Que dia é hoje? Domingo, 07 de outubro de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 25 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. Problemas? Sim por favor! (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. A noite de formatura (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. A piece of peace (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Pedacinhos (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. Escrever é se expor (Diego Schultz Trein - O PLUS A MAIS DE HOJE) 7. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== Bafo de bira é o nome do local. Um ônibus dos Acústicos e Valvulados na porta. Vamos lá. Quem nos atende é um cara por assim dizer estiloso, com umas suíças e um cabelo meio que por lavar. Despreocupado e levando a vida numa boa. Nos mostra o caminho do estúdio. Começa o primeiro ensaio da Slaves. Toquei com uma caixa da Fender... aquilo mudou a minha vida por assim dizer. O primeiro ensaio foi como um primeiro ensaio, ou tentando fazer uma comparação bem tosca, como a primeira vez no sexo, ou seja, entrando na hora errada, parando quando não tem que parar, gritando quando é o solo da música, ficando em silêncio quando é hora de gritar, enfim, foi bem legal. As músicas que tocamos ou em alguns casos, tentamos tocar: - 20 e poucos anos (versão Raimundos) - Do you wanna dance (versão Ramones) - Have you ever seen de rain (Creedence) - Polly (Nirvana, versão Nevermind) - When i come around (Green Day) - American Jesus (Bad Religion) -> a melhor música do ensaio - That thing you do (The Wonders) - Keep on rocking in the free world (neil young) - A Walk (Bad Religion) - Que país é esse (Legião Urbana) - E Porque não? (Bidê ou Balde) Foi bem legal, duas horas tocando sem preocupação nenhuma. Para quem estava dentro de um estúdio pela primeira vez (meu caso) e fazendo parte de uma banda pela primeira vez (me again!), olha, foi muito bom. Estou esperando ansioso pelo próximo ensaio! Já começamos o processo de seleção de novas músicas! Músicas da semana! Bad Religion - American Jesus (Recipe For Hate) Bad Religion - Anesthesia (All Ages) Álbuns da Semana! U2 - Pop Bad Religion - All Ages Riff da semana! Green Day - Waiting (Warning) E|-10/7----7-8-7-----10/7-----7-8-7----7-------7-8-7-------------| B|------10-------10-------10--------10---8--10-------10-10b---8--| G|----------------------------------------------------------9----| D|---------------------------------------------------------------| A|---------------------------------------------------------------| E|---------------------------------------------------------------| E no tresler de hoje, tem gente procurando problemas, outras matando para não morrer, tem outros procurando exposição não ao sol, mas ao público, poesias e pedacinhos de texto (leitura obrigatória). Ah, hoje os EUA começaram a bombardear os carinhas lá no Afeganistão. Não comento nada. A ironia é que depois de cada bomba/míssil lançado, vem um avião e larga alimento sobre o local atingido. Daniel Wildt, hoje é considerado um projeto de guitarrista, mas acha que um dia chega lá. =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== PROBLEMAS? SIM POR FAVOR! Futuro... Futuro é aquilo que está por acontecer, aquilo que não aconteceu ainda e, sobretudo, aquilo que não é previsível sobre um temo da nossa vida que ainda está por vir... ou não. Eu costumava pensar que o futuro é perfeito. Sim. Eu costumava pensar que o dia em que terminasse o colégio, o dia em que eu me formasse, o dia em que eu viesse morar na Europa tudo ia ser melhor, tudo ia ser perfeito e meus problemas teriam se acabado. Mas aos poucos fui descobrindo que nada é perfeito e que a vida é uma sucessão de momentos presentes que devem ser aproveitados da melhor forma possível e não vistos como uma preparação para um futuro perfeito, pois este é inatingível, e mais, inexistente. Felicidade é um estado de espírito, tenho aprendido. O dia em que tudo for perfeito a vida acaba porque com a chegada da perfeição, creio eu, acabam-se os problemas, as buscas, os objetivos... os sonhos! Uma vez assisti a uma palestra onde foi dito que "a vida é uma sucessão de problemas". Nossa, isso me abalou profundamente, me assustou e me deixou deprimida com uma grande pergunta: Para que viver então? Para resolver problemas? Exatamente! O dia em que não tivermos mais problemas para resolver, sejam eles simples ou complexos, não teremos mais sonhos, mais objetivos....A monotonia da perfeição tão almejada vai ser tão grande que a busca de novos sonhos, novos "problemas" será inevitável. Sim, porque um sonho não realizado é um problema. É o que move a gente a tomar ações e descobrir coisas no sentido daquele sonho. Deve ser por isso que dizem que logo após a realização de um grande sonho vem um período negro. É o período em que o cérebro, após ter passado a excitação inicial de sonho realizado, está se acostumando com a monotonia da rotina gerada e só vai despertar de novo quando novos planos surgirem, quando novas inquietações houverem a serem resolvidas. Um cérebro parado é um cérebro morto. Precisamos de algum sonho "impossível" para mante-lo sempre em atividade. Como me disse uma vez um grande amigo: "Não se pode ter o grande sonho da vida realizado aos vinte e poucos anos... O que se faz depois então?" Talvez ele tenha razão. Aos vinte e poucos anos realiza-se o primeiro grande sonho. Muitos ainda estão por vir durante esse futuro imperfeito e este presente maravilhoso. Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== A NOITE DE FORMATURA Um ruído na porta da frente chamou a atenção de Antônio. Eram tempos difíceis no seu bairro. O desemprego em alta e as diversas greves da polícia local colocavam os moradores em eterno alerta para o pior: assaltos, assassinatos e tentativas e arrombamento. Logo no primeiro ruído Antônio chamou a atenção de Mariana, e perguntou: - Você ouviu isto? Mariana meio dormindo meio acordada, só resmungou uma resposta negativa para Antônio e voltou a dormir. Antônio não pensou duas vezes e se levantou para ver o que estava acontecendo. Colocou seus chinelos e seu casaco para proteger do frio da noite. Antônio caminhava devagar, procurando nas sombras das janelas algo suspeito. Ele queria chegar até a cozinha, a porta de entrada principal da casa, para olhar pelas janelas e assim ter uma visão completa da rua. A cada passo seu desespero aumentava. Aquele corredor estava maior do que nunca. Finalmente Antônio chega na porta da cozinha, que estava encostada, mas não fechada, e foi abrindo lentamente, até que conseguisse ter uma visão do ambiente. Quando isso aconteceu, avistou dois vultos passando correndo pela janela da cozinha. Correndo para chegar até o telefone celular, que estava mais a mão, Antônio tentou ligar para a polícia, que não pode oferecer ajuda, pois estavam em greve. Ah a omissão de ajuda, como podem fazer isso pensou Antônio, que ligou então para seu vizinho, para saber se ele tinha notado alguma coisa. André também tinha avistado os vultos. Também estava acordado e também já tinha ligado para a polícia, mas não estava conseguindo entrar em contato com Antônio. Algum problema com a central, possivelmente. Começava agora um jogo, para saber o que deveriam fazer. Estes dois poderiam estar armados, poderiam estar drogados, poderiam estar desesperados por dinheiro e sem medo nenhum de morrer. E será que eram apenas dois? Era o terror rondando a vizinhança. Com celulares no ouvido, Antônio e André saíram das casas, com suas armas compradas no ano passado, data da primeira greve da polícia daquela região. André e Antônio tinham seus sinais da época dos campeonatos de truco. Uma linguagem própria, que sempre acharam um pouco inútil, mas agora finalmente tinham encontrado uma utilidade, infelizmente. Abriram as portas das casas, em sincronismo e com muito cuidado. Como André tinha avistado os dois na casa do amigo, ficou na cobertura de Antônio, que começou lentamente a ir para o fundo de sua casa. A casa nos fundos era formada por um jardim rasteiro que impediria os possíveis assaltantes de se esconderem. Se fosse na casa de André teriam problemas, pois o jardim era composto por árvores altas, que poderiam atrapalhar em muito uma ação, ainda mais que era noite com muitas nuvens de chuva, apesar de que naquele momento não estava chovendo. O chão molhado exigia que Antônio caminhasse com uma calma extrema, pois o barulho dos seus passos poderiam chamar a atenção de alguém que estivesse no fundo da casa. Andando pelo corredor lateral, que era usado como passagem do carro, Antônio caminhava mais que lentamente, quando recebeu o sinal de André que disse que não tinha nenhum sinal de gente ali nos fundos. Porém Antônio ao olhar para a porta da garagem, viu que existia alguém se movimentando ali dentro. Tinha alguém andando de um lado para o outro, alguém nervoso, sem saber o que fazer. Em toda esta correria, Mariana se levantou para ir ao banheiro, e notou a ausência do marido. Foi para a cozinha procurar por Antônio, que agora estudava como iria fazer para abordar quem estivesse dentro da garagem. Na cozinha, Mariana não encontrou o marido, mas encontrou o refrigerador e uma sede que apareceu de repente. Ao abrir a porta da geladeira pegou a garrafa de água para se servir e ao levantar a garrafa viu pelo reflexo da luz uma pessoa no fundo da cozinha, encolhida. Como já haviam conversado muito sobre o que fazer em casos extremos, Mariana segue as regras que ela e Antônio definiram e sai da cozinha, fecha a porta e vai correndo para o banheiro, onde tinha um telefone e onde se tinha uma porta com uma tranca especial, que colocaram para casos como este. Mariana se fechou no banheiro e levantou o gancho do telefone. Nada. Nenhum sinal de linha. Como o marido não havia explicado o que fazer neste caso, Mariana começa a gritar por socorro, o que chamou a atenção de Antônio e André no mesmo momento. A garagem estava controlada, qualquer sinal estranho Antônio poderia descarregar o pente da sua 9 milímetros sobre quem saísse dali. Sendo assim, André foi até a casa. Ficou procurando por algum movimento estranho na cozinha, mas nada o chamava a atenção. Abriu a porta da casa lentamente deixando esta apenas encostada. Agora, com a arma em posição de tiro, buscou alvos na escuridão da cozinha, pela janela com o vidro que dava uma visibilidade deformada, mas o bastante para se identificar alguém se movimentando. Deu um chute na porta e entrou na casa buscando alvos e logo ao se virar para o fundo da cozinha, encontrou a mesma pessoa que Mariana tinha encontrado quando foi tomar água. Acendeu a luz da cozinha com uma mão, enquanto a outra mirava o meio da testa da pessoa que se encontrava encostada na parede. André tentou se comunicar: - O que queres!? A pessoa tremia, suava, estava com a cabeça no meio das pernas e as mãos estavam abraçando as pernas encolhidas. Apenas os olhos posicionados atentamente para a arma de André, bem para o buraco da bala, como quem busca advinhar quando o projétil iria sair dali e iria se alojar no meio do seu cérebro. No entanto mesmo estando neste estado, a pessoa levantou um pouco a cabeça e falou: - Quero apenas comida... André não entendendo nada já interrompeu e disse: - O que você tem? Porque está assim? Porque entrou aqui nesta casa!? E o assustado apenas tentou acalmar a arma de André - Estou buscando comida e abrigo para meu filho, senhor. Vi no fundo desta casa alguns papelões e quando passamos para o fundo, vimos que a porta da garagem não estava trancada, o cadeado não estava fechado. Dentro da garagem, encontramos uma caixa de leite. Quando voltei aqui para a rua, trazendo os papelões e para buscar um saco maior, para levar leite e uns cobertores que encontramos no fundo da garagem, vi um homem saindo da casa e indo para os fundos, com uma arma na mão. Me desesperei e entrei na casa, esperando que nada acontecesse com minha mulher, pois estava pronto para o pior. Só que quando uma mulher apareceu aqui, achei que ela estava armada também e por isso me encolhi neste canto, entrei em pânico, nunca fui de fazer o mal senhor, sou uma pessoa que sofre com a vida mas não mato nem roubo para conseguir sustento para minha família... eu... - Encontramos? Só você está aqui na casa? Onde está sua mulher e seu filho? - Minha mulher e meu filho Estão na garagem senhor... Logo após ouvir esta resposta, André perguntou se Antônio tinha ouvido a resposta do homem que estava dentro de sua casa e pediu para o amigo ir então até a garagem então para acalmar a mãe da criança. André gritou então para Mariana, para saber onde ela tinha se escondido: - Mariana! Aqui é André, seu vizinho! Por favor, apareça! Mariana reconheceu a voz do amigo e foi até a cozinha, que estava com as luzes acesas. Assustada, quando viu a arma de André apontando para Josiel, nome do infeliz, entrou em pânico novamente, mas André antes mesmo dela gritar disse Está tudo sobre controle, se acalma! André buscava agora uma resposta de Antônio, que estava nos fundos da casa. A ligação do celular tinha caído. A bateria de André tinha acabado e com todo o alvoroço, ele não havia notado. O som de um tiro foi ouvido e logo outro e depois mais um. André abaixou a arma e neste momento Josiel deixou de abraçar as pernas e tentou se levantar. André falou Fique quieto aí!, mas Josiel não respondeu nada e continuou se levantando. André não teve dúvidas e atirou na parede, logo ao lado da cabeça de Josiel e gritou Não se mexa senão eu te mato seu maldito! Josiel gritou Vão pro inferno e foi em direção a porta, mas André estava encostado na porta. Como Josiel não cooperou, André mirou e falou: - Acho que vamos começar por você. André deu um tiro como prometido, bem no meio da cabeça de Josiel, que caiu no chão, tremeu um pouco e logo trocou sua vida por uma poça de sangue que começou a se formar. Pediu para Mariana Se acalmar e encontrar um carregador de celular. Liga para a polícia!, disse André, que logo depois saiu da casa, foi até a rua olhou para os lados para ver se encontrava alguma coisa de estranho. Viu um carro que estava com a porta aberta, um carro muito velho, e com os faróis apagados. André evitando qualquer fuga com aquilo que nem parecia ser um carro, atirou em uma das rodas e esperou alguém sair do carro. Como não viu nenhum movimento aparente, voltou para a casa e começou a procurar alvos. Gritou pelo nome de Antônio, mas não ouviu uma resposta comum, ouviu um grito com muita dor vindo do fundo da casa. Começou a andar mais rápido, com a arma engatilhada. O dia estava raiando, o que facilitava a visibilidade. Ao chegar nos fundos, André viu primeiro um bebe engatinhando e mais para o lado, Antônio, ainda vivo, tentando se arrastar de volta para casa. Tomou um tiro no joelho direito, e tinha muito sangue no chão. Na garagem, um rastro de sangue levava ao corpo da mulher de Josiel, jogada num canto com uma arma mais ao lado. Uma calibre 38. De volta a casa, onde chamaram uma ambulância e polícia de outra região, descobriram que Josiel guardava no bolso de trás das calças um distintivo de policial. A arma tinha ficado nos fundos da casa, com a mulher de Josiel. E porque toda esta história? Hoje, 20 anos depois, choravam, na formatura da filha fruto de uma noite de terror, que até hoje achava que o pai tinha sofrido um acidente de carro e por isso não tinha a perna direita. Não sabia a verdade sobre sua vida, e talvez nunca venha a descobrir. Daniel Wildt =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== A PIECE OF PEACE Até a edição de hoje eu nunca tinha escrito uma poesia para o Tresler. Pois simplesmente penso que poesias demandam um estado de espírito para escrevê-las. Eis que hoje isto ocorreu, infelizmente. Eu queria ... Uma poção mágica e milagrosa, Da qual todos pudessem beber E passassem a cantar em prosa O lema: viva e deixe viver. Um simples pedaço de paz, Uma simples amizade fraterna, Algo que fosse capaz, De erradicar do mundo a guerra. Alguma droga que não destruisse. Algum remédio que pudesse curar Essa doença maldita e triste Que faz o Homem matar. E que todos quisessem beber Ou que fosse a todos obrigada. Pois a liberdade de escolher, Pelo Homem foi mal empregada. Algo realmente forte e eficaz, E mais marcante que qualquer imagem. E que mudasse de verdade o Homem. E que nele implantasse a paz. Eduardo Seganfredo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== PEDACINHOS --- Anarchy in the UK - Bem, eu o chamei pois você parece estar sozinho e, quem sabe gostaria de conversar. É claro que se eu estiver atrapalhando em alguma coisa, não tem problema, me avisa, não vou ficar chateada, viu?, ela disse. - Sem problema, ele disse. - Pois é, eu acabei de chegar aqui, e acabei ficando sozinha, sem ter com quem conversar, ela disse, enquanto acendia outro cigarro. Ele sorriu, um tanto quanto bisonho. - Você tem namorada?, ela perguntou sem maiores rodeios. - Não. - Ah bom, então não estou te colocando em nenhuma situação constrangedora. Ela sorriu, passou os dedos pelos cabelos e perguntou se ele costumava frequentar aquele lugar. --- Mirror, mirror - Já te falei como eu tenho orgulho de ti?, ela perguntou, de olhos postos em seu café. - Orgulho? E qual seria a causa deste orgulho?, ele perguntou, tentando conter o rubor, e sem olhar para o rosto dela. - Orgulho da tua carreira, das tuas conquistas, do teu desejo de lutar por aquilo que desejas, ela disse, levantando os olhos orientais. Ele olhou por sobre os ombros da sua namorada, olhou em volta, brincou com a sua xícara de café e mexeu-se na cadeira enquanto botava seu cérebro a funcionar furiosamente. O que ela queria realmente dizer? Qual a razão desta conversa? No fundo, ele sabia. - Bem, obrigado pelo elogio, se é que isso pode ser chamado de elogio, ele gaguejou. Ela suspirou, apoiou os cotovelos na mesa e o rosto em suas mãos. Estava ficando tarde demais para tudo, e muito frio. - Olha, eu vou direto ao ponto, ela disse, sem maiores rodeios. --- Happy end - Pare com seus jogos mulher. Eu não sou seu escravo! Em poucos meses, ele perdera dinheiro, poder e os chamados amigos. E agora acabou de perder seus medos. Novas linhas estavam sendo traçadas na areia. --- Vincent Kellers =========================================================================== =============== O PLUS A MAIS DE HOJE (Diego Schultz Trein) =============== =========================================================================== ESCREVER É SE EXPOR Talvez seja esta a explicação. Eu nunca fui muito chegado em escrever assim só pelo prazer de escrever. Agora que estou começando sinto que é preciso se expor muito para escrever. Talvez por isso eu sempre tenha tido dificuldade. Não gosto de me expor. Ou talvez não gostava, agora que estou escrevendo. O fato é que quando penso num tema para escrever, logo me vem à mente a possível reação das pessoas. O que elas vão pensar? Vão concordar comigo? Sei que esse é um pensamento infantil, mas no fundo, consciente ou subconscientemente, todos buscam algum tipo de aprovação na vida. Seja das pessoas em geral, dos pais, amigos, namorada(o) ou de si mesmo. Eu já fui mais dependente da aprovação das pessoas ao meu redor. TIMIDEZ é a palavra. Não olhei no dicionário porque estou longe do Brasil e não trouxe nenhum dicionário, mas para mim uma pessoa tímida é aquela que deixa de fazer alguma coisa por causa da possível reação das pessoas. Dizem que o primeiro caminho para a cura é reconhecer o problema. Acho que estou progredindo. Admiro os escritores. Não só os bons escritores. Admiro a capacidade que eles têm de se expor. Colocar sua mente e seu coração ali, ao alcance de facadas e flechadas. Uma vez li que para ser um bom escritor é preciso primeiro perder todos os medos, principalmente o medo do que os outros podem pensar de você. Perder o medo da exposição não é algo fácil. Acredito que seja um processo lento. Vejam o meu caso: Escolhi um tema não muito polêmico, onde não preciso necessariamente me posicionar de um lado da história, não preciso chegar a uma conclusão definitiva (existe isso?)... Desse modo não preciso temer a reação das pessoas. Existe também toda aquela discussão sobre "o dom de escrever". Dom, agora eu queria ter mesmo um dicionário para ver como é *definida* essa palavra. Acredito que algumas pessoas tenham mais facilidade (dom?) para escrever que outras, embora eu nunca acreditei muito em dom (estou me expondo!). Podem me chamar de cético, mas eu acredito mais no ditado: "A prática leva a perfeição". Praticando, tentando, errando e acertando. Assim acho que as pessoas aprendem a escrever. Droga, acabo de me lembrar dos chamados "autores de uma obra só". Como funciona com eles? Se eles escreveram apenas uma obra, como praticaram? Será que eles tinham "o dom"? Começo a acreditar que talvez exista algo que nasce com a pessoa, algo como um dom mesmo. Retratar. Corrigir-se. Mudar de opinião. Acabei de fazer isso. Num momento eu não acreditava em dom, agora já não tenho certeza. Eu costumava pensar (e é uma pena que muitas pessoas pensem assim) que o que estava escrito era uma "verdade incontestável" (será que também existe isso?). Eu pensava que se um escritor tivesse uma opinião, ou afirmasse alguma coisa, ele não podia mudar, porque seria como se ele admitisse que errou e isso sepultaria para sempre a sua carreira de escritor. Hoje enxergo as coisas completamente diferente. Viver é mudar. O ambiente muda, as pessoas ao nosso redor mudam, economia, política, somos afetados por tudo. Logo, nós também mudamos. Mudando, mudamos nossa maneira de pensar, de agir, mudamos nossas opiniões. O que antes era uma "verdade incontestável" torna-se nossa maior incerteza. Dando uma força para o Giancarlo Panizzutti Lima, que vinha defendendo as histórias em quadrinhos, vou citar uma tirinha do "Hagar, o Horrivel" que se encaixa muito bem nessa situação. Ele está num bar, bebendo, e de repente fala bem alto: "Só tenho uma certeza nessa vida: A Terra é quadrada. (pausa) Eu acho (em voz baixa)." Eu acho essa tira demais. Ela escancara essa nossa pretensão em achar que temos uma "verdade incontestável", mas logo depois se retrata, mostrando que não tem certeza. Imagina você declarar que só tem certeza de uma coisa e logo depois dizer que não tem certeza disso. Que coragem. Mostrar ao mundo que não se tem certeza de nada é algo muito difícil. Mas *é assim que* deveria ser com todas as pessoas. Especialmente os escritores. Diego Schultz Trein =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaborador da edição de hoje: Diego Schultz Trein (ds@aim-sw.com) Visite o Site do nosso e-zine (edições anteriores e outras coisas mais!): http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para: tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com