TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 07 de outubro de 2001.

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Olá! Está é a edição número 25 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Problemas? Sim por favor! (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. A noite de formatura (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. A piece of peace (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Pedacinhos (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. Escrever é se expor (Diego Schultz Trein - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Bafo  de  bira  é  o nome do local. Um ônibus dos Acústicos e Valvulados na
porta.  Vamos  lá.  Quem nos atende é um cara por assim dizer estiloso, com
umas  suíças e um cabelo meio que por lavar. Despreocupado e levando a vida
numa  boa.  Nos  mostra  o  caminho do estúdio. Começa o primeiro ensaio da
Slaves.  Toquei  com  uma  caixa da Fender... aquilo mudou a minha vida por
assim  dizer.  O  primeiro  ensaio foi como um primeiro ensaio, ou tentando
fazer  uma  comparação  bem  tosca,  como  a primeira vez no sexo, ou seja,
entrando  na hora errada, parando quando não tem que parar, gritando quando
é o solo da música, ficando em silêncio quando é hora de gritar, enfim, foi
bem legal. As músicas que tocamos ou em alguns casos, tentamos tocar:
 
  - 20 e poucos anos (versão Raimundos)
  - Do you wanna dance (versão Ramones)
  - Have you ever seen de rain (Creedence)
  - Polly (Nirvana, versão Nevermind)
  - When i come around (Green Day)
  - American Jesus (Bad Religion) -> a melhor música do ensaio
  - That thing you do (The Wonders)
  - Keep on rocking in the free world (neil young)
  - A Walk (Bad Religion)
  - Que país é esse (Legião Urbana)
  - E Porque não? (Bidê ou Balde)

Foi bem legal, duas horas tocando sem preocupação nenhuma. Para quem estava
dentro  de  um  estúdio pela primeira vez (meu caso) e fazendo parte de uma
banda  pela  primeira vez (me again!), olha, foi muito bom. Estou esperando
ansioso  pelo  próximo  ensaio! Já começamos o processo de seleção de novas
músicas!

Músicas da semana!
Bad Religion - American Jesus (Recipe For Hate)
Bad Religion - Anesthesia (All Ages)

Álbuns da Semana!
U2 - Pop
Bad Religion - All Ages

Riff da semana!
Green Day - Waiting (Warning)
E|-10/7----7-8-7-----10/7-----7-8-7----7-------7-8-7-------------|
B|------10-------10-------10--------10---8--10-------10-10b---8--|
G|----------------------------------------------------------9----|
D|---------------------------------------------------------------|
A|---------------------------------------------------------------|
E|---------------------------------------------------------------|

E  no  tresler de hoje, tem gente procurando problemas, outras matando para
não  morrer,  tem  outros  procurando exposição não ao sol, mas ao público,
poesias e pedacinhos de texto (leitura obrigatória).

Ah,  hoje  os EUA começaram a bombardear os carinhas lá no Afeganistão. Não
comento  nada.  A  ironia é que depois de cada bomba/míssil lançado, vem um
avião e larga alimento sobre o local atingido.

Daniel Wildt, hoje é considerado um projeto de guitarrista, mas acha que um
dia chega lá.

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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PROBLEMAS? SIM POR FAVOR!

Futuro...  Futuro é aquilo que está por acontecer, aquilo que não aconteceu
ainda e, sobretudo, aquilo que não é previsível sobre um temo da nossa vida
que ainda está por vir... ou não.

Eu costumava pensar que o futuro é perfeito. Sim. Eu costumava pensar que o
dia  em que terminasse o colégio, o dia em que eu me formasse, o dia em que
eu  viesse  morar na Europa tudo ia ser melhor, tudo ia ser perfeito e meus
problemas  teriam  se  acabado.  Mas  aos poucos fui descobrindo que nada é
perfeito  e  que  a vida é uma sucessão de momentos presentes que devem ser
aproveitados da melhor forma possível e não vistos como uma preparação para
um futuro perfeito, pois este é inatingível, e mais, inexistente.

Felicidade  é um estado de espírito, tenho aprendido. O dia em que tudo for
perfeito  a  vida  acaba  porque  com  a  chegada  da  perfeição, creio eu,
acabam-se os problemas, as buscas, os objetivos... os sonhos!

Uma  vez assisti a uma palestra onde foi dito que "a vida é uma sucessão de
problemas".  Nossa,  isso  me abalou profundamente, me assustou e me deixou
deprimida  com  uma  grande  pergunta:  Para que viver então? Para resolver
problemas?

Exatamente!  O  dia em que não tivermos mais problemas para resolver, sejam
eles  simples  ou  complexos,  não teremos mais sonhos, mais objetivos....A
monotonia da perfeição tão almejada vai ser tão grande que a busca de novos
sonhos,  novos  "problemas"  será  inevitável.  Sim,  porque  um  sonho não
realizado  é  um  problema.  É o que move a gente a tomar ações e descobrir
coisas  no sentido daquele sonho. Deve ser por isso que dizem que logo após
a  realização de um grande sonho vem um período negro. É o período em que o
cérebro,  após  ter passado a excitação inicial de sonho realizado, está se
acostumando  com  a  monotonia  da rotina gerada e só vai despertar de novo
quando  novos  planos  surgirem, quando novas inquietações houverem a serem
resolvidas. Um cérebro parado é um cérebro morto. Precisamos de algum sonho
"impossível"  para  mante-lo  sempre em atividade. Como me disse uma vez um
grande amigo: "Não se pode ter o grande sonho da vida realizado aos vinte e
poucos  anos...  O  que  se  faz depois então?" Talvez ele tenha razão. Aos
vinte  e poucos anos realiza-se o primeiro grande sonho. Muitos ainda estão
por vir durante esse futuro imperfeito e este presente maravilhoso.

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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A NOITE DE FORMATURA

Um  ruído  na  porta  da  frente  chamou  a atenção de Antônio. Eram tempos
difíceis  no  seu  bairro.  O  desemprego  em  alta e as diversas greves da
polícia  local  colocavam  os  moradores  em  eterno  alerta  para  o pior:
assaltos, assassinatos e tentativas e arrombamento.

Logo no primeiro ruído Antônio chamou a atenção de Mariana, e perguntou:

- Você ouviu isto?

Mariana  meio  dormindo  meio  acordada, só resmungou uma resposta negativa
para Antônio e voltou a dormir. Antônio não pensou duas vezes e se levantou
para  ver o que estava acontecendo. Colocou seus chinelos e seu casaco para
proteger do frio da noite.

Antônio   caminhava  devagar,  procurando  nas  sombras  das  janelas  algo
suspeito.  Ele queria chegar até a cozinha, a porta de entrada principal da
casa,  para  olhar  pelas  janelas e assim ter uma visão completa da rua. A
cada  passo  seu  desespero  aumentava. Aquele corredor estava maior do que
nunca.

Finalmente Antônio chega na porta da cozinha, que estava encostada, mas não
fechada,  e  foi  abrindo  lentamente, até que conseguisse ter uma visão do
ambiente. Quando isso aconteceu, avistou dois vultos passando correndo pela
janela  da cozinha. Correndo para chegar até o telefone celular, que estava
mais  a  mão,  Antônio  tentou  ligar para a polícia, que não pode oferecer
ajuda,  pois estavam em greve. Ah a omissão de ajuda, como podem fazer isso
pensou  Antônio,  que ligou então para seu vizinho, para saber se ele tinha
notado alguma coisa.

André  também  tinha avistado os vultos. Também estava acordado e também já
tinha  ligado  para a polícia, mas não estava conseguindo entrar em contato
com   Antônio.  Algum   problema  com  a central,  possivelmente.  Começava
agora  um  jogo, para saber o que deveriam fazer. Estes dois poderiam estar
armados,  poderiam estar drogados, poderiam estar desesperados por dinheiro
e  sem  medo  nenhum  de  morrer. E será que eram apenas dois? Era o terror
rondando  a vizinhança. Com celulares no ouvido, Antônio e André saíram das
casas,  com  suas armas compradas no ano passado, data da primeira greve da
polícia daquela região.

André  e  Antônio tinham seus sinais da época dos campeonatos de truco. Uma
linguagem própria, que sempre acharam um pouco inútil, mas agora finalmente
tinham encontrado uma utilidade, infelizmente. Abriram as portas das casas,
em  sincronismo  e  com muito cuidado. Como André tinha avistado os dois na
casa  do  amigo,  ficou  na cobertura  de Antônio,  que começou  lentamente
a ir para o fundo de sua casa.

A  casa  nos  fundos  era  formada  por um jardim rasteiro que impediria os
possíveis  assaltantes  de  se esconderem. Se fosse na casa de André teriam
problemas,  pois  o  jardim  era  composto  por árvores altas, que poderiam
atrapalhar em muito uma ação, ainda mais que era noite com muitas nuvens de
chuva,  apesar  de  que naquele momento não estava chovendo. O chão molhado
exigia  que  Antônio  caminhasse  com uma calma extrema, pois o barulho dos
seus  passos  poderiam chamar a atenção de alguém que estivesse no fundo da
casa.

Andando  pelo  corredor  lateral,  que  era  usado  como passagem do carro,
Antônio  caminhava mais que lentamente, quando recebeu o sinal de André que
disse  que não tinha nenhum sinal de gente ali nos fundos. Porém Antônio ao
olhar  para  a porta da garagem, viu que existia alguém se movimentando ali
dentro.  Tinha  alguém andando de um lado para o outro, alguém nervoso, sem
saber o que fazer.

Em  toda  esta correria, Mariana se levantou para ir ao banheiro, e notou a
ausência  do  marido.  Foi  para  a cozinha procurar por Antônio, que agora
estudava  como iria fazer para abordar quem estivesse dentro da garagem. Na
cozinha, Mariana não encontrou o marido, mas encontrou o refrigerador e uma
sede que apareceu de repente. Ao abrir a porta da geladeira pegou a garrafa
de  água para se servir e ao levantar a garrafa viu pelo reflexo da luz uma
pessoa no fundo da cozinha, encolhida.

Como  já  haviam  conversado  muito  sobre  o  que fazer em casos extremos,
Mariana segue as regras que ela e Antônio definiram e sai da cozinha, fecha
a  porta e vai correndo  para  o banheiro, onde tinha um telefone e onde se
tinha  uma  porta  com  uma  tranca especial, que colocaram para casos como
este.  Mariana se fechou no banheiro e levantou o gancho do telefone. Nada.
Nenhum  sinal de linha. Como o marido não havia explicado o que fazer neste
caso,  Mariana  começa  a  gritar  por  socorro,  o que chamou a atenção de
Antônio  e  André  no  mesmo momento. A garagem estava controlada, qualquer
sinal  estranho  Antônio  poderia  descarregar  o pente da sua 9 milímetros
sobre quem saísse dali. Sendo assim, André foi até a casa.

Ficou  procurando  por  algum  movimento  estranho  na  cozinha, mas nada o
chamava  a  atenção.  Abriu a porta da casa lentamente deixando esta apenas
encostada.  Agora, com a arma em posição de tiro, buscou alvos na escuridão
da  cozinha,  pela  janela com o vidro que dava uma visibilidade deformada,
mas  o bastante para se identificar alguém se movimentando. Deu um chute na
porta  e  entrou  na casa buscando alvos e logo ao se virar para o fundo da
cozinha,  encontrou  a mesma pessoa que Mariana tinha encontrado quando foi
tomar água.

Acendeu  a  luz  da  cozinha com uma mão, enquanto a outra mirava o meio da
testa  da  pessoa  que  se  encontrava encostada na parede. André tentou se
comunicar:

- O que queres!?

A  pessoa  tremia,  suava, estava com a cabeça no meio das pernas e as mãos
estavam  abraçando  as  pernas  encolhidas.  Apenas  os  olhos posicionados
atentamente  para  a  arma  de  André, bem para o buraco da bala, como quem
busca advinhar quando o projétil iria sair dali e iria se alojar no meio do
seu  cérebro.  No  entanto mesmo estando neste estado, a pessoa levantou um
pouco a cabeça e falou:

- Quero apenas comida...

André não entendendo nada já interrompeu e disse:

- O que você tem? Porque está assim? Porque entrou aqui nesta casa!?

E o assustado apenas tentou acalmar a arma de André

-  Estou buscando comida e abrigo para meu filho, senhor. Vi no fundo desta
casa  alguns  papelões e quando passamos para o fundo, vimos que a porta da
garagem  não  estava  trancada,  o  cadeado  não  estava fechado. Dentro da
garagem,  encontramos  uma  caixa  de leite. Quando voltei aqui para a rua,
trazendo  os  papelões  e para buscar um saco maior, para levar leite e uns
cobertores  que encontramos no fundo da garagem, vi um homem saindo da casa
e indo para os fundos, com uma arma na mão. Me desesperei e entrei na casa,
esperando  que nada acontecesse com minha mulher, pois estava pronto para o
pior.  Só  que quando uma mulher apareceu aqui, achei que ela estava armada
também  e  por  isso me encolhi neste canto, entrei em pânico, nunca fui de
fazer  o  mal  senhor, sou uma pessoa que sofre com a vida mas não mato nem
roubo para conseguir sustento para minha família... eu...

- Encontramos? Só você está aqui na casa? Onde está sua mulher e seu filho?

- Minha mulher e meu filho Estão na garagem senhor...

Logo  após  ouvir  esta resposta, André perguntou se Antônio tinha ouvido a
resposta  do  homem  que  estava dentro de sua casa e pediu para o amigo ir
então até a garagem então para acalmar a mãe da criança.

André gritou então para Mariana, para saber onde ela tinha se escondido:

- Mariana! Aqui é André, seu vizinho! Por favor, apareça!

Mariana  reconheceu  a  voz do amigo e foi até a cozinha, que estava com as
luzes  acesas. Assustada, quando viu a arma de André apontando para Josiel,
nome  do  infeliz,  entrou  em pânico novamente, mas André antes mesmo dela
gritar disse Está tudo sobre controle, se acalma!

André buscava agora uma resposta de Antônio, que estava nos fundos da casa.
A  ligação  do  celular tinha caído. A bateria de André tinha acabado e com
todo  o  alvoroço, ele não havia notado. O som de um tiro foi ouvido e logo
outro  e depois mais um. André abaixou a arma e neste momento Josiel deixou
de  abraçar  as  pernas e tentou se levantar. André falou Fique quieto aí!,
mas  Josiel  não  respondeu  nada e continuou se levantando. André não teve
dúvidas  e  atirou na parede, logo ao lado da cabeça de Josiel e gritou Não
se  mexa  senão eu te mato seu maldito! Josiel gritou Vão pro inferno e foi
em  direção  a  porta, mas André estava encostado na porta. Como Josiel não
cooperou, André mirou e falou:

- Acho que vamos começar por você.

André deu um tiro como prometido, bem no meio da cabeça de Josiel, que caiu
no  chão, tremeu um pouco e logo trocou sua vida por uma poça de sangue que
começou  a  se  formar.  Pediu  para  Mariana  Se  acalmar  e  encontrar um
carregador  de  celular. Liga para a polícia!, disse André, que logo depois
saiu  da  casa,  foi  até  a rua olhou para os lados para ver se encontrava
alguma  coisa  de  estranho. Viu um carro que estava com a porta aberta, um
carro  muito  velho, e com os faróis apagados. André evitando qualquer fuga
com  aquilo que nem parecia ser um carro, atirou em uma das rodas e esperou
alguém sair do carro. Como não viu nenhum movimento aparente, voltou para a
casa e começou a procurar alvos. Gritou pelo nome de Antônio, mas não ouviu
uma  resposta  comum,  ouviu um grito com muita dor vindo do fundo da casa.
Começou  a andar mais rápido, com a arma engatilhada. O dia estava raiando,
o que facilitava a visibilidade.

Ao chegar nos fundos, André viu primeiro um bebe engatinhando e mais para o
lado,  Antônio,  ainda vivo, tentando se arrastar de volta para casa. Tomou
um  tiro  no  joelho  direito, e tinha muito sangue no chão. Na garagem, um
rastro  de sangue levava ao corpo da mulher de Josiel, jogada num canto com
uma  arma  mais ao lado. Uma calibre 38. De volta a casa, onde chamaram uma
ambulância  e  polícia  de outra região, descobriram que Josiel guardava no
bolso de trás das calças um distintivo de policial. A arma tinha ficado nos
fundos da casa, com a mulher de Josiel.

E  porque  toda esta história? Hoje, 20 anos depois, choravam, na formatura
da  filha fruto de uma noite de terror, que até hoje achava que o pai tinha
sofrido  um  acidente  de  carro  e por isso não tinha a perna direita. Não
sabia a verdade sobre sua vida, e talvez nunca venha a descobrir.

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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A PIECE OF PEACE

Até a edição de hoje eu nunca tinha escrito uma poesia para o Tresler. Pois
simplesmente  penso  que  poesias  demandam  um  estado  de  espírito  para
escrevê-las. Eis que hoje isto ocorreu, infelizmente.

 
Eu queria ...
 
Uma poção mágica e milagrosa, 
Da qual todos pudessem beber 
E passassem a cantar em prosa
O lema: viva e deixe viver. 
 
Um simples pedaço de paz, 
Uma simples amizade fraterna, 
Algo que fosse capaz, 
De erradicar do mundo a guerra. 
 
Alguma droga que não destruisse. 
Algum remédio que pudesse curar
Essa doença maldita e triste 
Que faz o Homem matar.   
 
E que todos quisessem beber 
Ou que fosse a todos obrigada. 
Pois a liberdade de escolher, 
Pelo Homem foi mal empregada. 
 
Algo realmente forte e eficaz, 
E mais marcante que qualquer imagem.
E que mudasse de verdade o Homem.
E que nele implantasse a paz. 

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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PEDACINHOS

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Anarchy in the UK

- Bem, eu o chamei pois você parece estar sozinho e, quem sabe gostaria  de
conversar.  É claro que se eu estiver atrapalhando em alguma coisa, não tem
problema, me avisa, não vou ficar chateada, viu?, ela disse.
- Sem problema, ele disse.
- Pois  é, eu acabei de chegar aqui, e acabei ficando sozinha, sem ter  com
quem conversar, ela disse, enquanto acendia outro cigarro.
Ele sorriu, um tanto quanto bisonho.
- Você tem namorada?, ela perguntou sem maiores rodeios.
- Não.
- Ah bom, então não estou te colocando em nenhuma situação  constrangedora.
Ela  sorriu,  passou  os  dedos  pelos cabelos e perguntou se ele costumava
frequentar aquele lugar.

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Mirror, mirror

- Já te falei como eu tenho orgulho de ti?, ela perguntou, de olhos  postos
em seu café.
- Orgulho?  E  qual  seria a causa deste orgulho?, ele perguntou,  tentando
conter o rubor, e sem olhar para o rosto dela.
- Orgulho da tua carreira, das tuas conquistas, do teu desejo de lutar  por
aquilo que desejas, ela disse, levantando os olhos orientais.
Ele  olhou por sobre os ombros da sua namorada, olhou em volta, brincou com
a  sua  xícara  de café e mexeu-se na cadeira enquanto botava seu cérebro a
funcionar  furiosamente.  O  que  ela  queria realmente dizer? Qual a razão
desta conversa? No fundo, ele sabia.
- Bem, obrigado pelo elogio, se é que isso pode ser chamado de elogio,  ele
gaguejou.
Ela  suspirou,  apoiou  os cotovelos na mesa e o rosto em suas mãos. Estava
ficando tarde demais para tudo, e muito frio.
- Olha, eu vou direto ao ponto, ela disse, sem maiores rodeios.

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Happy end

- Pare com seus jogos mulher. Eu não sou seu escravo!
Em  poucos meses, ele perdera dinheiro, poder e os chamados amigos. E agora
acabou de perder seus medos. Novas linhas estavam sendo traçadas na areia.

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Vincent Kellers

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=============== O PLUS A MAIS DE HOJE (Diego Schultz Trein) ===============
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ESCREVER É SE EXPOR

Talvez seja esta a explicação. Eu nunca fui muito chegado em escrever assim
só  pelo  prazer de escrever. Agora que estou começando sinto que é preciso
se  expor  muito  para  escrever.  Talvez  por  isso  eu  sempre tenha tido
dificuldade.  Não gosto de me expor. Ou talvez não gostava, agora que estou
escrevendo. O fato é que quando penso num tema para escrever, logo me vem à
mente  a  possível reação das pessoas. O que elas vão pensar? Vão concordar
comigo?  Sei que esse é um pensamento infantil, mas no fundo, consciente ou
subconscientemente,  todos buscam algum tipo de aprovação na vida. Seja das
pessoas  em  geral, dos pais, amigos, namorada(o) ou de si mesmo. Eu já fui
mais dependente da aprovação das pessoas ao meu redor. TIMIDEZ é a palavra.
Não  olhei  no  dicionário porque estou longe do Brasil e não trouxe nenhum
dicionário,  mas  para  mim  uma  pessoa tímida é aquela que deixa de fazer
alguma coisa por causa da possível reação das pessoas.

Dizem  que o primeiro caminho para a cura é reconhecer o problema. Acho que
estou progredindo.

Admiro  os  escritores.  Não só os bons escritores. Admiro a capacidade que
eles  têm  de  se expor. Colocar sua mente e seu coração ali, ao alcance de
facadas  e  flechadas.  Uma  vez  li que para ser um bom escritor é preciso
primeiro  perder  todos  os  medos,  principalmente o medo do que os outros
podem pensar de você. Perder o medo da exposição não é algo fácil. Acredito
que  seja  um  processo  lento. Vejam o meu caso: Escolhi um tema não muito
polêmico,  onde  não  preciso  necessariamente  me posicionar de um lado da
história,  não  preciso chegar a uma conclusão definitiva (existe isso?)...
Desse modo não preciso temer a reação das pessoas.

Existe  também  toda aquela discussão sobre "o dom de escrever". Dom, agora
eu  queria ter mesmo um dicionário para ver como é *definida* essa palavra.
Acredito  que  algumas  pessoas tenham mais facilidade (dom?) para escrever
que  outras,  embora  eu  nunca acreditei muito em dom (estou me expondo!).
Podem  me chamar de cético, mas eu acredito mais no ditado: "A prática leva
a  perfeição". Praticando, tentando, errando e acertando. Assim acho que as
pessoas aprendem a escrever.

Droga,  acabo  de  me  lembrar  dos chamados "autores de uma obra só". Como
funciona  com  eles?  Se  eles escreveram apenas uma obra, como praticaram?
Será que eles tinham "o dom"? Começo a acreditar que talvez exista algo que
nasce com a pessoa, algo como um dom mesmo.

Retratar.  Corrigir-se. Mudar de opinião. Acabei de fazer isso. Num momento
eu  não  acreditava em dom, agora já não tenho certeza. Eu costumava pensar
(e é uma pena que muitas pessoas pensem assim) que o que estava escrito era
uma  "verdade incontestável" (será que também existe isso?). Eu pensava que
se  um  escritor  tivesse  uma  opinião, ou afirmasse alguma coisa, ele não
podia mudar, porque seria como se ele admitisse que errou e isso sepultaria
para    sempre   a  sua  carreira  de  escritor.  Hoje  enxergo  as  coisas
completamente  diferente.  Viver  é  mudar.  O ambiente muda, as pessoas ao
nosso  redor  mudam, economia, política, somos afetados por tudo. Logo, nós
também  mudamos. Mudando, mudamos nossa maneira de pensar, de agir, mudamos
nossas opiniões. O que antes era uma "verdade incontestável" torna-se nossa
maior  incerteza.  Dando  uma  força  para o Giancarlo Panizzutti Lima, que
vinha  defendendo  as  histórias  em  quadrinhos,  vou citar uma tirinha do
"Hagar,  o  Horrivel" que se encaixa muito bem nessa situação. Ele está num
bar, bebendo, e de repente fala bem alto: "Só tenho uma certeza nessa vida:
A  Terra  é  quadrada.  (pausa)  Eu acho (em voz baixa)." Eu acho essa tira
demais.  Ela escancara essa nossa pretensão em achar que temos uma "verdade
incontestável",  mas logo depois se retrata, mostrando que não tem certeza.
Imagina  você  declarar que só tem certeza de uma coisa e logo depois dizer
que  não  tem  certeza  disso. Que coragem. Mostrar ao mundo que não se tem
certeza  de  nada  é  algo muito difícil. Mas *é assim que* deveria ser com
todas as pessoas. Especialmente os escritores.

Diego Schultz Trein

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Última atualização em 26 de novembro de 2001
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