TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 16 de setembro de 2001.

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Olá! Está é a edição número 22 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Pela Paz! (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Sementes bélicas (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. First Time (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. Qual é sua graça? (Marcelo Ferrari - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. Sobre terça (Diego Schultz Trein - FALANDO SÉRIO)
8. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Boom!  Alguém no rádio avisa sobre o ato de terrorismo ocorrido nos Estados
Unidos.  É  a era do terror que se inicia, como li em um outro ezine? Será?
Também morre quem atira como diz a versão  do Rappa para  Hey Joe. Então se
é  assim,  para  que  atirar  primeiro?  Para  tentar  matar  alguém, mesmo
morrendo?  Como  a  morte pode ser a salvação? Não estamos neste mundo para
provar  alguma  coisa?  Qualquer  um  pode  morrer, é a coisa mais fácil do
mundo.  Agora,  tente  viver!  Quero  ver  é  viver,  aguentar a pressão do
dia-a-dia,  as  crises  financeiras, falta de grana generalizada no mundo e
tal.  Isso  é  problema  meu  e é problema seu também, mas matar alguém não
ajuda  em  nada, nada. O jogo vai continuar, empresas de seguro irão falir,
outras irão aparecer, o mundo econômico vai continuar. Agora, vidas, muitas
dessas  não  continuarão.  Nada.  Tinham  tudo  e  agora nada. Poderiam ter
fechado  o  negócio  do  ano,  poderiam recém ter recebido a notícia de que
tinham  ganho um filho, ganho na loteria, a confirmação de um amor, e agora
nada. Velórios de corpo ausente. Morte. Nada. Vazio. Nada.

Música da semana!
John Lenon - Imagine

Álbum da Semana!
John Coltrane - The best of John Coltrane

No  Tresler  de hoje, pensei até em escrever um Falando Sério, mas isso vou
deixar com um camarada, uma contribuição para o Tresler. No mais, tem gente
buscando  o  amor  ideal,  tem gente buscando paz, sementes, fé, calmantes,
amantes,   beijos,  traição,  intriga  e  injeva,  ira,  preguiça,  homens,
mulheres, guerra e graça.

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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PELA PAZ!

Talvez   alguns  de  vocês  estejam  esperando  que  eu  escreva  sobre  os
acontecimentos   da  última  terça-feira.  Principalmente  devido  à  minha
posição,  trabalhando  na  ONU  em  Viena,  imagino  que  alguns estejam se
perguntando o que eu sei que vocês não sabem. Na verdade nada!

Pensei  em  escrever  sobre  isso,  mas não sou jornalista. Por outro lado,
talvez  esse  texto  seja a forma de mostrar a uma pequena parte do mundo a
minha  opinião  e  dar  a  minha  humilde  e  sincera  contribuição  para a
manutenção da paz mundial.

Mas  voltando  aos  jornalistas,  me pareceu muitas vezes eles manipulam as
informações  como se estivessem lidando com informações pura e simplesmente
e  não  com vidas de pessoas e emoções, sentimentos e conseqüências. Talvez
essa  tenha  sido  uma  das  razões  pelas  quais  não  pude  me tornar uma
jornalista.  A  maneira  como as imagens foram usadas nos últimos dias para
mim  foi  algo um tanto sensacionalista, se é que se pode usar essa palavra
aqui.  Um  site  na  internet  com  as  notícias dos últimos acontecimentos
mostra,  desde  terça-feira,  incansavelmente  a  cena do avião se chocando
contra  o World Trade Center. Um site que eu vi porque deve ter milhares de
outros com galerias de fotos e vídeos das cenas horríveis presenciadas pela
humanidade  nessa semana. Um tanto sádica, na minha opinião, essa repetição
incansável do sofrimento de milhares de pessoas.

Narrar  os  fatos 24 horas por dia já é mais do que suficiente. Fazer disso
um  show, uma exposição constante já é um pouco demais para mim. Aconteceu!
Foi  uma  tragédia!  O mundo inteiro já está sabendo. Mas ajudem no que for
possível e no que não for, deixem as pessoas em paz com seus sofrimentos ao
invés  de  ficar fazendo pesquisas para saber quem quer vingança, quem acha
que  vai  começar  a  terceira guerra mundial e outras especulações sádicas
desse tipo.

Isso  sem  falar no desejo de vingança dos americanos! Vingaça contra quem?
Isso  resolve  alguma  coisa? É dessa forma que se responde a algo ruim que
acontece  com  a gente? Pagando na mesma moeda? Na minha humilde opinião, o
que  se  precisa  nessa  hora  é  de solidariedade e união em prol da paz e
segurança  do  planeta  e  das  pessaos  que  aqui vivem e não de vingança!
Acredito  que vingança só pode gerar mais ódio e violência e causar a morte
de mais pessoas inocentes.

Enfim,  para quem não queria falar no assunto, eu já fui bem longe. Para os
que  ainda estão curiosos, eu não faço a menor idéia de que tipo de ações a
ONU está tomando em Viena. O que sei é que, na última quinta-feira à tarde,
em  frente ao Sino da Paz aqui na ONU, foi feito um minuto de silêncio para
as  vítmas dos ataques terroristas, com o objetivo também de oferecer apoio
e  solidariedade  às  palavras  do secretário geral da ONU, Kofi Annan: "No
just  cause can be advanced by terror." Acredito, pois não sou jornalista e
meus  textos  são  baseados apenas no que observo, que a ONU em Viena parou
totalmente  por  aquels minutos em que se pedia paz no mundo. Solidariedade
era  tudo  que estávamos prestando naqueles minutos. E acredito que a única
forma  de  fazer  um  mundo  melhor  e tentar lutar contra qualquer tipo de
violência é através da união em favor da paz mundial.

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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EM BUSCA DE UM AMOR 

Na  rua  Vicente  andava  olhando  para  os  lados,  pensando  onde poderia
encontrar um coração para morar, onde poderia ser feliz. Procurava um amor,
não  como  os  de cinema, pois eles acabam junto com o filme, mas procurava
algo  mágico,  estava em busca de emoções. Procurava um amor de cinema, mas
que não acabasse com o final de um filme, enfim.

De  tando andar sem paradeiro, seu pensamento o levou para a porta de casa.
Vicente entra sem saber muito o que estava fazendo.

- Onde estavas?, pergunta dona marta, mãe de vicente.
- Mãe, quero amar!, Vicente responde, meio se esquecendo que não  costumava
  conversar sobre amor com sua mãe.
- Como  assim  meu  filho?,  responde  a  mãe,  tentando  de alguma maneira
  entender seu filho.
- Não tu mãe, nem o pai, nem ninguém da família. Quero um amor de  verdade,
  para sempre!
- Ah  meu  filho,  isso  só  no  momento certo. A vida sempre acerta. É  só
  esperar a tua hora.

Vicente  saiu  da  cozinha  sem saber para onde ir. Para o seu quarto ouvir
música  ou  para  a  sala,  ouvir  música.  Foi para seu quarto, seu canto.
Olhando para a parede procurava algo que o entretesse, CDs nas prateleiras,
livros  na  mesa,  fotos no armário, nada. O que ele queria não estava ali,
nem em nenhum lugar da sua casa... estava em algum lugar do mundo e Vicente
precisava encontrar.

Sempre  em  busca  do  amor,  Vicente era sabedor da teoria de expectativas
furadas.  Sempre amou alguém, as vezes de mais e as vezes de menos. Vicente
nas  suas  orações  sempre pedia ao ser superior, alguém que o amasse com a
mesma  intensidade.  Buscava  um  amor  equilibrado, sincero e para sempre.
Normalmente  cultivava  sofrimento com o fim dos namoros, mas não por muito
tempo pois a busca pelo amor não poderia parar.

Sua última namorada era muito ciumenta, e Vicente não conseguiu aguentar as
sanções  de  Aline. Deu adeus a este amor quando o mesmo o colocou a prova.
Aline  tinha  uma  amiga que estava vindo para a cidade, e ficou de levar a
amiga na casa de Vicente para ele poder conhecer uma grande amiga sua.

- Vicente, esta é a Adriana que te falei, lembra?
- Lembro sim, como vai?
- Muito bem... muito prazer!
- Prazer é meu... (que mulher linda!)
- Ai meu Deus!, grita Aline com uma voz aflita.
- O  que  houve?, indagou Vicente já olhando para os lados procurando  algo
  errado.
- Esqueci de pegar uma coisa antes de sair de casa!, falou Aline. 
- Vou ir lá em casa pegar e já volto, ok?
- Tudo bem, sem problemas.

A  casa de Aline ficava duas quadras da casa de Vicente, que serviu um copo
de  refresco  para  a menina que recém tinha conhecido. Levou então Adriana
para a sala, a fim de tornar a visita mais formal. Poderiam conversar sobre
o  que  tinham  em  comum até o momento, Aline. Conversa vai, conversa vem,
Adriana  comentou  sobre  a  coleção  de  CDs  de Vicente, pois Aline tinha
comentado  com a amiga. Isso fez com que Vicente levasse a menina até o seu
quarto.

Segundo  algumas  teorias,  depois que se começa uma conversa e o objeto A,
possivelmente  desejado,  oferece  uma  certa  atração  para o objeto B e o
objeto  B,  que  deseja  "conquistar" algo, conseguir movimentar o objeto A
para  outro local, se tem então um cenário montado, permitindo então que se
passe  para  a  fase seguinte que é quando dar o primeiro bote ou soltar as
iscas, como se preferir. Claro que isso não passava pela cabeça de Vicente,
pelo menos não pela que tinha um cérebro dentro.

- Nossa,  estou espantada!, disse a menina, vendo a parede estampada de CDs
  no quarto de Vicente.
- É,  isso  foi juntado ao longo do tempo e também por ficar procurando  em
  lojas do centro, diz Vicente com um ar de superioridade.
- Nossa,  quantas  bandas que eu nunca ouvi falar!, fala a menina  querendo
  papo.
- É...,  fala  Vicente  olhando  para  o  corpo  da  menina  por uma  visão
  interessante.
 
Aline  simplesmente  saiu  do  mapa  e os dois ficaram conversando por uma,
duas,  três  horas.  Lá  pela  quarta hora, Vicente pensou que algo faltava
naquele ambiente, e se lembrou da namorada.

- E a Aline? Onde será que está ela?
- Não posso mais mentir para você. Eu não vim de outra cidade.
- Humm... como assim?
- Eu  sou  amiga  de Aline e eu teria que fazer você me beijar, pois  assim
  Aline  poderia  dizer  que tem razão dos ciúmes, pois você iria se render
  a tentação do meu beijo.
- Ãhn... ãhn... ãhn... ãhn... ãhn... ãhn... hein?
- É,  eu  tinha que falar isso. Aline está ali na rua, esperando eu  gritar
  NÃO, PARA, EU NÃO QUERO!!

Exatamente neste momento Aline aparece no quarto, abrindo a porta com muita
força,  fazendo com que esta batesse em uma prateleira de Vicente e fizesse
com que parte de sua coleção de CDs de Jazz caísse no chão.

- O  que  está  acontecendo  aqui!,  pergunta Aline, esperando que  Vicente
  estivesse com cara de assustado, mas ele não está.
- Ãhn...  ãhn...  ãhn...  ãhn...  ãhn... ãhn... hein?, é a única coisa  que
  Vicente consegue falar.
- Seu cafajeste!, eu sabia que você era um safado!!, diz Aline achando  que
  a amiga tinha seguido a risca o que foi combinado.
- Aline,  não! Eu não consegui fazer! Ele é bom demais para você!, é o  que
  Adriana responde para a amiga, deixando o quarto e a casa de Vicente.
- Ãhncabou! Saiãhnagora!! Sai!

Vicente  sente  ira.  Sente  vontade  de  sair correndo. Vontade de chorar.
Vontade  de  virar  astronauta  e entrar em órbita por tempo indeterminado.
Quer sair dali, ou melhor, quer que Aline saia dali, para sempre.

- Não  fica  chateado,  por  favor!  Não era para ficares chateado! Não  me
  deixa!
- Eu  não  vou te deixar. Você já me deixou quando saiu daqui de casa  pela
  primeira vez.
- ... anda! Sai daqui!

A  porta  foi  o  caminho para Aline, que algum tempo depois se mudou, indo
morar  com uma avó no interior. Vicente ficou algum tempo mal, pensando que
poderia  ter  sido  diferente,  que  se ela tivesse ouvido um pouco, se ela
tivesse  entendido  alguma  coisa  que  ele dizia nas declarações, nas suas
juras  de  amor.  Este  ciúme  doentio  representava nada mais que falta de
confiança,  talvez  porque  Aline  já tivesse sido traída anteriormente, ou
porque  traía  com  facilidade,  e  sendo  assim achava que Vicente merecia
aquele cuidado todo. Nada, nada mudaria aquilo. Foi forte demais.

- Filho!
- Filho, acorda!
- Filho, anda, acorda!!
- Ãhn... que foi mãe!?
- Tem uma menina aí te procurando.

Ao  chegar  na sala, ninguém. Vicente chama a mãe, mas ao se virar vê que a
porta  está aberta. Ao chegar na porta, vê uma menina virando a esquina. Na
porta de casa um bilhete no chão.

            "Me encontre no novo parque. Leve uma rosa."

Aquilo não poderia estar acontecendo. Quem? Onde?

Vicente  corre  em  direção  ao  tal parque, que ficava na rua atrás da sua
casa.  Por  sorte,  uma floricultura no meio da quadra facilita a sua vida.
Vicente  compra a rosa, a mais bonita de todas. Vai para o parque sem saber
o  que deve procurar. Chegando lá, teve um pensamento infeliz, pensando que
quem  poderia  estar  ali  era  Aline,  sua ex-namorada. Ele não queria ver
aquela menina. Desde aquele dia, o do teste, Vicente não ficava com alguém.
Resolveu ir embora. Quando se virou, ele viu.
  
- Oi! Lembra de mim?, a menina perguntou se ele se lembrava dela.
- O...  O...  Oi!  Tudo  bem  com  você,  Adriana?,  pergunta Vicente,  sem
  acreditar como era linda.
- Para quem é?
- Para você, gostou?
- Gostei sim. Adorei! É linda!
- Você é linda! Quer ir para algum lugar conversar?
- Quero sim.

Saíram  do  parque.  Até  hoje  vivem  felizes, vivendo um amor com a mesma
intensidade. Se completam. Vicente encontrou a paz que tanto procurava.

De  trás  de  uma  moita aparece Aline, que estava esperando Vicente, com a
rosa  que  ela mesmo pediu para ele comprar. Agora ela aprendia um pouco na
pele  sobre os ensinamentos que o próprio Vicente ensinou uma vez para ela,
sobre expectativas furadas.

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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SEMENTES BÉLICAS

- Não!!! Acaso achas que com uma só semente terás uma colheita?! Pensas que
isto  é  solução para alguma coisa?! Então aplaca esta tua ira e recupera a
calma.  Deste  jeito  não  vamos conseguir nada. É exatamente isso que eles
estão  querendo.  Eles são mais fortes, mais ricos. E estão mais preparados
agora.  Devemos  nos  preparar também. Se nos precipitarmos acabaremos como
sua  mãe e seu irmão. - ponderou o homem contendo o rapaz que completamente
transtornado procurava um meio para vingar a tragédia. Ao redor, pessoas em
estado  de  choque  tentavam  localizar suas casas, ou o que restara delas.
Sobre  uma  pilha de escombros, uma mulher tentava desesperadamente remover
com  as  próprias  mãos os destroços de sua casa, provavelmente em busca de
seus filhos soterrados. O garoto retrucou:

- Mas pai! Isto não é justo! Não está certo! Isso não pode ficar assim.Olha
em  volta.  Olha esse caos todo em nossa rua. Não foi só a mãe e o mano que
morreram.  Foram  nossos  vizinhos, foram nossos amigos. Foi a nossa nação,
nossa    gente,   nosso  povo...  Eles  estão  despedaçados.  Despedaçados,
entendeu?!!  -  replicou o jovem com visível desespero brotando em forma de
lágrimas em seus olhos. Introvertendo sua dor, prosseguiu mais calmamente:

-Eu não entendo como podes manter a calma em meio a esse mar de destruição.
Não  temos  mais  casa,  não temos mais nada! NADA!!! Que me importa morrer
agora? De que adianta viver com esta sensação de impotência, de derrota, de
humilhação. Pai, eu não nasci pra ser escravo. Muito menos para ser escravo
dessa  dor.  Eu não adimito ser subjugado por essa gente covarde que vem de
tão longe para ceifar nossas famílias e destruir nossas vidas.

- Eu sei  meu  filho,  eu  sei. Mas isto é uma guerra que vai muito além da
nossa  compreensão. Como você mesmo disse, nós não somos os únicos a sofrer
com  isso.  Seria  muito  melhor se isso jamais tivesse começado. Mas nosso
papel agora é nos resignarmos a reconstruir nossas vidas.

- Não! Eu não posso. Eu não consigo aceitar isso. E não quero aceitar! Como
poderia  eu aceitar que nossas vidas, nosso esforço, tudo que construímos e
conquistamos  com  suor  fiquem  a  mercê  de  gente  sem escrúpulos? Gente
arrogante.  Eu  nunca  vou  aceitar  isso. - esbravejou o rapaz, procurando
tirar  da  mente as cenas da desgraça para pensar em uma reação. Caminhando
por entre os destroços das casas, continuou:

- Pai. Eu juro que isto não vai ficar assim. Eu sei que o tempo passa e que
as  coisas mudam. E que o que hoje é forte, amanhã pode não ser. Assim como
o  deserto,  que  é  quente  de  dia e frio à noite, as nações também mudam
conforme  a  terra  se  mexe.  E eu não esquecerei por um dia sequer do que
aconteceu  aqui hoje. E cada minuto da minha vida de agora em diante terá o
objetivo  único  de  vingança.  Não  descansarei enquanto não tiver a plena
certeza  de que algo está sendo feito para nos libertar desta dor. Eu juro.
- arrematou em tom profético.

Apesar  do  conteúdo  das palavras do filho, seu pai assentiu positivamente
com  a  cabeça,  imaginando  que  aquela  era  apenas uma forma que o jovem
encontrara  de  aplacar  seu  próprio  sofrimento e que desapareceria com o
passar  do  tempo.  E manteve-se acreditando nisso mesmo quando o rapaz fez
questão de carregar consigo um pedaço de metal que encontrou no chão. Mesmo
chamuscado,  era  possível ver o desenho de uma estrela de 6 pontas ao lado
de  listras  brancas  e  vermelhas  com  um quadrado azul no canto superior
esquerdo.  Provavelmente  parte  de  um  dos mísseis que atingiram o bairro
naquela manhã.

Somente  14 anos mais tarde, quando um terrível atentado abalou Nova York e
o  mundo  é  que  ele  perceberia  o  quanto  tinha  se  enganado  sobre  a
determinação do filho.

*** Obs: o texto acima não expressa a opinião do autor sobre a tragédia que
abalou  os EUA. Eu condeno o terrorismo sob todas as suas formas, e lamento
muito  pelas  milhares  de  vítimas  inocentes  que  perderam suas vidas no
incidente.

Cena da semana
--------------
Obviamente,  a  cena da semana não fica por conta de filme algum. Afinal, o
acontecimento  de Nova York ofuscou qualquer cena que o cinema já produziu.
Depois  da  última  terça,  "Carlos,  o  chacal"  passou  a  ser "Carlos, o
cachorrinho".

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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FIRST TIME

First time I thought about it, I felt sick.
So  many  people trying to convince others about heaven and all that stuff.
People  trying  to  break  others  beliefs  thru  pure and simple faith. No
reason, no science. Just pure pain and physical strength.

But as soon as I took some lithium pills the illness disappeared.
Everything  was back to normal: people destroying the world right before my
eyes,  people tearing their own lives apart right before the crying eyes of
the  kids,  animals  being  hunted down due to the arrogance of some of our
companion.

My  head started spinning again and I turned up the volume of the radio, so
I  could  say  to myself 'hey, everything will be okay, we'll work this out
just  like  we  did  in  the good times', just like she used to do. But the
radio  yelled  at  me  again,  trying  to warn about things that I couldn't
understand.  It  said that our minds were being kinda... y'know, clouded by
someone or something I couldn't hear the name.

I  turn  off  the  God  damn radio, so I can hear the quiet disaster of the
world while I rest for a while. Yes, suddenly I feel so tired. I don't know
if  I  want  to  ever  get up again. Feels like I've been hit. My bones are
crushed.  Everything  about  me  is  wrong.  Every  single  thing around my
bleeding  body  has  a  quiet chemical warning about the impeding doom that
looms about our lives.

I  crawl  on the floor, trying to feel the light of the sun, but there's no
sun  in the red sky. No moon nor stars. Suddenly I realize that the ceiling
of the house is torn apart and I am looking directly to the place where the
sky used to be. Where the stars went to? I think that they went here, right
in my pocket, in this little, shiny and blessed glass of pills.

How  could  I know, but salvation is right here! A whole world of bliss and
delight is right here. In truth, I'm holding it in my hand. It's incredibly
heavy,  it takes a lot of my concentration to take another pill and swallow
it.  I  smell  burnt  hair and flesh all around. At last, the pill burns my
flesh, burns the entire world, and I'm ashes again.

There.

Everything will be okay. Just like we used to do, we worked this out, huh?

Now  get  up, wash your sleepy face and get ready (it feels like I've heard
someone  else saying this). It's a brand new day and the sun is shining out
there.

Oh joy.

V.

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================= O PLUS A MAIS DE HOJE (Marcelo Ferrari) =================
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QUAL É SUA GRAÇA?

A moça era um espelho zen. Devolvia minhas perguntas com outras.

Parti  para  um  beijo  fingido,  ela  se  esquivou.  Aparentemente, não se
relacionava com aparências.

Ficamos calados.

“Santa  Virgem!”  pensei  “Essa  ai não está nada interessada em satisfazer
minhas necessidades doentias.”

Até  hoje  não  sei  bem  porque deu certo, nem se deu certo, mas depois de
algumas semanas, Graça me beijou como ninguém.

Só  uma  mulher  iluminada,  poderia  produzir um beijo daqueles. Na medida
certa, sem derramar.

Graça  não  mendigava  amor,  não  dependia  dele.  Mas  quando  seu  corpo
arrepiava, não se reprimia, pulava no meu colo, roçava-me a nuca, e soltava
um sussurro tão íntimo e profundo que... Ave Maria!!!

Não  reclama.  Se  discordava  de  algo,  se  afastava vagarosamente como o
ponteiro das horas.

Acho que foi isto!

Ou então, aquele apelido ridículo que lhe dei...

Marcelo Ferrari
Do Livro “Entre uma Sabonetada e Outra” de Marcelo Ferrari.
Reprodução Permitida Pelo Autor.

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=================== FALANDO SÉRIO (Diego Schultz Trein) ===================
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SOBRE TERÇA

Não  gosto de ser comum. Mas gosto de ser aceito na sociedade. É mais fácil
aceitarmos  as  coisas  comuns,  por  isso  eu tento ser diferente, mas não
demais.  Hoje  vou  ter que ser comum e escrever sobre o que todos no mundo
estao escrevendo. O atentado aos EUA.

Eu quero falar um pouco do outro lado. Para nós é muito simples generalizar
e  culpar  todos  no Oriente Médio ou sul da Ásia por esses atentados. Isso
nao  é  certo.  Os  terroristas são, em sua maioria, fanáticos, dispostos a
morrer  pela  sua  causa.  Entretanto,  no  Paquistão, Afeganistão e outros
países,  existem pessoas boas. Pessoas que não querem violência, nao querem
o  terror dos atentados ou de uma guerra, pessoas que não estão dispostas a
morrer  por  uma  causa que só traz mortes e tristeza. Eles são diferentes,
muito  diferentes  de  nós: Religião, ideais, objetivos, comportamento. Mas
são  pessoas  que  trabalham  para sustentar a sua familia, se divertem com
seus  filhos,  passeiam com os amigos, fazem coisas que nós fazemos. Vivem.
Assim  como  nós.  Nao é justo queremos dirigir nosso ódio, nossa vingança,
contra essas pessoas, só pelo fato de elas seguirem a mesma religião que os
terroristas.  Ou  pelo  fato  de serem cidadãs do mesmo país. Ou ainda pelo
fato  de elas se vestirem de maneira semelhante, perante nossos olhos. Elas
são  diferentes  de nós, por isso não são aceitas. Elas são "parecidas" com
os terroristas, por isso são hostilizadas.

O  povo que vive nesses países sofre muito. Sofre com a ameaça constante de
ser  bombardeado  e  varrido do mapa por um país "civilizado". Sofre com os
terroristas, que discriminam os que não apoiam sua causa. Sofrem com o medo
diário de bombas e explosões das grupos extremistas. Na Guerra do Golfo, os
EUA mataram milhares de civis inocentes. Me lembro que a todo momento vinha
uma  notícia  que  eles  tinham  errado  o  alvo  e acertado uma escola, um
condomínio, um hospital, derrubaram um avião de passageiros achando que era
um  avião de guerra. Mas a repercussão não era um décimo da repercussão que
teve o atentado em NY. Eu sei que aquilo era uma guerra, que a situação era
diferente.  Mas  não senti a mínima comoção das pessoas ao meu redor com os
civis  mortos  nos  bombardeios  americanos. Não estou querendo defender um
lado  ou  o  outro, estou apenas querendo transmitir uma mensagem: A triste
verdade  é  que  o  pior  é  sempre  enfrentado  pelo povo. Os culpados, os
criminosos,  os terroristas, fogem, se escondem e quem sofre as represálias
é  o  povo. Eu li que estão atirando pedras em mesquitas e sendo hostis com
os  muçulmanos.  Aqui  tem  muitos  muçulmanos.  Quando eu vi um ontem, com
aquelas   roupas  iguais  que  eles  usam  e  aquele  turbante  na  cabeca,
instintivamente  eu  senti  um  pouco de raiva, ódio, alguma coisa ruim. Me
senti  com  vontade de pará-lo e perguntar simplesmente: "Por que?". Ele me
olhou  nos  olhos,  por  poucos  instantes,  mas deu para eu sentir que ele
estava  assustado,  com  medo,  e que não tinha culpa do que aconteceu. Foi
estranho,  mas  bonito.  Alguma coisa mudou dentro de mim, minha indignação
deu lugar a um sentimento de culpa pela minha atitude e uma vontade de sair
gritando  para todo mundo que o povo não tem culpa. Sei que minhas palavras
não  vão  ter em vocês o mesmo efeito que o olhar daquele muçulmano teve em
mim,  mas  estou  escrevendo  apenas  para  tentar  conscientizar  o máximo
possível de pessoas sobre uma coisa: Não podemos generalizar.

Diego Schultz Trein

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  Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com)
  Daniel Wildt (dwildt@oocities.com)
  Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br)
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  Marcelo Ferrari (marceloferrari@ajato.com.br)
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Última atualização em 16 de setembro de 2001
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