Que dia é hoje? Domingo, 02 de setembro de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 20 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. Fazemos amigos ou eles acontecem? (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. Me encontrando com o espelho (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. O Portão (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Fui ali e já volto (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. Abaixo os estereotipos #4 (Giancarlo Panizzutti Lima - O PLUS A MAIS DE HOJE) 7. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== E chegamos ao tresler 20. Foi um fim de semana cheio de comemorações e aventuras gastronômicas, pelo menos da parte deste que vos escreve. E como novidade da semana, aprendi a montar um chimarrão. Bah, eu sou gaúcho, mas não tinha a manha para pegar uma cuia, erva-mate e água fervendo para montar um chimarrão. É legal. Enfim, vamos ao que interessa que eu estou com sono, muito sono. Ah, e olha o feriado chegando! Para quem não vai trabalhar, lógico. Para quem vai trabalhar, pense no lado bom. Horas extras! Música da semana! Black Sabbath - Eletric Funeral Álbum da Semana! Marisa Monte - Verde anil amarelo cor de rosa e carvão E no tresler de hoje, temos amigos, recuperações, quadrinhos, cercas, cinco meses de namoro completados neste dia primeiro, 20 edições de Tresler, eu aprendendo a tocas os riffs das músicas do Black Sabbath, gente buscando a morte, gente tomando abacate na cabeça, amizades forçadas, processos de seleção natural, física quântica e estudos sobre o processo de extração de risadas de pessoas que não estão com vontade de rir. Daniel Wildt, agora só falta aprender a fazer churrasco. E só para constar, depois do churrasco já vou me considerar um bom gaúcho, certo das tradições da terra. Para dançar fandango e usar bombacha, bom, nada contra mas nada, e repito, nada, a favor. Não digo nunca, pois depois de ver o desenho do "Fevel" (não sei se escreve assim, mas é o desenho daquele ratinho) eu nunca mais disse nunca. Isso faz uns 10 anos eu acho. =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== FAZEMOS AMIGOS OU ELES ACONTECEM? Quando me dei conta, estava sozinha de novo... Aquele bar não tinha som tocando mas a grande quantidade de pessoas ali dentro conversando já produzia ruído suficiente para exigir que a gente tivesse que gritar para se fazer ouvir e entender. Além de conversar, eles bebiam e fumavam. Nunca gostei de beber nem de fumar, então, o único motivo que me levaria a um lugar como aquele era conversar... Conversar com meus amigos, saber o que eles andam fazendo, saber de seus problemas, de suas alegrias, de seus sucessos. Mas meus amigos não estavam lá. No meio de toda aquela gente, eu sabia o nome de alguns e conhecia o roste de outros tantos. A maioria eu nunca tinha visto. Então conversar naquela noite significava um grande esforço para mim. Significava tentar estabelecer e, principalmente, manter contato com pessoas sobre cujas realidades eu sabia pouco ou praticamente nada. Estabelecer contato com uma pessoa é uma coisa, é mais fácil: "Oi, de onde você é? O que você faz...?" Em seguida falta assunto para manter o contato recém estabelecido. Eu olho para um lado, ela olha para o outro e pimba! Dá de cara com alguém que conhece ou que tem mais desenvoltura do que eu para esse tipo de situação e lá esto eu, sozinha de novo. Situações novas, pessoas novas. Fascinante! Energias diferentes, interesses diversos. Problema! Eu costumava me preocupar muito com esse tipo de coisa. Não conseguir manter um diálogo de mais de 10 minutos com qualquer pessoa numa situação como esta. Hoje penso diferente. Há pessoas com as quais conseguimos nos sentir bem desde o primeiro contato e parece que o papo flui. Considero que ou essas pessoas são de fácil relacionamento ou a energia é a mesma, o que gera um entendimento e interesse mútuo rapidamente. Há outras com quem não é possível desenvolver um diálogo. E isso não depende só de um lado. Se os dois lados não estiverem interessados na conversa, fica difícil. Quando a energia não é a mesma, não flui e logo cai-se naquele silêncio constrangedor. Nesse caso, melhor desistir e ficar sozinha ou procurar outra pessoa. Mas naquela noite eu definitivamente não estava no espírito de integração e de conhecer novas pessoas. Muito menos tendo que gritar para me fazer entender. Aqui eles têm o costume de chegar num lugar e ir se aprensentando a todos que não conhecem. Não consegui me acostumar com isso ainda. Não me parece natural. Não sei qual é a maneira natural de travar conhecimento com alguém. Aliás, interessante isso... Qual será que foram as primeiras palavras que eu disse aos meus amigos?!?! Com certeza não foram: "Oi, tudo bem? Meu nome é Ariadne." Talvez porque o espírito naquelas situações não era conhecer pessoas. Conhecer pessoas era apenas conseqüência natural de estar iniciando um curso na universidade por exemplo. Aqui não, aqui quase todos estão sozinhos. Então conhecer pessoas e fazer amigos torna-se uma necessidade para a maioria. Mas tem tanta gente aqui que deve ter também aqueles que não se consideram exatamente enturmados... Se é que estar enturmado pode ser exato. Para uns, estar enturmado pode significar se sentir bem entre as pessoas, ou ter muitos amigos de verdade num grupo ou simplesmente saber o nome de todos e conseguir manter conversas superficiais com a maioria. Mas como disse uma vez um holandês meu vizinho na Bélgica: Simplesmente não aconteceu. Eu não sei como me forçar a fazer amigos, tem que acontecer naturalmente. Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== ME ENCONTRANDO COM O ESPELHO Era uma tarde como qualquer outra. Na verdade não era, pois Marcelo não estava ali como sempre estava. E Aline também não. Fiquei pensando o que era aquilo. Tudo muito estranho, será que alguém morreu? Talvez uma briga mais forte pode ter feito algo estranho ter acontecido com aquele casal que se nada de estranho realmente acontecer, vai ter casório na certa. Dona Maria também não apareceu na janela para tomar chimarrão. Aquilo não estava certo. E isso também não está. Meu pai sempre corta a grama no domingo e hoje onde estará ele? Minha irmã ainda não implicou comigo... isso não está certo. Uma dor no meu corpo me fez acordar. Hey, eu estava dormindo. Que bom, pelo menos era um sonho. Diria até que pelo o que aconteceu, foi um pesadelo. Ficar sozinho olhando por uma janela não faz o meu tipo. A interação com outras pessoas, ter conhecimento de vivências e experiências diversas são importantes para a minha mente, para meus pensamentos e para minha nova maneira de ver o mundo, sempre por uma janela aberta que me deixa conhecer o mundo lá fora e fazer parte dele cada vez mais. Fazia algum tempo que não sentia o vento bater no meu rosto. Faz algum tempo que a vida me deixou para trás. Agora estou retornando. Pensei em me matar algumas vezes, mas acho que isso não é o mais certo, senão já teria acontecido. Estou passando por alguma provação. No entanto acho que ficar sozinho é a pior coisa que pode acontecer. Amigos, conhecidos, pessoas que vem me visitar de vez em quando. Tudo isso é importante para eu poder viver. Eu me olho no espelho todos os dias e todos os dias choro. Não é um choro de falta de esperança sabe, mas é um choro onde eu fico me lembrando do ponto exato onde deixei minha vida escapar pelas minhas mãos. Um dia deixei minha vida continuar, um dia me perdoei. Sei que não fiz nada por mal, mas ainda assim fiz, e vi as consequências disso, que por acaso estão marcadas no meu corpo. Poderia fugir de casa, mas não iria muito longe. Me cansaria rápido, e seria muito fácil para minha família me encontrar. Ah, encontros. Olha, esse negócio de beleza interior não é verdade. Pelo menos eu acho. Tipo, a vida é muito diferente, o mundo em que eu vivo é muito distante do mundo das pessoas que me apaixono. Pessoas são egoístas e eu pelo menos achei que elas não se sujeitariam a ficar comigo, viver a juventude delas com uma pessoa como eu. Depois dos 40, se eu viver até lá, devo encontrar alguém que ficou para tia, interessada em viver uma vida em paz, uma vida calma. No local onde eu faço terapia em grupo, de vez em quando acontecem festas. Aparecem pessoas de vários lugares, e esses dias eu fiquei conversando com uma menina. Posso dizer que tenho um papo legal. Sei o que uma mulher quer ouvir, sei gerar sorrisos, sei deixar uma menina triste, feliz, encabulada, sei gerar emoção e felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Ah, se eu fosse como antes, eu poderia ser tão feliz. Seria um verdadeiro Don Juan. Pode crer. Bom, continuando sobre o papo com Marisa, conversa vai, conversa vem, e ela me conta que tinha um problema na família como o meu. Eu fiquei espantado e perguntei para ela como a situação era encarada. Ela me disse então que tudo era visto com naturalidade e que eles faziam de tudo para Túlio, irmão de Marisa, levar uma vida normal, uma vida feliz, uma vida, entende? ela me perguntou... ela me perguntou se eu entendia. Disse para ela que eu não tinha essa visão, que eu não conseguia ser feliz, conseguia fazer pessoas felizes, com o que eu dizia, com o que eu fazia elas sentirem. Sabe que é complicado isso, eu não acredito em muita coisa, e como ouvi em música, em nada além do que eu duvido. Eu penso na vida como alguma coisa que serve nada mais nada menos do que uma provação, uma verdadeira barreira entre esse mundo cão e um paraíso, seja ele em que reino for. Não sabia o que responder, não sabia se aquilo que eu estava dizendo iria fazer ela se afastar ou se aproximar, mas o fato é que com ela eu estava sendo sincero como nunca fui nas sessões de terapia que fazia semanalmente. Tudo aquilo que eu sentia, me sentia bem conversando com Marisa, me sentia com vida novamente, acho que conversamos por muito tempo, três horas, cinco horas e tudo parecia lindo, ótimo. Começou a tocar "Hoje a noite não tem luar", aquela que a Legião Urbana gravou em um acústico, sabem? Pois é, aquela mesmo. A gente começou a se aproximar, quer dizer, ela de mim, pois eu não tinha muito como me movimentar no estado em que me encontrava, e além disso, qualquer movimento iria mostrar a minha felicidade por Marisa, então eu precisava ficar estático, pelo menos nos membros inferiores, ou o que sobravam deles. Sabe, a gente se beijou naquele dia, e eu meio que me senti vivo novamente. Acho que fazia uns 14 meses 16 dias e 3 horas que Adriane tinha me deixado, pois ela disse que não tinha como continuar namorando com alguém na minha situação. Eu vou fazer o que? Correr atrás não tinha como pois mal sabia andar na cadeira de rodas... e além disso a dor que tomava conta do meu corpo naquela época não me deixaria correr muito. Até para falar tinha um pouco de dificuldade, devido ao cortes que fiz no meu rosto. Mas isso são águas passadas. Aguás que já se foram, já estão muito longe, graças a Deus. Sabe que desde então eu sempre fui muito seletivo nas pessoas que tinha uma certa amizade, sabe? Muitos me adoravam pois eu era o cara que andava com carrão, outros pois eu tinha dinheiro, outros pois eu aparecia em colunas sociais e assim eles apareciam junto, festas diversas, bebedeiras, eu era o cara. Depois do dia D, agora sou apenas aquele que acabou na situação em que está. Sirvo de exemplo. Mães para fazerem seus filhos manerarem na bebida e na direção me usam como exemplo. Sempre quis servir de exemplo. Pena que foi assim. Eu desde cedo tive boas oportunidades. E sempre aproveitei estas minhas oportunidades com muita vontade. Aos 20 anos eu já tinha negócio próprio e com um lucro que me dava liberdade de acordar na hora que quisesse. Hoje vivo desse negócio, o que me faz ter uma vida menos ordinária. Vivo numa boa, pelo menos não me preocupo com dinheiro. Tenho conforto, vivo em uma casa legal e tenho bons amigos, aqueles de coração. Só que um belo dia, eu acabei com o coração partido e queria defender o amor que eu sentia, tinha certeza do que sentia e não achava que aquilo era uma brincadeira, mas era. Eu era metade raiva e outra metade angústia. Saí daquele local sendo visto como corno. Acordei no outro dia sendo corno e alejado. Vivi com esses pensamentos por um bom tempo, até que resolvi me trancar em casa, não precisava sair, não precisava de amigos, tinha dinheiro e tinha minha família. Nesta época começou a vontade de me matar. O horário era sempre o mesmo, domingo, final de tarde. Aquele Sol se pondo e eu não acreditando na minha situação e na falta de amor que me rodeava. Não amor familiar, pois esse nunca faltou, mas queria alguém que me dissesse que me ama, alguém que pudesse contar minhas angústias e receber palavras de carinho, palavras de amor, beijos para selar um fim de tarde. Era isso, queria beijos para selar um fim de tarde, queria apenas que fosse mais um final de tarde e não um possível final de vida. Eu não gosto de olhar para trás, apenas estou começando e agora que conheci Marisa, bem, eu sei que não posso ficar acomodado, pois se já era difícil manter um amor tendo pernas, imagine agora. Há tempos eu tenho um sonho que era poder dizer para alguém que eu sinto amor novamente,que eu sinto prazer em acordar na minha cama e pular para uma cadeira de rodas, que eu tenho vontade de abrir as portas de casa e me jogar no gramado ainda molhado do sereno da noite, que eu adoro tomar chuva, que eu adoro ficar boiando na piscina da minha casa. Até voltei a ir para o escritório trabalhar, abandonando o meu home-office. Certo, é muito cômodo trabalhar em casa, mas eu quero ver o mundo, quero outra vez me tornar um exemplo, um exemplo de força de vontade. Daniel Wildt =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== O PORTÃO Ele estava lá, sozinho e com frio, embora naquela noite o vento, outrora cortante, parecesse mais uma suave e refrescante brisa primaveril. Mal sabia o perigo que a noite traria momentos mais tarde... Eis que no instante em que pode vislumbrar a situação de risco no qual seus donos se encontravam, dormindo ingenuamente no interior da casa, o senso de responsabilidade agitou suas frágeis tábuas, fazendo imperar seus ímpetos heróicos. Como um velho porém útil portão, tudo o que tinha que fazer era impedir que aqueles marginais entrassem na residência do jovem casal, que tão caridosamente insistira em conservá-lo à frente da casa nova, como quem gratamente reconhece os serviços prestados sob sol e chuva durante tantos e tantos anos. Era, portanto, hora de retribuir a gratidão recebida e fazer valer a honra guardiã que herdara de seu pai, um antigo portão de ferro que imponentemente guarnecera por décadas a entrada da escola do bairro. Imediatamente pôs-se então a arquitetar um plano de ação para defender a residência e principalmente os recém casados, que apenas há poucos dias haviam retornado de sua lua-de-mel. Sabia que atrelado ao muro e com suas dobradiças enferrujadas tinha poucos recursos pessoais para enfrentar a situação, mas lembrou que possuía uma valiosa arma que poderia utilizar: a amizade com os outros objetos do jardim que ele havia cultivado no decorrer dos anos. Entre eles, o carro que tantas e tantas vezes atravessou pelo portão, sempre muito cordial em seus cumprimentos e conversas. As velhas telhas também sempre se manifestaram amistosas, durante todo o tempo que permaneceram encostadas na parede da casa vizinha, cotidianamente manifestando suas esperanças de serem definitivamente colocadas sobre alguma residência, vindo a formar um belo telhado e servindo ao seu destino de abrigar uma casa do sol e da chuva. E também o abacateiro caído, que diariamente reclamava de dores nas costas após a queda que sofrera em um temporal no final do verão. Felizmente, o muro da casa havia impedido o pior, escorando a imponente árvore e mantendo-a de pé, embora bastante inclinada. Para seu consolo, dizia o portão, "Na Itália tem um prédio que ficou muito famoso após ficar inclinado". Agora um pouco mais tranqüilo, convicto da ajuda que receberia, o portão decidiu agir. Observou que um dos bandidos preparava-se para pulá-lo, num salto só, e desta formar entrar no pátio. Discretamente, o portão soltou a pequena tramela que o mantinha fechado, preparando o seu bote. No instante em que o ladrão saltou, ele simplesmente deixou-se abrir, projetando-se entre as pernas do delinqüente, que caiu sobre ele largando um grito de dor enquanto desabava ao solo. Mesmo um pouco assustado com o grito, o outro marginal começou a rir compulsivamente da trapalhada do comparsa: "Ah-ah! Por que você simplesmente não entrou pelo portão? Ele estava aberto, idiota!" e foi passando pela entrada. Notando a oportunidade, o portão instintivamente retesou suas dobradiças, criando impulso para fechar-se violentamente no joelho do segundo homem. - AUU! Seu cretino! - gritou o larápio ao receber o golpe, acreditando que seu parceiro havia chutado o portão em sua direção. - Cale-se seu imbecil. Agora que estamos aqui dentro não devemos fazer barulho. - e seguiram juntos em direção à casa. Sem ter como impedir, o portão limitou-se a gritar, em linguagem de objetos de jardim, para seus amigos, que de imediato colocaram-se em estado prontidão. As telhas então se posicionaram para o ataque, pois os bandidos teriam que passar por ali para chegar à casa. Quando eles chegaram perto, as telhas que estavam por baixo, escoradas na parede, deram impulso para a que estava mais por fora, fazendo com que esta caísse sobre os ladrões. Tibum! Na mosca! - Que diabos! Parece que estamos sendo atacados! - falou um deles ainda meio grogue com a pancada. Embora o golpe tenha sido forte, os bandidos conseguiram prosseguir, apesar das escoreações e da dor de cabeça, enquanto a telha heroína lamuriava-se despedaçada ao chão ao mesmo tempo que as outras telhas enalteciam a grandeza e a bravura de seu sacrifício, lembrando-a que esta foi a melhor coisa que ela pode fazer durante anos. Afinal, elas nem sabiam ao certo se um dia chegariam realmente a constituir um telhado. Percebendo o perigo que se aproximava, o carro, num esforço descomunal, conseguiu ativar seu próprio alarme, acordando o jovem casal e assustando os bandidos, que resolveram bater em retirada diante de todo aquele barulho. A telha caída, percebendo a situação, reuniu suas últimas forças para dar uma rasteira num dos invasores, soltando seu último suspiro ao mesmo tempo em que o infeliz caía sobre seus pedaços, se cortando todo. Mais para frente, o portão estava aberto, preparando seu último golpe. No exato instante em que o primeiro ladrão ia passar correndo o portão se fechou, causando o mais sensacional tombo da história do pátio, arremessando o vagabundo uns 3 metros pra fora. Já recomposto, o outro homem foi saindo gritando: - Vamos dar o fora daqui! Este lugar é assombrado! Mas movido pela raiva, o homem se levantou e, mesmo todo quebrado, partiu para cima do portão, desferindo um violento chute que o arrancou do lugar, fazendo-o estatelar-se no chão. Ainda com muita raiva o homem partiu para cima dele, preparando-se para quebrá-lo em pedaços. Neste momento, o abacateiro interveio, pegando o último fruto que lhe restara da safra e arremessando-o com violência e pontaria certeira sobre o delinqüente enfurecido, acertando-o em cheio na cabeça, ao mesmo tempo que as luzes da casa se acenderam, fazendo com que o gatuno tratasse de fugir, trôpego e gemendo pela rua. Deitado na laje fria, sentindo dores em cada felpa de suas tábuas, o nosso amigo portão ainda consciente delirava de contentamento: - Nossa... Agora vejo as estrelas e o céu inteiro sem precisar me contorcer todo. E vejo as folhas verdejantes do abacateiro ao luar. Quantos portões haverá nesta galáxia imensa - dizia. E para ele o que mais importava não era se estava todo quebrado ou dolorido. O que importava é que tinha tido sucesso na oportunidade que teve de mostrar sua serventia durante tantos e tantos anos. E seus pais estariam orgulhosos dele, onde quer que estivessem. E tão cedo aqueles bandidos não voltariam lá. E toda essa sensação de sucesso e dever cumprido o faziam brilhar mais que a própria lua naquela noite em que a temperatura amena deu lugar ao calor da batalha da vida do portão. E que cada um de nós seja digno de possuir um portão destes afronte de sua alma, para ao menos uma noite poder brilhar mais que a lua e algum dia poder brilhar mais que o sol. Eduardo Seganfredo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== FUI ALI E Já VOLTO [ENVELHECER] ... é quando você já não aguarda ansiosamente pela noite de Natal. ... é quando você já não encontra figuras nas nuvens. ... é quando o ruído o incomoda ... é quando você ... [ESQUECE] Vincent Kellers =========================================================================== ============ O PLUS A MAIS DE HOJE (Giancarlo Panizzutti Lima) ============ =========================================================================== ABAIXO OS ESTEREOTIPOS #4 Pra voce que chegou atrasado, estou falando de animes e mangas, aquelas series de desenhos e gibis produzidos no Japao. Tenta ignorar os estereotipos que voce conhece sobre o assunto e pensar por si proprio por um momento, por favor. No outro texto eu mencionei personagens alienigenas, robos, etc. Provavelmente voce deve ter pensado que as historias estao fora da realidade. Bom, algumas. Mas a maioria das series, pelo menos as de que eu gosto, tem as emocoes e relacoes humanas como o foco central da historia, que, nao importa o pais de origem, ainda sao as mesmas para todos nos. Series que, embora envolvam os robos e alienigenas que eu mencionei, ainda sao contadas do ponto de vista *humano*. Series comicas, de ficcao, de aventura, historicas, epicas, sobre magia ou tecnologia, para criancas, para adultos, dramas psicologicos ou simplesmente situacoes absurdas, tem de tudo para todos os gostos. Definitivamente, nao dah pra generalizar e escolher Dragon Ball Z como o representante disso tudo. E eu nem falei da trabalheira que dah fazer uma serie; conceitos, character design, storyboards, clean-ups, pintura de acetato e/ou escanear os clean-ups e colorir digitalmente, escolher dubladores, trilha sonora e a sincronizacao disso tudo; enfim, nada eh simples, nada eh por acaso, nao ha estrelismo e o resultado sempre acaba mil vezes melhor do que a ultima mega-producao sem sal politicamente correta feita nos "campos de concentracao" da Disney. Muita gente critica os animes pela nudez. Eh, realmente, nisso aih nao ha muito o que dizer. Mas, que atire a primeira pedra o amante de Hollywood que nunca viu pior num filme ou na novela das oito. E se voce acha que, por ter cenas de nudez, a mulher eh tratada como um simples objeto, se enganou de novo. A maioria dos profissionais trabalhando na industria de quadrinhos e animacao japonesas hoje em dia eh composta por mulheres, e as personagens femininas de animes sao mulheres inteligentes, decididas e independentes, sem deixarem de ser belas e sensiveis. Ou seja, impossivel nao gostar. ;) Quanta gente vai ver 'A.I.' e dizer que o Spielberg eh um genio e nem sabe que Saber Marionette existe...Voce realmente encontra de tudo em uma serie de anime: consequencias de manipulacao genetica em 'Blue #6' e 'Evangelion', conviccao moral e forca de vontade para lutar por um ideal em 'Wings of Honneamise', mulher tentando escapar do estereotipo "pra ter sucesso tem que arranjar marido" em 'Bubblegum Crisis 2040', exaustao de recursos naturais em 'Saber Marionette J'...e nessa ultima serie que eu mencionei, eh impossivel ficar indiferente frente a cena em que uma androide tenta em vao amamentar uma crianca, mesmo sabendo que seu corpo mecanico nunca serah capaz de produzir leite, na esperanca de que essa crianca a reconheca como mae. Supera essa, Spielberg. Se voce ainda nao se convenceu sobre o que eu falei; paciencia. Ateh mais ou menos um ano atras, eu era soh mais um que criticava a industria japonesa de entretenimento. Ateh o dia em que eu resolvi olhar um episodio, por acaso. Dei muita risada e me emocionei com o final. Tudo isso em 20 e poucos minutos? Acredite se quiser. Olha soh quanta coisa boa eu estava perdendo por pura ignorancia. Ah, se as pessoas se procupassem mais com a historia de SMJ do que com o decote da Bloodberry... Bom, essa eh a *minha* opiniao. Posso estar errado. Mas voce, tambem. Giancarlo Panizzutti Lima "Milagres nao sao coisas que acontecem, sao coisas que *pessoas* fazem acontecer." De Neon Genesis Evangelion, serie dirigida por Hideaki Anno. =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaborador da edição de hoje: Giancarlo Panizzutti Lima (panizlima@yahoo.com.br) Visite o Site do nosso e-zine: http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para: tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com