TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 01 de outubro de 2001.

                       http://www.tresler.cjb.net                          

Olá! Está é a edição número 24 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Encontros Lingüísticos (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. Poesias (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. O Matrimônio (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Always  someone  (Vincent  Kellers  -  LINHAS  DE  PENSAMENTO  CAÓTICO &
   PARALELO)
6. As vezes flores não bastam (Regina Azevedo - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. Livros Do Mal convida para (Livros do Mal - UTILIDADE PÚBLICA!)
8. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Cara,  sim,  hoje  é segunda-feira. O Tresler atrasou. Eu dormi ontem o dia
inteiro.  Minha  namorada  viajou para São Paulo, para fazer um curso, e eu
fiquei  me drogando para tentar acabar com uma gripe maldita que me atacou.
Meus  pais acham que o motivo de tanto sono é do remédio que estou tomando.
Disseram  que  um  parente  nosso  teve  efeitos colaterais e que a pressão
baixou  e  tal.  Enfim,  parecia  um  bebê, acordava, comia alguma coisa, e
dormia novamente. Agora estou bem, então vamos lá que eu quero almoçar!

Hoje  temos  o  lançamento  de dois livros aqui em Porto Alegre, no Garagem
Hermética.  Os  livros  estarão  custando  10  pilas  amanhã  e  depois nas
livrarias,  12  pilas.  Leia  mais  a  respeito no item "7" do Tresler, com
informações sobre os autores e sobre o projeto envolvendo os livros.

Rapidinhas da semana e o que vem por aí!
- Comprei uma gaita de boca! Agora tenho que aprender a tocar!
- Completo hoje 6 meses de namoro. Beijo amor!
- Comprei um "bag" para minha guitarra!
- Comprei um cabo extra e novas palhetas, para o primeiro ensaio da Slaves,
a banda formada com os colunistas do tresler e mais um camarada (ah, slaves
é nome provisório, ou não)! Dia 6 de outubro é quando nasce a criança.

Músicas da semana!
U2 - Desire
Charlie Brown Jr. - Gimme O Anel

Álbuns da Semana!
Charlie Brown Jr. - Transpiração Continua Prolongada
Led Zeppelin - Remasters

Riff da semana!
The Wonders - That Thing You Do (Sound Track)
Bom,  essa tablatura foi a primeira tablatura que eu montei. Achei legal. É
o  solinho que vem depois de "and i just can't take it anymore...", aí mete
um Si (B) sete vezes e sai torando o solinho.
e |-----------------------------------------------------------------|
B |--5--5--2--5--7b9--5--2--0--5--5--2--5--7b9--5--2--0-------------|
G |-----------------------------------------------------------------|
D |-----------------------------------------------------------------|
A |-----------------------------------------------------------------|
E |-----------------------------------------------------------------|

e |-----------------------------------------------------------------|
B |--5--7--9--7--5--7--5--7--9--7--5--7--5--------------------------|
G |-----------------------------------------------------------------|
D |-----------------------------------------------------------------|
A |-----------------------------------------------------------------|
E |-----------------------------------------------------------------|

e |-----------------------------------------------------------------|
B |--5--7--9--7--5--2--0--4--2--0-----------------------------------|
G |--------------------------------0--------------------------------|
D |-----------------------------------------------------------------|
A |-----------------------------------------------------------------|
E |-----------------------------------------------------------------|

E  no  Tresler de hoje (éíssáí), papo com portugueses (bleah), umas poesias
(uhhu),  lançamentos da livros do mal (iêba), flores que não são o bastante
(uau), mais flores em matrimônios e músicas românticas (?).

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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ENCONTROS LINGÜÍSTICOS 

É  muito  interessante  notar  como  as pessoas que falam a mesma língua se
encontram  e  se  entendem  pelo mundo todo. Vocês devem estar pensando "se
falam  a mesma língua, é óbvio que se entendem!" Não, mas não é só isso que
quero  dizer com "se entendem". É interessante como o simples fato de ouvir
alguém  falar  a  língua  materna  da  gente, já gera uma certa sensação de
familiaridade  com aquela pessoa, como se ela fosse muito próxima da gente.
E, na verdade, tudo que sabemos, a princípio, é que falamos a mesma língua.

Hoje, no metrô, sentei por acaso do lado de três portugueses. Por acaso por
que  não  sabia que eram portugueses antes de sentar. Preconceitos à parte,
gosto muito do sotaque deles.

Como  faço  todas  as  manhãs, peguei meu livro para ler. Casualmente agora
estou  lendo  um  livro  em português. Poderia ser em inglês e, nesse caso,
eles  nunca ficariam sabendo que "eu estava a entendê-los" como eles mesmos
dizem.  Tentei  ler  o  meu  livro  como sempre faço, mas como eles falavam
português isso perturbava um pouco a minha concentração, fazendo com que eu
não  soubesse  nem o que estava lendo nem sobre o que eles estavam falando.
Eles me pareceram simpáticos e alegres. Claro, falam a minha língua!

Então  notei  que o senhor que estava sentado do meu lado, lá pelas tantas,
resolveu  espichar  o olho para o meu livro. Por alguns minutos, vi que ele
lia  o  meu  livro  enquanto  eu fingia que estava lendo e prestava atenção
neles.

Convencido  do  que  lia,  ele  falou  para  os  outros  em  voz  baixa. "É
português..."  Engraçado  como  nessas horas, acostumados que estamos a não
sermos  entendidos  pela  maioria,  a  gente  não  se  dá conta que vai ser
entendido  e  sempre fala alto demais. Já me aconteceu várias vezes, ou com
pessoas  que  estavam comigo, na presença de outros brasileiros ou mesmo de
portugueses,   de  eu  ter  que  dizer:  "Fala  baixo  por  que  esses  nos
entendem..." E é bem assim mesmo. A gente se acostuma a não ser entendido e
quando  tem alguém por perto que entende, a gente até esquece desse pequeno
detalhe.

Mas voltando ao metrô, alertando os outros com sua declaração sobre a minha
língua  materna, ele alertou a mim também. "Português do Brasil." Eu disse.
E foi o suficiente para estabelecer um pequeno diálogo até a parada:

- Ah, Brasil?! Então estavas a nos entender...

- É, o sotaque é diferente, mas dá para entender sim.

- Se não desse aí é que seria ruim pois é a mesma língua.

E não deu tempo para muito mais do que isso porque chegamos na parada.

E  aí eu fico pensando por que não temos esse tipo de coisa no Brasil. Essa
mistura cultural tão interessante onde, num dia de trabalho comum no metrô,
é  possível  ouvir  diversas  línguas diferentes inclusive a minha. A minha
língua  materna...  Português!  Fico  pensando  também  por  que português.
Poderia  ser  qualquer  outra  língua...  E  então  eu escutaria as pessoas
falando português e acharia estranho ou simplesmente não daria a menor bola
por não entender nada...

Mas  é  interessante  como  isso  funciona  aqui.  Em qualquer lugar que se
esteja,  ao  se  ouvir alguém falando português, já se estabelece uma certa
conexão.  Na  maioria  das vezes, ambos os lados já se interessam em saber,
pelo  menos,  de  onde  o  outro  é,  o  que  faz  longe de casa e quais as
impressões  do  país  e  seus habitantes. Tudo isso apenas porque falamos a
mesma  língua.  No  Brasil, eu passo todo o dia por centenas ou milhares de
pessoas  (boa  essa, quantas pessoas em média será que a gente vê por dia?)
que falam português e jamais penso em estabelecer qualquer contato com elas
só  porque  falam  a  mesma  língua que eu! É óbvio que falam e isso não as
torna  mais  especiais quando estamos em casa. Mas quando estamos longe, só
isso já pode nos fazer "sentir em casa" um pouco.

Enfim,  provavelmente  por ser a língua esse importantíssimo instrumento de
comunicação, é que ela liga e aproxima pessoas pelo mundo afora.

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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POESIAS 

Aqui vão algumas poesias para vocês. 

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Beautiful Girl

beautiful  girl,  stay  with  me  til the end of my days, cause you make me
happy, you make my day

beautiful girl  treat  me  right,  cause  you know how good we can be under
sheets

beautiful girl, close your eyes and see my love passing by

beautiful girl, where are you?

now, everything seems to be so dark

i think the night has just come in

it's cold in here, where are you beautiful girl?

oh no, please come back beautiful girl!

[... silence ...]

oh yes, it's just a dream!

-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 

Encontros (é a letra de uma música)

Mal posso esperar
Pelo nosso próximo encontro 
Fico esperando meu relógio despertar
Para sonhar novamente contigo

A paz prevalece quando nos vemos
Sinto um bem enorme 
Um que de melhores momentos
Sem me preocupar com comparações

Pois teu amor é incomparável
Sublime e incontestável
Forma de amor
Simples e eterna

Equanto durar
Não quero pensar
Em nada que possa 
Me distanciar 
Do teu amor 

-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 

The Wildt Blues (é a letra de uma música)

eu só quero te ver e dizer que nada brilha sem você
quero te beijar, declamar meu amor
que veste minha vida 
conta minha história

agora é com você 
quero dizer o que penso 
o que te digo eu falo e sinto
não sei falar sobre nada que me leve de você

histórias sem fim fazem pensar no nosso início
que no meio do nada fez aparecer amor
que nasceu de forma simples

agora aproveita o que temos
e deixa tuas inseguranças de lado
pensando apenas no bem que a gente se faz

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Pensamento (em homenagem aos 6 meses)

pensando em ti
em como tudo isso foi acontecer
sei que vou continuar imaginando 
teus proximos passos
e ficarei esperando pelo proximo ônibus

para estar ao teu lado
o mais breve possível
e te dizer que te amo
olhando nos teus olhos 

e segurando tua mão com firmeza
para que saibas 
que nunca irei te deixar
que nunca irei te desapontar
que nunca te deixarei na mão

pois danço com a vida 
vendo felicidade aos infelizes
saúde aos enfermos 
e vida aos mortos
alegro a juventude 
acalmo os idosos

sou apenas um bom rapaz
que quer te amar
e sempre te fazer feliz
te dizendo palavras ternas
e cheias de amor
afirmando o quanto te amo
e o quanto te quero perto de mim

pois o teu amor me ilumina
me faz ver ao longe
prever o futuro junto de ti

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Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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O MATRIMÔNIO

Esta  manhã,  contrariando minha tendência natural, acordei espontaneamente
muito cedo. Efeito colateral de excesso de champanhe. Se é que se pode usar
a  palavra  excesso  quando  se trata de tão nobre bebida. Tive dificuldade
para  lembrar  de alguns momentos, o que pensei ser uma qualidade da bebida
fina,  afinal  este pode ser um desejo comum entre os abastados: esquecer a
noite  anterior. Mas aquele sabor estrangeiro foi apenas um dos encantos da
noite  de  gala  no  Leopoldina  Juvenil. Antes que se possa confundir este
texto  com  alguma reportagem da Caras, permitam-me citar outro atrativo da
festa:    o  "exuberante"  penteado  da  primeira  dama  de  Porto  Alegre,
cuidadosamente trabalhado para parecer um chapéu de aba larga.

A  ocasião era um matrimônio da eminente filha do vice-presidente de grande
banco  brasileiro  com  um  amigo  e  colega de formatura. Ousarei seguir a
"linha  Gasparoto"  para dizer que o vestido da noiva, confeccionado por um
renomado  estilista de São Paulo, enaltecia sua barriguinha de gestante, já
um  tanto  saliente.  O  padre  veio  do centro do país exclusivamente para
celebrar  a  união,  que  ocorreu  no mesmo ambiente da festa que teve todo
requinte que a alta sociedade da capital gaúcha exige.

Quanto  a  mim, literalmente um peixe fora d’água naquele luxuoso ambiente,
tratei  de  buscar  entre  minhas  limitadas  qualidades aquela que mais me
ajudaria  no  momento em questão. Felizmente, apresentou-se insolenemente a
irreverência  para lidar com o problema. Sim. Somente ela seria capaz de me
trazer  diversão  naqueles  momentos.  E  foi  ela quem, habilmente, me fez
cumprimentar o prefeito com a mão esquerda, pois a direita segurava o prato
recém abastecido com razoável fartura no buffet. E também foi ela a culpada
de  eu  ter  me  aproveitado de um descuido do garçom para conquistar a sua
simpatia e garantir champanhe gelada em abundância até o final da festa.

Eis  que,  antes  de aberto o buffet - que se encontrava em outro ambiente,
protegido  de  nossos cobiçosos olhares - para apreensão minha e dos amigos
que    partilhavam  a  mesa,  foi  servida  uma  entrada  vegetal  composta
basicamente  de flores. Sim, flores. Espantado, rebusquei uma lembrança dos
tempos  de  criança,  quando costumava ir para o interior com o meu tio. Lá
havia  uma  ovelha  que  adorava comer flores, especialmente as margaridas.
Além  disso,  seu pelego após tosquiado assemelhava-se muito com alguns dos
penteados  femininos  da  festa.  Enfim,  antes  que  eu arrancasse algumas
pétalas  das rosas brancas que decoravam a mesa para misturar em meu prato,
deixei-me  ceder  a  um  ousado impulso de curiosidade. Comi duas flores de
cores  diferentes,  sendo  seguido  por  outros intrépidos desbravadores do
paladar  grã-fino. O que posso dizer disso é que desaconselho em absoluto a
satisfação da curiosidade.

É  claro que durante toda a festa a criatividade se manifestava em forma de
piadas  circunstanciais  que faziam a mesa toda gargalhar, atraindo olhares
carregados de desprezível censura.

Bom,  se  a  Célia  Ribeiro porventura passar os olhos sobre esta coluna eu
corro  o  risco  de ser responsabilizado criminalmente, pois ela certamente
terá alguns chiliques. Ou "piripaques", para melhor adaptar minha linguagem
aos meus atos.

Sobre  o  noivo, pareceu-me feliz, embora um tanto distante dos seus amigos
menos  afortunados,  por  assim  dizer.  Para  que isto não soe como alguma
espécie  de  orgulho  ferido  ou  algo  do gênero, acresentarei que sua mãe
manifestou  explicitamente preocupação em relação a isso, dizendo temer que
ele  se  deixe envolver pelas ardilosas armadilhas da luxúria. Nestas horas
eu agradeço a Deus por poder contar com meu próprio conceito de felicidade,
que descarta quaisquer definições prévias criadas por outrem.

Apesar de tudo, diverti-me muito naquele ambiente, com a grande vantagem de
não  escutar  música  sertaneja,  pagode ou o "Bonde do Tigrão". Realmente,
tudo  tem  seu preço. Mas tendo que optar entre narizes empinados com prato
de  flores,  e  a  completa  vulgarização  social e cultural, eu fico com a
primeira. Afinal, o "qué dançá, qué dançá..." é ainda muito mais difícil de
engolir que uma floricultura inteira.

Felicidades ao jovem casal e a todos vocês.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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ALWAYS SOMEONE

Oi!

Ouçam No use for a name e sejam felizes.

Lyrics for "Always carrie", by No use for a name

No use for a name - Always carrie

When I'm awake at night, sometimes I picture you 
And hear those words again you said, "I'm leaving" 
I couldn't hold you down and not expect that you would drown 
I'm a clown, but no one's laughing 

Maybe you're from another planet, one I want to invade 
It's all been said (it's all been said) 
To me you're dead (to me you're dead) 
And it's time you turn your page 

I'm not sure what it was that led us down a dead-end road 
Some of those signs can be quite deceiving 
I knew your favorite things, didn't know that one of them was someone else
I'm done believing 

Someday there will be understanding 
Everyday is a tragedy 
It's me you blame (it's me you blame) 
But it's the shame (but it's the shame) 
That you will always carrie, that wou will always carrie 
That you will always carrie


Vincent

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================= O PLUS A MAIS DE HOJE (Regina Azevedo) ==================
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AS VEZES FLORES NÃO BASTAM

Lembranças.  Um  primeiro  sorriso, anunciando a aproximação. Podia lembrar
como  se  fosse  hoje,  a  sensação  que  teve  ao  olhar aquele rosto. Não
acreditava  no  que via, que existisse um sorriso como aquele: por isso foi
conferir rápido, com medo de que jamais a visse.

Laura.  Aquele nome fazia parte de sua vida, parte de si, por todo o tempo.
Já  não  sabia  mais  viver sem ela. Lembrou de quando convidou-a para sair
pela  primeira  vez:  o  nervosismo, as flores murchas no banco traseiro do
carro.  Mas  ele  não  precisava  de  flores, nem de um lugar perfeito e um
discurso pronto: só precisa daquele sorriso, para ele.

Laura  e  Pedro, inseparáveis. Começou a surgir a dependência, um dia longe
dela  o desnorteava. Os amigos já não conseguiam imaginar um sem o outro, e
quando  um  deles  aparecia  sozinho,  podia  ter certeza que a noite seria
triste.  Pedro  sabia  que  nem  tudo era perfeito: ás vezes ele errava, ás
vezes  ela  também se perdia. Mas não conseguia mais, já havia planejado um
futuro  ao  seu  lado.  Durante  algum  tempo, juntou dinheiro em segredo e
comprou  um apartamento. Esperava ansiosamente para contar-lhe, mas guardou
para  a  mesma  data  em que se conheceram: queria que fosse especial. Esse
seria o melhor aniversário deles, e com ansiedade, remexou no bolso o molho
de chaves.

Tomou  cuidado em comprar flores: estavam lindas, em perfeito estado, dessa
vez  não  erraria  em  nada.  Tocou  a  campainha, ansioso, e esperou Laura
descer. Mas ela demorava,e ele cada vez mais ansioso.

Depois  de  alguns  minutos,  ela apareceu. Curiosamente não acendeu a luz.
Estava com os olhos no chão, calada.

Pedro  não acredita no que vê quando ela o olha: seu rosto machucado, cheio
de  escoriações  e  hematomas.  Mudo, paralisado pelo choque, não conseguiu
proferir uma palavra. E é ela quem diz:

-Não queria fazer isso com você...

Pedro  quis  falar,  mas  não  consegue.  Ainda perplexo com tudo, apenas a
observa com os olhos arregalados.

-Acabou,  Pedro.  Não tenho como esconder mais de você. Mas não se preocupe
comigo, eu me cuido.

Pedro começa a se sentir tonto, e começa a tremer: as flores caem no chão.

-Pode  me  xingar,  me  bater,  me  odiar  pro resto da sua vida, Pedro. Eu
mereço...

A custo, um murmúrio sai da boca dele:

-Por que.... por que???

Laura não o olha. Ficam por segundos em completo silêncio, até que ela toma
coragem e diz:

-Pedro, você é bom demais pra mim...e eu não mereço.

Ele começa a sentir toda sua perplexidade virar raiva. Um ódio tão intenso,
e fala inesperadamente:

-Mas  é  disso  que  você  gosta  então? Você prefere ficar com um marginal
qualquer e se destruir? Você ficou louca? Eu não te amei o suficiente?

Laura se afasta. Olha as flores no chão. Antes de fechar a porta, diz:

-Pedro,  ás  vezes  flores não bastam. Cansei de ser idolatrada, eu não sou
tudo  isso.  Faça  um favor a si mesmo: me esqueça. Esse é o caminho que eu
escolhi, porque me faz me sentir mais viva. E não morta, como essas flores.

Pedro ficou horas sentado na rua, completamente mudo e sem reação. Devagar,
começou  a  chorar,  pensando em como pudera ser traído dessa forma. A cada
lágrima que caía, parecia que a dor ia aumentando, e o enlouquecendo mais.

........

No  dia  seguinte, o amante de Laura chega completamente bêbado no endereço
dela. Não entende porque tantas pessoas se aglomeram na calçada.

Ao  se  aproximar,  apenas  distinguem  um  rosto  desfigurado  e  um carro
ensaguentado. Estranhou tantas pétalas de rosa no chão.

Riu  sozinho:  "estou bêbado". Pensou também que teria que beber mais e não
tinha  dinheiro.  "Hoje  aquela vadia tem que me dar dinheiro, senão apanha
ainda mais". Foi a custo que ele conseguiu subir as escadas, para encontrar
Laura, que o esperava apaixonadamente.

Regina Azevedo

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=================== UTILIDADE PÚBLICA (Livros do Mal) =====================
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LIVROS DO MAL convida para

Coquetel  de  Lançamento dos livros de contos "Dentes Guardados", de Daniel
Galera e "Ovelhas que Voam se Perdem no Céu", de Daniel Pellizzari

Dia 1 de Outubro, 19h30
no Garagem Hermética - Rua Barros Cassal, 386, Porto Alegre

Site: http://www.livrosdomal.org
E-mail: editora@livrosdomal.org
Telefone: (51) 9128.6101 / 3248.4637 (Daniel Galera)

LIVROS  DO MAL é um projeto editorial independente de Daniel Galera, Daniel
Pellizzari  e  Guilherme  Pilla,  cujo  objetivo é publicar livros de novos
autores   gaúchos,  buscando  uma  renovação  na  cena  literária  local  e
brasileira.  Esta  meta  surge  da  certeza  de  que há muita literatura de
qualidade  sendo produzida de forma independente, sobretudo por autores que
já exploram meios eletrônicos para divulgar seu trabalho.

Na  estréia  da  editora,  serão  lançados  dois  livros de contos: "Dentes
Guardados",  de  Daniel  Galera,  e "Ovelhas que Voam se Perdem no Céu", de
Daniel  Pellizzari.  O coquetel de lançamento ocorrerá no dia 1 de outubro,
às 19h30, no Garagem Hermética (Rua Barros Cassal, 386, Porto Alegre).

A  publicação  dos  dois livros recebeu apoio do FUMPROARTE e da Secretaria
Municipal de Cultura de Porto Alegre, em projeto aprovado em primeiro lugar
geral no edital 2001/1 do FUMPROARTE, entre mais de uma centena de projetos
nas áreas de literatura, música, teatro, dança, cinema e outras.

DANIEL GALERA nasceu em São Paulo, em 1979, mas morou a maior parte da vida
em  Porto  Alegre. Escreve e publica na internet desde 1996. É colunista do
e-zine  Cardosonline  e um dos idealizadores da Livros do Mal. Já trabalhou
como  produtor  de  sites e hoje é redator em um guia cultural. Tem um site
pessoal  no  endereço http://dentesguardados.cjb.net , com uma coletânea de
contos  e  crônicas de sua autoria. "Dentes Guardados", seu primeiro livro,
reúne  catorze  contos,  a  maioria  deles  publicados  em sites e fanzines
eletrônicos  no período de 1997-2001. São histórias que registram instantes
de  desconforto  e  pequenas  epifanias  por trás de situações cotidianas e
relacionamentos íntimos.

DANIEL  PELLIZZARI  nasceu  em  Manaus, em 1974, e dez anos depois se mudou
para  Porto  Alegre.  Escreve  ficção desde criança, e foi um dos primeiros
autores  brasileiros  a  explorar  a  internet  como  meio  de divulgação e
laboratório    literário.  Vários  de  seus  resíduos  digitais  podem  ser
encontrados  na  rede,  nos lugares mais improváveis. É também tradutor, um
dos  colunistas  do e-zine Cardosonline e um dos idealizadores da Livros do
Mal.  Seu site pessoal é http://mojolandia.cjb.net. Trabalha com tecnologia
de  informação  e sistemas de inteligência artificial. "Ovelhas que Voam se
Perdem no Céu" é sua estréia em livro. Os dezessete contos exploram limites
psicológicos  e  a  sensibilidade do indivíduo contemporâneo, com freqüente
experimentalismo formal.

Os  dois  livros,  bem  como  outros  futuros lançamentos da Livros do Mal,
estarão à venda em pequenas livrarias culturais de Porto Alegre e de outras
cidades  em  todo o Brasil, mas também poderão ser adquiridos pelo correio.
Uma lista completa de pontos de venda, bem como instruções para compra pelo
correio,  estarão  disponíveis  no  site  da  Livros  do  Mal,  no endereço
http://www.livrosdomal.org  .  O  site  oferece ainda informações completas
sobre  o  projeto  Livros  do  Mal, seus integrantes, catálogo de títulos e
mais.

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A  literatura  é o essencial ou não é nada. O Mal - uma forma penetrante do
Mal  -  de  que ela é a expressão tem para nós, creio eu, o valor soberano.
Mas esta concepção não impõe a ausência de moral, exige uma 'hipermoral'. A
literatura é comunicação. A comunicação impõe a lealdade: a moral rigorosa,
neste aspecto, é dada a partir de cumplicidades no conhecimento do Mal, que
estabelecem a comunicação intensa. A literatura não é inocente, e, culpada,
ela enfim deveria se confessar como tal.
                                     Georges Bataille, A Literatura e o Mal

==  ==  ==  ==  ==  ==  ==  ==   ==  ==  ==  ==  ==  ==  ==  ==  ==  ==  == 

A  idéia da Livros do Mal surgiu quando estávamos executando para terceiros
um  trabalho  não-remunerado  na  área  editorial.  Há alguns anos vínhamos
escrevendo    literatura,   fazendo   fanzines   eletrônicos  e  impressos,
organizando  festas,  produzindo  material  gráfico  para  nossos  projetos
pessoais e, no caso do Pilla, desenvolvendo trabalhos nas áreas de cinema e
ilustração.  Numa  madrugada,  tivemos  o  insight:  fazer  a nossa própria
editora, nossa marca e nosso grupo de iniciativa independente. Levar nossos
próprios  contos,  e  futuramente a literatura de outros escritores, para o
universo  da publicação impressa, para as pequenas livrarias e estantes das
pessoas.

Então  sentamos  na  frente  dos  nossos computadores, nos reunimos algumas
vezes,  repassando  pilhas  de  desenhos do Pilla, revisando e selecionando
nossos  textos,  até chegarmos a um projeto: Livros do Mal. Não uma editora
no  sentido formal da palavra, e sim um esforço de publicação independente,
apoiado  na  simples  vontade  de  fazer  um  trabalho legal, fazer livros,
divulgar  nossa  literatura  e  divulgar  a literatura de outros escritores
desconhecidos  cujo  trabalho admiramos. A Livros do Mal é uma cooperativa:
talvez  seja  esse o termo mais adequado. Nela investimos nosso dinheiro, e
nosso  retorno deve ser o prazer de ver livros de nossa autoria impressos e
divulgados, e de poder publicar ainda outros autores. E não queremos apenas
editar  livros:  queremos dar uma socializada no que a produção literária e
artística  deste  país  tem  de mais legal, debater, compartilhar, discutir
rumos, alcançar o máximo número de pessoas que for possível.

Para  iniciar a idéia, partimos para a publicação de dois livros de contos:
"Dentes  Guardados",  de  Daniel  Galera,  e "Ovelhas que Voam se Perdem no
Céu", de Daniel Pellizzari, ambos com capas ilustradas por Guilherme Pilla.
Em  busca  de  apoio,  inscrevemos  um  projeto  no FUMPROARTE, programa de
financiamento  cultural  da  Prefeitura de Porto Alegre. Com elogios a seus
atributos  formais e artísticos, o projeto Livros do Mal foi selecionado em
primeiro lugar na classificação geral do edital 2001/1 do Fumproarte, entre
mais  de  uma  centena de projetos nas áreas de literatura, música, teatro,
dança, cinema e outras.

Estes  dois  livros marcam o momento em que nossa idéia entusiasmada deixou
de  ser  mera  idéia  e  passou a ser um fato. O coquetel de lançamento dos
livros e da estréia da Livros do Mal acontece no dia 1 de outubro, a partir
das  19h30,  no Garagem Hermética (Barros Cassal, 386), em Porto Alegre. Os
livros estarão à venda em pequenas livrarias culturais de Porto Alegre e de
cidades em vários estados do Brasil. O nosso site traz uma lista dos pontos
de venda e informações sobre compra pelo correio.

E  não  queremos  parar  por  aqui.  Queremos  dar espaço para a produção e
discussão  do  novo  na  literatura  e, posteriormente, nas artes em geral.
Temos  planos  para  o ano que vem. Apoiar arte que traga visões novas, que
ultrapassem  o  exercício  estético vazio, o lugar-comum da classe média ou
deslumbramento  com  o  mundo pop. Pensamos em lançar títulos com propostas
mais  ousadas,  menos  tradicionais,  e  apresentar a um público mais amplo
autores    iniciantes   e  extremamente  talentosos  que  ainda  produzindo
literatura  por  aí,  alguns  deles  participantes dos meios eletrônicos de
laboratório e divulgação.

Leiam o novo. É trimmmassa.

Galera, Mojo e Guigui.

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Última atualização em 26 de novembro de 2001
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