais cedo. Tinha perdido um amigo e ganho um cunhado, vítima de acidente de carro, como Alberto diz desde então. Daniel Wildt, listening to the sound of silence by mr. simon =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== Amigos, uma infecção respiratória está me deixando bastante prostrado, motivo pelo qual não escrevi minha coluna de hoje. No entanto, tomei o cuidado de selecionar um texto que gostei muito de uma agenda espírita deste ano, visando não deixá-los sem esta porção de leitura deste saboroso pacote denominado Tresler. Suprimi uma parte do texto, que narrava outro epsódio semelhante ao enfocado, para reduzir seu tamanho. Espero que gostem. Eduardo Seganfredo LEI DE CAUSA E EFEITO No início dos anos 60, quando o Rio de Janeiro recém perdera o "status" de capital da República, eu trablhava numa agência de propaganda carioca no lançamento de um novo chocolate em pó. Sua campanha publicitária tinha por título "Gostoso como uma tarde no Circo", tema infantil e alegre que, em poucos minutos, representaria uma grande tragédia. Aconteceu de repente, do outro lado da Baía da Guanabara, na bela Niterói, quando o maior circo do mundo transformou-se numa imensa fogueira, em plena sessão da tarde, lotada. No maior desespero, cercadas pelo fogo e as feras enlouquecidas, dezenas de pessoas perderam a vida, principalmente crianças. Uma das piores tragédias que abalaram a nossa pátria. E a tal campanha publicitária, já em andamento nas várias mídias, teve que ser abortada, cobrindo-se de preto os painéis de rua. Muitas vezes me perguntei o porquê de tanta dor e sofrimento naquela fatídica matinê de 17 de dezembro de 1961, no auge do clima festivo que antecede o Natal. A explicação veio cinco anos depois, através da mediunidade de Chico Xavier, psicografando Humberto de Campos, sob o pseudônimo de Irmão X, no livro Cartas e Crônicas. Tratava-se da infalível lei de causa e efeito, chamada de karma pelos povos orientais, uma vez mais se manifestando. Segundo sua narrativa, no longínquo ano de 177, Marco Aurélio reinava poderoso sobre toda Gálea, permitindo que se aplicassem com máximo rigor todas as leis então existentes contra os cristãos. Em Lião fora armado um grande circo, cuja principal atração era o sacrifício de pessoas inocentes, os chamados desfavorecidos da fortuna jogados às feras. E o público assistia tais espetáculos com a mesma vibração de quem torce hoje numa partida de futebol. Milhares de cristãos haviam sido mortos em tais circunstâncias e a repetição de cenas semelhantes já começava a cansar a multidão. Era preciso imaginar algo diferente para comemorar a chegada triunfal de Lúcio Galo, guerreiro que merecia atenções especiais do Imperador pelas suas numerosas conquistas. Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador de Lião foi encarregado de organizar os festejos. E organizou uma grande comissão onde tiveram a trágica idéia de prender cerca de mil crianças e mulheres cristãs paras jogá-las numa arena coberta de resinas de fácil combustão. Depois de mostradas festivamente ao público, tocaram fogo em toda a área e soltaram na mesma todos os cavalos que já não serviam aos seus jogos de guerra. Impossível imaginar as cenas lascinantes protagonizadas por aquelas idefesas criaturas sob a ação das chamas e dos cavalos ensandecidos. E o Irmão X conclui assim a sua pungente revelação: "Quase dezoito séculos se passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17/12/61, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo". Este é um exemplo de karma coletivo, pois reuniu um grande número de pessoas numa única expiação. São as atuais catástrofes que assombram, pela sua violência, todas as comunidades do planeta, agora ligadas pelo milagre da comunicação instantânea. O mais comum, porém, é o karma individual, aquele que você e eu carregamos, conseqüência de nossas ações erradas no passado próximo ou remoto. (...) E aquela crença de que Jesus morreu na cruz para pagar pelos pecados de todos nós, os que viveram no seu tempo antes dele e depois, até o momento atual? Essa vem do tempo em que se acreditava que o justo poderia pagar pelo pecador. Se o pecado era pequeno, ia-se ao templo sacrificava-se uma avezinha e a divindade ficava satisfeita. Agora, se o pecado fosse dos grandes, aí era preciso oferecer um boi aos deuses para ser perdoado. Hoje sabemos que cada um será julgado pelas suas próprias obras, pelo que fez e também pelo que deixo de fazer por simples e comodista omissão. Mas, poderá objetar objetar alguém, Jesus não veio para nos salvar? Sim, Jesus veio como Salvador para nos mostrar o caminho, pregando através do próprio exemplo para que seus ensinamentos perdurassem para sempre. A ninguém, todavia, Ele dispensou de resgatar seus pecados. Aquele que viver depois de mim, disse, tome a sua cruz e siga-me. E a cruz de cada um, que é seu próprio karma, tem o tamanho e o peso dos seus erros. P.S. - E, como tudo cicatriza com o tempo, aquela campanha publicitária, de que falamos inicialmente, foi relançada um ano depois com o título: "xxxx tem gosto de festa". Pedro Azevedo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== AMANDA I Oi! Já estou recuperado pessoas. Após breve porém incômodo mal-estar estou de volta ao Tresler. Ah sim! Em breve teremos visual novo no site do Tresler (http://www.tresler.cjb.net). Aguarde! On with the show... --- Ele despertou no meio da tarde. Abriu os olhos, fitou o teto e uma dor fortíssima cruzou seu crânio, fazendo com ele gemesse em agonia. Por longos e dolorosos segundos ele ficou imóvel, tentando se lembrar quem era, e tentando identificar a origem da dor. Tentou inclinar levemente a cabeça para a direita, mas a dor persistiu, embaralhando seus pensamentos. Por alguma razão desconhecida, ele se lembrou que no elevador as pessoas aproveitam para conferir se precisam comprar sapatos novos. Reunindo forças, e descartando pensamentos inúteis, girou todo seu corpo para a parte oposta da cama, e buscou uma posição quase fetal. Sem resultado. A dor continuava rasgando todo seu cérebro. Voltou à posição original, apoiando as costas no colchão. Com cuidado, levou as mãos à cabeça e deixou-as comprimindo as têmporas, como se isto pudesse erradicar a dor. E nesta posição ele ficou. Por muito tempo ele não sabia quem era, não sabia seu nome, não fazia a menor idéia de onde estava. Sabia que estava vivo embora tudo parecesse distante como em um filme. A dor lhe garantia que ele ainda não estava morto. Quase magicamente, a dor cessou. Agora ele já não ofegava. Seus gemidos de dor já não preenchiam o vazio do quarto. Ainda estava levemente tonto, é verdade, mas agora precisava se recompor. Sentou-se na beirada da cama, apoiou os cotovelos nos joelhos e acariciou os cabelos. Notou que precisava cortar os cabelos. Não sabia onde faria isso, pois não se lembrava onde costumava fazer isso. Mas isso não tem importância agora, pensou ele com raiva. Acalmou-se e ouviu os ruídos do local. Distinguiu o som de música, mas não ouviu nenhuma voz no local. Olhou em volta e viu seus pertences ao lado da cama. O telefone celular, a carteira e as chaves estavam ali. O quarto girou sob seus pés e ele não teve forças para se levantar. Sentou-se novamente na cama. Esfregou os olhos com força e buscou organizar seus pensamentos. Se chamava Rafael, havia saído na noite passada com alguns amigos, bebera demais, usara outras drogas demais e agora estava em uma casa que definitivamente não era a sua. Não reconhecia o quarto e não reconhecia a cama onde estava sentado. Precisava sair dali. Mas antes, precisava encontrar quem o ajudou após ingerir uma quantidade aparentemente absurda de bebida. Provavelmente algum amigo o ajudou, e agora ele seria motivo de risadas para o pequeno grupo de companheiros. Algumas poucas vezes ele se preocupara com este tipo de situação. Tinha receio de que algo lhe acontecesse quando estivesse sob efeito do álcool. Algo potencialmente nocivo a sua integridade física. E moral também, claro. Mas logo o pensamento era afastado, pois "se até agora nada me aconteceu, não é agora que vai acontecer", pensava. Sua camisa também fora colocada ao lado da cama. Seus sapatos e meias também estavam ali. Vestiu-se calmamente, a fim de evitar qualquer mal-estar, juntou seus pertences e buscou a porta do quarto. Quanto mais próximo chegava da porta, mais clara ficava a música. "Frank Sinatra...?", pensou. Curioso, abriu a porta e deparou-se com uma sala simples. Sentiu seu rosto queimar quando viu que uma mulher o observava. Ela estava sentada em um surrado sofá de cor avermelhada, e tão logo viu que seu "hóspede" estava acordado, tirou os óculos de lentes pequenas e finas. Colocou o grosso livro que estava em suas mãos no seu colo, afastou alguns fios de cabelo que atrapalhavam sua visão com um gesto gracioso, e com um sorriso nos lábios disse: "Boa tarde Rafael. Sou a Amanda." (continua) Vincent Kellers =========================================================================== ============ O PLUS A MAIS DE HOJE (Giancarlo Panizzutti Lima) ============ =========================================================================== ABAIXO OS ESTEREOTIPOS #3 Voce jah deve ter notado uma certa tendencia na TV, ultimamente. Que a guerra de audiencia entre as emissoras nao eh soh mais a apelacao entre Gugu x Faustao para ver quem mostra mais baixaria. Recentemente, as novas armas dessa guerra sao desenhos de pura pancadaria e apelo comercial. De onde vieram esses desenhos tao estranhos, afinal? Bom, eles vieram do Japao. "Japao?" Ah, sim, entendi sua reacao. Pensando bem, japoneses soh sabem fazer desenhos e filmes de artes marciais, monstros e robos gigantes, certo? Errado: isso eh um (pausa dramatica) estereotipo! Pelo nome desse texto, voce jah deve ter adivinhado por que estou aqui. Enquanto que os mais de 500 episodios de lutas interminaveis de Dragon Ball Z e os zilhoes de Pokemon a venda no camelo mais proximo sao suficientes para tirar a paciencia de qualquer um do serio, existem muitas series japonesas que tem pouco mais de 25 episodios (ou as vezes nem *um quinto* disso) que possuem uma historia inteligente e coerente, animacao de boa qualidade e personagens extremamente humanos capazes de gerar uma grande identificacao por parte do espectador. Mas isso soh se voce ignorar o apelo de consumismo americano implantado no seu cerebro atraves de mensagens subliminares! ;) Falando serio, por que eh que tudo o que nao eh americano eh ruim? Copiamos *tanto* uma cultura estrangeira que copiamos a xenofobia deles tambem? Ateh mesmo a *nossa* cultura parece estranha depois de certo tempo. Quem eh que anda por aih com uma camiseta com frases em portugues? Vale ateh "tem um corno me olhando"...:) Mas, voltemos aos japoneses. Vou tentar dar um esclarecimento em relacao a esta midia tao discriminada, ateh mesmo entre fas de quadrinhos e animacao. Em primeiro lugar, isso nao eh novidade. Osamu Tezuka comecou a desenhar seus mangas (Vamos dar nomes aos bois a partir daqui: manga: man=sem limites; ga= desenho; modo como os quadrinhos sao chamados no Japao. Anime: abreviacao de animeshion, pronuncia da palavra 'animation'; modo como os desenhos animados sao chamados no Japao; Os animes soh comecaram a aparecer no final da decada de 50, e eram apenas baseados em mangas. Depois de um tempo e que comecaram a aparecer animes originais) por volta da decada de 40, e eh tido como o idealizador dos quadrinhos e animacao japoneses como nos os conhecemos hoje. Aqueles olhos grandes, com pes e maos igualmente grandes. Estranho, nao eh? Comparado ao que? Olhos grandes, pes grandes...descrevi um personagem de manga? Pode ser, mas eu estava pensando nos personagens da turma da Monica e no Pernalonga, que possuem as mesmas caracteristicas dos personagens de manga e nem por isso eu vejo pessoas comentando como eles sao 'estranhos' ou 'mal-desenhados'. E os desenhos americanos foram justamente a inspiracao dos quadrinhos japoneses de Tezuka. Como exemplo, a popularidade da Betty Boop no Japao na decada de 30. A partir das mesmas regras de estilizacao, Tezuka criou seus 'prototipos' baseados em sua propria cultura, que acabaram por 'evoluir' com o passar dos anos e dos outros artistas. Hoje em dia os japoneses dao um show de tecnica nos americanos com a animacao digital. "Mas os desenhos sao todos iguais!" Meio apressado esse seu julgamento, nao? Que usem os mesmos elementos, pode ser; mas daih a dizer que o estilo de desenho eh igual...Nao dah pra comparar o estilo 'normalzinho' do Yoshiyuki Sadamoto com o super exagerado do Tsukasa Kotobuki com o estilo foto-realista da versao animada de "Ghost in the Shell" e dizer que eh tudo a mesma coisa! Nunca ouviu falar desses nomes? Pois devia, e provavelmente vai acabar gostando do que vai ver. "Mas por que os olhos sao tao grandes? E aqueles cabelos coloridos?" Bom, aih entra a estilizacao que eu mencionei ha pouco e dei uma explicacao no outro texto que eu escrevi. Se voce nao leu..."estilizacao eh um sinonimo para abstracao, que significa, basicamente retirar e/ou alterar elementos de um desenho para melhor expressar a mensagem pretendida. Diminuir detalhes do cenario para fazer a figura principal mais proeminente, criar contrastes de claro-escuro, acentuar o movimento e as expressoes faciais, definir um estilo que funcione como uma 'assinatura' do artista." Depois de ver uma meia duzia de episodios voce acaba se acostumando e percebendo a grande expressividade por tras de todas aqueles movimentos e feicoes exagerados e os jogos de iluminacao e cores de cena. Jah os cabelos coloridos tem uma historia para contar: a estilizacao eh ainda mais importante nos quadrinhos japoneses do que nos americanos, porque os mangas geralmente sao *semanais*, e com um cara soh escrevendo, desenhando, arte-finalizando, escolhendo e colocando as reticulas e pintando as capas, quando muito com a ajuda de um ou dois assistentes, isso acaba ficando um tanto trabalhoso. Entao, como no Japao todos tem o cabelo moreno, jah ficava meio que subentendido e o artista soh fazia o contorno dos cabelos (estamos falando de 1940-50 aqui!). Ao fazerem a adaptacao para os animes, resolveram ser mais criativos e colocaram varias cores berrantes nos cabelos dos personagens principais para aumentar o destaque. E em certas series, o cabelo colorido eh diferencial para os personagens humanos e alienigenas/robos/etc. de forma humanoide. Muitas vezes a estilizacao eh tamanha a ponto da omissao completa do cenario em pontos chave da historia, aumentando a dinamica e a enfase na expressao. E essa "omissao" de partes do cenario jah era comum no paisagismo de Sesshu e Hokusai, de *seculos* antes de voce ter nascido. Estao valorizando a cultura deles e usando os mesmos elementos pelos quais a arte japonesa sempre foi reconhecida internacionalmente, nada alem disso. E eu nem comecei a falar nas historias, ainda. A maioria das series japonesas sempre tem um final programado, ao contrario das interminaveis 'Arquivo X', 'Friends' e 'Simpsons', que ha tempo jah nao seguem um rumo definido e seus conceitos iniciais, estragando o que essas series tinham de bom nas primeiras temporadas em nome do todo-poderoso dolar, esgotando os personagens e cansando a paciencia ateh mesmo dos mais ardorosos fas. Eu que o diga. Mas nossa discussao continua semana que vem. Ateh lah, tenta nao formar uma opiniao sobre o que voce nao conhece. Bom, essa eh a *minha* opiniao. Posso estar errado. Mas voce, tambem. Giancarlo Panizzutti Lima "Tiger : Otaru Mamiya. Until quite recently, that was a name of the enemy who had to hate. I was going to offer this world for Master Faust. I didn't care injuring someone or even risking my life for that purpose. We obediently believed there was not our happiness except for it. Now, I who feel even pleasant feelings in this situation am here. Why is it so? Otaru : Happiness doesn't fall suddenly from the sky surely, and is not the result which someone fought furiously, rather happiness may be the result that someone's hand which tap on the back when I was at a loss, or someone's word which wipes tears, or someone's smile which meets me, or such a thing which someone keeps throwing to someone when the unpleasant thing or painful thing continues were piled up. I feel so. Tiger : That's right. Lorelei : Are you going already? Tiger : Yes, because I must procure the material which is necessary for the research from now. Please tell my words to Lime, Cherry and Bloodberry. I'm really glad I could meet you and come to love you. I want to see you again. Otaru : Do your best, too. " De Saber Marionette J to X, serie dirigida por Masami Shimoda, baseada nos contos de Akahori Satoru. =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaboradores da edição de hoje: Giancarlo Panizzutti Lima (panizlima@yahoo.com.br) Visite o Site do nosso e-zine: http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para: tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com